terça-feira, 16 de março de 2010

Para onde estamos fugindo?

Leonardo Boff - lboff@leonardoboff.com

Uma das característica principais do atual momento é a aceleração do tempo. O espaço terrestre praticamente o conquistamos. Mas o tempo continua sendo o grande desafio: poderemos dominá-lo? A corrida contra ele se dá em todas as esferas, a começar pelo esporte. Em cada olimpíada busca-se superar todos os tempos anteriores, especialmente na clássica corrida dos cem metros. Os carros devem ser cada vez mais velozes, os aviões e os foguetes têm que superar a velocidade da geração anterior. No agronegócio se utilizam promotores químicos de crescimento para encurtar o tempo e lucrar mais. A internet é de altíssima fluidez e sem cabos, pois, para ganhar tempo, tudo é feito via satélite E a aceleração atingiu especialmente as bolsas. Quanto mais rapidamente se transferem capitais de um mercado para outro, acompanhando o fuso horário, mais se pode ganhar. Como nunca antes “tempo é dinheiro”.

Logicamente, em todo esse processo há um elemento libertador pois o tempo foi, em grande parte, vivenciado como servidão. Não podemos detê-lo. Por outro lado produz um impacto sobre a natureza que possui seus tempos e ciclos. O impacto não é menor sobre as mentes das pessoas que se sentem atordoadas, particularmente as mais idosas, perdendo os parâmetros de orientação e de análise daquilo que está ocorrendo no mundo e com elas mesmas. Vale a pena essa irrefreável corrida? Para onde estamos fugindo?

Ai daqueles que não se adaptam aos tempos. Em termos de trabalho são ejetados do mercado pois suas habilidades ficaram obsoletas. Os que se resignam, perdem o ritmo do tempo e são considerados preconcemente envelhecidos ou simplesmente retardatários. Isso pode ocorrer com países inteiros que não incorporam os avanços da tecno-ciência. Todos são obrigados rapidamente a se modernizar e a ser emergentes.

Para onde nos levará essa corrida contra o tempo? Ele sempre nos ganha pois não podemos congelá-lo. Ele simplesmente passa devagar ou acelerado como nos grandes túneis de aceleração de partículas.

Mas importa considerar que há tempos e tempos. O tempo natural do crescimento de uma árvore gigante pode demorar 50 anos. O tempo tecnológico de sua derrubada com a motoserra pode durar apenas 5 minutos. Quanto tempo precisamos para crescer em maturidade, sabedoria e conquistar o próprio coração? Às vezes uma vida inteira de 80 anos é curta demais. O tempo interior não obedece ao tempo do relógio. Precisamos de tempo para trabalhar nossos conflitos interiores que às vezes nos obrigam a parar.

Uma reflexão do mestre zen Chuang-Tzu de 2.500 anos atrás nos parece muito
inspiradora. Ele conta que havia um homem que ficava tão perturbado ao contemplar sua sombra e tão mal-humorado com suas próprias pegadas que achou melhor livrar-se de ambas. O método foi da fuga, tanto de uma quanto de outra. Levantou-se e pôs-se a correr. Mas sempre que colocava o pé no chão aparecia a pegada e a sombra o acompanhava sem a menor dificuldade.

Atribuiu o seu erro ao fato de que não estava correndo como devia. Então pôs-se a correr velozmente e sem parar, até que caiu morto por terra. O erro dele, comenta o Mestre, foi o de não ter percebido que, se apenas pisasse num lugar sombrio, a sua sombra desapareceria e caso ficasse parado, não apareceriam mais suas pegadas.

Não é isso que hoje se impõe fazer? Dar uma parada? Aqui reside o segredo da felicidade e da ansiada paz interior.

Leonardo Boff - Teólogo

domingo, 14 de março de 2010

Entrevista com Michael Pollan

Michael Pollan, ensaísta norte-americano,autor do livro "Em Defesa da Comida" e "O Dilema do Onívoro"

PO - Como você vê o crescimento dos orgânicos industrializados?

MP - Eu acho que existe uma tensão entre a lógica do industrializado e da lógica do orgânico. A preocupação com o preço, o mais barato possível e a eficiência pode levar as pessoas a simplificar ou complicar demais o que é orgânico. Agricultura local é muito importante e este conceito está se perdendo. Grandes indústrias orgânicas americanas estão comprando frutas silvestres ("berries") no Chile. Eu não sou contra produtos orgânicos industriais. Eu acho que eles são necessários e que nós precisamos deles. Mas as pessoas precisam saber que não é só por causa do que eles estão vendo nos rótulos que elas estão comprando o que está em seu imaginário.

