terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Projeto cultura ambiental, consumo e sustentabilidade - Rede EcoSindical pela Sustentabilidade

No dia 19 de dezembro aconteceu a última atividade do projeto Cultura Ambiental, Consumo e Sustentabilidade – as bases para a construção de uma Rede EcoSindical.

Reuniu-se no SEMAPI o grupo de trabalhadores e de dirigentes sindicais para compreender o processo de COMPOSTAGEM CASEIRA e à tarde, para conhecer, na zona rural de Porto Alegre, processos produtivos sustentáveis.

O projeto, por duas semanas, debateu questões relacionadas ao CONSUMO e a SUSTENTABILIDADE nas suas diferentes dimensões.

Na última terça-feira (8), foram formados grupos para a sistematização dos vídeos assistidos: Como Cuba sobreviveu à escassez do petróleo; O futuro dos alimentos; Encontro com Milton Santos, Corporation e Home. Cada grupo apresentou as suas conclusões sobre os filmes.

Já na noite de quarta-feira (9), foi tratado o Eixo Temático 3 - Soberania dos Povos. O assistente técnico da Ascar/Emater, cedido para o MDA, Francisco Caporal falou do tema Consumo, Sustentabilidade e Soberania Alimentar. O presidente da Asae, Gervásio Paulus e o diretor do Semapi Lauro Bernardi abordaram a Evolução histórica da agricultura e seus impactos socioambientais. A última palestra da noite foi Localização da Produção e Soberania Energética, com a Geóloga Lucia Ortiz, do NAT (Núcleo Amigos da Terra).

Na quinta-feira (10), o Eixo Temático foi Redes Solidárias, caminhos para a transição, tendo sido ministrado pelo secretário de meio ambiente da CUT/RS, Paulo Sérgio Mendes Filho. Nessa oficina foram identificadas práticas sustentáveis para os sindicatos e algumas diretrizes para a formação da Rede EcoSindical. Antes do debate, aconteceu a segunda vivência corporal do curso. Durante 30 minutos, os participantes experimentaram a técnica corporal Bioenergética, orientada por terapeutas do Namastê – Centro de Terapia Bioenergética e Meditações.

O Projeto é coordenado pelo SEMAPI, Coletivo Desenvolvimento Sustentável - CDS e pelo Instituto Biofilia. Na primeira semana, o Eixo Temático foi o PARADIGMA CRESCIMENTISTA. A abordagem, A EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA SOCIEDADE DE CONSUMO, do dia 2 de dezembro foi feita por Iara Aragonez do CDS/SEMAPI; Felipe Amaral, do Biofilia, falou sobre A EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO AMBIENTAL e Cíntia Barenho, do CEA, (RE)Construindo conceitos.

Segunda edição

No ano de 2010 o Projeto terá continuidade. Novas edições serão implementadas, devendo contar com a adesão dos sindicatos que não tiveram oportunidade de participar dessa primeira edição. Desta forma, a Rede deve ampliar-se e avançar em seus objetivos.

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Rede EcoSindical pela Sustentabilidade

O SEMAPI, através do Coletivo Desenvolvimento Sustentável, em parceria com o Instituto Biofilia e apoio da Secretaria do Meio Ambiente da CUT/RS realiza nos dias 01, 02 e 03 de dezembro a primeira etapa das oficinas de mobilização e sensibilização que formarão as bases para a construção de uma Rede EcoSindical pela Sustentabilidade.

As oficinas integram o Projeto Cultura Ambiental, Consumo e Sustentabilidade o qual pretende fortalecer a temática socioambiental no universo sindical e traçar uma estratégia conjunta para enfrentar um dos maiores desafios deste século, a questão ambiental.

Já aderiram ao Projeto o SINDICATO DOS BANCÁRIOS DE PORTO ALEGRE, o SINDIÁGUA, o SINTRAJUFE e a UGEIRM. Juntamente com o SEMAPI e organizações que integram o movimento ambiental, como o Instituto Biofilia, até o dia 19 de dezembro (encerramento das atividades), estará constituído o embrião da Rede EcoSindical. A partir de então, a mesma estará apta a pensar estrategicamente o futuro das organizações sindicais envolvidas, no que tange à pauta ambiental e a pauta da sustentabilidade em seu caráter mais amplo.

No ano de 2010 o Projeto terá continuidade. Novas edições serão implementadas, devendo contar com a adesão dos sindicatos que não tiveram oportunidade de participar dessa primeira edição. Desta forma, a Rede amplia-se e avança em seus objetivos.

A atividade de amanhã, abertura, contará com a palestra Justiça Climática: engajamento dos atores sociais, proferida pela geóloga e ambientalista Lúcia Ortiz do Núcleo Amigos da Terra Brasil. Após, haverá uma confraternização com produtos da economia solidária e da agricultura familiar.

Serviço:
Data: 01 de dezembro
Horário: 18h30min
Local: Auditório do SEMAPI Sindicato

Iara Borges Aragonez
Coletivo Desenvolvimento Sustentável / SEMAPI

domingo, 1 de novembro de 2009

BRASIL: O maior consumidor mundial de agrotóxicos

AS PTA

Há títulos que não se comemoram. O de maior consumidor mundial de agrotóxicos, assumido em 2008 pelo Brasil, certamente é um desses. Diante desse alarmante quadro, há atores do agronegócio que querem fazer crer que tamanho derramamento de veneno é na verdade condição de país “líder em defesa vegetal”, ou ainda, reflexo do “uso intensivo de tecnologia”. Seguindo essa visão de “progresso”, Andef, CNA, bancada ruralista e outros fazem coro dizendo que sem o uso desses produtos a agricultura brasileira pára. Nessa linha chantagista, justificam a oposição a qualquer controle mais rigoroso ou mesmo o banimento de produtos já proibidos em vários países do mundo, como o inseticida e acaricida organoclorado endosulfam (Thiodan).

Como disse recentemente o colunista Janio de Fretias, isso não é agronegócio, mas sim “agromorte”, onde “nos envenenam a todos, não só ao meio ambiente, em um genocídio lento e doentio, que nos é servido em nossa própria mesa. Sem reação de ninguém” (Folha de São Paulo, 14/10/2009). A descrição e análise do problema estão perfeitas, mas felizmente não se pode dizer o mesmo de seu reclamo.

Isso porque nesta quarta 28 foi lançado em Brasília o Fórum Nacional de Combate aos Impactos do Agrotóxicos. A iniciativa é coordenada pelo Ministério Público do Trabalho e pelo Ministério Público Federal e conta com a participação de organizações da sociedade civil de diversas áreas e órgãos governamentais. Esse espaço permanente de debate que se cria tem como objetivo implementar ações concretas de proteção à saúde do trabalhador, do consumidor e ao ambiente como forma de enfrentar os males trazidos pelo agrotóxicos.

Alguns estados desenvolvem experiências similares, como é o exitoso caso de Pernambuco, que tem à frente o procurador do Trabalho Pedro Serafim, eleito também coordenador do Fórum Nacional. O Fórum trabalhará em estreita sintonia com organizações da sociedade, comunidades e regiões afetadas pelos agrotóxicos, recebendo denúncias e acionando órgãos competentes e demais responsáveis de forma que sejam implementadas ações efetivas de controle que permitam ao Brasil se livrar o quanto antes desse agourento título.

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Participaram do ato de criação do Fórum e o integram as seguintes organizações da sociedade civil: Rede Brasileira de Justiça Ambiental; Articulação Nacional de Agroecologia - ANA; Federação dos Trabalhadores da Agricultura Familiar do Brasil - FETRAF-BRASIL; Rede de Ação em Agrotóxicos e suas Alternativas para a América Latina - RAP-AL; Via Campesina Brasil; Terra de Direitos; AS-PTA Assessoria e Serviços a Projetos em Agricultura Alternativa; SINPAF Hortaliças; Associação Brasileira de Pós-Graduação em Saúde Coletiva - ABRASCO/GT de Saúde Ambiental; Comissão Pastoral da Terra - CPT; Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Lucas do Rio Verde - MT; Articulação do Semiárido Brasileiro - ASA; Associação Brasileira de Agroecologia - ABA; Repórter Brasil; Associação Brasileira do Ministério Público do Meio Ambiente - ABRAMPA.

O Fórum é aberto para receber outros membros cuja atuação seja afim a seus objetivos.

Banimento dos agrotóxicos Acefato e Endossulfam – termina na próxima terça-feria (03/11) o prazo para participar da consulta pública e apoiar a proibição do uso desses produtos, conforme recomendação da Anvisa.

Saiba como participar em:http://www.anvisa.gov.br/divulga/noticias/2009/040909_2.htm

sábado, 24 de outubro de 2009

3º Congresso do SEMAPI/RS

Iara Borges Aragonez
Coletivo Desenvolvimento Sustentável SEMAPI/RS

Nos dias 21, 22 e 23 de outubro/2009 foi realizado o 3º Congresso do SEMAPI/RS - Trabalho Decente e Qualidade de Vida, no Hotel Fazenda Figueiras, em Mariluz.

Dentre os vários temas tratados no Congresso*, Sustentabilidade e Meio Ambiente: O engajamento dos Atores Sociais por Justiça Cimática, foi o tema desenvolvido pela geóloga e coordenadora da ONG Amigos da Terra Brasil, Lucia Ortiz.

Lúcia foi convidada pelo Coletivo Desenvolvimento Sustentável - CDS do SEMAPI que, juntamente com o Instituto Biofilia, está formulando, já em fase final, o Projeto Cultura Ambiental, Consumo e Sustentabilidade – As bases para a construção de uma REDE EcoSindical pela SUSTENTABILIDADE. A primeira edição desse Projeto está prevista para ocorrer em Dez/2009, no SEMAPI. O público que desfrutará dessa formação é: dirigentes sindicais, trabalhadores (as) dos sindicatos e a base sindical.

Na tarde de 22/10 e manhã de 23/10 o CDS coordenou o trabalho em grupo que aprofundou o debate sobre o tema Sustentabilidade e Meio Ambiente. O objetivo central dos trabalhos foi delinear as grandes linhas de ação para o Sindicato nos próximos quatro anos. Participaram da Oficina, trabalhadores (as) da EMATER, FASE, FADERS, FEPAM, FUNDAÇÃO ZOOBOTÂNICA e FGTAS.

O debate foi riquíssimo e podemos afirmar que o tema tem uma grande acolhida na categoria. Um dos momentos ricos dos trabalhos foi o relato de experiências de cada participante nos seus locais de trabalho, na perspectiva da SUSTENTABILIDADE.

Abaixo, síntese das proposições da Oficina, foto dos participantes e, mais abaixo, texto-base que orientou o debate do grupo.

Grupo Sustentabilidade e Meio Ambiente

1 Quebra de paradigma
1.1 Desenvolver oficinas para a base, diretores e trabalhadores do sindicato, visando estimular a reflexão, sensibilizar e ampliar a consciência para a adoção de práticas ecologicamente corretas. Aprofundar conceitos importantes como crescimento x desenvolvimento. Formar nessas oficinas multiplicadores de sensibilização e de práticas sustentáveis.
1.2 Divulgar as práticas de sustentabilidade nas mídias do Semapi e em outros veículos de comunicação
1.3 Mobilizar e sensibilizar a categoria para fomentar nos seus locais de trabalho práticas sustentáveis e para realizar ações de formação para a sustentabilidade.

