sexta-feira, 23 de maio de 2008

A Biodiversidade e a Agricultura Familiar



Iara Borges Aragonez
Coletivo Desenvolvimento Sustentável
SEMAPI Sindicato

No dia 15 de maio o SEMAPI Sindicato em uma ação conjunta com a Cooperativa GiraSol visitou a propriedade de Vilmar Menegat localizada na serra gaúcha, no município de Ipê.

Vilmar faz parte da terceira geração de uma família que se dedica à agricultura, sendo que há 17 anos orienta a sua prática pelos princípios da agroecologia e do associativismo.

A família de Vilmar integra a APEMA – Associação de Produtores Ecológicos da Linha Pereira Lima de IPÊ. Esta é uma das organizações da agricultura familiar do RS que garante uma produção diversa, ecológica, levando a Porto Alegre a sua produção, através da participação em Feiras e pela Cooperativa de Comércio Justo e Consumo Consciente GiraSol. Existindo desde a década de 1990, estimulada na sua criação pelo CENTRO ECOLÓGICO de IPÊ e pela EMATER/RS, Escritório Municipal de Ipê, vem reafirmando a importância da prática associativa, agroecológica e da preservação da bioodiversidade como fatores de autonomia e de sustentabilidade.

Conversando com o Técnico Agrícola da EMATER/RS, Nedi José Balancelli, fica evidenciada a importância do apoio dessa instituição para o fortalecimento de iniciativas como essa. Segundo ele, em 1986, com a fundação do Centro Ecológico e em 1988, com a celebração de convênio entre a Prefeitura de Ipê e a EMATER/RS, a agricultura familiar da região desenvolve-se pelo viés ecológico e associativo. “A Emater, que, do ponto de vista institucional não tinha como linha orientadora, nesse período, a agroecologia, localmente é fortemente influenciada pelo Centro Ecológico e adota esse sistema para o desenvolvimento rural da região”. De fato é visível essa influência positiva.Do ano de 1990 à 1997 constituem-se sete associações agroecológicas: a APEVS, a APESAA, a ABADE, a APESC, a APEJ a AESBA e a APEMA.

RESISTÊNCA. Este foi o caminho encontrado e utilizado até hoje por muitos agricultores familiares como forma de assegurar a VIDA. Sementes livres. Eliminação total do agrotóxico e a preservação de variedades crioulas foram e são umas das formas de fazer o enfrentamento às tecnologias associadas ao agronegócio. Dentre elas a TERMINATOR que modifica geneticamente as plantas fazendo-as produzir sementes estéreis. Resultado: monopólio das sementes pelo grande capital (ver abaixo texto específico).

Na propriedade visitada chama a atenção,em particular, a variedade de sementes crioulas preservadas. Apenas de feijão são mais de 20 variedades. Já de outras culturas, são mais de 60(ver fotos). Vilmar nos fala sobre a importância dessa diversidade para a soberania alimentar, pois, segundo ele, “o ciclo diferenciado de cada variedade garante colheitas por períodos bem mais longos, assim como reduz os riscos de comprometer toda uma safra em conseqüência de uma ou outra intempérie da natureza.”

Foi um dia muito especial. E mais uma vez fica reafirmado o sentimento de admiração pelo trabalho e esforço de pessoas que, em que pese as dificuldades diversas e diárias, resistem e não sucumbem ao assédio do grande capital, recusando-se a subordinarem-se a sua lógica e às regras do Deus Mercado. PARABÉNS!!!

Abaixo, divulgo um texto recolhido da página do Centro Ecológico que conta a história das SEMENTES TERMINATOR, de 1998 até 2008. Lembramos que no dia 19/05(segunda-feira) começou em Bonn, Alemanha, a COP-9 (9º Conferência de Partes da Convenção sobre Diversidade Biológica). Foi na COP 5(2000) a aprovação da moratória para Terminator...

Boa leitura!!!

