sábado, 29 de novembro de 2008

Carta Agroecologica

Com um pouco de atraso eis a Carta Agroecológica de Porto Alegre!

A conclusão mais simples, porém profunda, dos seminários, é de que de fato a construção para um outro mundo possível se dá apartir da desconstrução dos costumes e das práticas impregnadas na atual sociedade de consumo e de acumulaçao de riqueza! A questão centro do debate é a luta pela mudança do padrão de costumes sociais que o capitalismo implantou através de décadas de alienação. 

E para pensar.... O presidente da empresa responsável pelo shopping NOVO de Porto Alegre, instalado na beira do poluído lago Guaiba, setencia: "o shopping center está blindado das crises porque estão impregnados no DNA das pessoas"...Quer MAIS???? 

Paulinho Mendes

Seminários encerram com lançamento da Carta Agroecológica de Porto Alegre

Após três dias de Seminários Internacional e Estadual sobre Agreocologia, os 1.174 participantes aprovaram a Carta Agroecológica de Porto Alegre. Entre as recomendações, destaque para a proposta de criação de um Plano Nacional de Transição Agroecológica, apresentada na palestra de abertura pelo coordenador geral de Assistência Técnica, Extensão Rural e Educação Rural da Secretaria de Agricultura Familiar do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), Francisco Roberto Caporal, e defendida também pelo presidente da Emater/RS, Mário Augusto Ribas do Nascimento, durante solenidade de abertura. 

A seguir, a redação do documento: 

Carta Agroecológica de Porto Alegre 2008. 

Os 1.174 participantes inscritos no IX Seminário Internacional sobre Agroecologia e X Seminário Estadual sobre Agroecologia, reunidos no Auditório Dante Barone da Assembléia Legislativa, em Porto Alegre (RS), dias 25, 26 e 27 de novembro de 2008, para discutir tema “O Estado da Arte da Agroecologia”, recomendam: 

1. A criação de um Plano Nacional de Transição Agroecológica, tendo em vista o conjunto de externalidades negativas geradas pelo modelo atual de desenvolvimento rural. Tal Plano deve ter como pressupostos a solidariedade intra e intergeracional e a sustentabilidade em suas múltiplas dimensões (econômica, social, ambiental, cultural, ética e política). Além disso, deve contemplar ações de apoio à promoção de estilos de agriculturas mais sustentáveis, visando a preservação da agrobiodiversidade e a ecologização crescente dos sistemas produtivos; 

2. Que os princípios da Agroecologia sejam considerados na definição e execução de programas e projetos de Pesquisa, assim como nas agendas das instituições de Ensino e Extensão Rural, apontando para a consolidação de uma ética comprometida com a sustentabilidade da vida no Planeta , e incorporando questões de gênero de forma mais efetiva e estratégica ; 

3. A inclusão do enfoque agroecológico nas políticas públicas, especialmente as voltadas para o crédito rural destinado à agricultura familiar, e a ampliação de iniciativas voltadas ao fortalecimento da agricultura familiar, como é o caso do Plano de Aquisição de Alimentos; 

4. Que as instituições de ensino coloquem maior ênfase na educação agroecológica, incorporando conteúdos, valores e princípios de sustentabilidade em todos os níveis de escolaridade, com uma adequação da matriz curricular e a adoção de práticas sustentáveis (merenda escolar, reciclagem de lixo, etc); 

5. O estímulo e apoio à sistematização de experiências com enfoque agroecológico, de forma a possibilitar um amplo processo de diagnóstico, identificação, resgate, descrição e reflexão a partir das experiências sistematizadas, assim como a sua ampla divulgação; 

6. Que sejam envidados todos os esforços para a realização do X Seminário Internacional e XI Seminário Estadual de Agroecologia no Rio Grande do Sul, assim como no apoio à realização do II Congresso Latino-Americano e VI Congresso Brasileiro de Agroecologia, a realizar-se de 09 a 12 de novembro de 2009, em Curitiba (PR). 

Assessoria de Imprensa da Emater/RS-Ascar 
Jornalistas Adriane Bertoglio Rodrigues e Carine Massierer

A foto que ilustra a matéria é da Ponte do Arroio Velhaco na cidade de Arambaré!

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Assim caminha a humanidade!


Buenas, que responsabilidade. Acho que nesta hora a companheira Iara já esta nos braços de seu querido filhão. Para nós fica a responsa de levar o blog ativo até a sua volta. Quando digo nós, quero dizer todos os leitores do blog. Não será uma tarefa fácil, mas com a ajuda dos companheiros tenho a certeza de que vamos conseguir, viu Iara! 
Toda a contribuição será muito bem vinda!
Vamos trazer para o blog ainda nesta semana dois assuntos importantes, um é o final do Seminário de Agroecologia que acontece na Assembléia Legislativa no Auditório Dante Barone, encerra amanhã. Vamos reproduzir a " carta de Porto Alegre" uma tradição do seminário. Também ocorrerá no final de semana a BioNAT, vamos acompanhar e trazer as informações.
Bom é isso.. Assim CAMINHA a humanidade! 