2 Construção de uma rede ecosindical
2.1 Articular sindicatos que já atuam na linha da sustentabilidade bem como aqueles que ainda não tem afinidade com o tema para a realização de ações de formação conjunta, para a socialização das experiências em curso e para projetar ações em rede para o futuro.
2.2 Denunciar os agressores do ambiente e divulgar as boas práticas de forma articulada com os movimentos sociais.
2.3 Elaborar projetos para captar recursos para investir em formação para a sustentabilidade. Em especial daquelas entidades (Senar) que trabalham na direção oposta da sustentabilidade.




* Ver cobertura completa do Congresso no site www.semapirs.com.br
As abordagens das principais palestras, dentre elas a de Lúcia Ortiz, estão registradas no site com muita propriedade.

REDE EcoSindical pela Sustentabilidade

Coletivo Desenvolvimento Sustentável SEMAPI/RS

O SEMAPI, em 2006, no II Congresso, tirou como uma de suas resoluções a criação do Coletivo Desenvolvimento Sustentável - CDS, sendo este instituído pela gestão 2007-2010.

A análise feita pelo Coletivo para orientar o seu planejamento estratégico teve como centralidade o cada vez mais evidente impacto da ação humana sobre o meio ambiente. Foi debatido o modelo de desenvolvimento vigente, movido pela lógica produtivista e baseado no esgotamento dos recursos naturais e na exploração social do trabalho, concluindo que os rastros de destruição que o mesmo vem deixando exigem respostas concretas e urgentes da sociedade.

Constatou-se no debate que, sendo o padrão de consumo, um dos pilares de sustentação desse modelo, imposto e adotado pela maioria da população, que, irreflexiva e inconscientemente cede ou concede ao capital, a ele, estrategicamente, devem ser dirigidos os esforços para a sua superação. Esta, passa pela percepção do papel que cumpre a grande mídia, com a sua publicidade muito bem elaborada, a qual tem sido capaz de penetrar na mente e na subjetividade das pessoas, orientando ou determinando as suas decisões cotidianas.

A sociedade do “Ter”, assim denominada por aqueles que fazem a crítica da supremacia deste em relação ao SER, atingiu um patamar tal de anestesiamento que grande parte das pessoas tornou-se incapaz de perceber o real significado dessa “obediência coletiva”. Escapa-lhes o fato de que as suas decisões de consumo, além de servirem, sobretudo, aos interesses de uma classe, a dominante, fortalecendo-a, têm trazido conseqüências que afetam o bem viver do conjunto da população.

Frente a essa análise de conjuntura o Coletivo Desenvolvimento Sustentável – CDS formulou a sua MISSÃO, tendo sido a mesma assim definida: “LUTAR pela sustentabilidade do Planeta, desencadeando junto à base do SEMAPI e do Movimento Sindical, processos que oportunizem uma reflexão crítica sobre o modelo de desenvolvimento hegemônico, construindo uma ponte para a adoção de práticas cotidianas capazes de inverter a lógica estabelecida e de constituir as bases para um modelo de desenvolvimento sustentável.”

Uma das premissas que orientou o planejamento estratégico do CDS é que as alterações ambientais não se reduzem a um problema meramente ambiental e que acordos e medidas para a sua mitigação não se limitam a ações de maior eficiência no uso de recursos naturais ou na adoção de planos de conservação. Alterações estruturais da economia e dos hábitos de consumo são parte fundamental da solução.

Assim sendo, um dos eixos estruturantes do planejamento foi o Consumo e Sustentabilidade, o qual organiza as ações relacionadas à Significação e Re-significação do Ato Cotidiano de Consumir.

Esse eixo, além de dialogar com a premissa acima citada, justifica-se pela compreensão de que o padrão de consumo da sociedade contemporânea é um dos principais responsáveis pelos danos sociais, culturais e ambientais que o planeta terra hoje vivencia, constituindo-se em pilar de sustentação do modelo de produção hegemônico, que é socialmente excludente, ambientalmente insustentável e economicamente injusto.

Para enfrentá-lo, definimos como um dos passos fundamentais entender coletivamente os mecanismos utilizados para garantir a sua reprodução, dentre eles, a criação artificial de necessidades pela indução ao consumo desenfreado e alienado.

Nesse sentido, desvendar esta indução, assim como a cadeia de valores que está oculta atrás de cada produto, deve ser parte da superação da lógica econômica perversa a qual estamos submetidos. Para tanto, um passo essencial é trazer para o plano da consciência a noção de que o ato de consumir não é inócuo em sua consequências. E, dotar de intencionalidade política esse ato é um movimento essencial para estabelecer processos de fortalecimento de outra lógica produtiva, esta, orientada pelos valores e princípios da sustentabilidade, como justiça social, ambiental, cultural, além da ética e da solidariedade.

O Planejamento estratégico do CDS também definiu como eixos estruturantes a economia solidária e a articulação com os movimentos sociais, em particular com o sindical e ambientalista. Nessa linha, outra idéia que vem orientando o seu debate e ação é a da organização EM REDE como fator estratégico para a potencialização de suas ações.
Acreditamos que a interação, a troca sistemática e a ação cooperada, a partir do acúmulo histórico de cada movimento favorecem a criação das sinergias necessárias para a construção do novo ao qual o SEMAPI desafiou-se a partir do Congresso de 2006.

O Coletivo, nessa linha de provocar a sua base para a reflexão acerca do tema da SUSTENTABILIDADE e sensibilizá-la para novas práticas já, a partir de outro paradigma, desenvolveu o blog www.sustentabilidadesemapi.blogspot.com e também organizou no Sindicato seminários temáticos. E, de forma inovadora, estimulou a criação do Núcleo Ecológico pela Sustentabilidade do Semapi – NECOSS, constituído por trabalhadores (as) do Sindicato.

Ainda, orientados por esses eixos estruturantes, Consumo e Sustentabilidade, Articulação com os Movimentos Sociais, e, pela idéia-força de REDE, associada a Economia Solidária, o Coletivo Desenvolvimento Sustentável do SEMAPI, dando prosseguimento e, com a mesma intensidade de quando deliberamos pela sua criação em 2006, propõe o projeto Cultura Ambiental, Consumo e Sustentabilidade – As bases para a construção de uma REDE EcoSindical pela Sustentabilidade. Elege, no seu âmbito, como temas centrais de reflexão, as múltiplas dimensões da sustentabilidade e o padrão de consumo e de produção da sociedade capitalista.

Com esse Projeto entendemos avançar no enraizamento das sementes da sustentabilidade, esta, característica essencial da nova sociedade que queremos construir. Com ele, articulados com o movimento ambiental e sindical, construiremos as bases para a constituição de uma grande REDE estratégica capaz de materializar as mudanças as quais nos propomos. A articulação com a CUT/RS está no horizonte do Projeto, pois, a sua capacidade articuladora e o seu desafio de construir um novo projeto de sociedade, potencializam, no nosso entendimento, as possibilidades de alcançarmos e consolidarmos o que esperamos.

Agora, convictos de que mudanças culturais se efetivam apenas a partir de profundas e sistemáticas reflexões, pela incorporação de novas práticas e também pela troca de acúmulos entre diferentes atores sociais, projeta-se para 2010 a efetiva construção da REDE EcoSindical, a qual deverá ter vida longa para prosseguir nas transformações necessárias. Caberá à próxima gestão do SEMAPI garantir o seu fortalecimento e consolidação para então passarmos para outro patamar do debate.

Acreditamos que os sindicatos, além de sua missão clássica de lutar por melhores salários, melhores condições de trabalho, organizar a classe trabalhadora, defender os direitos difusos, denunciar e combater às políticas neoliberais, devem também tomar para si este outro desafio. Assim, afirmam-se como atores sociais e políticos com efetivo compromisso com as questões que atingem tanto a vida da sociedade local como a do planeta, assumindo desta forma o protagonismo no processo de superação do modelo perverso ao qual estamos submetidos

Nas Oficinas de Mobilização e Sensibilização a serem realizadas no âmbito do projeto Cultura Ambiental, Consumo e Sustentabilidade – As bases para a construção de uma REDE EcoSindical pela Sustentabilidade, o modelo de desenvolvimento hegemônico e seus mecanismos serão debatidos. Para melhor compreendê-lo, o foco de análise se deterá nas consequências ambientais, sociais, políticas, econômicas, éticas e culturais produzidas pela crescente industrialização da cadeia produtiva de alimentos e pela disseminação, pelo capital, de valores que induzem ao consumo desenfreado como forma de afirmação e legitimação social.

O recorte na produção de alimentos deve-se a posição estratégica desse setor do ponto de vista da soberania alimentar e da importância desta para a autonomia da nação. Deve-se também ao peso da cadeia produtiva alimentar no processo de degradação ao qual estamos submetidos, uma vez que se industrializa cada vez mais e cada vez mais fica submetida às grandes transnacionais as quais tomam contam de nossos territórios e nos impõem hábitos que destroem a nossa cultura alimentar.

Frente ao exposto, fica evidenciado que a questão ambiental não é apenas ligada a ecologia ou a conservação de ecossistemas. Portanto, faz-se necessária a criação de mecanismos sociais, políticos e formativos capazes de provocar a reflexão e dar densidade a outras formas de compreender, pensar e agir, somando-se as estratégias específicas e, a partir daí, constituindo as bases sociais para outro tipo de desenvolvimento.

Ousar para transformar. Com a REDE EcoSindical tecida e amadurecida em seus propósitos e práticas, teremos criado as condições para a classe trabalhadora, base dos sindicatos que integram a REDE, pensar e lutar por outro modelo de sociedade. Onde, finalmente, a produção e o consumo estarão organizados a partir de referenciais sócio-ambientais e todas as formas de dominação e exploração foram superadas. Onde a autogestão e a distribuição da riqueza serão fundantes do modelo.

Portanto, caberá a REDE aprofundar e ampliar cada vez mais o processo reflexivo e paralelamente fomentar a adoção de práticas sustentáveis por parte das organizações e de suas bases, buscando contagiar desta forma a sociedade no seu conjunto. O Projeto Cultura Ambiental, Consumo e Sustentabilidade é uma das ferramentas para tanto e, o Coletivo Desenvolvimento Sustentável do SEMAPI/RS, um dos atores responsáveis para levar adiante esse compromisso.

Assim, estaremos efetivamente avançando na criação das condições para a construção do novo que preconizamos, o qual poderá ter inúmeras denominações, dentre elas, o ECOSSOCIALISMO. Por que não?

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

”Proteger espécies agrícolas é tão importante quanto proteger a Amazônia”

A pesquisadora Juliana Santilli, autora do livro “Agrobiodiversidade e direito dos agricultores”, explica o que é a agrobiodiversidade, e quais políticas devem ser adotadas para proteger as variedades agrícolas e os agricultores, contribuindo para a defesa ambiental e para a segurança alimentar.

A reportagem e a entrevista é de Bruno Calixto e publicada por Amazonia.org.br, 08-10-2009.

Os defensores do meio ambiente costumam dar grande destaque para a questão da biodiversidade, alertando para os riscos da extinção de espécies. Entretanto, a biodiversidade agrícola, de espécies cultivadas como o arroz, o feijão, o milho, é geralmente negligenciada.

Para entender melhor esse conceito de agrobiodiversidade, o site Amazonia.org.br conversou com a pesquisadora e doutora em direito ambiental Juliana Santilli, que lançou recentemente o livro “Agrobiodiversidade e direitos dos agricultores” (Ed. Peirópolis, 514 págs.).

Juliana explica que, segundo estudos da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), 95% das espécies agrícolas desapareceram nos últimos cem anos. Com a modernização da agricultura e ênfase na monocultura, muitas outras espécies estão ameaçadas, colocando em risco nossa segurança alimentar.