PO: Conforme você escreve no seu artigo, realmente as pessoas, pelo rótulo, muitas vezes imaginam uma fazenda familiar, uma vida pastoral

MP- Exatamente, um sonho pastoral. Isto é o que as pessoas pensam que estão comprando. O que não é verdade. Me dei conta disto quando prestei mais atenção a alguns produtos. Em alguns casos, como no caso do leite - como escrevi no artigo – que é um produto super processado- fica longe do ideal orgânico.

PO : Você não acha que a palavra orgânico nos anos 70 tinha outro significado?

MP: Eu acho que atualmente o sentido de orgânico ficou muito restrito. Se você
insistir num orgânico não processado e numa produção local , a produção ficará sempre muito pequena. A verdade é que qualquer sonho fica comprometido quando entra no sistema.

PO - Mas, embora industrializadas, estas fazendas seguem a maior parte das regras do orgânico. Não é o ideal, mas é melhor do que a alternativa...

MP: Se você for preocupado com meio ambiente, com o que está acontecendo com as fazendas, com o solo e etc, então compre a maior quantidade possível de terra e a torne orgânica. Isto é o que está fazendo a Cascadian. O que eu estou dizendo é que as pessoas devem esquecer o que ficou para trás. Todas as revoluções sociais dos anos 60 se comprometeram com o sistema durante o caminho. No meu ponto de vista uma das coisas importantes dos orgânicos, é descobrir um caminho para que os pequenos produtores sobrevivam, num momento que o agribusiness está tomando conta de tudo.
PO – Você acha que o mercado orgânico vai continuar crescendo?
MP: Acho que vai crescer e muito. Ainda é um mercado pequeno, mas tem um potencial muito grande.O que é triste é ver estas grandes industrias arrasarem com os pequenos produtores.

PO – Você diz que o número de fazendeiros orgânicos está aumentando nos Estados Unidos. A que você atribui este crescimento ? Poderia ser a perspectiva de um novo mercado?

MP: Eu acho que os agricultores acreditam no que eles vêm. Quando alguma coisa da certo, eles a adotam. Eles se analisam entre si muito cuidadosamente e estão sempre perguntando "o que será que o meu vizinho está plantando?". Portanto, quanto mais orgânico estiver sendo plantado, mais pessoas estarão experimentando o orgânico também. Eu sei que orgânico dá mais trabalho do que a agricultura convencional, O orgânico toma mais tempo na administração da plantação. Intelectualmente também dá mais trabalho, ao invés de você comprar um pacote de agrotóxicos você tem que ter um sistema de proteção natural na sua plantação. Há um valor espiritual no orgânico.

PO: Qual a visão do consumidor em relação aos orgânicos?

MP - Eu fiz uma palestra na OTA (Organic Trade Association) e lhes disse que eles tinham que decidir qual a mensagem que eles queriam passar ao consumidor. Se estavam vendendo uma mensagem em favor do meio ambiente ou a preocupação de vender saúde. Eles chegaram à conclusão que a mensagem pela saúde tem mais poder sobre os consumidores. Todo produto hoje em dia tem um apelo para a boa saúde; ou é bom para o coração, ou bom para o colesterol e assim por diante. Vocês já visitaram o supermercado Whole Foods? Eles tem produtos orgânicos, em transição e convencional. É uma cadeia gigante de supermercados que está investindo muito em orgânicos. Eles tem uma excelente loja em Chelsea.

PO - Algumas pessoas ainda não compreendem que saúde e meio ambiente estão intrinsecamente ligados

MP – Exatamente. Foi feita uma pesquisa e o resultado foi que somente de 7 a 9% das pessoas que compram orgânicos estão conscientes que consumindo orgânicos estão colaborando para a preservação do meio ambiente.
PO : Você não acha que os "Chefs" dos restaurantes tem um importante papel para difundir os produtos orgânicos?

MP: Com certeza! Os chefs criam demanda por orgânicos e aumentam seu prestígio. A primeira geração dos orgânicos não tinha muita preocupação com a aparência. Hoje os chefs vão as feiras para escolherem seus próprios produtos, exemplo disto é o Peter Hoffman que é proprietário do Savoy, restaurante orgânico no Soho .Ótimo restaurante, com um menu delicioso. Peter também é presidente da Associação de Agricultura Sustentável. Você pode encontrá-lo fazendo compras na feira da Union Square, com a sua bicicleta.