Ps. A foto que ilustra a postagem é no Rio Grande do Sul em Cotiporã. Muito legal uma casa típica italiana em um ambiente muito lindo. 

EM TEMPO.... Não por acaso me esqueci de um grande detalhe que foi lembrado por um anônimo, mas atento leitor do blog.. de fato... a propriedade da foto é onde degustei e comprei a "melhor" cachaça do Rio Grande do Sul... Cachaça " BALSA VELHA".. RECOMENDO!!!
Paulinho Mendes

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Enfim, chegou à hora!

Caros (as) leitores (as)!

Afasto-me por dois meses, passando o bastão para o grande companheiro Paulo Sérgio Mendes Filho, o Paulinho. Integrante do Coletivo Desenvolvimento Sustentável, ele terá, a partir de hoje, a tarefa de dar VIDA a esse blog.

Nenhuma dificuldade para essa figura rara. Criativa, sensível, inquieta. Sempre buscando e encontrando explicações para todos os fenômenos da vida, sejam eles no plano da política, da economia, do meio-ambiente, da arte, como também das PESSOAS. Longas conversas nos aproximam. Pasmem, mas descobri que é possível ter longas conversas com essa rara pessoa, em que pese a sua constante e inquieta inquietude.

Quanto a mim, parto para um reencontro. Há dois anos não compartilho o quotidiano com o meu querido filho, Rodrigo. Alimentamos-nos virtualmente. E, agora, finalmente, chegou o grande dia de sentir o calor, o carinho e a voz, sem mediações. Ao vivo e a cores. Nada substitui um abraço de verdade, o riso, o olhar, o fazer as coisas juntos. E é isso que vou encontrar. Já com o coração na mão.

Vou a esse encontro cheia de expectativas e de alegrias. Mas não posso deixar de confessar que os dias que antecederam a viagem foram/têm sido cheios de uma saudade antecipada, se é que existe essa possibilidade. Saudade das coisas, dos sons, dos aromas, das árvores, das flores e das pessoas queridas que aqui deixo.

Amo essa Porto MUITO Alegre. E para me despedir brindo-lhes com algumas fotos da nossa cidade. Não são de minha autoria. As recebi em algum momento da vida e salvei-as sem registrar a origem. Se alguém souber, informe no blog, por favor, pois, vale a pena resgatar essa informação. É um belo trabalho.

Um GRANDE e “XINXADO” ABRAÇO.

E VIVA A VIDA!!!

P.S. Lauro Bernardi e Antenor Pacheco são dois companheiros do Coletivo que intensificarão as suas contribuições para o blog nesse período. Bom trabalho e boas energias para vocês.

sábado, 22 de novembro de 2008

Conferência sobre os biocombustíveis. 'Uma grande feira de negócios'

IHU - Unisinos *

Adital
Finalizada ontem, a 1ª Conferência Internacional sobre Biocombustíveis, promovida pelo governo brasileiro, foi, segundo a ambientalista Lucia Ortiz, "uma grande propaganda do etanol". O evento não contou com a presença do presidente Lula, de outros chefes de Estado e não oportunizou que acordos fossem fechados sobre o biocombustível produzido a partir do etanol. "Foi uma grande feira de negócios", disse Lucia, ao analisar a presença de muitos empresários desse setor. Lucia esteve presente nesta conferência e também no evento paralelo organizado pelos movimentos sociais para discutir o modelo da política brasileira em relação à produção ao etanol.

Lucia Ortiz é coordenadora do Núcleo Amigos da Terra e do GT Energia do Fórum Brasileiro de ONGs e Movimentos Sociais para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento. É geóloga e mestre em Geociências.

Confira a entrevista.

IHU On-Line - A Conferência Internacional sobre Biocombustíveis: os biocombustíveis como vetor do desenvolvimento sustentável é patrocinada pelo governo brasileiro. Em sua opinião, o governo pretende com esse evento?

