sexta-feira, 2 de maio de 2008

Comunidades Quilombolas fazem festa de Colheita do Arroz no RS

Nos dias 26 e 27 de abril, mais uma vez, vivi uma experiência ímpar.

Juntamente com um grupo de estudantes de Porto Alegre e de trabalhadores (as) urbanos da economia solidária, participei da colheita do ARROZ QUILOMBOLA nas comunidades quilombolas de Teixeiras (Mostardas-RS) e Olhos D'Água (Tavares-RS), localizadas no Litoral Sul gaúcho.

Em mutirão, orientados pelos agricultores (as) quilombolas, colhemos a foice o Oryza glaberrrima, que é o primeiro arroz cultivado no Brasil. Originário da África, chegou aqui no século 16 pelas mãos dos negros.

Por volta de 1739, com a exploração do arroz asiático, foi proibido seu cultivo, devido a razões comerciais. Caso fosse descoberta a plantação desse arroz, tanto negros quanto brancos eram penalizados. Mas, assim mesmo, prevaleceu em inúmeras comunidades quilombolas do norte e nordeste brasileiro como cultivo de subsistência. As sementes do Oryza glaberrima chegaram ao Rio Grande do Sul em 2005, e desde então vêm sendo multiplicadas. Hoje o arroz africano está sendo cultivado em oito comunidades quilombolas gaúchas.

A festa de colheita é uma atividade que integra o Programa Arroz Quilombola – projeto desenvolvido pela GUAYÍ, organização da sociedade civil de interesse público, com apoio do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), parceria da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Mostardas e Associação Software Livre (ASL) –, que objetiva resgatar a contribuição africana na agricultura brasileira e também constituir alternativa de geração de renda para as comunidades de remanescentes de quilombos.

À noite fomos presenteados com os tambores africanos do “Kikumbi” e também com uma banda de RAP formada por jovens da comunidade dos Teixeiras. Esses jovens integram o PROJETO DE RESGATE CULTURAL QUILOMBO TEIXEIRA – PRCQT, estimulado em sua criação pelo professor de Geografia Álvaro Santos. Segundo ele, tanto na comunidade de Casca como na dos Teixeiras e no Beco dos Coloidianos, “a gurizada tinha uma grande dificuldade de falar de onde eram. Tinham baixa auto-estima associada a sua origem negra”. Em maio de 2007, segundo o professor, com a criação do Projeto de Resgate Cultural a história começou a mudar.

Segundo HESTEVAN GONÇALVES, uma liderança do Projeto, “o PRCQT nos incentiva a pensar sobre o nosso passado e aprendemos que não foi só sofrimento. Teve alegria, cultura, religião, mas o que todos sabem é apenas que fomos escravos”. Hestevan conta ainda que em setembro de 2007 criaram, a partir do projeto, o Grupo de RAP SIGILO. E na comemoração do 20 de novembro na comunidade de Limoeiro surgiu a idéia de fazer um RAP do Arroz Quilombola.

Bem, abaixo vou postar uma foto do Grupo SIGILO, tirada na festa do dia 26. Nos próximos dias vou mostrar algumas imagens da COLHEITA DO ARROZ e também a letra do RAP “o Arroz Quilombola”. Cabe destacar que o RAP contagiou a todos nós. Para encerrar a apresentação a gurizada fez uma mistura de rítmos e todos nós caímos na folia. Foi muuuuuuuito legal!!!

A letra da música foi feita por HESTEVAN GONÇALVES, EDIVANDO SILVA e GEVERTON RODRIGUES. Integram ainda o grupo, RAFAEL COSTA, JÚLIO LIMA e, na segunda voz, as meninas DÉBORA LEMOS, JUCELENE LIMA, JUCIELE LIMA, JENIFER SILVA E TATI SILVA.

Parabéns juventude da comunidade quilombola dos Teixeiras. Seus ancestrais certamente estão orgulhosos de vocês. UM GRANDE ABRAÇO e até a próxima!!!

Iara Borges Aragonez
Coletivo Desenvolvimento Sustentável
SEMAPI Sindicato

Um comentário:

Vitória Corrêa Diehl disse...

Iara,
Ficou muito lindo o texto em harmonia com as imagens. Captaste bem os momentos. Nada como um bom coração/emoção. Teremos muitos outros bons momentos como estes! Viva o arroz quilombola! Abraço, Nelson Dias Diehl