domingo, 24 de agosto de 2008

O VENENO NOSSO DE CADA DIA: ATÉ QUANDO?

Por: Francisco Roberto Caporal
Engenheiro Agrônomo, Mestre em Extensão Rural
pelo CPGER/UFSM, Doutor pelo ISEC – Universidad de Córdoba – Espanha
Coordenador Geral de ATER do DATER, Ministério do Desenvolvimento Agrário-MDA

Dose diária aceitável. A maioria da população nunca ouviu falar sobre o significado dessa expressão. Pois ela quer dizer a quantidade de venenos (agrotóxicos) que podemos ingerir diariamente, sem que, supostamente, estes venenos causem dano a nossa saúde. Quer dizer, se supõe que todos os organismos são iguais e que levando em conta apenas o peso corporal podemos ter tranqüilidade ao consumirmos alimentos contaminados por doses, supostamente, aceitáveis. Será que os consumidores sabem quanto de veneno estão ingerindo por dia? Qual a sua dose?

Período de carência. Esta é outra expressão nascida da mesma lógica perversa da indústria agroquímica. Supostamente, seria o período que antecede a colheita no qual um determinado veneno não pode ser aplicado aos cultivos, pois se aplicado não haveria tempo para a colheita se “descontaminar”. Esta ficção é, evidentemente, desconsiderada na maior parte dos casos, especialmente quanto ocorrem surtos de pragas ou doenças em cultivos que estão em fase de colheita e que são de colheita diária, como o tomate, por exemplo.

Embora muitos não acreditem, as pesquisas demonstram que estamos ingerindo venenos agrícolas todos os dias. Ao mesmo tempo, outras pesquisas relacionam a presença de contaminação humana por agrotóxicos com a incidência de câncer, de mal formação de fetos, de problemas de depressão e até mesmo, com a redução progressiva da fertilidade, entre outros tantos males da nossa época.

Não foi por acaso que no início dos anos 60, a professora norte-americana Rachel Carson escreveu em seu livro Primavera Silenciosa uma frase que até hoje atormenta aos inventores da parafernália agroquímica. Ela dizia: “Estamos expondo populações inteiras a agentes químicos extremamente venenosos. Agentes químicos que, em muitos casos, têm efeitos cumulativos. Atualmente, este tipo de exposição começa acontecer tanto antes como durante o nascimento. Ninguém sabe ainda quais serão os resultados deste experimento, já que não há nenhum paralelo anterior que possa nos guiar”.

Mais recentemente, outros pesquisadores encontraram as evidências perversas desta “experiência” como podemos ver em detalhes no livro Nosso Futuro Roubado. Suas pesquisas mostram, como sugere o título, que esta aventura humana baseada na agroquímica está colocando em risco o futuro da humanidade e também de muitas espécies de mamíferos e aves. As contaminações diretas ou indiretas, por venenos que fazem parte da nossa alimentação diária ou que estão presentes no ar que respiramos e na água que bebemos em muitos lugares, estão agredindo nossa saúde de forma irreversível. E o pior é que, na maior parte dos casos, isto ocorre de forma lenta e imperceptível, pois ainda não temos um dispositivo que acenda uma luz vermelha na nossa testa quanto superamos a tal dose diária aceitável de veneno em nosso organismo.

Conscientes destes problemas, milhões de consumidores no mundo todo passaram a exigir alimentos com mais qualidade biológica e sem contaminação por venenos agrícolas. É óbvio que isto acontece mais naquelas sociedades em que está resolvida a questão da distribuição e da quantidade de alimentos para cada habitante. Não obstante, não parece justo nem correto que sabendo dos males dos venenos agrícolas não façamos algo para evitar que mais pessoas e animais sejam, cotidianamente, contaminados. Afinal, comer alimento sadio é um direito igual ao de ter acesso aos alimentos, pois caso contrário estaríamos sendo extremamente hipócritas. Seria o mesmo que dizer: para os ricos alimentos sadios e para os pobres podem ser alimentos contaminados.