Lucia Ortiz - A pretensão do governo, ao unir esforços, investir e promover esse evento, foi a de conquistar uma aceitação do etanol brasileiro no mercado internacional. Ou seja, expandir seu mercado de exportação de commoditie agrícola energética, principalmente em relação ao etanol, que é produzido a partir de grandes cultivos agroindustriais. Por isso nós chamamos de agrocombustíveis. Em contraposição a esse conceito, a conferência do governo chama de biocombustíveis, como vetor do desenvolvimento sustentável, expressão da qual discordo.
Era esperada a presença de chefes de Estado de nível ministerial, pelo menos, nessa conferência, mas isso não se confirmou. O que estamos vendo no evento oficial é a presença de níveis mais baixos de representação dos governos e uma grande feira de negócios. Existem muitos empresários que estão fazendo uma grande promoção desse setor. A questão da crise financeira afetou a não vinda dos chefes de Estado, mas alguns países não viram aqui oportunidade de firmar acordos ou lançar algum projeto de padronização. Outros países entenderam essa conferência mais como uma grande propaganda do etanol do que uma oportunidade de fazer grandes negócios.

IHU On-Line - Por que você discorda da idéia em torno do biocombustível?

Lucia Ortiz - Eu não concordo com essa tese porque penso que a estratégia de promoção dos agrocombustíveis, utilizada pelo governo brasileiro, tem como base a expansão das monoculturas voltadas à exportação. As monoculturas para os agrocombustíveis se somam a todo o modelo do agronegócio, que está em franca expansão e tem impactos diretos e indiretos sobre a redução da biodiversidade, devido aos deslocamentos de populações tradicionais de pequenos e médios agricultores que, de fato, produzem o alimento da população brasileira. Eles são ainda são responsáveis pelas mudanças do uso do solo, pelo desmatamento e, desta forma, contribuem para o aquecimento global. Como se destinam para abastecimento da indústria automobilística que prioriza o transporte individual e precisa de insumos que envolvem muita energia para ser produzida, eles alimentam um modelo de transporte e de produção agrícola que é altamente impactante para o clima. Por isso, as mudanças climáticas devem ser resolvidas com mudanças mais estruturais.

IHU On-Line - Os movimentos sociais fizeram um evento paralelo ao oficial, qual o conteúdo das discussões e os objetivos dessa iniciativa?

Lucia Ortiz - Nós tivemos um encontro que reuniu mais de cem pessoas de vários países da América Latina, também dos Estados Unidos, Europa e até da Ásia. Tivemos uma representatividade muito boa e que se reuniu por três dias com o objetivo de avaliar um pouco a conjuntura da crise financeira. Nós a entendemos como uma crise de modelo de civilização, pois estamos vendo a crise climática, a crise energética, a escassez da água e, ainda, a crise financeira que mostra que esse modelo econômico está acabando com o nosso capital natural, a nossa base da vida. A partir desse contexto, nós analisamos a estratégia que o governo quer empurrar e nos aprofundamos na análise dos impactos e as estratégias para minimizá-los. Fizemos críticas específicas e num segundo momento apresentamos nossas propostas para construção da soberania energética e alimentar. É um conceito que se opõe ao discurso e ao conceito do governo.

IHU On-Line - A crise mundial desfocou o debate em torno da crise climática que cada vez mais ganhava espaço ou se trata de oportunidade que poderá alavancar ainda mais o debate sobre a crise ambiental?

Lucia Ortiz - Com certeza, ela é uma oportunidade porque mostra um colapso desse nosso modelo, desse padrão de consumo e produção, de acumulação de riquezas e distribuição desigual e que é baseado no desperdício excessivo de energia. Então, ela traz muitas oportunidades de reflexão e de repensar os modos de vida no campo e na cidade, e centrando nas necessidades reais das pessoas. Por outro lado, vemos que o governo está muito preocupado com o impacto da crise financeira para suas metas de crescimento econômico. É possível que o governo, através dessa crise, para estimular a economia, mesmo aplique recursos públicos nos seus projetos num objetivo de gerar empregos, acelerar a economia apesar a crise. Estamos vendo duas coisas: uma oportunidade de reflexão e de construção de alternativas, mas vemos que a intenção do governo ainda está indo em outro sentido, apostando ainda mais no mercado de exportação, não tanto no que a população precisa.

IHU On-Line - O modelo de política que está sendo realizada para os biocombustíveis será afetado pela crise financeira?

Lucia Ortiz - Imaginávamos que sim, mas, como o próprio governo está investindo forte nesse setor, a crise não afetará a intenção do governo. O que pode afetar é a retração dos mercados que iriam importar. Em duas semanas, uma decisão muito importante será tomada no Parlamento da União Européia em relação à aprovação ou não de metas compulsórias de substituição de combustíveis fósseis por agrocombustíveis. Se eles aprovarem, todo o combustível será importado, pois eles não têm terra para isso. Por isso, as soluções para conter o problema do clima vão recair sobre os países menos responsáveis pelas mudanças. E a intenção do Brasil é avançar nesse setor.

IHU On-Line - Os biocombustíveis afetam a soberania alimentar?