TODOS E TODAS SERÃO AFETADOS SE AS TECNOLOGIAS TERMINATOR FOREM APROVADAS



Acesse o Informativo Terminator maio/ 2008.
Este material traz informações sobre o que são as tecnologias de restrição de uso genético, as chamadas GURTs, e quais seus riscos e impactos. Essas tecnologias são popularmente conhecidas como as sementes Terminator. É um tema complexo, mas é necessário fazer um esforço para levar esta discussão ao maior número possível de pessoas. TODOS E TODAS, DE AGRICULTORES A CONSUMIDORES, SEREMOS AFETADOS DE UMA OU DE OUTRA FORMA CASO AS TECNOLOGIAS TERMINATOR SEJAM LIBERADAS NO BRASIL OU EM OUTROS PAÍSES..
Esperamos que este informativo sirva de estímulo para um amplo processo de formação e de mobilização em torno do tema Terminator.

Por que as tecnologias Terminator são um tema importante?
Nos últimos anos, uma forte mobilização social tem garantido a moratória internacional a estas tecnologias, no âmbito da Convenção sobre Diversidade Biológica das Nações Unidas (CDB). No entanto, a cada ano vem aumentando a pressão da indústria para ampliar e fortalecer seu monopólio sobre as sementes e, conseqüentemente, sobre a produção agrícola dos países. As empresas têm apresentado novos argumentos e discursos que supostamente “justificam” essas tecnologias, pressionando governos e parlamentos para que se libere o uso comercial do Terminator. No Brasil, as Tecnologias Terminator estão proibidas pela Lei de Biossegurança, de 2005, mas as indústrias e o agronegócio estão se movimentando para alterar a lei, com o objetivo de liberação.
Em nível internacional, essas tecnologias são um dos assuntos da reunião dos países que compõem a CDB, a reunião da COP 9, na Alemanha.
Por isso, é preciso reativar nosso processo de mobilização e fortalecer a sociedade civil no sentido de entender como funcionam, a quem interessa e qual a situação mundial da discussão em torno das tecnologias Terminator.
Como as sementes Terminator são transgênicas, é importante relembrar o que são os transgênicos.

O que são Plantas Transgênicas?
São plantas geneticamente modificadas que receberam material genético
(DNA) de uma outra espécie de ser vivo (de uma planta, animal, bactéria, etc.). É no DNA que estão as informações que determinam todas as características dos seres vivos. Nas plantas, o DNA define, por exemplo, a altura, a cor, o formato, a época de largar flor, a época de frutificar, etc.

Vejamos alguns exemplos de plantas transgênicas:
O caso do Milho: No milho Bt foram introduzidos pedaços do DNA
(genes) de uma bactéria comum de solo. Com este DNA da bactéria, o milho consegue produzir na sua seiva uma toxina que mata lagartas que atacam o milho. Assim, a lagarta morre ao comer qualquer parte do Milho Bt. A transgenia torna toda a planta de milho num agrotóxico. Essa mesma tecnologia é utilizada para o algodão.
O caso da Soja RR: A Soja RR traz pedaços do DNA de uma bactéria
do solo que não sofre com o herbicida Round-Up. Assim, a planta de
soja RR resiste à aplicação do herbicida, ou seja, não morre.

Os mitos e a realidade das variedades transgênicas:
No final dos anos 90, quando se iniciou a difusão comercial das sementes transgênicas, muitos eram os argumentos da indústria e de vários governos para a liberação e uso dessas variedades. Afirmavam que elas acabariam com a fome no mundo, que se usariam menos agrotóxicos, que teríamos plantas com mais nutrientes, plantas para a cura de doenças, etc... É muito questionável a necessidade de plantas transgênicas com essas
finalidades, pois existem alternativas suficientes na natureza. Mas,
de qualquer forma, essas promessas nunca se tornaram realidade.
Na verdade, o que predomina, até hoje, são plantas que aliam seu uso ao consumo de insumos industriais, tal como o caso da soja RR e do Round-Up.