Na esteira destas constatações o Rio Grande do Sul se tornou o estado pioneiro na luta contra os agrotóxicos. No início da década de 80 proibimos alguns pesticidas organoclorados e tivemos a primeira Lei de Agrotóxicos – não sem muitas contestações e pressão da indústria agroquímica. Passados 20 anos, entretanto, o assunto continua atual e é lamentável que os veículos de comunicação só tratem deste assunto de forma periférica e episódica, quando deveria ser objeto de permanente campanha educativa.

Alguém já pensou qual seria a reação da população se nas gôndolas dos supermercados fosse obrigado a colocar uma informação aos consumidores dizendo “este produto foi produzido com o uso de tais e tais venenos agrícolas”. Ou se fosse simplesmente usada a “caveira” que indica a presença de veneno. Ou ainda, que faria o consumidor se na etiqueta do seu pacote de alimento estivesse escrito para ter cuidado e não ultrapassar o consumo de sua dose diária aceitável de veneno, especialmente neste momento quando se denuncia o absurdo contrabando de venenos e seu uso indiscriminado.

Portanto, a realidade em que vivemos justifica a luta em favor de uma transição agroecológica capaz de, pouco a pouco, eliminarmos o modelo de agricultura agroquímica presente entre nós e estabelecermos novos estilos de agriculturas de base ecológica, capazes de reduzir danos ao meio ambiente e à saúde e de produzir alimentos sadios para todos. E isto é possível, como já demonstram milhares de agricultores e agricultoras do Rio Grande do Sul e outros de todos os lugares do mundo.

Nesta perspectiva, além de continuar estimulando a agricultura de base ecológica, a EMATER/RS-ASCAR, está reeditando um esforço para a redução do uso de veneno em nossa maior lavoura de grãos – a soja. Já temos tecnologia suficiente para eliminar o uso de venenos agrícolas neste cultivo e é ainda mais fácil reduzir seu uso. Por quê não fazê-lo?

* Este texto foi escrito em Janeiro de 2002, quando o Engenheiro Agrônomo, Francisco Roberto Caporal, ocupava o cargo de Diretor Técnico da EMATER/RS-ASCAR.

O submundo da cana

Estado que detém 60% da produção nacional de cana-de-açúcar, São Paulo não divide a riqueza derivada do boom de etanol com seus 135 mil cortadores, que vivem muitas vezes em situações precárias.
MÁRIO MAGALHÃES
JOEL SILVA
ENVIADOS ESPECIAIS AO INTERIOR DE SP

Pontualmente às 4h42, a canavieira Ilma Francisca de Souza parte para o trabalho com sua marmita fornida de arroz coberto por uma lingüiça cortadinha. Em outro bairro de Serrana, ainda antes de o sol nascer, Rosimira Lopes sai para o canavial levando arroz com um só acompanhamento: feijão.

Durante o dia, elas vão dar conta da comida, que já terá esfriado. A despeito do notável progresso que ergue usinas de etanol com tecnologia assombrosa, o Brasil segue sem servir refeições quentes aos lavradores da cana-de-açúcar.A bóia continua fria.

Durante dois meses, a Folha investigou as condições de vida e trabalho dos cortadores de cana no Estado que detém 60% da produção do país que é o principal produtor do planeta.

Gente como Ilma e Rosimira.
Em uma das etapas de apuração da reportagem, por 15 dias percorreram-se 3.810 quilômetros de carro, o equivalente a nove trajetos São Paulo-Rio de Janeiro. Um mapa [veja na pág. 6] mostra onde ficam as cidades visitadas.Pela primeira vez em cinco séculos, desde que as mudas pioneiras foram trazidas pelos portugueses, em 2008 ao menos metade da cana de São Paulo não será colhida por mãos, mas por máquinas. É o que anunciam os usineiros.