PO-Fale um pouco sobre seu livro The Botany of Desire. Como surgiu a idéia?

MP- O livro começa exatamente como eu disse, eu estava no jardim, eu gosto das plantas e aos poucos me dei conta que estava trabalhando para elas ao invés delas trabalharem para mim. Eu gosto de escrever uma longa história sobre uma única planta; buscar toda sua história, metodologia, filosofia, e quanto mais me aprofundo vejo que tem dois canais de comunicação.Ninguém já chegou no ápice da evolução, todo mundo interage na evolução do outro.

PO_Que outros livros você publicou?

Meus outros livros são: "Second Nature (Segunda Natureza)" que é um livro sobre ensaios que brotou das minhas experiências com o meu jardim. Eu me dei conta enquanto estava escrevendo o livro que o jardim é um lugar muito interessante para se estudar a relação do homem com a natureza. Tradicionalmente isto acontece na América. Escritores que escrevem sobre a natureza na América, vão em busca da vida selvagem para escrever sobre a natureza; vão para os bosques, para as montanhas, para o oceano, onde eles encontram grandes idéias sobre a natureza. Tudo bem! Eu aprendi o que pude disto. Mas eu também acho que nós temos que interagir. Na natureza selvagem nós ficamos somente como espectadores e no jardim nós temos que agir. Olhando para ele vemos que temos que nos dedicar, participar dele. Nós temos que descobrir um meio responsável de participar da natureza. O jardim tem muitos ensinamentos. O meu segundo livro é sobre Arquitetura – "A Place of My Own". Já foi lançado em diversos países: Inglaterra, França, Japão e até na China.

PO - Depois de ler o seu livro, começamos a olhar para as maçãs de modo diferente.Há tantas variedades de maçãs nos Estados Unidos

MP – Realmente existe uma variedade muito grande nos EUUU. Alguns anos são melhores do que os outros. O ano passado não foi um bom ano. Este ano está sendo muito bom. Quando vocês forem ao Greenmarket encontrarão uma maças excelentes.

PO - E os vinhos orgânicos? Como é este mercado?

MP – Vocês sabem que existe muito mais vinhos orgânicos do que se pode imaginar. E alguns não levam no rótulo o selo orgânico. Vocês sabem por que? Muitos vinicultores da Califórnia tornaram-se orgânicos, mas eles descobriram que colocando a palavra "orgânico" não vendiam tanto quanto sem a especificação orgânica. Simplesmente porque as pessoas perguntam "será que este vinho orgânico pode ser bom?" "Galo é um grande vinhedo orgânico.

PO – E o Coppola também. Nós experimentamos um excelente vinho orgânico chamado "Bonterra". Nos foi indicado pela Nell Newman quando estivemos na Califórnia no ano passado

PO - O que você vê num futuro próximo?

MP- Talvez uma terceira via. Algo entre orgânico e convencional. Muitos fazendeiros com quem tenho conversado ficam receosos de se livrar totalmente dos químicos.Não que eles queiram utilizá-los rotineiramente, na verdade eles também odeiam os químicos. Mas eles tem receio de se arriscar e não ter como resolver uma situação de emergência.Eles estão desenvolvendo um sistema híbrido. Por outro lado, já há vários fazendeiros que utilizam os dois sistemas ( orgânico e convencional) na mesma fazenda.Desta forma, aos poucos, vão descobrindo as qualidades do sistema orgânico.

Você pode conferir a primeira parte dessa entrevista no site do Planeta Orgânico http://www.planetaorganico.com.br/pollan1.htm

segunda-feira, 8 de março de 2010

Dia Internacional da Mulher: Em busca da memória perdida



ESCRITO POR MALUSIL EM 4 MARÇO 2010

Neste ano de 2010 completam-se 100 anos da criação do Dia Internacional das Mulheres. São muitas as história que se contam a respeito das origens desse dia. E muitas vezes, as confusões, mitos e fantasias sobre suas origens deixaram oculto seu caráter profundamente vinculado à luta das mulheres socialistas.
Um pouco da história do Dia Internacional da Mulher

O Dia Internacional da Mulher, comemorado desde o início do século XX, é uma data que remete a todo um período de lutas por melhores condições de trabalho, diminuição da jornada de trabalho, principalmente das trabalhadoras americanas, pelo direito à educação e ao voto feminino. As trabalhadoras socialistas americanas vinham comemorando um Dia da Mulher para marcar um calendário de lutas.