As possibilidades de combinações na manipulação das plantas, através da transferência de genes de uma espécie para outra, são inúmeras. Na grande maioria dos casos o objetivo é garantir o maior controle das transnacionais da biotecnologia sobre as sementes. Foi nesse sentido que, há cerca de 10 anos, as transnacionais começaram a investir no desenvolvimento das tecnologias de restrição do uso genético – as sementes Terminator. Visam proteger suas patentes e aprofundar o controle do
mercado de sementes, bem como o domínio sobre os agricultores e países onde atuam.

Então, o que são as sementes Terminator?
A tecnologia Terminator (que quer dizer “exterminador” em inglês) refere-se a modificações genéticas feitas nas plantas para produzirem sementes estéreis. No meio científico esta tecnologia é chamada de GURTs, que é a sigla em inglês para “Tecnologias de Restrição de Uso Genético”. Ou seja, a semente que seria guardada da colheita de uma variedade com tecnologia Terminator não poderia ser usada para plantio na safra seguinte, pois não iria germinar.
Essa tecnologia foi desenvolvida para assegurar e ampliar o domínio das transnacionais sobre as sementes. O objetivo era (e ainda é) que todas as
plantas transgênicas também fossem Terminator. Isso porque a esterilidade das sementes permite um monopólio muito mais forte do que o das patentes.
Devido à reação negativa que despertaram no mundo todo, as empresas foram mudando o discurso e, hoje, falam que desenvolvem essas tecnologias como fator de biossegurança, para evitar contaminação futura entre variedades transgênicas e não transgênicas. Já que as sementes não seriam capazes de se reproduzir não haveria contaminação ambiental devido ao pólen das sementes transgênicas.

Na realidade, sempre haverá o risco de disseminação de pólen com tecnologia Terminator. Cientistas independentes dizem que a tecnologia não tem como funcionar em 100% dos casos. Teríamos, então, dois problemas:
1) As sementes estéreis e, também,
2) Terminator contaminando as sementes convencionais, as variedades crioulas e a biodiversidade silvestre.

Qual é a história do Terminator, até hoje?
A tecnologia Terminator ficou conhecida publicamente em 1998, quando a empresa Delta & Pine Land e o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos obtiveram, junto ao Escritório de Patentes dos Estados Unidos, o direito de patente sobre o “Controle da Expressão Genética Vegetal”. Desde então, organizações camponesas e da sociedade civil do mundo inteiro passaram a alertar para os perigos que a produção de sementes estéreis pode trazer para as comunidades locais e para a conservação da biodiversidade. Como resultado dessa ação, órgãos internacionais de renome manifestaram, publicamente, preocupações sobre os possíveis impactos dessa tecnologia.

Linha do tempo do desenvolvimento da Tecnologia Terminator

1998
- A empresa Delta & Pine e o Governo dos EUA obtêm patente sobre a tecnologia Terminator COP 4 (Quarta Conferência da Convenção sobre Diversidade Biológica - CDB) solicita estudos para avaliar o impacto da tecnologia Terminator.
- Centros Internacionais de Pesquisa Agrícola reconhecem riscos associados à tecnologia Terminator.
- A Assembléia Geral das Nações Unidas (ONU) alerta para a necessidade de acompanhar de perto as novas tecnologias, visando prevenir possíveis impactos sobre a biodiversidade e a agricultura familiar.

1999
- A Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) inicia estudos sobre os impactos da tecnologia Terminator
- A 4a Reunião do Órgão de Assessoramento Científico, Técnico e Tecnológico
(SBSTTA) da CDB recomenda que se adote o princípio da precaução em relação à tecnologia Terminator.

2000
- A COP 5 aprova uma moratória para Terminator. Na prática, proíbe a realização de testes de campo e a produção e comercialização de sementes com este tipo de tecnologia. Solicita, também, ao Secretariado da Convenção (CDB), que realize uma consulta sobre os impactos da tecnologia Terminator sobre as comunidades indígenas e locais, incluindo consulta a representantes
destes setores.