Como na virada do século 16 para o 17, quando o país era o líder do fabrico de açúcar, a cana oferece imensas oportunidades ao Brasil, em torno do álcool combustível do qual ela é matéria-prima. O etanol pode se transformar em commodity, com cotação no mercado internacional. As usinas geram energia elétrica.

A riqueza do setor sucroalcooleiro, que movimentará neste ano R$ 40 bilhões, não atingiu os lavradores. Em 1985, um cortador em São Paulo ganhava em média R$ 32,70 por dia (valor atualizado). Em 2007, recebeu R$ 28,90. A remuneração caiu, mas as exigências no trabalho aumentaram. Em 1985, o trabalhador cortava 5 toneladas diárias de cana. Na safra atual, 9,3.

Em 19 cidades do interior - na capital foi ouvido um representante dos empresários - , os repórteres procuraram entender por que, entre nove culturas agrícolas, a da cana reúne os trabalhadores mais jovens.

Exige alto esforço físico uma atividade em que é preciso dar 3.792 golpes com o facão e fazer 3.994 flexões de coluna para colher 11,5 toneladas no dia. Nos últimos anos, mortes de canavieiros foram associadas ao excesso de trabalho.

Conta-se a seguir o caso de um bóia-fria que morreu semanas após colher 16,5 toneladas. Não há paralelo em qualquer região com tamanho rendimento.Na estrada, flagraram-se ônibus deteriorados, ausência de equipamentos de segurança no campo, moradias sem higiene e pagamento de salário inferior ao mínimo.Conheceram-se comunidades de canavieiros que dependem do Bolsa Família, migrantes que tentam a sorte e lavradores que querem se livrar do crack e de outras drogas.Descobriram-se documentos que comprovam a existência de fraudes no peso da cana, lesando os lavradores.

Escravidão
No auge e na decadência do ciclo da cana-de-açúcar, os escravos cuidaram da lavoura e puseram os engenhos para funcionar. A arrancada do etanol brasileiro foi dada por lavradores na maioria negros.Assim como os escravos sumiram de certa historiografia, os cortadores são uma espécie invisível nas publicações do setor. Exibem-se usinas high-tech, mas oculta-se a mão-de-obra da roça.

Impressiona na viagem ao mundo e ao submundo da cana a semelhança de símbolos da lavoura atual com a era pré-Abolição. O fiscal das usinas é chamado de feitor.
Acumulam-se denúncias de trabalho escravo. É um erro supor que as acusações de degradação passem longe do Estado mais rico do país e se limitem ao "Brasil profundo". Uma delas é narrada adiante. Em São Paulo, localiza-se Ribeirão Preto, centro canavieiro tratado como a nossa "Califórnia".

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem minimizado os relatos sobre trabalho penoso nos canaviais. No ano passado, ele disse que os usineiros "estão virando heróis nacionais e mundiais porque todo mundo está de olho no álcool".
O medo de retaliações é grande entre os canavieiros. Nenhum nome foi mudado nos textos, mas algumas pessoas, a pedido, são identificadas apenas pelo prenome ou nem isso. As entrevistas foram gravadas com consentimento.

São muitos esses anti-heróis: segundo os usineiros, há 335 mil cortadores de cana no Brasil, incluindo os 135 mil de São Paulo. No Estado, prevê-se a extinção do corte manual para 2015, junto com as queimadas que facilitam a colheita.

Ilma e Rosimira compõem uma espécie em extinção. Por meio milênio, os cortadores, escravos ou assalariados, viveram tempos difíceis. Nos próximos anos, não será diferente: com baixa qualificação, eles terão de procurar outros meios de sobrevivência.

Não há sindicato que não constate queda nas contratações.
O canavial não está tão longe quanto parece: ao encher o tanque com 49 litros de álcool, consome-se uma tonelada de cana; quando se adoça com açúcar o café da manhã, milhares de brasileiros já estão na lavoura de facão na mão.