O incêndio que é sempre citado em data errônea e chegou a ser considerado mítico ocorreu realmente, mas em 1911, em Nova York, dezoito dias depois do Dia da Mulher. Em 23 de março, houve um grande incêndio numa conhecida indústria têxtil, a Triangle Schirwaist Company, cujo patrão, como era comum fazer à época, trancou a porta de saída à chave, o que num andar alto e num ambiente sem ventilação e com materiais inflamáveis, tornou-se fatal. Quando os bombeiros chegaram 147 operárias já haviam morrido. Após essa tragédia a solidariedade entre as trabalhadoras estreitou-se e suas lutas deram origem às primeiras leis de proteção à vida e aos direitos das trabalhadoras.

Mas, antes desse evento grave, já em 1910, Clara Zetkin, socialista alemã, propôs que o Dia da Mulher se tornasse “uma jornada especial, uma comemoração anual de mulheres, seguindo o exemplo das companheiras americanas”. Sugeria ainda que o tema principal fosse a conquista do direito ao voto. Surge, então, o Dia Internacional da Mulher. A partir daí, as operárias européias e russas assumiram essa data que, em 1914, foi comemorado no Dia 8 de Março. Consolidando essa data, em 1917, no dia 23/02 no calendário gregoriano (ou 8 de março) as operárias russas desencadearam uma greve geral, cujas manifestações precipitaram a Revolução Russa.

Depois das grandes guerras, na década de 1960, os movimentos de libertação das mulheres em todo o mundo retomaram essas comemorações. No Brasil, em plena ditadura, a partir dos anos 1970 o movimento de mulheres ressurge colado às lutas pela democracia e em 1975, quando a ONU organizou uma Conferência Mundial de Mulheres, o movimento de mulheres retoma as lutas coletivas mais abertamente.

Em reconhecimento dessas lutas, o dia 8 de março foi instituído pela ONU, em 1977, como Dia Internacional da Mulher o que reforça a oportunidade criada pelo movimento de mulheres de fazer um balanço dos progressos e conquistas a respeito do lugar ocupado pelas mulheres e dos obstáculos à sua cidadania e levar o conjunto da sociedade e dos governos a refletirem sobre as formas de enfrentar as desigualdades de gênero, ou seja, pela igualdade entre homens e mulheres, em diversas áreas, e pressionarem os governos a elaborarem políticas públicas anti-discriminatórias, além de promover ações para a conquista da cidadania plena das mulheres, melhorando a qualidade de vida de todas e todos e construindo uma sociedade mais justa.


A Marcha Mundial de Mulheres Brasil no âmbito de sua 3ª Ação Internacional lança dia 13/03/10 um livro fundamental. Para marcar este um século de organização e mobilização das mulheres, a SOF juntamente com a editora Expressão Popular publicam o livro “As origens e a comemoração do Dia Internacional das Mulheres”, de Ana Isabel Álvarez González, traduzido do espanhol. Ver roteiro e calendário de ações formativas e culturais da Marcha na página da sof: www.sof.org.br/marcha.

terça-feira, 2 de março de 2010

O consumo entra na era dos produtos verdes

Por Fernanda Dalla Costa

A segunda década do século 21 começa com uma profunda mudança nos hábitos de consumo, onde o ciclo de vida dos produtos e seus impactos socioambientais terão mais peso do que apenas o preço e a marca na hora da compra, indicando que os tempos de consumismo desenfreado será deixado para trás, é o que indicam pesquisas recentes de opinão no Brasil e no exterior.

"Vamos viver uma década onde não é só o produto que vai contar e sim toda a história por trás dele", disse o sociólogo Dario Caldas, fundador da empresa de pesquisas de opinião Observatório de Sinais (ODES).

Com a popularização de questões ambientais, como as mudanças climáticas e seus efeitos, cada vez mais as pessoas estão se preocupando com o meio ambiente, mudando alguns comportamentos em prol do coletivo e se predispondo a pagar mais por bens ou serviços menos impactantes.

O reflexo disto, capturado pelas pesquisas, é que as pessoas já estão dispostas a pagar até 10% a mais por produtos que causam menos impactos socioambientais.

De acordo com a pesquisa 'Consumo em tempos de crise' feita pela ODES, 89% dos entrevistados acreditam em uma forte relação entre o excesso de consumismo e o aquecimento global, enquanto 84% afirmam priorizar produtos nacionais no momento da compra, indicando que querem produtos feitos localmente.