2001
- A FAO apresenta a primeira versão do “Estudo Técnico sobre os Impactos da Tecnologia Terminator”.

2002
- A COP 6 decide pela criação de um Grupo de Trabalho para avaliar os impactos da tecnologia Terminator.
- A FAO discute, em fórum específico, o Estudo Técnico que realizou, destacando os impactos negativos da tecnologia Terminator sobre a
agricultura e a agrobiodiversidade.

2003
- O Grupo de Trabalho sobre Terminator, criado pela COP 6, apresenta relatório crítico na 9a Reunião da SBSTTA. O Brasil assume posição controversa, unindo-se à Austrália, Canadá, Nova Zelândia e EUA (que não é signatário da CDB) para obstruir a aprovação do relatório.
- O Governo Lula pronuncia-se claramente contra o relatório que apresenta inúmeras críticas à tecnologia Terminator.

2004
- A COP 7 solicita que seu órgão de assessoramento (SBSTTA) considere, durante sua 10a reunião, o relatório elaborado pelo Grupo de Trabalho.

2005
- A 10a reunião da SBSTTA reconsidera o relatório preparado pelo
Grupo de Trabalho sobre Terminator, mas não chega a um consenso, encaminhando a discussão para o Grupo de Trabalho sobre o artigo 8j.
- A sociedade civil lança a Campanha Internacional Terminar Terminator, reunindo inúmeros movimentos sociais e ONGs de vários países e continentes.

2006
- Na reunião do Grupo de Trabalho sobre o artigo 8j (em Granada-Espanha), a Austrália, o Canadá, a Nova Zelândia (e os EUA) barram novamente a
aprovação do Relatório crítico ao Terminator e propõem que na COP 8 (em Curitiba-Paraná) considere-se a questão do Terminator na base do “caso a caso”. Ou seja, que se flexibilize a moratória estabelecida na COP 5.
- Na COP 8, foi enorme a pressão das transnacionais e de alguns países (Canadá, Nova Zelândia, Austrália, EUA) pela aprovação do “caso a caso”, assim como com a indefinição de outros países (Brasil, Argentina e outros). Mas a forte pressão realizada pela sociedade civil (movimentos sociais e ONGs) consegue influenciar a maioria das delegações e reverter a proposta do “caso a caso”, mantendo a moratória sobre a tecnologia Terminator.

2007
- A Campanha “Terminar Terminator” inicia um processo de mobilização em vários países da América Latina e da América do Norte, da Ásia, da África e da Europa, visando influenciar os governos para terem posição favorável à manutenção da moratória ao Terminator na COP 9.

2008
- O tema não entra na pauta da 13ª reunião da SBSTTA (fevereiro), o que sugere que pode não ser discutido na COP 9 (maio), mantendo-se a moratória. No entanto, o avanço da União Européia com o projeto “Transcontainer” e a proposta de flexibilização no uso de árvores transgênicas indicam que pode haver um processo de pressão sobre a “necessidade” do uso da tecnologia
Terminator.


É preciso que estejamos, todos e todas, atentos a este tema de
fundamental importância para a agricultura familiar e camponesa.
Precisamos pressionar nosso governo e informar nossas comunidades sobre o risco destas tecnologias!!!
O MOMENTO É DE MOBILIZAÇÃO!!!!

Em resumo, até o presente momento, a moratória ao uso de Terminator, estabelecida na COP 5, é o que está valendo. No entanto, a cada reunião da CDB aumenta a pressão pela liberação, o que nos obriga a estar em permanente processo de mobilização.