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

DEBATE SOBRE SOBERANIA ALIMENTAR E ENERGÉTICA

Síntese feita por
CÍNTIA BARENHO
Mestre em Educação Ambiental/FURG
integrante do Centro de Estudos Ambientais(CEA)


Aconteceu dia 12 de agosto na sede do SEMAPI, o debate promovido pela Marcha Mundial de Mulheres e Via Campesina com o propósito de ser um preparatório para o Encontro Nacional Mulheres em luta por Soberania Alimentar e Energética, que acontecerá em Belo Horizonte, de 28 à 31 de agosto de 2008. O Encontro prevê a participação de 500(quinhentas mulheres) de todos os estados do país e está sendo organizado pela Via Campesina e Marcha Mundial de Mulheres.

Coincidentemente estávamos em 12 mulheres que após a abertura feita pela companheira Iara Aragonez e da apresentação sobre o Encontro Nacional (EN) feita por Cláudia Prates, nos atentamos as exposições de Lucia Ortiz integrante do Núcleo Amigos da Terra (NAT), além de ser, do Grupo de Trabalho sobre Energia do Fórum Brasileiro de ONGs e Movimentos Sociais para o desenvolvimento e meio ambiente (FBOMS).

Lucia fez uma abordagem ampla sobre os temas, passando pelo modelo energético brasileiro e comparou com o modelo dos países dito desenvolvidos; a forma como a política energética tem sido conduzida nos países do sul, influenciados pelos países do norte; discutiu energia nuclear (o IBAMA recentemente liberou a licença para instalação de uma nova usina – Angra III); consumo e preço pago pela energia; as barragens e energia dita “limpa” produzida pelas hidrelétricas; abordou a temática das termoelétricas; subsídios energéticos que alguns setores produtivos recebem do governo; modelos alternativos de energia, apresentando algumas experiências do RS; dentro outros assuntos. Além disso, ela deixou a disposição diferentes materiais produzidos pelo NAT sobre o tema e ainda distribuiu um vídeo que aborda como Cuba desenvolveu mecanismos locais para superar a sua crise energética e de produção de alimentos, pós queda da URSS, que foi intensificado com o embargo dos EUA.

Feita a explanação de Lucia, abriu-se o debate as companheiras presentes que trouxeram diferentes pontos de vista, experiências (do Morro da Cruz, da Casa Rosa) e constatações, o que deixou o debata ainda mais rico e dinâmico.

Após isso, a companheira Sarai conduziu a parte final do encontro, encaminhando as discussões para a programação do EN, logística (deslocamento, custos) e lista de mulheres que irão representando o RS. Cabe ressaltar que tanto Lúcia, como Iara estarão participando do EN como painelistas.

Ainda estamos com nossa lista de delegadas da MMM em construção. Todas as companheiras da Marcha-RS podem participar, até o limite de 20 vagas (total são 40 delegadas pelo RS - as outras 20 são da Via). A prioridade é para as que já estão de alguma forma debatendo o tema da Soberania Alimentar e da Soberania Energética, mas todas as que quiserem podem escrever para mmm_rs2004@yahoo.com.br

terça-feira, 12 de agosto de 2008

Intoxicação por agrotóxicos aumenta 14% em SP

"Temos que VOLTAR a DENUNCIAR a contaminação por venenos agrícolas. O Brasil vai ser campeão de uso e de contaminações. Nossos alimentos estão cada dia mais contaminados. Seria bom , em cada ESTADO, levantar esta polêmica junto ao Ministério Público, CREA, Secretarias de Saúde e de Agricultura, Associações Médicas e de outros profissionais..... Este é um desafio para todos(as)que estão lutando por um mundo melhor e mais sustentável".

O apelo acima foi feito por Francisco Caporal, Coordenador Geral de ATER do DATER, Ministério do Desenvolvimento Agrário, reagindo à dura realidade revelada no texto abaixo.

Boa leitura!!!