Lucia Ortiz - Sim, porque na medida em que o agronegócio avança, inviabiliza a produção da agricultura familiar, que é a base da soberania familiar no Brasil. O avanço dos agrocombustíveis afeta diretamente sobre o pequeno produtor que sai do meio rural e vai para a cidade. Com isso, nós acabamos importando alimentos ou massificando a nossa dieta alimentar porque não valorizam uma alimentação diversificada e saudável e, principalmente, mais amigável para o meio ambiente.

* Instituto Humanitas Unisinos
Publicação extraída de http://www.adital.com.br

Agrocombustíveis e Soberania Alimentar e Energética

Adital

* Documento final do Seminário Internacional Agrocombustíveis como obstáculo à construção da Soberania Alimentar e Energética, realizado em São Paulo, 17 a 19 de Novembro de 2008.

Nós organizações e movimentos sociais do Brasil, Argentina, Colômbia, Costa Rica, Bolívia, El Salvador, México, Equador, Paraguai, Tailândia, Holanda, Suécia, Alemanha e Estados Unidos, reunidos em São Paulo de 17 a 19 de Novembro de 2008.
Discordamos radicalmente do modelo e da estratégia de promoção dos agrocombustíveis. entendemos que estes não são vetores de desenvolvimento, nem tampouco de sustentabilidade. Esta estratégia representa um obstáculo à necessária mudança estrutural nos sistema de produção e consumo, de agricultura e de matriz energética, que responda efetivamente aos desafios das mudanças climáticas.
Afirmamos que:

O modelo de agricultura industrial, onde se inserem os agrocombustíveis, é intrinsecamente insustentável, pois apenas se viabiliza através da expansão das monoculturas, da concentração de terras, do uso intensivo de agroquímicos, da superexploração dos bens naturais comuns como a biodiversidade, a água e o solo. Os agrocombustíveis representam uma grave ameaça à produção de alimentos. Independentemente dos cultivos utilizados para a produção de energia, comestíveis ou não, trata-se da competição por terra agricultável e por água.

A produção em escala industrial de agrocombustíveis, ao expandir a fronteira agrícola, soma-se à expansão do conjunto do agronegócio - cujos impactos dinâmicos e efeitos cumulativos são o principal vetor de desmatamento e destruição de ecossistemas em todo o mundo, e no Brasil é responsável pela destruição da Amazônia, do Cerrado e outros.

No Brasil, o setor sucroalcooleiro não se sustenta sem o financiamento público: a promoção dos programas governamentais de agrocombustíveis historicamente tem sido caracterizada por incentivos e subsídios governamentais diretos (como financiamentos públicos do BNDES, em grande parte oriundos do FAT) e indiretos (como não penalização das evasões fiscais e perdão de dívidas).

O setor sucroalcooleiro conta com a conivência do governo quanto ao descumprimento das legislações trabalhistas e ambientais: entre os impactos da produção de etanol no Brasil destacamos a superexploração e as condições degradantes de trabalho e a utilização de mão de obra escrava; a contaminação dos solos, do ar e da água e redução da biodiversidade; o encarecimento das terras e a concentração fundiária, que fragilizam ainda mais os programas de reforma agrária e promovem, concomitantemente, um processo brutal de invasão de territórios de populações tradicionais e povos indígenas e de expropriação das terras de pequenos e médios agricultores; e a ameaça a produção dos alimentos que são consumidos no país. A extrangeirização da terra -seja através da compra ou contratos de arrendamento, para a produção de agroenergia-, também é um fator recente e extremamente preocupante, pois hipoteca as áreas de terras agriculturáveis disponíveis e as condições estruturais de produção de alimentos.

Denunciamos que a estratégia de difusão internacional do modelo agroenergético do governo brasileiro, através da ação de seus ministérios, em especial o Itamaraty, e instituições financeiras e de pesquisa, como BNDES e Embrapa, reproduzirá os impactos e problemas do setor nos países da África, América Latina e Caribe.

Questionamos a estratégia de expansão dos agrocombustíveis através do mercado global: nos opomos radicalmente ao acordo de difusão tecnológica Brasil/EUA, que visa a padronização e comoditização do etanol. Nos opomos às metas de substituições de combustíveis na União Européia e nos EUA que ampliarão a demanda por terras para produção de agrocombustíveis nos países do Sul.

Alertamos que nem o zoneamento, nem critérios ambientais e sociais irão tornar sustentável o modelo do agronegócio exportador: as propostas de certificação socioambientais dos agrocombustíveis, a tomar por experiências diversas (como FSC, RTSPO, RTSB), não minimizam, mas escamoteiam os impactos, servindo majoritariamente como um instrumento de legitimação do comercio internacional. O zoneamento agroecológico da cana proposto pelo governo brasileiro, assim como a difusão de conceitos como o de terras ociosas, degradadas ou marginais, legitima a expropriação dos territórios para a expansão das monoculturas e oculta os conflitos sociais.