Texto oficial que estabelece a moratória à tecnologia Terminator
COP 5 - Decisão 5/V

“... devido à ausência, no presente, de dados confiáveis sobre as tecnologias genéticas de restrição de uso genético, sem os quais se carece de uma base adequada para avaliar seus possíveis riscos, as partes não devem aprovar produtos que incorporem estas tecnologias para experimentos de campo até que existam dados científicos adequados que possam justificar estes experimentos, e para o uso comercial, até tenham sido realizadas avaliações
científicas de forma transparente e se tenham comprovado as condições para seu uso seguro e beneficioso em relação com, entre outras coisas, seus efeitos ecológicos e socioeconômicos e qualquer efeito prejudicial para a diversidade biológica,a segurança alimentar e a saúde”.

Por que um discurso novo para as velhas intenções?
Nos últimos anos, as transnacionais vêm justificando o Terminator como uma “medida de biossegurança”. Ou seja, como uma ferramenta para evitar a contaminação de plantas convencionais ou agroecológicas por variedades transgênicas, permitindo a coexistência desses diferentes tipos de plantas.
A contaminação genética é o ponto fraco da indústria da biotecnologia e os casos de contaminação vão se multiplicando por todo o mundo – no Paraná, pelo menos 16 agricultores (alguns orgânicos) tiveram sua soja contaminada por soja RR. E, onde há governos que se propõem a fiscalizar e cobrar das indústrias o controle e até a reversão dos processos de contaminação,os custos são elevadíssimos. Além dos custos, são enormes as deficiências tecnológicas observadas quando se trata de tentar “solucionar” os problemas da contaminação. No ano de 2000, no México, o milho StarLink, da Aventis (hoje pertencente à Bayer), entrou na cadeia alimentar, por contaminação genética. Como ele era proibido para o consumo humano, calcula-se que os gastos até 2008 para tentar reverter a contaminação, na realização de testes e nas perdas de produção, já passaram dos 600 milhões de dólares.

Leia depoimentos de agricultores e muitas outras informações no Informativo Terminator disponível em Boletins Informativos. Clique em Leia na Íntegra - salvar. Acesse, imprime, divulgue. Este assunto é de extrema importância para todos.

quarta-feira, 14 de maio de 2008

A uma semana do Dia Internacional da Biodiversidade

Com a aproximação do Dia Internacional da Biodiversidade (22 de maio) retomamos abaixo e ao lado, alguns conceitos e atitudes do cotidiano que nos ajudam a compreender como, e com que qualidade incidimos sobre o planeta enquanto vivemos. Na próxima semana, traremos mais especificamente o tema BIODIVERSIDADE.

Boa leitura!!!

Como seus hábitos de consumo estão mudando o clima?

Qual é o problema?
O carro que você usa, os móveis de madeira que você compra, a madeira que você usa na construção ou na reforma da sua casa, a carne que você come, os aparelhos eletroeletrônicos que você tem em casa – seus hábitos de consumo estão diretamente relacionados às mudanças climáticas.
Estamos consumindo intensamente petróleo, carvão e gás natural para gerar energia, tanto para a produção industrial quanto para consumo residencial e para os veículos.
Estamos queimando e destruindo nossas florestas que absorvem e estocam carbono, para obter madeira e para ocupação da terra pela agricultura e pecuária.
O consumo de cada um deixa uma marca, uma pegada ecológica, de degradação ambiental. Com o atual padrão de consumo e produção, estamos liberando imensas quantidades de dióxido de carbono, metano e outros gases na atmosfera, intensificando o efeito estufa e retendo mais calor na atmosfera.
O aumento da temperatura média do planeta provoca as mudanças climáticas que, por sua vez, trarão impactos irreversíveis para nossa vida no planeta.


O que é pegada ecológica?
A pegada ecológica é uma forma de avaliar quanto cada pessoa consome de recursos naturais e energia, medidos em hectares de terra. No nosso cotidiano, seja na alimentação, transporte, vestuário, habitação ou lazer usamos energia e produtos obtidos de recursos naturais, renováveis ou não, oriundos dos nossos ecossistemas. A integridade destes depende também de diminuirmos o desperdício desses recursos. A renovação de alguns desses recursos e serviços ambientais é lenta quando comparada com a velocidade do consumo da nossa sociedade.