30/07/2008 - 10h00
Intoxicação por agrotóxicos aumenta 14% em SP, revela estudo da Agência Estado em São Paulo. As intoxicações por agrotóxicos em São Paulo aumentaram 14%, revela estudo ainda inédito da Fundação Oswaldo Cruz (FioCruz). Os últimos dados apontam
1.965 envenenamentos acumulados em um ano, uma média de uma ocorrência a cada quatro horas no Estado, frente a 1.688 casos notificados no ano anterior. Desde 2003, é a primeira vez que um índice tão alto de problemas por pesticidas agrícolas é registrado entre os paulistas.

Os dados foram colhidos em 2006 e fazem parte do Sistema Nacional de Informação Toxicológicas (Sinitox) da FioCruz. "A tendência de aumento das notificações serve
como termômetro para as irregularidades dos alimentos que chegam à mesa população", alerta a coordenadora do Sinitox, Rosany Bochner. "O fato de termos mais intoxicação indica também que os produtos estão sendo cultivados com mais tóxicos e as frutas, legumes e verduras acabam comercializados com excesso de resíduos". No país, os intoxicados somaram 9.585, número 17% maior do 2005, quando foram 8.167 casos. A estimativa da Organização Mundial de Saúde (OMS) é que os registros não mostram o real alcance do problema, já que para cada caso notificado, outros 50 não chegam a público. Fazendo as contas, só em SP seriam 96.285 vítimas intoxicadas que não entraram nas estatísticas.

Para a gerente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Letícia Rodrigues, o resultado endossa que a utilização de reagentes tóxicos está excessiva.
"O país é o segundo consumidor mundial de agrotóxicos. As análises mostram que,
além dos alimentos chegarem ao mercado com excesso de resíduos, os agricultores
usam substâncias erradas, o que aumenta o perigo de intoxicação", diz. "A substância funciona na lavoura como o antibiótico no organismo. Se usar errado,perde o efeito." Os problemas no produtos in natura estão expressados nos índices de reprovação do Programa de Avaliação de Alimentos do governo federal (Para). A maioria das amostras analisadas foi reprovada por excesso de resíduos tóxicos ou utilização de substâncias não recomendadas para a cultura. Sem alarde. A ressalva é feita pelo coordenador de saúde ambiental da Unicamp, o toxicologista Ângelo Rapé. "Os consumidores podem ficar tranqüilos porque os resultados não configuram risco à saúde e nem a necessidade de suspender o consumo', avalia. 'As quantidades são insuficientes para provocar danos, mas mostram que o controle sanitário deve ser mais incisivo."Sobre o aumento de intoxicações, José Roberto Da Ros, o vice-presidente do Sindicato Nacional da Indústria de Defesa dos Produtos Agrícolas
reforça que é preciso aumentar as campanhas educativas para os agricultores, "única
forma de (AAAhaahahahahahahahahahah)reduzir os índices."

As informações são do jornal O Estado de S.Paulo.

terça-feira, 5 de agosto de 2008

Projeto Novos Caminhos para a Juventude Camponesa Turma X do Curso Técnico em Agricultura Ecológica