Reafirmamos nossa luta de mais de uma década contra os transgênicos: o avanço dos agrocombustíveis, do etanol de segunda geração e da produção de bioplásticos inclui um componente estrutural de biotecnologia, transgenia e biologia sintética, fatores que representam uma nova frente de ameaça à biodiversidade.

O atual modelo de produção e consumo, promovido pelos países do Norte é insustentável e coloca em risco a vida do planeta. Diante da crise estrutural do sistema capitalista, que engloba a questão energética, ambiental, alimentar, financeira e de valores é preciso repensar o modelo de sociedade e de civilização.

Defendemos como proposta alternativa a soberania energética, que não poderá ser alcançada em detrimento da soberania alimentar:

A soberania energética e alimentar é o direito dos povos de planejar, produzir e controlar a energia e os alimentos nos seus territórios para atender as suas necessidades:

- Requer uma nova organização do modo de vida em sociedade e das relações entre campo e cidade.
- Pressupõe um sistema alimentar calcado na reforma agrária em bases ecológicas adaptada as particularidades de cada bioma, como real alternativa aos problemas da escravidão no campo, da superexploração dos trabalhadores rurais e de concentração e acesso a terra; o fortalecimento do campesinato e das economias locais; a valorização dos hábitos alimentares e culturais; a diminuição das distâncias entre produção e consumo e relações solidárias de comercio.

Este sistema é também menos dependente, mais eficiente pode ser autosuficiente em energia. É mais apropriado e resistente e é a real solução para a crise climática, provocada pelo modelo agroindustrial petrodependente que é reproduzido na estratégia dos agrocombustíveis, a qual nos opomos.

A soberania energética pressupõe um modelo de produção e consumo de energia e de transporte baseado na racionalidade e economia, através da mudança nos atuais padrões de consumo, na diminuição dos fluxos planetários de bens e energia do sistema econômico globalizado, e em modelos de mobilidade que priorizem o transporte coletivo, públicos e de qualidade em detrimento dos automóveis individuais.

Pressupõe a substituição de combustíveis fósseis por fontes renováveis de energia produzida de forma descentralizada e para atendimento das demandas locais, bem como o apoio de assistência técnica e desenvolvimento de pesquisas voltadas aos interesses dos povos.

O preço da energia deve ser baseado no custo da produção real e não na especulação financeira. Tampouco pode estar sob controle de grandes grupos econômicos.

A soberania alimentar e energética está calcada nos princípios da democracia e da descentralização, com participação popular no planejamento e tomadas de decisões e gestão da produção de alimentos e energia, incluindo o cesso e controle sobre os fundos públicos, e da solidariedade entre os povos, considerando as diferentes potencialidades, necessidades e soluções apropriadas em cada país ou região.

A energia e os alimentos são direitos dos povos, nos são dados pela terra, pela água e pela diversidade da natureza, não podem ser tratados como mercadorias.

Publicação extraída de http://www.adital.com.br

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Primavera silenciosa

Bernardi,L.E. ¹

Adepto ao chavão, você é o que lê, fui fisgado no dia de hoje (18/11/2008) por uma chamada radiofônica sobre uma matéria que circularia no jornal O Sul, pg. 5 do Caderno Reportagem. “Veneno disfarçado de salada? Alface e tomate a dupla infalível no prato estão entre os alimentos mais expostos aos agrotóxicos, mas por meio de medidas caseiras, é possível minimizar o problema”.

Para contribuir com uma reflexão sobre a responsabilidade do conhecimento, transcrevo trechos colhidos do livro SILENT SPRING, 305p. Publicado em 1962, de autoria da bióloga Rachel Carson.