O que é pegada de carbono?
Uma outra forma de avaliar o impacto que nosso consumo tem sobre o ambiente é por meio da estimativa de emissões de gases de efeito estufa associada às nossas atividades cotidianas e que alguns denominam como pegada de carbono.
O que são mudanças climáticas?
São alterações no sistema climático geradas pelo aquecimento global provocado pela emissão de gases de efeito estufa em atividades de responsabilidade dos seres humanos.
O aumento da temperatura média do planeta acarreta mudanças na intensidade e freqüência de chuvas, na evaporação, na temperatura dos oceanos, entre outros fenômenos. Os efeitos não são iguais em todas as regiões, mas a agricultura, o abastecimento de água, o equilíbrio dos ecossistemas e a vida de muitas espécies – inclusive a nossa – estão ameaçados pelas mudanças climáticas.
Desde o início da revolução industrial, já houve um aumento de 0,7 graus Celsius e estima-se que a temperatura média do planeta poderá elevar-se até mais de 2 graus (em alguns locais a temperatura poderá ser de mais de 5 ou 6 graus). Este aumento médio na temperatura pode ser ainda maior se os governos das nações que mais poluem não chegarem a um acordo que reduza em 60% as emissões decorrentes da atividade humana.

Qual é a diferença entre mudanças climáticas e efeito estufa?
O efeito estufa é um fenômeno natural que retém na atmosfera do Planeta parte do calor que recebemos do Sol. A luz solar penetra a atmosfera, aquece solos e águas e o calor gerado é re-emitido pela superfície terrestre na forma de radiação infravermelha, mas os gases de efeito estufa bloqueiam o escape dessa radiação para o espaço, mantendo assim um nível de aquecimento necessário para a manutenção da vida.
O problema é o aumento exagerado e rápido desses gases de efeito estufa nos últimos 150 anos, em atividades como uso de combustíveis fósseis em processos industriais, geração de energia e transporte, desmatamento, expansão urbana e agricultura. Os principais gases de efeito estufa são: dióxido de carbono (CO2), metano (CH4), clorofluorcarbonetos (CFCs) e outros halocarbonetos, ozônio e óxido nitroso. Segundo estudos científicos, quase 80% dos gases de efeito estufa acumulados na atmosfera foram emitidos pela queima de combustíveis, incluindo carvão, principalmente nos países industrializados. As emissões de gases associadas ao desmatamento e mudanças no uso de solos para agricultura e pecuária em países em desenvolvimento são mais recentes, mas representam já volumes significativos de emissões.

O que são fontes e o que é sumidouro de gases do efeito estufa?
Fontes são todos os processos e dinâmicas, naturais ou de atividades humanas, que emitem gases de efeito estufa para a atmosfera. Por exemplo, na decomposição anaeróbica (sem presença de oxigênio) de dejetos animais e resíduos orgânicos sólidos ou líquidos é produzido metano (CH4), um gás que tem potencial de aquecimeto da atmosfera 21 vezes maior que o gás carbônico (CO2); este último é um gás que resulta da queima de madeira e biomassa, de combustíveis fósseis e de outros materiais. Os gases CFCs e outros halocarbonos são usados em aerossóis e aparelhos de refrigeração; o ozônio e o óxido nitroso são emitidos em indústrias químicas e na decomposição de fertilizantes. Os gases de efeito estufa emitidos ficam várias décadas na atmosfera, e por isso, alguns efeitos do aquecimento global e das mudanças climáticas já são irreversíveis.
Sumidouro é qualquer processo, atividade ou mecanismo que remova gases de efeito estufa da atmosfera.

Onde acontecem as maiores emissões?
A maior fonte histórica de emissões globais de gases de efeito estufa é o uso de combustíveis fósseis nos países industrializados. A transformação do uso de territórios, com o desmatamento, expansão da agricultura e da pecuária, está se tornando uma fonte muito importante de emissões de gases de efeito estufa. Estima-se que o desmatamento já seja responsável por entre 10% e 35% das emissões globais anuais. As principais fontes globais de emissões desse tipo são o desmatamento e as queimadas das florestas tropicais.