Lauro Bernardi
Engenheiro Agrônomo
Consultor de ATER-MDA/RS

Entre os dias 17 e 19 de julho de 2008, participei em Ronda Alta –RS, do Seminário de Socialização de Experiências da Turma X do Curso Técnico em Agricultura Ecológica -TAPE X, vinculado ao Projeto Novos Caminhos para a Juventude Camponesa apoiado pela PJR, M,AB, MMC e MPA e MDA. As atividades de apresentação dos trabalhos elaborados pelos educandos do curso junto a suas comunidades foram realizadas na Fundação de Desenvolvimento, Educação e Pesquisa da Região Celeiro – FUNDEP / Escola de Educação Profissional “terra de educar”. Tendo como eixos de pesquisa geração de renda e gênero, biodiversidade, sementes, pesca artesanal, fruticultura e olericultura de base ecológica, cooperação e pastoreio racional Voisin, 21 formandos de diversos estados brasileiros, apresentaram com muita maturidade e tensão característica deste momento, sua monografia à banca, submetendo-se a avaliação crítica construtiva desta e da plenária que insistia em colaborar enquanto partícipe deste maravilhoso processo de construção e troca de conhecimento. Parabéns a Fundep que demonstra ter clareza de que o compromisso com a participação popular é imperativo para todas as instituições que desejam estar afinadas com os interesses de seu público e disposta a construir relações de solidariedade e cooperação a partir de uma nova visão de sociedade. Paulo Freire nos ensinou que ninguém educa ninguém, que ninguém educa a si próprio, que os seres humanos educam-se entre si, mediatizados pelo meio. A Fundep pelo que vi, faz da teoria sua prática. Para homenagear a TAPE X - “filhas e filhos da mãe terra” que se formou no dia 26 de julho de 2008, tomamos emprestado do livro Pedagogia do Oprimido um recorte que traduz o espírito guerreiro destes NOVOS profissionais, técnicos e lutadores sociais. “Não posso investigar o pensar dos outros, referindo ao mundo, se não penso. Mas não penso autenticamente, se os outros também não pensam. Simplesmente, não posso pensar pelos outros, nem para os outros. A investigação do pensar do povo não pode ser feita sem o povo, mas com ele, como sujeito de seu pensar. E se seu pensar é mágico ou ingênuo, será pensando o seu pensar, na ação, que ele mesmo se superará. E a superação não se faz no ato de consumir idéias, mas no de produzi-las e de transformá-las na ação e na comunicação”. (Paulo Freire).

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

O Vento Que Sopra Pelas Flores - Uma História Tibetana De Cura

Esse texto foi postado em uma rede por Isabel Cristina Lourena da Silva. Achei-o muito emblemático para os nossos tempos. Bonito texto, relatando uma bela experiência. Nos ensina.
Boa leitura!!!
Iara Borges Aragonez.

De Lee Paton
11/05/2001

Há vários anos atrás, em Seattle, Washington, vivia um refugiado tibetano de 52 anos de idade. "Tenzin", é como vou chamá-lo, foi diagnosticado como portador de uma forma de linfoma das mais fáceis de curar. Ele foi internado em um hospital e recebeu a primeira dose de quimioterapia. Mas durante o tratamento, este homem normalmente gentil tornou-se agressivo e irritado; arrancou a agulha intravenosa de seu braço e negou-se a cooperar. Gritou com as enfermeiras e discutiu com todos ao seu redor. Os médicos ficaram desconcertados.

Depois, a esposa de Tenzin falou com o pessoal do hospital. Ela contou que Tenzin foi um prisioneiro político dos chineses por 17 anos. Eles mataram sua primeira esposa e ele foi repetidamente torturado e brutalizado durante todo o tempo em que esteve preso. As normas e regulamentos do hospital, juntamente com a quimioterapia, fizeram Tenzin recordar todo o sofrimento que passou nas mãos dos chineses.

"Eu sei que vocês querem ajudá-lo," ela disse, "mas ele se sente torturado pelo tratamento. Ele volta a sentir ódio internamente – da mesma maneira que os chineses fizeram ele sentir. Ele prefere morrer do que viver com o ódio que ele está sentindo agora. E, segundo nossas crenças, é muito ruim ter tamanho ódio no coração na hora da morte. Ele precisa estar apto para rezar e limpar seu coração."

Assim, o médico dispensou Tenzin e recomendou uma equipe da clínica de repouso para visitá-lo em casa. Como eu era a enfermeira encarregada de cuidar dele, entrei em contato com um representante da "Anistia Internacional" para pedir-lhe conselhos. Ele me disse que a única forma de sanar o trauma da tortura era "falar a respeito". "Essa pessoa perdeu sua confiança na humanidade e sente que a esperança é impossível." Mas quando eu encoragei Tenzin a falar sobre suas experiências, ele ergueu suas mãos e me fez parar. Ele disse, "Preciso aprender a amar de novo se eu quiser curar minha alma. Sua tarefa não é fazer perguntas. Sua tarefa é me ensinar a amar novamente."