Além disso, a autora fala da importância de políticas para a agricultura familiar, no âmbito do Ministério de Desenvolvimento Agrário (MDA), e sobre os direitos dos agricultores. “O reconhecimento dos direitos dos agricultores é uma parte chave de qualquer política de reconhecimento e valorização da agrobiodiversidade”.
Eis a entrevista.

O que é agrobiodiversidade?
Agrobiodiversidade é a biodiversidade agrícola. Corresponde aos três níveis de diversidade: a diversidade de espécies agrícolas, por exemplo, arroz, feijão; a diversidade de variedades agrícolas, pois dentro de uma mesma espécie existem diversas variedades; e a diversidade de ecossistemas agrícolas, como sistemas agroflorestais, de queima e pousio [descanso ou repouso dado às terras cultiváveis], e outros. Então a agrobiodiversidade encobre esses três níveis.

É comum vermos denúncias de espécies de animais ameaçados de extinção, e da perda da biodiversidade. A agrobiodiversidade também está ameaçada?
Sim, está ameaçada. Há estudos feitos pela FAO que mostram que nos últimos cem anos os agricultores perderam entre 90% e 95% de suas espécies e variedades. O que ocorre é que em geral as pessoas associam a biodiversidade às plantas e animais silvestres. Há poucas políticas públicas voltadas para a conservação da biodiversidade agrícola. Essa foi a razão pela qual eu quis escrever esse livro.

Os próprios juristas que trabalham com direito ambiental têm se ocupado muito pouco no tratamento jurídico da agrobiodiversidade. Historicamente, o componente cultivado da biodiversidade tem sido negligenciado pelos ambientalistas e pelas políticas de órgãos públicos. E, na verdade, proteger variedades de mandioca, milho, arroz, e os nossos ecossistemas agrícolas, é tão importante quanto proteger a floresta amazônica, a Mata Atlântica, o mico leão dourado. Muitas variedades de espécies agrícolas já se extinguiram, e outras correm risco de extinção.

A nossa alimentação se baseia em um número cada vez mais reduzido de espécies, e isso tem consequências não só para o meio ambiente, mas para a nossa saúde, que está diretamente associada à qualidade dos alimentos que nós comemos. Nossa alimentação se torna mais pobre. Poucas pessoas se dão conta da interface entre os modelos agrícolas hegemônicos e o padrão alimentar que nos é imposto.

O que causa essa perda da agrobiodiversidade? Isso está relacionado à modernização da agricultura?
O relatório da FAO que eu citei antes aponta como principal causa a substituição das variedades locais heterogêneas, de ampla base genética, pelas variedades industriais, aquelas que são adotadas por um modelo industrial de agricultura, pelas monoculturas com uso de variedades homogêneas e altamente dependentes de insumos externos. Essa é a principal causa da perda da agrobiodiversidade: a adoção de modelos agrícolas monoculturais que usam uma única espécie, ou números muito reduzidos de espécies e variedades agrícolas, ao contrário dos sistemas locais que tendem a ser mais diversos.

Que tipo de política seria necessária para defender a agrobiodiversidade?
Algumas políticas que têm sido adotadas no MDA, a favor da agricultura familiar, tendem a favorecer mais a agrobiodiversidade. A própria criação da Secretaria da Agricultura Familiar, o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar, programa de aquisição de alimentos, são iniciativas positivas. Entretanto, ainda é pouco, porque você tem muito mais subsídios e políticas voltados para o agronegócio, para a monocultura. Às vezes uma única roça familiar ou tradicional tem uma diversidade muito maior do que em toda uma plantação de soja.

No livro a gente propõe alguns novos instrumentos. Por exemplo, não temos ainda uma categoria de unidade de conservação ambiental voltada para a agrobiodiversidade. Acho que seria importante que o Sistema Nacional de Unidades de Conservação incluísse algumas categorias voltadas para a agrobiodiversidade, e acho que seria interessante também pensar em alguma coisa como uma reserva de segurança alimentar. Seriam áreas nas propriedades rurais, um percentual, uma parte dessas áreas que teriam que se dedicar à agricultura para abastecimento interno, para gêneros alimentícios. Como uma medida de segurança alimentar.

Existem também iniciativas, por exemplo, no âmbito do Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), com a Associação das Comunidades Indígenas do Médio Rio Negro. Eles apresentaram um pedido para que seu sistema agrícola tradicional seja reconhecido como patrimônio cultural e material. Caso se reconheça o sistema agrícola do rio Negro como um bem que integra o nosso patrimônio cultural, isso passará a obrigar o poder público a adotar políticas de conservação, de estímulo.

No âmbito da FAO temos um programa para os sistemas agrícolas engenhosos de patrimônio mundial. Da mesma forma que você tem o patrimônio comum da humanidade, a ideia é ter reconhecimento para esses sistemas agrícolas diversos, que reúnem tanto uma grande diversidade biológica como também uma grande diversidade sociocultural.

No plano nacional, o Ipham criou uma categoria da chancela de paisagens naturais, e algumas paisagens agrícolas. Por exemplo, o vale do Itajaí está sendo considerado para fim de reconhecimento como paisagem natural. Enfim, são apenas alguns exemplos.
O livro também aborda os direitos dos agricultores. Quais são esses direitos?
O reconhecimento dos direitos dos agricultores é uma parte chave de qualquer política de reconhecimento e valorização da agrobiodiversidade, porque os agricultores têm papel fundamental na conservação da agrobiodiversidade.

Recentemente o Brasil ratificou o tratado da FAO sobre recursos fitogenéticos para alimentação e agricultura. Como os ambientalistas dão pouca atenção para a agrobiodiversidade, esse tratado não teve a mesma repercussão que a convenção sobre diversidade biológica, com instrumentos mais voltados para a biodiversidade silvestre.

Esse tratado é um marco importante, porque entre outras coisas prevê o direito dos agricultores: o direito aos conhecimentos tradicionais associados à agrobiodiversidade, a repartição dos benefícios gerados pela utilização da agrobiodiversidade, o direito dos agricultores de guardar, trocar, produzir as suas próprias sementes, e o direito de participação política dos agricultores, em todas as instâncias de decisão que os afetem: a política agrícola, agrária, em relação à produção e comercialização de sementes.

Não que os direitos dos agricultores deva se limitar aos que estão previstos no tratado. Eles são muito mais amplos, incluem o direito de acesso a terra, a água, as políticas de crédito, a reforma agrária. Mas esse tratado é um marco importante para se pensar na definição dos direitos dos agricultores. É um primeiro passo.

Esses direitos já são reconhecidos pela sociedade?
Não. Principalmente porque nos últimos anos as leis de sementes, que regulam e estabelecem as normas de produção, comercialização e utilização de sementes, estão extremamente restritivas e tendem a favorecer apenas os sistemas formais. Os sistemas locais, em que a produção está na mão dos próprios agricultores, têm pouco reconhecimento legal. Embora a lei de semente tenha algumas brechas, na prática as organizações de agricultura familiar têm encontrado dificuldades para trabalhar nos termos da lei de sementes.

Uma das ameaças aos direitos dos agricultores são leis de sementes muito restritivas, e leis de proteção de cultivares, que também tendem a ser restritivas. Atualmente os agricultores têm direito de guardar para uso próprio as sementes de variedades protegidas, um direito reconhecido pela lei brasileira em vigor. Entretanto, há iniciativas no Congresso Nacional que pretendem restringir essa possibilidade do agricultor guardar as suas sementes para usar na safra seguinte, o que no meu entendimento é uma violação dos direitos do agricultor.

O Brasil já ratificou esse tratado internacional, foi aprovado pelo Congresso, promulgado pelo presidente, está em vigor desde o ano passado. Portanto o país deve cumprir com as obrigações que assumiu no plano internacional e implementar os direitos dos agricultores antes de adotar qualquer nova legislação que possa criar novas restrições e novos empecilhos aos direitos dos agricultores.

Um dos capítulos do livro faz uma relação entre as sementes e o movimento do software livre. Que relação é essa?
O que eu tento mostrar é um pouco as conexões entre o movimento software livre e os commons e as sementes. Em determinado momento, as pessoas que desenvolvem programas de computador, conhecidos como hackers, se deram conta de que uma excessiva proteção do direito de propriedade intelectual sobre o software acabava restringindo sua liberdade de criação e circulação de informações, e desenvolveram softwares em que o código fonte é aberto, para permitir que outros programadores possam desenvolver outros softwares.

Em certo sentido, o que muito agricultores familiares reivindicam é isso, um acesso livre as sementes e a informação genética contida na semente, para que eles possam intercambiar livremente as suas sementes, utilizá-las como fonte de variação no melhoramento que é feito pelos próprios agricultores. É nesse sentido, uma forma de garantir o acesso, não completamente livre, mas totalmente regulado, às sementes.
(IHU-Online)

sábado, 10 de outubro de 2009

Dia da Criança: Cidadã ou Consumista?

Frei Betto *
Adital

Na próxima segunda, 12 de outubro, comemora-se o Dia da Criança. Momento de refletir o que temos feito com as nossas. Estamos formando futuros cidadãos ou consumistas?

Pesquisas indicam que as crianças brasileiras costumam passar 4 horas por dia na escola e o dobro de olho na TV. Impressiona o número de peças publicitárias destinadas a crianças ou que as utilizam como isca de consumo.

A pesquisadora Susan Linn, da Universidade de Harvard, constatou que o excesso de publicidade causa nas crianças distúrbios comportamentais e nutricionais. De obesidade precoce, pela ingestão de alimentos ricos em açúcares ou gorduras saturadas, como refrigerantes e frituras, à anorexia provocada pela obsessão da magreza digna de passarela.

Sexualidade precoce e desajustes familiares são outros efeitos da excessiva exposição à publicidade. São menos felizes, constatou a pesquisadora, as crianças influenciadas pelas ideias de que sexo independe de amor, a estética do corpo predomina sobre os sentimentos, a felicidade reside na posse de bens materiais.

Impregnada desses falsos valores, tão divulgados como absolutos, a criança exacerba suas expectativas. Ora, sabemos todos que o tombo é proporcional ao tamanho da queda. Se uma criança associa a sua felicidade a propostas consumistas, tanto maior será sua frustração e infelicidade, seja pela impossibilidade de saciar o desejo, seja pela incapacidade de cultivar sua autoestima a partir de valores enraizados em sua subjetividade. Torna-se, assim, uma criança rebelde, geniosa, impositiva, indisciplinada em casa e na escola.

A praga do consumismo é, hoje, também uma questão ambiental e política. Montanhas de plástico se acumulam nos oceanos e a incontinência do desejo dificulta cada vez mais uma sociedade sustentável, na qual os bens da Terra e os frutos do trabalho humano sejam partilhados entre todos.

Um dos fatores de deformação infantil é a desagregação do núcleo familiar. No Dia dos Pais um garoto suplicou ao pai, em bilhete, que desse a ele tanta atenção quanto dedica à TV... Um filho de pais separados pediu para morar com os avós após presenciar a discussão dos pais de que, um e outro, queriam se ver livre dele no fim de semana.

Causa-me horror o orgulho de pais que exibem seus filhos em concursos de beleza. Uma criança instigada a, precocemente, prestar demasiada atenção ao próprio corpo, tende à esquizofrenia de ser biologicamente infantil e psicologicamente "adulta". Encurta-se, assim, seu tempo de infância. A fantasia, própria da idade, é transferida à TV e ao apelo de consumo. Não surpreende, pois, que, na adolescência, o vazio do coração busque compensação na ingestão de drogas.