Quais são as maiores fontes no Brasil?
O Brasil é um grande emissor de gases de efeito estufa, sobretudo em função das emissões associadas ao desmatamento e às queimadas (por volta de 70% das emissões nacionais), e ao uso de combustíveis fósseis (cerca de 25%). Estudos colocam o Brasil como o 4º maior emissor do planeta com base nas emissões recentes.

Quais são os impactos das mudanças climáticas?
Os efeitos do aquecimento global e de mudanças climáticas, alguns deles já irreversíveis, não são igualmente distribuídos nas diversas regiões e países, e, portanto, sobre populações e grupos sociais distintos. Pessoas que habitam regiões costeiras ou nas quais haverá grande mudança no regime de chuvas, por exemplo, serão mais afetadas pelos impactos das mudanças climáticas, e eventualmente terão que migrar, adaptar suas residências ou atividades econômicas. Os mais pobres deverão ter maior dificuldade de se adaptar a um mundo mais quente. Por outro lado, o aquecimento global resulta de emissões de gases de efeito estufa que geraram benefícios concentrados nos países industrializados ou para segmentos mais ricos nos países em desenvolvimento.

O que acontecerá no Brasil?
Alguns dos impactos mais significativos considerados pelos cientistas são:
• Savanização da Amazônia, ou seja, a conversão em cerrado de uma grande parte da floresta amazônica, como resultado do aumento da temperatura e menor pluviosidade, combinados com a ação humana que causa desmatamento e degradação, tornando a floresta cada vez mais vulnerável às queimadas e sujeita a longos períodos de estiagem.
• Conversão de partes da caatinga do Nordeste brasileiro em semi-deserto.
• Redução da vazão em rios brasileiros na Amazônia, Pantanal e na bacia do São Francisco; alteração no regime de chuvas e vazões de rios no Sul e Sudeste, afetando a geração de hidroeletricidade, a navegação, o abastecimento de água e a biodiversidade aquática.
• Aumento drástico das temperaturas na região amazônica central como conseqüência da redução da absorção de calor pela transpiração e evaporação das florestas.
• Perda da retenção de umidade do solo em vastas áreas das principais regiões de agricultura do Brasil devido à menor pluviosidade e às altas temperaturas, reduzindo o produto das colheitas e restringindo as áreas apropriadas para cultivo.
• Aumento do alcance e incidência de doenças como a malária e a dengue.
• Problemas de todo tipo nas cidades costeiras, onde mora parte importante da população do país, provocados pelo aumento do nível do mar.

O que significa adaptação à mudança de clima?
No âmbito da Convenção-Quadro sobre Mudanças Climáticas da ONU (UNFCCC), o termo adaptação refere-se às medidas necessárias para adaptar atividades humanas (agricultura, abastecimento de água, geração de energia, transporte, habitação, etc) aos impactos irreversíveis de mudanças de clima. Por exemplo, se em determinada região houver diminuição significativa de chuvas, eventualmente o sistema de captação e abastecimento publico de água terá que ser adaptado aos mananciais e fluxos que continuarem disponíveis.

O que significa mitigação das mudanças de clima?
É qualquer medida, política ou ação que possa prevenir ou diminuir a emissão de gases de efeito estufa. Evitar o desmatamento, ampliar o uso de energia renovável e expandir o transporte público são alguns exemplos de medidas de mitigação.

Fonte: Vitae Civilis “Aquecimento Global e o Brasil: Vamos ser vítimas, cúmplices ou vamos realmente fazer algo?”.

sexta-feira, 2 de maio de 2008

Comunidades Quilombolas fazem festa de Colheita do Arroz no RS

Nos dias 26 e 27 de abril, mais uma vez, vivi uma experiência ímpar.