Respirei profundamente e perguntei, "E como eu posso fazê-lo amar de novo?" Tenzin respondeu prontamente, "Sente-se, tome meu chá e coma meus biscoitos." O chá tibetano é um chá preto forte, coberto com manteiga de iaque e sal. Não é fácil bebê-lo! Mas, foi o que eu fiz. Por várias semanas, Tenzin, sua mulher e eu nos sentamos juntos e tomamos chá. Nós também conversamos com os médicos para achar formas de tratar suas dores físicas. Mas era sua dor espiritual que deveria ser diminuída. Cada vez que eu chegava, via Tenzin sentado de pernas cruzadas em sua cama, recitando preces de seus livros. Com o passar do tempo, sua mulher foi pendurando mais e mais ‘thankas’, badeirolas budistas coloridas, nas paredes. Em pouco tempo, o quarto parecia um colorido templo religioso.

Na chegada da primavera, eu perguntei o que os tibetanos faziam quando estavam doentes na primavera. Ele abriu um grande sorriso e disse, "Nós nos sentamos e aspiramos o vento que sopra pelas flores." Eu pensei que ele estava falando poeticamente, mas suas suas palavras eram literais. Ele explicou que os tibetanos fazem isso para serem pulverizados com o pólen das novas floradas, carregadas pela brisa. Eles acreditam que esse pólen é um potente medicamento.

No primeiro momento, achar muitas floradas parecia um pouco difícil. Mas, um amigo sugeriu que Tenzin visitasse algumas floriculturas locais. Eu liguei para o gerente de uma floricultura e expliquei-lhe a situação. Sua reação inicial foi "Você quer o que???" Mas quando eu expliquei melhor o meu pedido, ele concordou.

Então, no final-de-semana seguinte, eu busquei Tenzin, sua esposa e suas provisões para a tarde: chá preto, manteiga, sal, chícaras, biscoitos, almofadas e livros de preces. Eu os deixei na floricultura e combinei de pegá-los às 17 horas. No outro final-de-semana, visitamos uma outra floricultura. E mais outra no terceiro fim-de-semana.

Na quarta semana, eu comecei a receber convites das floriculturas para Tenzin e sua mulher para voltarem novamente. Um dos gerentes disse, "Nós temos uma nova remessa de nicotianas e lindas fuchsias…ah, sim! E temos belas dafnias. Eu sei que eles vão adorar o perfume das dafnias! E eu quase me esqueci! Temos uns novos bancos de jardim que Tenzin e sua esposa vão adorar!"

No mesmo dia, outra floricultura ligou dizendo que eles tinham recebido birutas coloridas para Tenzin saber de que direção o vento estava soprando. Logo, as floriculturas estavam competindo pelas visitas de Tenzin. As pessoas começaram a se importar com o casal tibetano.

Os empregados arrumavam os móveis de frente para o vento. Outros traziam água quente para o chá. Alguns fregueses regulares deixavam seus carrinhos de compras próximos do casal. E no final do verão, Tenzin voltou ao seu médico para novos exames e determinar o desenvolvimento da doença. Mas o doutor não achou nenhuma evidência de câncer. Ele estava abobalhado; disse à Tenzin que ele simplesmente não sabia explicar aquilo.

Tenzin levantou seu dedo e disse, "Eu sei porque o câncer se foi. Ele não podia mais viver num corpo tão cheio de amor. Quando eu comecei a sentir a compaixão das pessoas da clínica, dos empregados das floriculturas, e todas essas pessoas que queriam saber de mim, eu comecei a mudar por dentro. Agora, eu me sinto afortunado por ter a oportunidade de ser curado dessa forma. Doutor, por favor, não acredite que a sua medicina é a única cura. Às vezes, a compaixão pode também curar um câncer.'

P.S: "A menor empreitada humana carece de um concurso de trabalhos e aptidões tão diversas que nenhum homem sozinho pode suprir", por isso VOCÊ é imprescindível na nossa (de todos)RETRANS.PARTICIPE!