Com frequência pais me indagam o que fazer frente à indiferença religiosa dos filhos adolescentes. Respondo que a questão é colocada com dez anos de atraso. Se os filhos fossem crianças, eu saberia o que dizer: ore com eles antes das refeições; leiam em família textos bíblicos; evitem fazer das datas litúrgicas meros períodos de miniférias, como a Semana Santa e o Natal, e celebrem com eles o significado religioso dessas efemérides; incutam neles a certeza de que são profundamente amados por Deus e que Deus vive neles.

Crianças são seres miméticos por natureza. A melhor maneira de interessar um bebê em música é colocá-lo ao lado de outro que já tenha familiaridade com um instrumento musical. Ora, o que esperar de uma criança que presencia os pais humilharem a faxineira, tratarem garçons com prepotência, xingarem motoristas no trânsito, jogarem lixo na rua, passarem a noite se deliciando com futilidades televisivas?

Criança precisa de afeto, de sentir-se valorizada e acolhida, mas também de disciplina e, ao romper o código de conduta, de punição sem violência física ou oral. Só assim aprenderá a conhecer os próprios limites e respeitar os direitos do outro. Só assim evitará tornar-se um adulto invejoso, competitivo, rancoroso, pois saberá não confundir diferença com divergência e não fará da dessemelhança fator de preconceito e discriminação.

É preciso conversar com elas, através da linguagem adequada, sobre situações-limites da vida: dor, perda, ruptura afetiva, fracasso, morte. Incutir nelas o respeito aos mais pobres e a indignação frente à injustiça que causa pobreza; senso de responsabilidade social (há dias vi alunos de uma escola varrendo a rua), de preservação ambiental (como a economia de água), de protagonismo político (saber acatar decisão da maioria e inteirar-se do que significam os períodos eleitorais).

Se você adora passear com seu filho em shoppings, não estranhe se, no futuro, ele se tornar um adulto ressentido por não possuir tantos bens finitos. Se você, porém, incutir nele apreço aos bens infinitos - generosidade, solidariedade, espiritualidade - ele se tornará uma pessoa feliz e, quando adulto, será seu companheiro de amizade, e não o eterno filho-problema a lhe causar tanta aflição.

Saber educar é saber amar.

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Publicidade e Consumo Infantil - PL 5921/2001

"A televisão comercial movimenta um mercado milionário com a publicidade voltada para o público infantil. Crianças tornam-se consumidoras cada vez mais cedo, muitas vezes logo depois que aprendem a falar. Psicólogos, educadores e organizações da sociedade criticam essa prática.

- Jorge Broide professor da UNIBAN Universidade Bandeirantes de São Paulo, psicanalista e presidente do conselho consultivo da fundação ABRINQ pelos direitos da criança e do adolescente.

- Lais Fontenelle Pereira mestre em psicologia clinica e coordenadora de educação do Instituto Alana. e

- Fernando Brettas, presidente do sindicato das agências de propaganda do Distrito Federal."

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

O FUTURO DOS ALIMENTOS.

The Future of Food
Escrito e Dirigido por: Deborah Koons Produção: Catherine Butler Vem ocorrendo uma revolução nos campos de cultivo e nas mesas de jantar da América, uma revolução que está transformando a própria natureza dos alimentos que comemos. "O Futuro dos Alimentos" oferece uma investigação aprofundada à verdade perturbadora que se encontra por detrás dos alimentos geneticamente modificados, patenteados e não rotulados, que, de forma silenciosa, têm enchido as prateleiras das lojas dos Estados Unidos durante os últimos 10 anos. Das planícies de Saskatchewan, no Canadá aos campos de Oaxaca, no México, este filme dá voz aos agricultores cujas vidas e sustento têm sido prejudicados por esta nova tecnologia.

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

PRIMAVERA



Cecília Meireles

A primavera chegará, mesmo que ninguém mais saiba seu nome, nem acredite no calendário, nem possua jardim para recebê-la. A inclinação do sol vai marcando outras sombras; e os habitantes da mata, essas criaturas naturais que ainda circulam pelo ar e pelo chão, começam a preparar sua vida para a primavera que chega.

Finos clarins que não ouvimos devem soar por dentro da terra, nesse mundo confidencial das raízes, — e arautos sutis acordarão as cores e os perfumes e a alegria de nascer, no espírito das flores.

Há bosques de rododendros que eram verdes e já estão todos cor-de-rosa, como os palácios de Jeipur. Vozes novas de passarinhos começam a ensaiar as árias tradicionais de sua nação. Pequenas borboletas brancas e amarelas apressam-se pelos ares, — e certamente conversam: mas tão baixinho que não se entende.

Oh! Primaveras distantes, depois do branco e deserto inverno, quando as amendoeiras inauguram suas flores, alegremente, e todos os olhos procuram pelo céu o primeiro raio de sol.

Esta é uma primavera diferente, com as matas intactas, as árvores cobertas de folhas, — e só os poetas, entre os humanos, sabem que uma Deusa chega, coroada de flores, com vestidos bordados de flores, com os braços carregados de flores, e vem dançar neste mundo cálido, de incessante luz.

Mas é certo que a primavera chega. É certo que a vida não se esquece, e a terra maternalmente se enfeita para as festas da sua perpetuação.

Algum dia, talvez, nada mais vai ser assim. Algum dia, talvez, os homens terão a primavera que desejarem, no momento que quiserem, independentes deste ritmo, desta ordem, deste movimento do céu. E os pássaros serão outros, com outros cantos e outros hábitos, — e os ouvidos que por acaso os ouvirem não terão nada mais com tudo aquilo que, outrora se entendeu e amou.

Enquanto há primavera, esta primavera natural, prestemos atenção ao sussurro dos passarinhos novos, que dão beijinhos para o ar azul. Escutemos estas vozes que andam nas árvores, caminhemos por estas estradas que ainda conservam seus sentimentos antigos: lentamente estão sendo tecidos os manacás roxos e brancos; e a eufórbia se vai tornando pulquérrima, em cada coroa vermelha que desdobra. Os casulos brancos das gardênias ainda estão sendo enrolados em redor do perfume. E flores agrestes acordam com suas roupas de chita multicor.

Tudo isto para brilhar um instante, apenas, para ser lançado ao vento, — por fidelidade à obscura semente, ao que vem, na rotação da eternidade. Saudemos a primavera, dona da vida — e efêmera.

Texto extraído do livro "Cecília Meireles - Obra em Prosa - Volume 1", Editora Nova Fronteira - Rio de Janeiro, 1998, pág. 366.

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Por nossos mortos, nem um minuto de silêncio. Toda uma vida de luta!

NOTA PÚBLICA SOBRE O ASSASSINATO DE ELTON BRUM PELA BRIGADA MILITAR DO RIO GRANDE DO SUL

O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra vem a público, manifestar novamente seu pesar pela perda do companheiro Elton Brum, manifestar sua solidariedade à família e para:

Denunciar mais uma ação truculenta e violenta da Brigada Militar do Rio Grande do Sul que resultou no assassinato do agricultor Elton Brum, 44 anos, pai de dois filhos, natural de Canguçu, durante o despejo da ocupação da Fazenda Southall em São Gabriel. As informações sobre o despejo apontam que Brum foi assassinado quando a situação já encontrava-se controlada e sem resistência. Há indícios de que tenha sido assassinado pelas costas.

Denunciar que além da morte do trabalhador sem terra, a ação resultou ainda em dezenas de feridos, incluindo mulheres e crianças, com ferimentos de estilhaços, espadas e mordidas de cães.

Denunciamos a Governadora Yeda Crusius, hierarquicamente comandante da Brigada Militar, responsável por uma política de criminalização dos movimentos sociais e de violência contra os trabalhadores urbanos e rurais. O uso de armas de fogo no tratamento dos movimentos sociais revela que a violência é parte da política deste Estado. A criminalização não é uma exceção, mas regra e necessidade de um governo, impopular e a serviço de interesses obscuros, para manter-se no poder pela força.

Denunciamos o Coronel Lauro Binsfield, Comandante da Brigada Militar, cujo histórico inclui outras ações de descontrole, truculência e violência contra os trabalhadores, como no 8 de março de 2008, quando repetiu os mesmos métodos contra as mulheres da Via Campesina.

Denunciamos o Poder Judiciário que impediu a desapropriação e a emissão de posse da Fazenda Antoniasi, onde Elton Brum seria assentado. Sua vida teria sido poupada se o Poder Judiciário estivesse a serviço da Constituição Federal e não de interesses oligárquicos locais.

Denunciamos o Ministério Público Estadual de São Gabriel que se omitiu quando as famílias assentadas exigiam a liberação de recursos já disponíveis para a construção da escola de 350 famílias, que agora perderão o ano letivo, e para a saúde, que já custou a vida de três crianças. O mesmo MPE se omitiu no momento da ação, diante da violência a qual foi testemunha no local. E agora vem público elogiar ação da Brigada Militar como profissional.

Relembrar à sociedade brasileira que os movimentos sociais do campo tem denunciado há mais de um ano a política de criminalização do Governo Yeda Crusius à Comissão de Direitos Humanos do Senado, à Secretaria Especial de Direitos Humanos, à Ouvidoria Agrária e à Organização dos Estados Americanos. A omissão das autoridades e o desrespeito da Governadora à qualquer instituição e a democracia resultaram hoje em uma vítima fatal.

Reafirmar que seguiremos exigindo o assentamento de todas as famílias acampadas no Rio Grande do Sul e as condições de infra-estrutura para a implantação dos assentamentos de São Gabriel.

Exigimos Justiça e Punição aos Culpados!

Por nossos mortos, nem um minuto de silêncio. Toda uma vida de luta!

Reforma Agrária, por justiça social e soberania popular!

Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

O Governo que se esfalece

Movimento Gaúcho em Defesa do Meio Ambiente - MoGDeMA

O governo do RS esfacelou-se, mas se engana quem ache que um dia ele teve início para os gaúchos.

As denúncias contundentes do Ministério Público Federal, e jamais vistas na nossa história, não são total surpresa para nós que acompanhamos, desde o início, os graves fatos que vêm acontecendo na área ambiental. O momento, embora amadurecido na reflexão, ainda não nos mostra todos os desdobramentos desta situação, em que a própria democracia se vê ferida.

O grupo que se apresentou “com uma nova forma de governar”, e que está muito bem definido em qualquer dicionário de bolso, causou destruição e danos irreparáveis ao nosso meio ambiente, ao homem do campo e as pessoas em geral, tudo para atender interesses financistas. Para tanto, promoveu grave e lamentável desestruturação desde a Secretaria Estadual do Meio Ambiente até seus órgãos subordinados, como a FEPAM. De forma jamais vista, a “coisa pública” foi posta a serviço de empresas de celulose, que chegaram ao cúmulo e extremado acinte de exigir e impor ações, que o governo servilmente acatou.

Lembramos que administradores em cargos de escolha política, escandalosamente desconsideraram alertas sobre graves indícios de irregularidades em Estudo de Impacto Ambiental de empresas como a Votorantim, assim como as conseqüências desastrosas da implantação de oceânicas lavouras de eucalipto. Sob a imposição de determinações tenazes e com propósitos alheios aos interesses cidadãos, funcionários concursados ainda são submetidos a administradores que tiveram as próprias empresas de celulose entre seus financiadores de campanha política. Sob o cunho espertalhão de “agilizar liberações ambientais”, tais administradores ainda estão levando de roldão o cuidado mínimo exigido com tais licenças. Não entendemos e nem admitimos como legítimos os atos impetrados por qualquer um dos representantes da SEMA ou FEPAM. Eles também devem responder à justiça pelos seus atos.