"Vamos ver grandes modificações no mundo, que antes demoravam décadas para acontecer e hoje acontecem muito mais rápido, em poucos anos, e podemos ter uma consciência muito maior que hoje", disse Beth Furtado, diretora da consultoria de marketing Alia.

De acordo com Furtado, a pesquisa 'Our Green World', realizada pela TNS Research International, feita em 2008 com mais de 13 mil pessoas em 17 países, constatou que 40% dos entrevistados mudaram algum detalhe do seu comportamento para beneficiar o meio ambiente, entre os brasileiros que participaram da pesquisa, a taxa foi de 65%.

Já a pesquisa do ODES mostrou que o número de pessoas que mudaram hábitos de alguma forma é de 92%, sendo que a racionalização no uso da água foi a resposta para 71% das pessoas, a diminuição na geração de lixo esteve em pauta nas respostas de 66% e a economia de energia em 42%.

Além disso, a TNS concluiu que 83% dos brasileiros consideram-se dispostos a pagar mais por produtos ambientalmente amigáveis, ficando em segundo lugar na pesquisa, seguindo a Tailândia, onde 94% aceitam o aumento no custo.

No contexto mundial da pesquisa, 59% dos entrevistados pagariam esse aumento de preços.

Dos 17 países pesquisados, o Reino Unido é o que tem menos cidadãos dispostos a pagar mais por produtos verdes. A média mundial da aceitação do aumento de preço é de 68%.

Segundo Caldas, isto indica que a tecnologia usada e os processos de produção ganham mais importância na concepção de um produto, desafiando a hegemonia da inovação guiada apenas pelo desejo de consumir.

Ele entende que estes 'produtos verdes' agora devem ter um design que incorpore tecnologias que causem menos impactos ao meio ambiente, promovam a inclusão social de vários grupos e faixas etárias e levem conta a convergências de mídias para produtos tecnológicos.

"Além disso, eles deverão ter a cara da simplificação e do 'feito à mão'", concluiu.

Para a ODES, 93% dos brasileiros entrevistados declararam que vão comprar cada vez mais produtos sustentáveis e 33% afirmam que saber a origem do produto é decisivo para a escolha.

De acordo com os dados da TNS, 37% dos brasileiros aceitariam pagar até 5% a mais e 36% pagariam 10% a mais por produtos com estas características. A pesquisa também identificou que 95% dos brasileiros apoiam que o varejo elimine marcas não sustentáveis; nos outros 16 países, esse número foi de 71%.

No Brasil, a pesquisa revelou que 9% dos entrevistas pagariam até 20% a mais por produtos com menor impacto socioambiental. Na Argentina e no México, 11% e 10% dos entrevistados pagariam se encaixaram neste grupo.

"A geração 2010 é a que adquiriu os direitos emocionais de dizer 'eu não preciso', o que é uma grande ameaça às empresas que não se adequarem", afirmou Caldas.

O sociólogo considera que a rastreabilidade e os detalhes da produção também influenciarão no consumo, fato comprovado pela a pesquisa 'Our Green World' (Nosso Mundo Verde em português), da TNS, que mostrou que 61% das pessoas declaram-se influenciadas por empresas verdes.

No Brasil, essa taxa sobe para 81% dos entrevistados.

Porém, 44% desses mesmos brasileiros acreditam que as empresas fazem greenwashing, ou seja realizam ações ambientais somente por marketing e não incorporam os conceitos socioambientais nos seus processos de produção.

Apesar de tudo isso, a pesquisa 'Estilos Sustentáveis de Vida' do Instituto Akatu, realizada em dezembro de 2009 com jovens de idade entre 19 e 35 anos mostrou que 86% dos entrevistados apresentam consciência ambiental, estando mais preocupados com moradia, segurança e trabalho do que com o meio ambiente. A boa notícia é que o estudo identificou que estes mesmos jovens estão abertos ao assunto, mesmo que não o conheça tão profundamente.

"Falta informação", disse Furtado, concluindo que o Brasil ainda tem um grande mercado de sustentabilidade para ser explorado.

Para Caldas, a aplicação da tecnologia para desenvolver produtos e serviços com menor impacto socioambientais é uma saída para o garantir o futuro do capitalismo.

"A sustentabilidade está para o século 21 assim como a tecnologia esteve para o século 20", afirmou Caldas, que considera "A sustentabilidade será a saída para o capitalismo. Imagine quanto investimento será necessário para reconstrução do mundo para um modelo sustentável".

(Envolverde/Rebia)