ELIXIRES DA MORTE

“Pela primeira vez na história do mundo, cada um dos seres humanos esta agora sujeito a entrar em contato com substâncias químicas perigosas, desde o momento que é concebido até o momento que sua morte ocorre. Em menos de dois decênios do seu uso, os pesticidas sintéticos foram tão intensamente distribuídos pelo mundo que eles aparecem virtualmente em toda a parte. Na água, no corpo dos peixes, dos pássaros, dos répteis, dos animais domésticos e selvagens e no próprio homem, tornando-se quase impossível localizar exemplares livre das referidas substâncias, mesmo em regiões isoladas.... Esta indústria criada para a produção de produtos sintéticos é um dos frutos da segunda guerra mundial... Seduzido pela técnica insinuante de vendas, bem como pelo persuasor oculto, o cidadão médio raramente forma consciência do caráter mortífero dos materiais de que se circunda, na verdade, esse cidadão chega mesmo a não perceber sequer que os está usando. ... Cada uma destas repetidas exposições ao veneno, por mais leve que seja, contribui para o envenenamento cumulativo... O Relatório mensal do Escritório de Estatísticas Vitais, de julho de 1959, declara que os crescimentos malignos – inclusive dos tecidos linfáticos e dos formadores do sangue - foram responsáveis por 15 por cento das mortes ocorridas em 1958. Compare-se isso com a proporção de 4 por cento, em 1900.....A situação, relativamente as crianças, é ainda mais profundamente perturbadora. Há um quarto de século o câncer nas crianças, era considerado raridade médica. Hoje, mais crianças em idade escolar, nos Estados Unidos, morrem de câncer, do que qualquer outra enfermidade. Grandes quantidades de tumores malignos são descobertas, clinicamente, em crianças com idade inferior a cinco anos, mas constitui fato ainda mais impressionante o de que uma quantidade muito expressiva de crescimentos malignos, isto é, de tumores cancerosos, se encontrarem presentes ao nascimento da criança, e mesmo antes disso... O Dr. Francis Ray, da Universidade da Flórida, advertiu que nós talvez estejamos iniciando o câncer, nas crianças de hoje, por meio da adição de substâncias químicas (aos alimentos)...Por enquanto, muito pouco se sabe a respeito da extensão a que nossos genes, sob condições de exposição aos efeitos das substâncias químicas inusitadas, estão sendo submetidos a tais influências mutagênicas...”.

Enfim, o debate deve ir além das “receitas caseiras para minimizar o problema”. A questão de fundo passa por este modelo produtivo suicida e, avança para a permissividade de nosso aparato de vigilância e controle.

¹ Engº. Agrº. Emater-RS, Esp. Planejamento e Gestão Ambiental, membro do Coletivo Desenvolvimento Sustentável do SEMAPI.

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

86 anos

Novembro 16, 2008
por José Saramago

Dizem-me que as entrevistas valeram a pena. Eu, como de costume, duvido, talvez porque já esteja cansado de me ouvir. O que para outros ainda lhes poderá parecer novidade, tornou-se para mim, com o decorrer do tempo, em caldo requentado. Ou pior, amarga-me a boca a certeza de que umas quantas coisas sensatas que tenha dito durante a vida não terão, no fim de contas, nenhuma importância. E porque haveriam de tê-la? Que significado terá o zumbido das abelhas no interior da colmeia? Serve-lhes para se comunicarem umas com as outras? Ou é um simples efeito da natureza, a mera consequência de estar vivo, sem prévia consciência nem intenção, como uma macieira dá maçãs sem ter que preocupar-se se alguém virá ou não comê-las? E nós? Falamos pela mesma razão que transpiramos? Apenas porque sim? O suor evapora-se, lava-se, desaparece, mais tarde ou mais cedo chegará às nuvens. E as palavras? Aonde vão? Quantas permanecem? Por quanto tempo? E, finalmente, para quê? São perguntas ociosas, bem o sei, próprias de quem cumpre 86 anos. Ou talvez não tão ociosas assim se penso que meu avô Jerónimo, nas suas últimas horas, se foi despedir das árvores que havia plantado, abraçando-as e chorando porque sabia que não voltaria a vê-las. A lição é boa. Abraço-me pois às palavras que escrevi, desejo-lhes longa vida e recomeço a escrita no ponto em que tinha parado. Não há outra resposta.

http://caderno.josesaramago.org

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Porto MUITO Alegre

PRIMAVERA EM PORTO ALEGRE!
Posted by Picasa

Repensando a FASE

Iara Borges Aragonez
Coletivo Desenvolvimento Sustentável
SEMAPI

O seminário "Repensando a FASE", realizado no dia 13/11/2008, foi um esforço dos(as)trabalhadores(as)da Fundação de Atendimento Sócio-educativo, através do SEMAPI e da AFUFE, para encontrar os caminhos que levarão de fato a ressocialização dos adolescentes. Um consenso já unifica o debate: que o caminho passa, necessariamente, pelo protagonismo dos(as) trabalhadores(as).

Entretanto, para mim fica uma pergunta: como ter protagonismo, quando o trabalhador(a) é tratado como um Ser que não pensa? como garantir o protagonismo, quando o(a) trabalhador(a) não tem oportunidades de qualificação/formação e acaba seus dias, seus meses, seus anos, trabalhado em estruturas completamente sucateadas, em condições de trabalho que levam ao adoecimento? não há condições objetivas mínimas para trabalhar, muito menos para desenvolver práticas sócio-educativas, capazes de ressocializar os jovens que lá estão, privados de sua liberdade, e, também, provavelmente, privados da possibilidade de um retorno dígno para a sociedade.

Espero que avanços aconteçam, mas, não sou otimista. Vivemos no Rio Grande do Sul, governo Yeda Crusius, numa conjuntura em que os(as) trabalhadores(as) e o povo não têm valor. E, ainda que afirmemos que o NOSSO TRABALHO TEM VALOR, muita luta há que ser feita para dar materialidade a essa afirmação.