O principal prejudicado por estes atos serão todos os gaúchos, mas particularmente o homem do campo, o pequeno agricultor, a produção agrícola, o alimento saudável, já vêm sofrendo com o engodo, envenenamento e destruição das nossas riquezas naturais. É importante salientar o encadeamento calamitoso para o campesino que, sem uma política séria e de apoio a produção agrícola, vendeu sua terra na esperança de obter vida digna na cidade. Hoje, terras agrícolas produtivas são sugadas por raízes de empreendimento financista, secando campos, destruindo a riqueza do solo, só para aumentar a fortuna de quem já é rico. Hoje, desiludidos e enganados, muitos destes valorosos e experientes produtores aumentam roldões de desempregados das grandes cidades.

Não exageramos ao afirmar que, desde os seus primeiros momentos, a ação conjunta de “governo” e empresas vem aniquilando características e valores que só o nosso meio ambiente possui. Com a justificativa absurda e mentirosa de geração de empregos e promoção do desenvolvimento, o nosso RS foi repassado a “empresários” que vêm vampirizando nossa força de trabalho, destruindo nosso campo, alagando nossas florestas, levando a bancarrota nossa economia; atitudes que enriquecem uns poucos gananciosos, mas que aniquilam nosso Estado. O nosso Pampa virou terra de negociata.

Mas este governo não está só!

Muitos políticos da Assembléia Legislativa atuaram como braços vigorosos de apoio e estímulo das intenções governamentais. Temos que tirar o necessário aprendizado da vergonhosa situação que vivemos e, para que o caos não se perpetue, temos que tirar estes personagens da política gaúcha. Para tanto, perguntemo-nos; quem não votou favorável à exigida CPI? Quem dos políticos foi financiado por empresas de celulose? (procure o seu em www.tse.gov.br). Quais os partidos que fugiram das suas responsabilidades? Aonde têm nos levado estes absurdos financiamentos de campanha?

Por fim, mas não por último, temos que pensar em recompor o nosso Estado. A desordem, a confusão e a subversão são os legados deixados pelo “novo jeito de governar”. Reafirmamos que os atos administrativos da SEMA e FEPAM devem ser anulados, pois atenderam a interesses não cidadãos.

A tarefa será árdua e levará anos, pois o “enraizamento” dos interesses particulares e espúrios deste governo abalou a estrutura administrativa, feriu honra e envergonhou a nossa história.

domingo, 26 de julho de 2009

Sustentabilidade: um olhar para fora...

Por Dal Marcondes, da Envolverde

Muita gente ainda não compreende o que é sustentabilidade e porque deveria mudar seu modo de vida. A sociedade certamente não vai empreender as transformações necessárias se não estiver convencida da urgência das mudanças.

Dias atrás estava conversando com um bom amigo, que não trabalha nem com comunicação e nem com meio ambiente e sustentabilidade, sobre carros, trânsito e modelo de desenvolvimento. Ele vive em Santos, uma cidade que eu adoro por ser, ainda, uma boa referência em estrutura urbana. Depois de 15 minutos de conversa percebi que estamos em lados completamente opostos em relação ao que seja uma vida confortável e sustentável. Comentei que se Santos continuasse a receber automóveis no ritmo atual, em muito pouco tempo estaria completamente engarrafada, com os mesmo problemas de mobilidade que São Paulo já enfrenta.

Santos é uma cidade plana, pequena sob o ponto de vista territorial, concentrada em temos de ocupação. Ou seja, ideal para trajetos a pé, de ônibus e de bicicleta, sem falar de um tal VCL (Veículo Leve Sobre Trilhos) dos qual se fala desde que o Mário Covas era governador (ele também um santista). Minha surpresa veio quando meu amigo simplesmente respondeu que esse era um preço a ser pago pelo conforto. De pronto perguntei, “mas que conforto?”

Em minha visão de jornalista especializado em temas ligados à sustentabilidade, conforto é uma cidade onde a mobilidade é garantida através de meios que não imponham mais poluição e nem ocupação desordenada das ruas. Transporte público, espaços abertos, bicicletas e uns poucos carros que são usados apenas por necessidade absoluta. Argumentei que andar de táxi, por exemplo, pode ser muito mais barato do que andar de carro. Não se corre o risco de levar multas, não é preciso pagar estacionamento e nem sequer é preciso se preocupar com tomar um chopp a mais.

Por mais que eu tentasse explicar as vantagens individuais e coletivas em ter uma cidade com menos carros e mais espaço para as pessoas, meu amigo não conseguia entender. Para ele eu devo ter parecido uma espécie qualquer de idiota que não entende o quanto um carro oferece de conforto. Claro que compreendo isso, eu mesmo tenho um carro. No entanto, a questão é como usamos o carro e para que. Por exemplo, se locomover para um escritório, pagar um estacionamento e retornar no final do dia é uma atividade que pode muito bem ser feita de outra forma, principalmente em Santos.

Outra coisa que constatei, pela enésima vez, é o quanto as questões relacionadas ao meio ambiente, à sustentabilidade, aquecimento global etc estão longe das pessoas que não estão diretamente envolvidas com este tema. Certamente a culpa não é destas pessoas, mas sim das outras, aquelas que compreendem a importância de ser sustentável, mas que não estão conseguindo mostrar o quanto isso é importante para todo mundo.

Não se trata apenas de economizar água, energia, separar lixo para a reciclagem ou outras tantas atividades que são preconizadas nas cartilhas de educação ambiental. É preciso estimular o pensamento sustentável, que favorece um olhar mais sistêmico sobre a realidade. Mas como fazer isso?

Nos últimos anos temos trabalhado na Envolverde para informar e formar uma parte da sociedade sobre a transversalidade necessária na abordagem dos temas socioambientais e econômicos. Não estamos mais na fase dos diagnósticos. A maior parte dos problemas socioambientais graves que devem ser enfrentados com urgência pela sociedade já estão devidamente identificados, catalogados, estudados e diagnosticados, com suas causas e conseqüências exaustivamente conhecidas.

A questão agora é saber como convencer as pessoas a mudar. As milhões ou bilhões de pessoas mais afetadas pelos problemas sociais e ambientais não têm a capacidade de reação necessária para alterar a realidade de seu entorno. E as milhões ou bilhões de pessoas que precisariam mudar o modo de vida, ou simplesmente não sabem disso, ou não acham necessário, ou estão se lixando para os problemas.

A questão que se coloca é como conseguir que a sociedade entenda o sentido de urgência dos problemas ambientais, em especial do aquecimento global, do desmatamento e da degradação de ecossistemas, como fazer a atual geração de seres humanos no planeta compreender que deve existir uma “solidariedade intergeracional”, ou seja, que precisamos preservar recursos para as pessoas que ainda não nasceram (como prevê o triple bottom line).

Aqueles que compreendem esta urgência devem superar o sentimento de frustração que está se sobrepondo à necessidade de continuar falando, escrevendo, ensinando e pregando. Mas, principalmente, é preciso compreender que a grande maioria das pessoas ainda não está convencida, por muitos motivos, de que precisam mudar. (Envolverde)

* Dal Marcondes é diretor da Envolverde.

(Agência Envolverde)

quarta-feira, 22 de julho de 2009

A cidadã Yeda e a Governadora

Paulo Mendes Filho

Estamos observando que a cada dia os ânimos se acirram e o confronto se anima. O momento requer diálogo para não perder a razão, a quebra de braço pode quebrar as pernas. As denúncias de corrupção foram trazidas por ações da Polícia Federal e por membros do governo. São denúncias que comprometem vários políticos da sua base de sustentação. Ao serem jogadas na mídia sem apuração judicial, transformam-se em munição pesada das entidades sindicais para defenderem-se dos ataques do governo. Um governo muito duro, que não conversa com trabalhadores, centralizado e focado na radicalização. Bate por dentro e por fora, nos seus aliados e nos seus servidores. Levar uma réplica da escola de lata para frente da casa da governadora foi uma ação para mostrar as contradições do governo e pressionar a Assembleia Legislativa para apurar as denúncias de corrupção. Nada de mais. A casa da governadora não é uma casa qualquer, é o objeto que materializa as denúncias de corrupção. O mesmo vale para a simbologia das escolas de lata. Portanto, não houve excesso e sim uma oportunidade bem aproveitada pelos sindicatos para denunciar o governo.

O que saiu da normalidade foi o ataque de fúria da governadora. Expôs seu cargo, a família, netos e filha ao ridículo. Tudo indicava que o melhor seria ficar em casa bem tranquila, chamar a polícia, resolver a questão e depois pedir desculpa aos vizinhos em nota oficial. Mas não, com um casaco do MTG (Movimento Tradicionalista Gaúcho) ela vai até as grades do portão, xinga, bate boca, levanta o tom, provoca os manifestantes, expõe os netos, colocando-os na condição de prisioneiros, chama os professores de torturadores, escreve um cartaz, se deixa fotografar em estado de ódio e age loucamente como se fosse uma Yeda qualquer e não a governadora do Rio Grande. O caminho da Paz passa pela apuração das denúncias. Se não confirmadas, a governadora se fortalece, se confirmadas ela deve sair. Enquanto durarem as suspeitas, o confronto não irá parar, com a apuração a vida volta ao normal. A sociedade tem que pressionar, o Rio Grande precisa ser grande novamente, precisamos de uma governante e não de uma cidadã qualquer no governo!

Diretor do Semapi/Sindicato

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Os mapas da alma não têm fronteiras

Por Eduardo Galeano*

Texto lido pelo autor na cerimônia em que recebeu a condecoração da Ordem de Maio da República Argentina, na embaixada daquele país em Montevidéu, no dia 9 de julho.

Montevidéu, julho/2009 – Permitam-me agradecer esta oferenda que estou recebendo, que para mim é um símbolo da terceira margem do rio. Nessa terceira margem, nascida do encontro das outras duas, florescem e se multiplicam, juntas, nossas melhores energias, que nos salvam do rancor, da mesquinhez, da inveja e de outros venenos que abundam no mercado.

Aqui estamos, pois, na terceira margem do rio, argentinos e uruguaios, uruguaios e argentinos, rendendo homenagem à nossa vida compartilhada e, portanto, estamos celebrando o sentido comunitário da vida, que é a expressão mais profunda do senso comum.

Afinal, e perdão por ir tão longe, quando a história ainda não se chamava assim, lá no remoto tempo das cavernas, como faziam para sobreviver aqueles indefesos, inúteis, desamparados avós da humanidade? Talvez tenham sobrevivido, contra toda evidência, porque foram capazes de compartilhar a comida e souberam se defender juntos. E passaram-se os anos, milhares e milhares de anos, e está claro que o mundo raras vezes recorda essa lição de senso comum, a mais elementar de todas e a que mais falta nos faz.

Tive sorte de viver em Buenos Aires nos anos 70. Cheguei corrido pela ditadura militar uruguaia, e me fui corrido pela ditadura militar argentina.

Não me fui. Me foram. Mas nesses anos comprovei, uma vez mais, que aquela pré-histórica lição de senso comum não estava de todo esquecida. A energia solidária crescia e cresce ao vai e vem das ondas que nos levam e nos trazem, argentinos que vêm e vão, uruguaios que vamos e voltamos. E, no tempo das ditaduras, soubemos compartilhar a comida e soubemos nos defender juntos, e ninguém se sente herói nem mártir por dar abrigo aos perseguidos que cruzavam o rio, indo para lá ou vindo de lá. A solidariedade era, e continua sendo, um assunto de senso comum e, portanto, era, e continua sendo, a coisa mais natural do mundo. Talvez por isso, sua energia, a sempre viva, foi mais viva que nunca nos anos de terror, alimentada pelas proibições que queriam matá-la. Como o bom touro do duelo, a solidariedade cresce no castigo.

E quero dar um testemunho pessoal de meu exílio na Argentina.

