segunda-feira, 8 de setembro de 2008

8°. Encontro Diocesano de Sementes Crioulas



Eng°Agrônomo Lauro E. Bernardi
Coletivo Desenvolvimento Sustentável
Semapi Sindicato


A Comissão Pastoral da Terra – Diocese de Santa Cruz do Sul, com apoio da Emater-RS / Ascar, Paróquia Santo Antônio, Sindicato dos Trabalhadores Rurais e Movimento dos Pequenos Agricultores, promoveu dia 6 de agosto no Município de Pouso Novo RS, o 8°. Encontro Diocesano de Sementes Crioulas, tendo como objetivos:
• Estimular o resgate e a troca de sementes crioulas entre os agricultores e agricultoras;
• Fortalecer a agricultura de base familiar;
• Discutir alternativas de produção agroecológica;
• Fortalecer a organização dos pequenos agricultores e agricultoras.
• Discutir alternativas de renda proporcionando melhores condições dos jovens e suas famílias permanecerem na roça dignamente.

Após a abertura com pronunciamento do bispo Don Sinésio Bonh e demais autoridades presentes, o agricultor ecologista Juarez Antônio Felipe Pereira de Mariana Pimentel, abordou o tema “preservar as sementes crioulas, uma questão de soberania camponesa” aos mais de 340 participantes. Mauricio Queiroz da organização do evento destaca que o 8°. Encontro recebeu mais de 200 tipos diferentes de sementes e mudas, explicitando uma excelente mostra da biodiversidade regional e de estratégia de enfrentamento a dominação das sementes pelas grandes corporações. O trabalho em grupo realizado durante a tarde levantou demandas de trabalho, apontou alternativas e compromissos de continuidade de encontros iguais a estes que ao longo dos anos vem sendo fortalecido pela ação da Pastoral e seus parceiros. Ao final do evento que contou com animação musical do cancioneiro popular Antônio Gringo, foram realizadas com entusiasmo característico trocas de sementes e mudas entre os participantes.

A Importância deste tema
A evolução milenar dos cultivos, a partir de seus centros de origem, legou a humanidade uma riqueza insubstituível, agora ameaçada.

O avanço do mercado de sementes de alta produtividade está fazendo desaparecer a variabilidade genética vegetal. A agricultura mundial e milhões de vidas e modos de subsistência dependem da diversidade genética e, o sentido comum nos diz que a perda destes recursos trará conseqüências negativas à humanidade. Desde o alvorecer da agricultura, há 12.000 anos, até o século XX, cada camponês teve que produzir e guardar suas próprias sementes para a temporada seguinte. Essa necessidade contribuiu para o desenvolvimento da diversidade genética e teve como resultado variedades notadamente bem adaptadas á condições muito específicas. De quase um quarto de milhão de espécies vegetais, a humanidade domesticou menos de 1.500 espécies sob a agricultura formal. Nossas necessidades alimentares hoje são supridas por menos de 30 espécies de plantas. A compreensão de que nossas alternativas alimentares seguem se reduzindo é realmente aterrador. O exemplo dramático da fome no continente africano tem relação direta com a uniformidade do sistema alimentar mundial, implantado pela revolução verde. A diversidade destes campos garantia que um ou outro cultivo adaptado sobrevivesse. Se os cultivos simples fossem afetados, sempre sobravam, para consumo, cultivos menores e plantas silvestres comestíveis. A introdução de cultivares de alta sensibilidade mudou tudo isso. Hoje, com as variedades ‘modernas’ introduzidas na África, quando a seca desfere seu golpe, não resta nada a que se possa recorrer. Pessoas morrem de fome como nunca visto antes. O aprofundamento da desapropriação do conhecimento milenar camponês pela obcecada industrialização da agricultura recriará outras Áfricas, pelo simples aniquilamento da biodiversidade. O aniquilamento da vida. A história brinda-nos com exemplos educativos. ‘Durante a guerra do Vietnã , um fungo atacou o cultivo de milho dos Estádios Unidos. A pressão de seleção para incorporar crescentes ganhos de produtividade altamente dependente de pacotes tecnológicos fez com que praticamente todos os híbridos ficassem aparentados (estreitamento da base genética). Assim, quando uma raça específica do fungo Helmintosporium maidis derrubou a resistência incorporada de uma cultivar, todas as cultivares igualmente disponíveis mostraram-se sensíveis a esta doença. A solução veio da tradicional agricultura Mexicana, que tinha entre seus cultivares milenares, mantidos pelos povos indígenas, genes de resistência natural a esta doença. A motivação apenas econômica da biotecnologia, apoiada por um sistema implacável de propriedade intelectual, faz com que as sementes vendidas como milagrosas tomem o lugar dos valiosos estoques nativos. Onde buscaremos garantir nossa segurança alimentar, quando nossos bancos de resistência natural estiverem irreversivelmente contaminados, ou centrados numa estreita base genética sob controle de um ou dois monopólios? A liberação das cultivares transgênicas de milho (polinização aberta), poderá contaminar de forma criminosa em poucos ciclos de cultivo, todos nossos materiais crioulos. Reflitamos sobre isso. (Eng°. Agrônomo Lauro E. Bernardi / Coletivo Desenvolvimento Sustentável / Semapi Sindicato)

Aproveitamos a oportunidade para divulgar a segunda edição das cartilhas sobre legislação de sementes e mudas: Semente Crioula é Legal: a nova legislação brasileira de sementes e mudas e A Produção de Sementes Registradas na Nova Legislação Brasileira de Sementes e Mudas, produzidas pelo GT Biodiversidade da Articulação Nacional de Agroecologia, ANA. O formato eletrônico das duas cartilhas e do jornal pode ser encontrado no site da AS-PTA http://www.aspta.org.br/politicas-publicas/biodiversidade/cartilhas-e-publicacoes

Um comentário:

Anônimo disse...

Realmente, esquecemos o alerta "do escandalo das sementes", que está neste quesito a possibilidade do domínio completo da agricultura pelas grandes corporações.