Estratégias bem formuladas,penso, poderão dar conta de parte do desafio. Aos trabalhadores(as) cabe essa formulação, e a FASE, ciente disso, está fazendo a sua parte, a partir do ciclo de seminários que inaugurou hoje.

Parabéns aos(as) trabalhadores(as)da FASE, ao SEMAPI e a AFUFE. E bom trabalho!!!

Veja matéria completa sobre o Seminário na página do Sindicato www.semapirs.com.br e abaixo a poesia que deu início às reflexões.

RISCOS
Rir é correr o risco de parecer tolo.
Chorar é correr o risco de parecer sentimental.
Estender a mão é correr o risco de se envolver.
Expor seus sentimentos é correr o risco de mostrar o seu verdadeiro Eu.
Defender seus sonhos e idéias diante da multidão
é correr o risco de perder as pessoas.
Amar é correr o risco de não ser correspondido.
Viver é correr o risco de morrer.
Confiar é correr o risco de se decepcionar.
Tentar é correr o risco de fracassar.
Mas os riscos devem ser corridos, porque o maior perigo
é não arriscar.

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Flores da primavera



Percorrendo as ruas e parques de Porto Alegre é impossível ficar indiferente ao presente que a natureza nos oferece nesse período. Além de outras flores e árvores, particularmente os JACARANDÁS estão belíssimos. Vale a pena apreciá-los vagarosamente. Andar pelas ruas, seja a pé ou de ônibus, deve ter um significado para além de nos levar a algum lugar. Vamos deixar(saber quando isso é fundamental exige sabedoria) o pragmatismo de lado e dar atenção às coisas belas da vida. Olhar para os lados, parar, tocar, enfim, apreciar a beleza que é a PRIMAVERA em nossa cidade. Este, pode ser um bom começo. Humaniza, faz bem para a alma e nos deixa mais felizes. E, como felicidade contagia, ela também brotará naqueles que nos cercam. Para homenagear a PRIMAVERA e nos realimentarmos da energia dessa estação, publicamos o texto abaixo. É lindo, inspirador e ajuda a lembrarmos o quanto ainda devemos lutar para que as flores com seus perfumes e os pássaros com as suas sinfonias continuem a nos visitar ano a ano. Boa Leitura!!!

Iara Borges Aragonez
Coletivo Desenvolvimento Sustentável
SEMAPI

Pe. Alfredo J. Gonçalves *

Abre-se a primavera. Estação das flores, das cores e dos amores. Vale a pena parar um pouco para contemplar, meditar, refletir. Que nos dizem a flor e a primavera?
Primeiro, seu sorriso livre, gratuito e aberto constitui por si só uma linguagem sem palavras. Linguagem que, em harmonia com o canto dos pássaros, o brilho do sol e das estrelas, o olhar das crianças e dos animais, o sussurro da brisa e da água, forma a grande sinfonia do universo. Um mundo em música e em festa, como um jardim florido, ao redor do qual as abelhas entoam o hino da fecundação!

Mas a flor tem outras lições. Como a espiga, como o edifício, ou como o poema, ela se levanta do chão. Busca o ar livre, o céu, a luz e o sol, mas depois de mergulhar as raízes na terra. Antes de crescer para cima, cresce para baixo. Sonha com o horizonte, mas com os pés firmes no chão da história. Aliás, a flor costuma ser tanto mais bela quanto mais árido e agreste é o solo. Os sonhos, como transfiguração das carências, também costumam ser mais belos e radicais nos porões e periferias da sociedade.

Nas asas da brisa e na dança dos pássaros, voa o pólen das flores. Mas para voar, além de asas, é preciso ter pés. As pétalas se vestem de luz somente quando as raízes buscam os nutrientes que vêm do chão escuro, frio e úmido. Projetos que não tenham os alicerces firmes na rocha do contexto histórico serão facilmente arrastados pelo vento. Manipulados pelos furacões oportunistas da política.
Também impressiona a gratuidade da flor. Entrega-se à contemplação sem nada exigir em troca. Sendo efêmero, seu brilho parece mais vivo e colorido. Como se tivesse consciência de sua passagem fugaz pela face da terra, doa-se com toda a intensidade. Faz lembrar Fernando Pessoa: "para ser grande, sê inteiro: nada teu exagera ou excluí"! A passagem pela vida é breve e única. Por isso a flor se reveste da mais bela roupagem, antes de murchar e desaparecer para sempre. O perfume e a beleza são de tal magnitude que compensam seu desfile meteórico aos olhos dos viajantes.