Quero render homenagem a uma aventura chamada “Crisis”, uma revista cultural, que alguns escritores e artistas fundamos com o generoso apoio de Federico Vogelius, onde pude dar algo do muito que me ensinara Carlos Quijano em meus tempos do semanário “Marcha”.

A revista “Crisis” tinha um nome bem deprimente, mas era uma jubilosa celebração da cultura vivida como comunhão coletiva, uma festa do vínculo humano encarnado na palavra compartilhada. Queríamos compartilhar a palavra, como se fosse pão.

Os sobreviventes daquela experiência criadora, que morreu afogada pela ditadura militar, continuamos a acreditar no que então acreditávamos. Acreditávamos, acreditamos, que para não ser mudo é preciso começar por não ser mudo, e que o ponto de partida de uma cultura solidária está nas bocas dos que fazem cultura sem saber que a fazem, anônimos conquistadores dos sóis que as noites escondem, e eles, e elas, são também os que fazem história sem saber que a fazem. Porque a cultura, quando é verdadeira, cresce do pé, como alguma vez cantou Alfredo Zitarrosa, e a partir do pé cresce a história. Só o que se faz a partir de cima é o poço.

A ditadura militar acabou com a revista e exterminou muitas outras expressões de fecundidade social. Os fabricantes de poços castigaram o imperdoável pecado do vínculo, a solidariedade cometida em suas múltiplas formas possíveis, e a máquina do desvínculo continuou trabalhando a serviço de uma tradição colonial, imposta pelos impérios que nos dividiram para reinar e que nos obrigam a aceitar a solidão como destino.

À primeira vista, o mundo parece uma multidão de solidões amontoadas, todos contra todos, salve-se quem puder. Mas o senso comum, o senso comunitário, é um bichinho duro de matar. Ainda há quem espera a esperança, alentada pelas vozes que ressoam de nossa origem comum e de nossos assombrosos espaços de encontro.

Não conheço alegria maior do que a de nos reconhecermos nos demais. Talvez essa seja, para mim, a única imortalidade digna de fé. Reconhecer-me nos demais, reconhecer-me em minha pátria e em meu tempo, e também reconhecer-me em mulheres e homens que são meus compatriotas, nascidos em outras terras, e reconhecer-me em mulheres e homens que são meus contemporâneos, vividos em outros tempos.

Os mapas da alma não têm fronteiras. IPS/Envolverde

* Eduardo Galeano é escritor e jornalista uruguaio, autor de As Veias Abertas da América Latina, Memórias do Fogo e Espelhos: Uma História Quase Universal.

(Envolverde/IPS)

domingo, 12 de julho de 2009

A morte dos rios não traz desenvolvimento.



Artigo de Ruben Siqueira
EcoDebate, 11/07/2009

[EcoDebate] A civilização nasceu entre os rios Tigre, Eufrates e Nilo, o chamado “Crescente Fértil”. Mais tarde Roma desenvolveu-se à beira do Tibre e de seu império fez-se a “civilização ocidental cristã”. Esta, hoje, na sua mais grave crise, devia se ver refletida nos rios que poluiu…

No Brasil os rios foram os caminhos para a interiorização desta civilização trazida pelos portugueses. As “entradas e bandeiras” paulistas seguiram o rio Tietê. Pelo São Francisco entraram os senhores de terra, postando currais de gado e famílias de escravos – nascia a “civilização do couro” às margens do “rio dos currais”. Antes, os povos originários de Pindorama procuravam os cursos d’água e deles faziam os eixos de suas culturas. Acabaram ensinando o português a tomar banho…

Mas não apenas da civilização humana as águas são a fonte e o sustento, também da incomensurável biodiversidade. Todo mundo já aprendeu, ou deveria, que sem água não há vida.

Hoje, porém, no campo e nas cidades, os rios estão moribundos. De cada dez rios brasileiros sete estão poluídos. Todos os rios que cortam cidades, das megalópolis aos vilarejos, viraram esgotos, latrina, lixeira. Preservar as águas não é da lógica que rege o desenvolvimento. Hoje nos damos conta do grave problema que são a corrosão dos recursos naturais e o lixo excessivo que nosso estilo de vida produz. As águas são as primeiras a sinalizar o início do fim…

Da combinação de terra, água, luz solar e zelo feminino, nasceu a agricultura, há 12 mil anos. De lá para cá, a tecnologia evoluiu não só no controle dos fatores de produção agrícola, como até ao ponto de prescindir destes fatores. No vale do São Francisco, há fazendas em que o solo não é mais que sustentáculo da planta, toda a nutrição é artificial, feita por microgotejamento eletrônico. O “agricultor” está sentado ao computador numa sala climatizada, teclando as quantidades de fertilizantes que vão pela água bombeada do rio… Os gases liberados pelos fertilizantes químicos são dos piores de origem agropecuária, que respondem por 25% dos gases de efeito estufa que aquecem o planeta.

Calcula-se que nas fazendas de irrigação de Juazeiro (BA) e Petrolina (PE), no São Francisco, sejam despejadas três toneladas de agrotóxicos diariamente. O rio é o destino da maior parte deste veneno. O Brasil tornou-se em 2008 o maior consumidor de agrotóxicos no mundo, perto de 400 mil toneladas, um negócio que mobilizou US$ 7 bilhões. Falta pouco para um quarto do que consome o mundo: 2 milhões de toneladas.

O modelo da moderna agricultura, também chamada “Revolução Verde”, se impôs para “desenvolver” as áreas rurais. A concentração da terra e da água, das sementes e dos investimentos públicos em grandes empresas agropecuárias aumentou a produção, mas de commodities (soja, carne, suco de laranja e, logo, etanol) para exportação e especulação no mercado de capitais. Cai o consumo de arroz e feijão, o que significa má alimentação e fome. As cidades violentas e inseguras, não param de inchar. O campo restou esvaziado para domínio do agronegócio globalizado, miséria camponesa e degradação ambiental.

Apesar dos sinais mais que evidentes de que por esse caminho não há futuro, vive-se hoje no Brasil franca expansão do agronegócio hidrointensivo, na onda dos agrocombustíveis, falsa solução para o aquecimento global. Intensifica-se a irrigação, que já consome 70% das águas disponíveis do planeta, inclusive no Brasil.

A transposição de águas do São Francisco para o Nordeste Setentrional é exemplo cabal. A sede humana é só justificativa marqueteira. O verdadeiro interesse é expandir o modelo falido. A irrigação no Nordeste não funcionou como indutora do desenvolvimento, é duvidosa economicamente e um desastre social e ambiental.

Ao par da irrigação e dos esgotos, as barragens e hidrelétricas condenaram nossos rios. E não param de aumentar, sem que não se discutam os custos, nem para que e para quem tanta energia.

Se é verdade que “um rio é como um espelho que reflete os valores de uma sociedade”, a nossa não vale o que bebe e come…

Esgotado o “desenvolvimento”, precisamos recuperar o “envolvimento”. Aí, só a agroecologia pode nos salvar, salvando a terra, os rios, a agrobiodiversidade, os territórios, as tradições culturais, a soberania alimentar. Nisto os povos originários, sobreviventes à colonização, têm muito a nos ensinar.

A gestão territorial e participativa das águas através dos comitês de bacias poderá até contribuir para piorar o quadro, se for subserviente aos interesses expansionistas do capital. A luta maior é pela revitalização integral. Por isso bradamos “São Francisco vivo, terra e água, rio e povo”.

Ruben Siqueira, Sociólogo, agente da CPT na Bacia do Rio São Francisco, colaborador e articulista do EcoDebate.

sábado, 4 de julho de 2009

Sobre o tempo, ou a falta dele

Por Roberto Patrus-Pena*

Primeira parte

O anúncio chegou via e-mail:

"Compro tempo.

Sou um sujeito muito ocupado e tenho andado numa correria danada. Minha solução é comprar tempo. Homens do marketing: quero produtos e serviços que atendam a minha necessidade de ter mais tempo. E quero pagar por isso.

Quero tempo para cuidar do lar, tecer eu mesmo a seda do meu casulo. Deixá-lo gostoso e aconchegante, com a adega e a despensa preparadas para receber os amigos. Quero tempo para ir à praça com meu filho, andar de bicicleta por aí, passear com os passos lentos e largos, comendo pipoca, sem aquela pressa dos dias de rush. Quero tempo para rever meus amigos, telefonar nos dias de aniversário, visitá-los para bater papo, tomar café com bolo e colocar os papos em dia. Do tempo que eu conseguir comprar, vou usar um pouco para ficar à toa, olhando o tempo passar.

Quero tempo para ficar na cama depois de acordar, espreguiçar lentamente, alongar cada parte do meu corpo preparando-me para mais um dia na vida. Não quero mais o suplício de uma viagem noturna de ônibus para ganhar um dia de férias. Viajar de carro pode não ser perder um dia com a viagem. Quero justamente ter o tempo para gastar com a própria viagem. Em cada curva da estrada, explicar para meus filhos a geografia da região, as plantações, o relevo, a indústria... Preciso parar com esta mania de chegar sempre. O segredo está no caminho. Preciso aprender a “ser o último a sair do avião” como ensinou Gilberto Gil.

O que quero não é muito. Quero tempo para trabalhar melhor, devotar-me a quem amo e ter momentos de lazer e diversão. Eu sei que vocês, homens do Marketing, têm se esforçado em resolver o meu problema. Eu uso celular, o meu banco é eletrônico, tenho controle remoto de TV, vídeo, som, portão eletrônico, fax, scanner, e tudo o mais quanto a tecnologia possa me oferecer. Mas não adianta. Preciso de mais tempo".

Segunda parte

A resposta ao email foi a seguinte:

"Meu amigo, você sofre de estresse, a doença do tempo. Não procure a solução fora de você, porque o tempo é uma categoria interna. Kant o disse na Filosofia, Einstein o constatou na física. Sêneca escreveu que "não é dos lugares o mal de que sofremos, mas de nós".

Seu problema está na sua filosofia de vida. Tempo é questão de preferência. A vida exige a eleição de prioridades, e a falta de tempo demonstra a sua dificuldade de escolher. Escolher é renunciar, por isso, o exercício da liberdade não se faz sem alguma angústia. Repito: tempo é questão de prioridade.

Entendi o seu problema, mas não procure os homens do Marketing. A solução está dentro de você. Não procure ganhar tempo. Desfrute-o. Não tente comprar tempo. Doe-o a seus projetos prioritários, a si mesmo, e àqueles com quem você vive e trabalha. Do contrário, você não terá tempo nunca. Nem saúde”.

* Roberto Patrus-Pena é filósofo, psicólogo, professor, psicoterapeuta, mestre em Administração, Doutor em Filosofia. Tem 42 anos, é professor da PUC Minas há 20 anos e espera, daqui a dois anos, ter dedicado a metade da sua vida a essa instituição. Mora em Belo Horizonte (MG), almoça todos os dias com a família e sabe o valor do seu tempo. Email: robertopatrus@pucminas.br

(Envolverde/Revista Plurale)

quinta-feira, 25 de junho de 2009


O Movimento Gaúcho em Defesa do Meio Ambiente (Mogdema), articulação que reúne instituições ambientalistas, sindicatos e movimentos sociais da cidade e do campo, viemos manifestar nossa posição sobre o tema em debate.

Consideramos que o atual Código Florestal representa a tutela MÍNIMA do Estado brasileiro sobre Meio Ambiente. Portanto, É INEGOCIÁVEL e deve ser mantido. As APP e a Reserva Legal são categorias fundamentais do Código que não podem permitir flexibilizações e debates instantâneos.

