sábado, 27 de setembro de 2008

Arambaré é isso!!!

“O sacerdote que espalha luz”, concedeu-me o privilégio de estar e conviver com a natureza tal e qual sonho. Tá bem que já com sinais de degradação, principalmente se ouvirmos aqueles que ali criaram-se e hoje lutam por uma ARAMBARÉ capaz de preservar as suas belezas naturais, fundamentais para a preservação do seu ecossistema.

Há possibilidades para isso. Porém a administração local tem que colocar essa pauta em sua agenda.

Lá estive para contribuir nesse debate, e, junto com meu querido amigo, companheiro, Paulinho, seguramente, avançamos.

Mas, quero aqui, destacar a beleza de Arambaré que tem em seus moradores os seus protagonistas. As casas privilegiam jardins e hortas. A cidade, com suas Figueiras centenárias e umbus, mexem com nossas emoções.

Considero-me uma privilegiada, pois andar pela cidade nos dias ventosos e nas noites frias dessa primavera, visitando suas figueiras e seus recantos escondidos, pelas mãos do meu querido amigo, filho de Arambaré, Paulinho, ou PAULO SÉRGIO MENDES FILHO, não é pouca coisa.

Abaixo, alguns registros dessa visita.

E, VIVA A PRIMAVERA!!!

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Para historiador, Semana Farroupilha é equívoco

Reportagem: Luiz Renato Almeida (2007)
Em 20 de Setembro, os gaúchos comemoram a Revolução Farroupilha. Para o historiador da Universidade Federal de Passo Fundo (UPF), Tau Golin, a Semana Farroupilha é um equívoco histórico.

Porto Alegre - Nesta quarta-feira, 20 de Setembro, os gaúchos comemoram a chamada Revolução Farroupilha, movimento reivindicatório surgido no Rio Grande do Sul em 1835
Para o historiador da Universidade Federal de Passo Fundo (UPF), Tau Golin, o tradicionalismo passa uma falsa idéia de que, no século 19, a população riograndense se levantou contra o Império. Para o pesquisador, o que começou em 1835 foi um movimento contra a taxação da terra e do charque, liderado por estancieiros e charqueadores. Nesta entrevista, Tau Golin explica porque, na sua opinião, a Semana Farroupilha é um equívoco histórico.

Os gaúchos sabem o que se comemora no 20 de setembro?Os riograndenses sabem que se comemora a Revolução Farroupilha. No entanto, não têm uma idéia precisa e desconhecem o que foi a Revolução Farroupilha. A visão que predomina no conjunto da população é a elaboração feita pelo tradicionalismo, convertida em um civismo. O que significa isso? Todo o Rio Grande do Sul, na pretensão tradicionalista, foi transformado em uma espécie de região-país, como se todos tivessem o interesse de combater o Império. Essa é uma visão equivocada, porque os farrapos eram minoria da população. Eles jamais passaram de cinco mil a seis mil pessoas, numa população de 450 mil. Vários problemas existem nesta visão sobre a Revolução Farroupilha. Em primeiro lugar, o povo do Rio Grande do Sul, na sua maioria, ficou ao lado da Regência, do Império. Nós não podemos nos esquecer que esta revolta dos estancieiros e charqueadores do Rio Grande do Sul, que ocorreu em 1835, se dá poucos anos depois da Independência do Brasil. E a Independência do Brasil foi um processo bastante traumático, do ponto de vista da construção de uma identidade nacional. Ou seja, o Estado Nação surge em 1822. A população, até então, não tinha uma identidade de nação, eles eram apenas súditos de Portugal. Então, a Independência do Brasil significou que ela passou a ter uma identidade. E a revolta dos estancieiros não era uma reivindicação do conjunto da população. Era uma reivindicação contra a taxação da terra e do charque. Eram interesses de uma classe proprietária e de pessoas que lidavam no mercado internacional do charque. Não eram interesses da população. Por outro lado, nestes primeiros momentos a oligarquia do Rio Grande do Sul estava disputando o poder desta nova nação com as elites das outras regiões do Brasil. Então, nós não temos na Revolução Farroupilha uma dimensão, que se deu a partir do tempo, que o Rio Grande do Sul era uma espécie de região-nação que estava sendo sufocada pela Regência. Na verdade, a maioria do Rio Grande do Sul ficou ao lado do Império, porque ser contra o Império, naquele momento, era ser contra uma noção de brasilidade, era perder essa identidade que a Independência tinha dado. E foi por isso que a maioria da população do Rio Grande do Sul, especialmente as cidades, lutou ao lado do Império, e não ao lado dos farroupilhas.