Em sua gratuidade, a flor revela-se, ao mesmo tempo, forte e frágil. Como o amor, de que é o símbolo por excelência, vê-se impotente diante das intempéries. Acariciada pela brisa, ela pode ser devastada pela impetuosidade dos ventos. Mas estes, no dizer do poeta, embora possam destruir as flores, jamais impedirão o retorno da primavera.

A flor orienta-se pela luz. Busca a luz e dela se nutre. O nome do girassol traduz exatamente isso. O mais interessante é que, mesmo de noite, ele insiste em seguir o sol. Baixa o olhar para o solo como se adivinhasse que o astro rei encontra-se lá, do outro lado do planeta. Mesmo no escuro, segue fielmente a trajetória da luz. Sabe que as trevas são passageiras e que a nova aurora não tarda.

Impressiona, ainda, a diversidade das flores. Profusão de cores e tons, roupas e formatos. Inútil perguntar se a rosa é mais bela que o crisântemo, ou se o cravo é mais perfumado que a magnólia. Elas não são melhores nem piores, umas em relação às outras. São diferentes! E é justamente essa diferença que torna belo o jardim. Para brilhar, nenhuma necessita apagar o sorriso da outra. Todas e cada uma em particular encontram seu espaço na harmonia do conjunto.

Hoje corremos o risco de destruir as flores e o jardim, a natureza e o planeta. Reduzimos tudo a valor monetário, a lucro e acumulação de capital sobre capital. Está em jogo a vida, o oxigênio, a biodiversidade. Que esta estação nos ensine a lição das flores, junto com a necessidade de fazê-las brotar, nem que seja na pedra, no concreto no asfalto. Só assim estaremos avançando para a eterna primavera!

* Assessor das Pastorais Sociais.
Texto publicado em www.adital.com.br

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Um aninho é pouco, mas foi muito bom!

Peço desculpas ao meu querido amigo, companheiro Paulinho, pois nas minhas tantas mensagens deixei passar essa, tão cheia de carinho. Alertada por ti, Paulinho, vejo que chegou exatamente no dia em que o blog comemorava 1 ano. Ainda que alguns dias depois, a publico, cheia de orgulho pelas tuas queridas palavras.Valeu companheiro!!!essa caminhada, tendo-te como par, seguramente, por si só, já valeu a pena. Quanto àquele almoço, fica combinado para 2009. Cheio de boas energias e novidades.Um beijo no coração!!!!!

Abaixo a tua mensagem.
Iara Aragonez.


Paulo Sérgio Mendes Filho
Coletivo Desenvolvimento Sustentável
SEMAPI


Vinte e uma horas, de um início de noite, depois de um final de tarde lindo em Porto Alegre, dia 30 de outubro de 2008, aniversário de um aninho do Blog da Sustentabilidade do SEMAPI, não poderia deixar de postar uma mensagem, não é?

Que maravilha, um ano sustentando informações de qualidade de quem, e para quem, acredita em um mundo diferente para melhor . Nós que acompanhamos de perto a dedicação da companheira Iara Aragonez na construção, pesquisa e análise do conteúdo postado em nosso blog percebemos o carinho e a paixão de quem sabe das coisas. Foi um passo depois do outro. Várias vezes a companheira postava um artigo interessante, ou um texto e perguntava: Vocês leram o blog hoje? E nós,companheiros de caminhada, corríamos para o computador, envergonhados evidentemente, para leitura do citado texto. E pode crer, nunca desperdiçamos nosso tempo, pelo contrário, sempre recolhíamos informações importantes. Que bom né, as vezes, uma foto, um texto, uma dica, uma idéia, um artigo, uma música, um vídeo, um carinho, enfim.. o desenvolvimento de uma idéia em transe.

Um dia, comentava com a Iara da necessidade em salvar todos os conteúdos do blog em um cd, hoje me dei conta, de que não precisa salvar em um disco, sabe por que?, porque tenho a certeza de que todos que leram alguma vez algum texto do blog gravaram permanentemnte em sua memória. Acredito também, que estes mesmos, já divulgaram para outros tantos as idéias lidas no blog e com isso semearam idéias mundo a fora. Esta é a essência de um blog de qualidade,semear idéias mundo a fora.

As idéias escritas e disponibilizadas para tantos outros exercitam nossa capacidade de pensar sobre as coisas e nos fazem semeadores de idéias. As vezes necessariante não são as mesmas postadas, mas algumas outras decorrentes destas, e que intencionalmente nos fizeram pensar a partir de então. E assim foi, um vai e vem desenvolvendo idéias formando opiniões, caminhando e desenvolvendo, envolvendo e compartilhando, um ano e tanto!

Portanto ... só me resta uma coisa...Longa Vida BLOG DA SUSTENTABILIDADE SEMAPI!
Valeu Iara, acho que novamente deveríamos fazer um almoço daqueles!