Deveríamos isto sim, garantir o seu devido cumprimento. Uma fiscalização eficaz e a aplicação das devidas sanções. Contudo, afirmamos nosso apoio às medidas legais de diferenciação entre pequenos e grandes, a fim de garantir a viabilidade da produção agrícola camponesa, agroecológica e familiar e dos pequenos agricultores. São estes que fortalecem a preservação e a conservação dos ecossistemas e da biodiversidade brasileira.

Manifestamos total repúdio à utilização de interesses dos pequenos produtores como fachada para promover medidas com o único objetivo de ampliar as atividades voltadas aos interesses do agronegócio.

Este, sem dúvida alguma, o principal vetor do desmatamento, da expansão das monoculturas e de toda a cadeia social e ambiental destrutiva que este setor promove.

Rejeitamos o discurso produtivista e predador da agroexportação em sua lógica tacanha e violência estrutural.

As alterações climáticas e o colapso ecológico que já estamos vivenciando hoje são provocadas e agravadas pelo modelo agrícola petro-dependente, que produz mercadorias tóxicas e não alimentos.

A fragilidade e o grau de exploração da agricultura familiar integrada às cadeias do agronegócio denunciam a urgência de políticas públicas, que assegurem a transição agroecológica e a viabilidade econômica destas famílias.

O direito coletivo ao meio ambiente é garantido pela Constituição, sendo fundamentalmente uma norma federal e como tal deve ser mantido. No caso do Rio Grande, o pouco que se vê de cumprimento da legislação depende exclusivamente do regramento federal.

Por aqui, assistimos hoje uma situação absolutamente inaceitável e sem precedentes na história política gaúcha. Interesses privado se sobrepondo ao que é de direito público.

O conflito de interesses é gritante: o secretário estadual do Meio Ambiente, Sr. BERFRAN ROSADO, eleito deputado estadual liderou a auto-proclamada “Frente Parlamentar Pró-florestamento”, conhecida como Bancada da Celulose.
Existem pródigos e documentados exemplos das manobras que sob sua condução, para garantir interesses do eucaliptal, promoveu a desarticulação dos processos de licenciamento nos órgãos ambientais.

A situação no Rio Grande também piora (e muito), quando o sr. Secretário do Meio Ambiente acumula a presidência do Conselho Estadual do Meio Ambiente (CONSEMA), onde, também a disparidade das vagas entre as organizações da sociedade civil e as entidades ligadas a produção e à industria, resulta na crônica prevalência dos interesses corporativos e poluidores sob um manto de ‘instância participativa’.

É notório em todo o país, que no Executivo gaúcho hoje, a corrupção é estrutural. Também propulsora da devastação ambiental. As irregularidades em processos de licenciamento para obras do Plano de Aceleração do Crescimento (PAC), dão o tom da degradação; tráfico de influência e suspeita de favorecimento, desvio de recursos públicos em obras de saneamento, barragens e projetos de irrigação, que vão afetar drasticamente a vida das populações, suas culturas e biodiversidade.

O desmonte da legislação ambiental em curso manifesto na proposta de mudança do Código Florestal vai ampliar o desmatamento, justamente quando a preservação da biodiversidade é fundamental para combater as mudanças climáticas que afetam o conjunto da sociedade.

Entendemos a ofensiva sobre o Código Florestal como parte da reorganização do marco legal ambiental, para atender a expansão territorial do agronegócio, especialmente da nova frente da agroenergia e dos agrocombustíveis.

Rejeitamos condicionar a preservação ambiental aos mecanismos de mercado e à lógica mercantil, assim como denunciamos a criação de novos mercados de água, da biodiversidade e do carbono.

São as relações de poder e os regimes de apropriação, uso e acesso dos recursos naturais que estão na base de todas as economias e todas as sociedades, desde sempre.

O modelo implantado no campo está na raiz de um sistema político que condiciona toda a sociedade. A violência do modelo dos agronegócios se manifesta diariamente: na expulsão dos camponeses, nos conflitos do campo, na compra de terras por estrangeiros, na apropriação dos recursos naturais, na concentração de terras, na desertificação, na contaminação por agrotóxicos e transgênicos, na destruição da biodiversidade, no êxodo rural e no crescimento dos cinturões de miséria ao redor dos centros urbanos, no desemprego e precarização do trabalho, na fome e na desnutrição, nas doenças e mortes por causas evitáveis, na perda de nossos patrimônios alimentares e na colonização da nossa cultura.

Nosso papel como Movimento Social está na ecologização da política e na politização da ecologia.

Porto Alegre, 25 de Junho de 2009
Movimento Gaúcho em Defesa do Meio Ambiente

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Audiência Pública sobre o Código Florestal com Ministro do Meio Ambiente Carlos Minc

Galera...(é o PACHECO quem fala...)
O Movimento Gaúcho em Defesa do Meio Ambiente – MoGDeMA – convoca em regime de máxima urgência para participar da:

Audiência Pública sobre o Código Florestal
com Ministro do Meio Ambiente Carlos Minc

Dia 25 de Junho, às 14:00 horas
Auditório Dante - Assembléia Legislativa – RS
(chegar com antecedência)

O futuro de toda política ambiental brasileira depende desta legislação. Venha participar deste debate – precisamos ocupar o plenário!
Há uma ofensiva do agronegócio e das monoculturas para alterar drasticamente o conteúdo do código, reduzindo as obrigações dos proprietários. Isto é um absurdo, pois as exigências mínimas que estão em vigor não são cumpridas. Reduzir a Reserva Legal e autorizar a expansão de monocultivos exóticos (eucalipto) será o golpe de morte ao que ainda resta dos nossos ecossistemas.
Participe e traga sua indignação.
Carta de Princípios http://mogdema.blogspot.com/ .
Agradecemos desde já e contamos com sua participação

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Entrevista com o permaculturista Rob Hopkins, criador do movimento Transition Towns (Cidades em Transição)

O mundo em transição – O movimento inglês Transition Towns, criado e disseminado pelo inglês Rob Hopkins, transforma cidades em modelos sustentáveis e independentes de crises externas

Imagine cidades inteiras sustentáveis, baseadas no comércio local, independentes do petróleo e de importações de alimentos. Pois elas já existem graças à visão e ação de Rob Hopkins, criador do movimento Transition Towns (Cidades em Transição). Assustado com a dependência exterior do Reino Unido em combustível e alimentação e sabendo que esse cenário de mudança climática e escassez de petróleo só irá piorar nos próximos anos, Rob decidiu que apenas suas ações individuais como permaculturista não iriam bastar. Matéria de Thais Oliveira / Edição de Mônica Nunes, no Planeta Sustentável.

Com a sua vasta experiência em ecovilas e como professor de universidade, construiu um plano de mudança com o objetivo de alcançar a resiliência que, neste caso, significava a capacidade de sobreviver a choques externos como a escassez do petróleo, crises na produção de alimentos, falta de água e energia. Incluiu, nesse plano, todos os setores da sociedade – governo, setor privado e cidadãos – e todos os aspectos da vida cotidiana – saúde, educação, transporte, economia, agricultura e energia.

Sua primeira vitória foi em 2005, em Kinsale, na Irlanda, onde ensinava na universidade local, com a histórica decisão que levou o município todo a adotar o movimento como seu plano de gestão. Hopkins mudou-se então para Totnes, na Inglaterra, e transformou-a em vitrine do movimento. Devagar, a cidade de 8 mil mil habitantes pretende chegar em 2030 totalmente transformada e independente. Hoje já são mais de 110 cidades, bairros e até ilhas em 14 países do mundo convertidas na Transição.

O conceito é simples – apesar de trabalhoso – e flexível. Segundo Hopkins, cada comunidade adapta os doze passos iniciais do movimento à sua realidade e capacidade. Esses itens são apenas guias de como começar a quebrar a nossa dependência do petróleo, revendo os modelos de economia, comida, habitação e energia. Assim, essas cidades funcionam tanto no Japão quanto nos Estados Unidos ou no Chile. A idéia é parar de depender – ou depender minimamente – da tecnologia e voltar ao tempo onde não precisávamos de geladeiras, carros, tratores e aviões. Técnicas e conhecimentos dos nossos avós e ancestrais são valorizados e resgatados.

Uma das frentes do movimento reeduca a população e estudantes em aptidões como costura, gastronomia, agricultura familiar, pequenos concertos e artes manuais como marcenaria. Iniciativas incluem a criação de jardins comunitários para plantio de comida, troca de resíduo entre indústrias ou simplesmente o reparo de itens velhos, ao invés de jogá-los no lixo. O investimento em transporte público e a troca do carro pela bicicleta é inevitável para a redução das emissões de carbono. Em Totnes até uma nova moeda – a libra de Totnes – foi criada para incentivar e facilitar transações com produtores locais.

Diferente dos fatalistas que prevêem o fim do mundo em 2012 ou quadros horríveis de fome, seca e morte, os adeptos do Transition Towns têm uma visão realista, mas positiva, do futuro. Acreditam na ação transformadora de comunidades e no trabalho pesado para mudar as estatísticas. Em entrevista exclusiva ao Planeta Sustentável, Rob Hopkins fala sobre a origem permaculturista do movimento e de seu futuro.

Como surgiu a idéia do Transition Towns?

Toda a idéia do movimento surgiu através do meu trabalho como permacultor e professor de permacultura nos últimos dez anos. Quando comecei a me aprofundar sobre a crise de combustível e mudança climática, as ferramentas de resposta sobre o assunto eram as de permacultura. Mas o que eu percebi é que, apesar de a permacultura ser o sistema de design ideal para isso, o movimento é ainda muito pouco conhecido e tem quase uma aversão embutida ao mainstream. Por isso, o que quis fazer através do Transition foi criar um modelo em que a permacultura fosse implícita ao invés de explícita, que ela estivesse escondida dentro do processo para que as pessoas a descobrissem se assim a desejassem.

Como você definiria o movimento?

Ele ainda está numa fase inicial de implementação, ainda é muito novo, mas é muito simples. É um modelo de doze passos que leva ao processo de quebra da dependência de combustível. E, assim, abrange tudo: comida, economia, moradia e por aí vai. É aplicar os princípios de permacultura para esse objetivo de independência, mas com a esperança de abranger muito mais pessoas, em todos os setores, não somente os que originalmente se interessariam pelo assunto. O movimento quer ser positivo e focado, mas também muito inclusivo. Ele tenta apelar para todos igualmente. E acho que aí está a chave de seu sucesso.

Você conseguiu um fato inédito de incluir governo, comércio, todos os setores nos planos das cidades. Como isso foi feito?

Com muito trabalho de persuasão e organização. É muito difícil, mas precisava acontecer. A permacultura precisava avançar muitos passos e rapidamente porque segura peças importantes do quebra-cabeças que vão ser os próximos dez anos. Não temos muito tempo a perder.

Já são mais de 110 comunidades engajadas no movimento, mas apenas uma na América Latina: no Chile. Você acha mais difícil os países em desenvolvimento se engajarem?

No Brasil, existem algumas pessoas interessadas no movimento, mas esse interesse ainda está no nível do contato e não da participação ativa. Acho que os desafios são diferentes porque o que focamos é a idéia de ser resiliente, ou seja, a necessidade de reconstruir o modelo de sociedade. Aqui no Reino Unido, por exemplo, nós desmontamos tudo e acabamos com a possibilidade de nos mantermos de forma independente. Nós nos tornamos dependentes do comércio internacional e compramos o que queremos pelo menor preço possível de outros países. Com isso, nos isolamos e nos colocamos no lugar mais perigoso que existe.