O senhor está dizendo a visão atual sobre a Revolução Farroupilha dá ênfase a esta bandeira da liberdade, mas omite temas controversos, como a opção pelo escravismo?A Revolução Farroupilha foi um movimento reivindicatório dos estancieiros e charqueadores, porque a estrutura do País que estava se fundando trabalhava com uma noção de regulamentação do País. Durante todo o período colonial, três séculos, não se cobrava o imposto da terra. Esse novo País começa a pensar na cobrança do imposto da terra. Os interesses dessa rebeldia dos caudilhos do Sul se dava também em cima de uma tradição guerreira, de guerras de fronteiras, que saía da política ou fazia da guerra um estado de política. Ou seja, entrar em armas era uma coisa natural na tradição dessa oligarquia riograndense, tanto é que esse protesto englobou três tipos de rebeldes: a maioria dos rebeldes farroupilhas era monarquista, o partido do Bento Gonçalves era monarquista ditatorial, não queria saber da normatização do país. Enquanto havia uma pequena parte de farroupilhas que eram monarquistas constitucionalistas: tinham uma idéia da lei, o que implicaria ser esse novo país. E havia uma minoriazinha, representada pelos jornalistas, pelos secretários desses grandes líderes, principalmente por influência da Revolução Francesa, que eram republicanos. Essas pessoas é que escreviam os textos. E se tomam estes textos, essas proclamações, como se fossem história realmente acontecida. Na verdade eram textos: era uma revolução do papel, e não uma revolução em que aquelas idéias que estavam ali eram verdadeiramente realizadas. Com exceção deste pequeno grupo, tanto o partido da maioria do Bento Gonçalves, como o partido da minoria, eram escravocratas. Tanto é que, quando eles reúnem a Constituinte Farroupilha, a escravidão é preservada e, além de só os proprietários terem direitos, os bens desses proprietários deveriam ser maiores do que seus bens no período imperial.

Até que ponto a exaltação do gaúcho não beira uma espécie de preconceito com as pessoas de fora?
A Semana Farroupilha, do ponto de vista da história, é um grande equívoco. Essa idéia de que o Rio Grande do Sul se levantou como um todo contra o Império é uma bobagem tremenda. Isso não tem o mínimo de fundamentação histórica e foi inventado pelos tradicionalistas, mas em cima de um movimento feito pelo castilhismo, no início da Proclamação da República, porque o Partido Republicano Riograndense procurava uma legitimação. Essa legitimação foi buscada no passado. Então o primeiro grande movimento estatal feito desde uma visão de totalidade do Rio Grande do Sul farroupilha foi feita pelo castilhismo, que foi um regime completamente despótico. A primeira grande manipulação da visão histórica feita pelo estado castilhista ocorreu durante toda a República Velha. Com o passar do tempo, o tradicionalismo que surge vai se basear nesta idéia, só que no pós-Segunda Guerra Mundial estão em vigor no mundo os movimentos anti-coloniais, ou seja, as guerras de libertação nacional. E esse conceito de guerra de libertação nacional foi utilizado pelo tradicionalismo, aplicável ao Rio Grande do Sul. Começaram a passar a idéia de que houve um momento no passado que todo o Rio Grande do Sul se levantou contra o império. Mas não tem consistência nenhuma essa afirmação. O que nós temos concretamente é que a população, além de ser regimentada a força... os farrapos mantiveram a escravidão, quando fizeram o acordo final e aceitaram a anistia oferecida pelo Barão de Caxias, entregaram os cento e poucos negros que ainda restavam no exército farroupilha que não tinham sido chacinados no combate de Porongos, para o Império. Esses negros, que, em sua maioria constituíram os lanceiros negros, foram levados para o Rio de Janeiro, pelo Barão de Caxias, como escravos do Estado, e foram trabalhar nas obras do Estado. Parte deles trabalhou na recuperação do porto do Rio de Janeiro, inclusive. O que nós temos é a formação de uma memória altamente manipulável, transformada num civismo, num patriotismo caótico, que alimenta um tipo de sentimento completamente arrogante, anti-brasileiro, que não auxilia na compreensão da grandeza da história do Rio Grande do Sul, porque transformou o Rio Grande do Sul no mito de uma República de estancieiros, numa República de senhores de escravo. Então, hoje nós temos um Estado mobilizado pelas forças da indústria cultural, pelos aparelhos do Estado, para cultuar na avenida e por toda a mídia, senhores de escravo e caudilhos como heróis regionais.