Juntamente com um grupo de estudantes de Porto Alegre e de trabalhadores (as) urbanos da economia solidária, participei da colheita do ARROZ QUILOMBOLA nas comunidades quilombolas de Teixeiras (Mostardas-RS) e Olhos D'Água (Tavares-RS), localizadas no Litoral Sul gaúcho.

Em mutirão, orientados pelos agricultores (as) quilombolas, colhemos a foice o Oryza glaberrrima, que é o primeiro arroz cultivado no Brasil. Originário da África, chegou aqui no século 16 pelas mãos dos negros.

Por volta de 1739, com a exploração do arroz asiático, foi proibido seu cultivo, devido a razões comerciais. Caso fosse descoberta a plantação desse arroz, tanto negros quanto brancos eram penalizados. Mas, assim mesmo, prevaleceu em inúmeras comunidades quilombolas do norte e nordeste brasileiro como cultivo de subsistência. As sementes do Oryza glaberrima chegaram ao Rio Grande do Sul em 2005, e desde então vêm sendo multiplicadas. Hoje o arroz africano está sendo cultivado em oito comunidades quilombolas gaúchas.

A festa de colheita é uma atividade que integra o Programa Arroz Quilombola – projeto desenvolvido pela GUAYÍ, organização da sociedade civil de interesse público, com apoio do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), parceria da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Mostardas e Associação Software Livre (ASL) –, que objetiva resgatar a contribuição africana na agricultura brasileira e também constituir alternativa de geração de renda para as comunidades de remanescentes de quilombos.

À noite fomos presenteados com os tambores africanos do “Kikumbi” e também com uma banda de RAP formada por jovens da comunidade dos Teixeiras. Esses jovens integram o PROJETO DE RESGATE CULTURAL QUILOMBO TEIXEIRA – PRCQT, estimulado em sua criação pelo professor de Geografia Álvaro Santos. Segundo ele, tanto na comunidade de Casca como na dos Teixeiras e no Beco dos Coloidianos, “a gurizada tinha uma grande dificuldade de falar de onde eram. Tinham baixa auto-estima associada a sua origem negra”. Em maio de 2007, segundo o professor, com a criação do Projeto de Resgate Cultural a história começou a mudar.

Segundo HESTEVAN GONÇALVES, uma liderança do Projeto, “o PRCQT nos incentiva a pensar sobre o nosso passado e aprendemos que não foi só sofrimento. Teve alegria, cultura, religião, mas o que todos sabem é apenas que fomos escravos”. Hestevan conta ainda que em setembro de 2007 criaram, a partir do projeto, o Grupo de RAP SIGILO. E na comemoração do 20 de novembro na comunidade de Limoeiro surgiu a idéia de fazer um RAP do Arroz Quilombola.

Bem, abaixo vou postar uma foto do Grupo SIGILO, tirada na festa do dia 26. Nos próximos dias vou mostrar algumas imagens da COLHEITA DO ARROZ e também a letra do RAP “o Arroz Quilombola”. Cabe destacar que o RAP contagiou a todos nós. Para encerrar a apresentação a gurizada fez uma mistura de rítmos e todos nós caímos na folia. Foi muuuuuuuito legal!!!

A letra da música foi feita por HESTEVAN GONÇALVES, EDIVANDO SILVA e GEVERTON RODRIGUES. Integram ainda o grupo, RAFAEL COSTA, JÚLIO LIMA e, na segunda voz, as meninas DÉBORA LEMOS, JUCELENE LIMA, JUCIELE LIMA, JENIFER SILVA E TATI SILVA.

Parabéns juventude da comunidade quilombola dos Teixeiras. Seus ancestrais certamente estão orgulhosos de vocês. UM GRANDE ABRAÇO e até a próxima!!!

Iara Borges Aragonez
Coletivo Desenvolvimento Sustentável
SEMAPI Sindicato

Grupo SIGILO, banda da Comunidade Quilombola Teixeiras de Mostardas/RS