Nos países em desenvolvimento ainda há mais independência, mas isso começa a ser desvalorizado, a se perder e a ser destruído. Acho que, nesse caso, a primeira coisa a fazer é colocar o valor de volta na produção de alimentos e nos conhecimentos tradicionais, porque, quando perdemos o valor nessas áreas, é muito difícil recuperar. Mas o movimento se traduz para todos os tipos de sociedade e casos. Não é rigoroso, é apenas um conjunto de princípios que pode ser adaptado a cada realidade, a cada cultura e contexto. É mais um convite do que um modelo rápido e duro.

Quais são os novos desafios do Transition Towns?

Estamos desenvolvendo um modelo de treinamento, um curso de dois dias em que as pessoas aprendem tudo o que precisam para começar a transformar suas comunidades. Esse treinamento é uma organização que está formando grupos de treinadores em todo o Reino Unido e começa a atuar, também, nos Estados Unidos, Canadá, Japão, Austrália e Nova Zelândia. Também estamos começando a dar consultoria para empresas em como elas podem ser mais independentes de combustível e mais sustentáveis. Trabalhamos também com o governo local para encontrar soluções. Assim, enfrentamos todas as frentes: sociedade, comércio e governo. Além disso, o “The Transition Handbook – from oil dependency to local resilience” (Ed. Green Books) está sendo traduzido em várias línguas e pode ser comprado através do nosso site.

* Matéria do sítio Planeta Sustentável, enviada por Edinilson Takara, leitor e colaborador do EcoDebate. www.ecodebate.com.br

domingo, 14 de junho de 2009

A cura para as demissões: demitam o patrão!

Modelo argentino de controle de fábricas pelos trabalhadores ganha força pelo mundo

Naomi Klein e Avi Lewis

Em 2004, fizemos um documentário chamado “The Take” sobre o movimento argentino de empresas dirigidas pelos trabalhadores. Depois do dramático colapso econômico do país em 2001, milhares de trabalhadores ocuparam suas fábricas fechadas e voltaram a produzir por meio de cooperativas. Abandonados por chefes e políticos, recuperaram salários e indenizações não pagas, ao mesmo tempo em que recuperavam seus postos de trabalho.

Quando viajamos pela Europa e América do Norte com o filme, cada sessão de perguntas e respostas terminava com o questionamento: “Tudo isso está indo muito bem na Argentina, mas poderia chegar a ter êxito aqui?”

Bem, agora que a economia mundial se assemelha em muito com a da Argentina em 2001 (e por muitas das mesmas razões) há uma nova onda de ação direta entre os trabalhadores dos países ricos. As cooperativas voltam a emergir como uma alternativa prática contra mais demissões. Trabalhadores nos EUA e na Europa começam a formular as mesmas perguntas que seus homólogos latino-americanos: por que tivemos que ser despedidos?, por que não podemos despedir nossos chefes?, por que se permite que um banco dirija nossa empresa enquanto recebem bilhões de dólares do nosso dinheiro?

No dia 15 de maio, na Cooper Union na Ciudad de Nueva York, participamos de um painel acerca deste fenômeno chamado “Demita seu chefe: a solução de controle pelos trabalhadores de Buenos Aires a Chicago.”

O encontro contou com a presença de representantes do movimento na Argentina, assim como de trabalhadores da famosa luta de "Republic Windows and Doors" em Chicago.

Foi uma boa maneira de escutar diretamente aqueles que tratam de reconstruir a economia desde a base e que necessitam de um apoio significativo do público, assim como dos responsáveis políticos e todos os níveis do governo. Para os que não puderam ir a Cooper Union, segue um breve resumo dos recentes acontecimentos no mundo das fábricas controladas por trabalhadores.

Argentina:

Na Argentina, inspiração direta para muitas ações dos trabalhadores, tem havido mais formas de tomada de fábrica nos últimos 4 meses do que nos últimos 4 anos.

Um exemplo:

A Arrufat, fabricante de chocolates com uma história de 50 anos, foi bruscamente fechada no final de 2008. Trinta empregados ocuparam a planta e, apesar da imensa dívida com o poder público deixada pelos antigos proprietários, estão produzindo chocolates a luz do dia, utilizando geradores.

Com um empréstimo de menos de 5 mil dólares do The Working World, uma ONG de fundo financeiro iniciada por um admirador do "The Take", puderam produzir 17 mil ovos de Páscoa para o maior feriado do ano. Obtiveram um lucro de 75 mil dólares, cada um levou 1 mil dólares para casa e destinaram o restante para a produção futura.

Reino Unido:

A Visteon é uma fabricante de autopeças que foi descartada pela Ford no ano 2000. Centenas de trabalhadores receberam um aviso-prévio de 6 minutos. Duzentos trabalhadores em Belfast sentaram-se sobre o teto de sua fábrica, outros duzentos seguiram este exemplo no dia seguinte.

Durante as seguintes semanas, a Visteon aumentou seu pacote de indenização em até 10 vezes mais que sua oferta inicial, mas a companhia se nega a colocar este dinheiro nas contas bancárias dos trabalhadores até que estes abandonem as plantas da fábrica, e eles, por sua vez, se negam a sair até que recebam o valor.

Irlanda:

Uma fábrica na qual os trabalhadores produzem o lendário cristal de Waterford, foi ocupada durante sete semanas no início deste ano quando a matriz Waterford Wedgewood declarou falência depois de ser adquirida por uma empresa privada de investimentos dos EUA.

A companhia estadunidense tem colocado até agora 10 milhões de euros em um fundo de indenização e realiza negociações para conservar alguns dos postos de trabalho.

Canadá:

Com o colapso das três grandes da indústria automotiva estadunidense, tem havido, até agora, quatro ocupações de plantas pela Canadian Auto Workers durante este ano. Em cada caso, as fábricas estavam fechando e os trabalhadores não recebiam a compensação que tinham direito. Ocuparam as fábricas para impedir que as máquinas fossem retiradas e o fizeram como meio de pressão para obrigar que as companhias voltassem à mesa de negociações – precisamente na mesma dinâmica adotada pelos trabalhadores argentinos.

França:

Na França, está acontecendo uma nova onda de "sequestro de chefes" durante este ano, nos quais os empregados enfurecidos detêm seus chefes em fábricas que seriam fechadas. As companhias em questão até agora incluem a Caterpillar, 3M, Sony e Hewlett Packard.

Levaram um prato de mexilhões e batatas fritas ao executivo da 3M, durante sua dura experiência de uma noite.

Uma comédia de êxito na França durante esta primavera foi um filme chamado "Louise-Michel," na qual um grupo de trabalhadoras contrata um assassino para que mate o seu chefe depois de este ter fechado sua fábrica sem aviso-prévio.

Um dirigente sindical francês disse em março: “os que semeiam a miséria colhem violência. A violência é cometida por aqueles que fecham postos de trabalho, não pelos que os defendem”.

Em maio, mil trabalhadores da siderurgia interromperam a reunião anual de acionistas da ArcelorMittal, a maior companhia siderúrgica do mundo. Ocuparam a central da companhia em Luxemburgo, romperam portas, quebraram janelas e enfrentaram a polícia.

Polônia:

Também em maio, no sul da Polônia, no maior produtor avícola da Europa, milhares de trabalhadores bloquearam a entrada do QG da companhia em protesto contra os cortes de salários.

EUA:

E, em seguida, há a famosa história da Republic Windows and Doors: 260 trabalhadores ocuparam sua planta durante seis dias que estremeceram o mundo em Chicago, em dezembro passado. Com uma habilidosa campanha contra o maior credor da empresa, o Bank of America ("vocês foram resgatados e nós fomos vendidos!"), e uma massiva solidariedade internacional, obtiveram as indenizações que lhes deviam. E, além disso – a planta reabriu sob nova direção, produzindo janelas de energia solar e todos os trabalhadores foram reintegrados aos seus antigos postos, com os mesmos salários.

Recentemente, Chicago se converteu numa tendência. Hartmarx é uma companhia de 122 anos que produz trajes de executivos, incluindo o azul marinho que Barack Obama usou na noite da eleição e o smoking e sobretudo que usou em sua posse.

A empresa está em bancarrota. Seu maior credor é o Wells Fargo, que recebeu uma ajuda de 25 bilhões de fundos públicos. Ainda que haja duas ofertas para comprar a companhia e mantê-a em operação, a Wells Fargo quer liquidá-la. Em maio, 650 trabalhadores votaram pela ocupação da fábrica em Chicago se o banco seguir em frente com a liquidação.


Naomi Klein é jornalista, escritora e ativista canadense e Avi Lewis é documentarista canadense.
Matéria extraída da página www.brasildefato.com.br

sábado, 13 de junho de 2009

Nota de apoio e solidariedade à luta dos povos indígenas da Amazônia Peruana*

A COIAB (Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira) e as entidades da Campanha "Povos Indígenas na Amazônia: Presente e Futuro da Humanidade" acompanham com extrema preocupação o conflito desencadeado pela violenta repressão governamental contra a mobilização indígena na Amazônia peruana e repudiam veementemente as atrocidades cometidas. Os assassinatos podem passar de 100, entre eles 30 indígenas do povo Awajun.

As reivindicações para um desenvolvimento que respeite a vida humana e atendem a necessidade de uma relação diferenciada com o ambiente integram hoje a pauta dos organismos internacionais quanto à preservação e o futuro do nosso planeta. Motivo pelo qual manifestamos nosso integral apoio a esses povos por tratar-se de uma luta justa e legítima contra o Tratado de Livre Comércio, TLC entre Peru e EUA e os decretos que viabilizam sua implantação, entregando a exploração das riquezas naturais da Amazônia, inclusive nas terras indígenas, a empresas multinacionais.

Acordos bilaterais semelhantes foram firmados com outros países da América do Sul sob protestos das populações tradicionais e fortemente rechaçados em outros, onde os interesses de companhias, sobretudo norte americanas, tentaram se instalar.
A luta contra esses acordos é de todos os povos da Amazônia. Se for consentida a exploração dos recursos naturais na selva peruana no modo como vem sendo imposto, certamente nós também, do lado brasileiro, sofreremos as conseqüências do desmatamento, da poluição e da destruição das nascentes dos cursos d´água e rios que formam a bacia amazônica, além das conseqüências inevitáveis para as mudanças climáticas atualmente debatidas por todos os segmentos preocupados com o futuro do planeta.

Denunciamos o desenvolvimento terrorista que destrói e mata e condenamos todo e qualquer acordo bilateral ou multilateral que não respeite o direito dos povos indígenas de opinar sobre seus territórios e direitos, tal como previsto pela Convenção 169 da OIT (Organização Internacional do Trabalho), nem aqueles nocivos à soberania de nossos países e potencialmente destruidores dos recursos naturais existentes.

Somamo-nos a todas as organizações indígenas, parceiros do movimento indígena e entidades da sociedade civil que exigem do governo peruano a correta investigação, a apuração dos fatos e a condenação dos culpados pelas ações que resultaram em tantos mortos, feridos e desaparecidos, cuja divulgação oficial não reflete o número real tendo por base as denúncias dos familiares das vítimas dessa violência.

Conclamamos todos a somarem com a luta dos povos indígenas pelo resgate do sentido fundamental da vida (bem viver de todos os seres) para o projeto de futuro da humanidade e do planeta.

Manaus, 10 de junho de 2009.

Coiab - Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira
Cimi - Conselho Indigenista Missionário
Secoya - Serviço de Cooperação com o povo Yanomami.
Sares - Serviço de Ação e Reflexão Social
Dep. Antropologia/Programa de Pós Graduação em Antropologia Social/Museu Amazônico da UFAM.
Equipe Itinerante
Central Única dos Trabalhadores - CUT/AM

Matéria retirada do site www.adital.com.br