E qual a sua opinião sobre a transformação do 20 de setembro em um grande evento, que atraia turistas de outros Estados, iniciativa esta criticada inclusive por alguns tradicionalistas?Precisamos compreender a natureza do tradicionalismo, que por ter aparatos de Estado, aparatos da indústria cultural e em vários âmbitos da vida social, ele conseguiu incorporar todas as emoções e se faz de representante desses sentimentos de pertencimento. As pessoas que têm bons sentimentos, que desconhecem a natureza do tradicionalismo e a sua função, elas estão no processo, estão no movimento, mas desconhecem essa função estatal, essa capacidade dogmática de controle, de exercício de poder sobre as pessoas e fundamentalmente de uma vigilância sobre o comportamento e sobre a cultura. Então, em todos os âmbitos da vida social e cultural, os tentáculos do tradicionalismo vão se apossando deles, e esses tentáculos vão dando novos sentidos às emoções. Todos nós temos um sentimento de pertencer ao Sul do Brasil, de vivermos no Rio Grande do Sul, reconhecemos na história do Estado a sua grandeza. Isso está muito adequado à pós-modernidade, que se fundamenta basicamente no espetáculo e na imagem. Não interessa mais ser riograndense. Interessa parecer ser. Esse parecer ser adquiriu o aspecto de identidade. Parecer ser do Rio Grande do Sul é ter um aspecto consagrado no modelo tradicionalista. O modelo está pronto: basta você querer parecer do Sul, você veste esta fantasia. Obviamente, com isso não tem materialidade, tudo isso envereda para um superdimensionamento do parecer ser, ou seja, dessa coisa espetacular. Isso vai criando sentidos próprios, são forças que vão sendo manipuladas pelo próprio movimento, pelo Estado, então hoje o tradicionalismo também é uma força turística. Todos os recursos do grande espetáculo pós-moderno são utilizados: são verbas que deveriam ser destinadas à educação, ao conhecimento, à pesquisa, ao saber, e são desviadas, digamos assim, para esse campo de teatralidade, da espetacularização, dos desfiles, dos rodeios, ou seja, desta grande teatralidade, de um culto completamente vazio da identidade regional.

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

8°. Encontro Diocesano de Sementes Crioulas



Eng°Agrônomo Lauro E. Bernardi
Coletivo Desenvolvimento Sustentável
Semapi Sindicato


A Comissão Pastoral da Terra – Diocese de Santa Cruz do Sul, com apoio da Emater-RS / Ascar, Paróquia Santo Antônio, Sindicato dos Trabalhadores Rurais e Movimento dos Pequenos Agricultores, promoveu dia 6 de agosto no Município de Pouso Novo RS, o 8°. Encontro Diocesano de Sementes Crioulas, tendo como objetivos:
• Estimular o resgate e a troca de sementes crioulas entre os agricultores e agricultoras;
• Fortalecer a agricultura de base familiar;
• Discutir alternativas de produção agroecológica;
• Fortalecer a organização dos pequenos agricultores e agricultoras.
• Discutir alternativas de renda proporcionando melhores condições dos jovens e suas famílias permanecerem na roça dignamente.

Após a abertura com pronunciamento do bispo Don Sinésio Bonh e demais autoridades presentes, o agricultor ecologista Juarez Antônio Felipe Pereira de Mariana Pimentel, abordou o tema “preservar as sementes crioulas, uma questão de soberania camponesa” aos mais de 340 participantes. Mauricio Queiroz da organização do evento destaca que o 8°. Encontro recebeu mais de 200 tipos diferentes de sementes e mudas, explicitando uma excelente mostra da biodiversidade regional e de estratégia de enfrentamento a dominação das sementes pelas grandes corporações. O trabalho em grupo realizado durante a tarde levantou demandas de trabalho, apontou alternativas e compromissos de continuidade de encontros iguais a estes que ao longo dos anos vem sendo fortalecido pela ação da Pastoral e seus parceiros. Ao final do evento que contou com animação musical do cancioneiro popular Antônio Gringo, foram realizadas com entusiasmo característico trocas de sementes e mudas entre os participantes.

A Importância deste tema
A evolução milenar dos cultivos, a partir de seus centros de origem, legou a humanidade uma riqueza insubstituível, agora ameaçada.

O avanço do mercado de sementes de alta produtividade está fazendo desaparecer a variabilidade genética vegetal. A agricultura mundial e milhões de vidas e modos de subsistência dependem da diversidade genética e, o sentido comum nos diz que a perda destes recursos trará conseqüências negativas à humanidade. Desde o alvorecer da agricultura, há 12.000 anos, até o século XX, cada camponês teve que produzir e guardar suas próprias sementes para a temporada seguinte. Essa necessidade contribuiu para o desenvolvimento da diversidade genética e teve como resultado variedades notadamente bem adaptadas á condições muito específicas. De quase um quarto de milhão de espécies vegetais, a humanidade domesticou menos de 1.500 espécies sob a agricultura formal. Nossas necessidades alimentares hoje são supridas por menos de 30 espécies de plantas. A compreensão de que nossas alternativas alimentares seguem se reduzindo é realmente aterrador. O exemplo dramático da fome no continente africano tem relação direta com a uniformidade do sistema alimentar mundial, implantado pela revolução verde. A diversidade destes campos garantia que um ou outro cultivo adaptado sobrevivesse. Se os cultivos simples fossem afetados, sempre sobravam, para consumo, cultivos menores e plantas silvestres comestíveis. A introdução de cultivares de alta sensibilidade mudou tudo isso. Hoje, com as variedades ‘modernas’ introduzidas na África, quando a seca desfere seu golpe, não resta nada a que se possa recorrer. Pessoas morrem de fome como nunca visto antes. O aprofundamento da desapropriação do conhecimento milenar camponês pela obcecada industrialização da agricultura recriará outras Áfricas, pelo simples aniquilamento da biodiversidade. O aniquilamento da vida. A história brinda-nos com exemplos educativos. ‘Durante a guerra do Vietnã , um fungo atacou o cultivo de milho dos Estádios Unidos. A pressão de seleção para incorporar crescentes ganhos de produtividade altamente dependente de pacotes tecnológicos fez com que praticamente todos os híbridos ficassem aparentados (estreitamento da base genética). Assim, quando uma raça específica do fungo Helmintosporium maidis derrubou a resistência incorporada de uma cultivar, todas as cultivares igualmente disponíveis mostraram-se sensíveis a esta doença. A solução veio da tradicional agricultura Mexicana, que tinha entre seus cultivares milenares, mantidos pelos povos indígenas, genes de resistência natural a esta doença. A motivação apenas econômica da biotecnologia, apoiada por um sistema implacável de propriedade intelectual, faz com que as sementes vendidas como milagrosas tomem o lugar dos valiosos estoques nativos. Onde buscaremos garantir nossa segurança alimentar, quando nossos bancos de resistência natural estiverem irreversivelmente contaminados, ou centrados numa estreita base genética sob controle de um ou dois monopólios? A liberação das cultivares transgênicas de milho (polinização aberta), poderá contaminar de forma criminosa em poucos ciclos de cultivo, todos nossos materiais crioulos. Reflitamos sobre isso. (Eng°. Agrônomo Lauro E. Bernardi / Coletivo Desenvolvimento Sustentável / Semapi Sindicato)

Aproveitamos a oportunidade para divulgar a segunda edição das cartilhas sobre legislação de sementes e mudas: Semente Crioula é Legal: a nova legislação brasileira de sementes e mudas e A Produção de Sementes Registradas na Nova Legislação Brasileira de Sementes e Mudas, produzidas pelo GT Biodiversidade da Articulação Nacional de Agroecologia, ANA. O formato eletrônico das duas cartilhas e do jornal pode ser encontrado no site da AS-PTA http://www.aspta.org.br/politicas-publicas/biodiversidade/cartilhas-e-publicacoes

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Declaração Final do Encontro Mulheres em Luta por Soberania Alimentar e Energética



Uma breve síntese da participação do SEMAPI Sindicato e logo após a Declaração Final do Encontro Mulheres em Luta por Soberania Alimentar e Energética.
Foram quinhentas mulheres, negras, brancas, indígenas, quilombolas, sem terra, agricultoras, sindicalistas, mães, solteiras, casadas, jovens, estudantes, idosas, lutadoras que, de todas as regiões do Brasil, de 23 estados, de mais de 20 organizações, urbanas e rurais, reuniram-se em Belo Horizonte (MG), no período de 28/08 à 31/08, para apropriarem-se e debater sobre o grande tema da atualidade, Soberania Alimentar e Energética.

Os temas tratados foram muitos: Soberania Alimentar e Energética: Energia para que e para quem?, Integração, Soberania Alimentar, Energética e Economia Feminista, Convivência com o Semi-Árido, Agroecologia, sementes crioulas e agricultura urbana,
Resistências e ações diretas das mulheres contra as transnacionais, Ocupações dos espaços e territórios urbanos, Preço da energia, Produção energética descentralizada, Consumo e Economia Solidária, Trabalho doméstico e creches, dentre outros.

Detaca-se que o SEMAPI Sindicato esteve representado, sendo relatada a sua experiência em curso, na perspectiva da sustentabilidade, baseada na reflexão para a adoção em seu cotidiano de novas práticas de consumo. Na mesa CONSUMO e ECONOMIA SOLIDÁRIA, valendo-se da experiência recolhida também da vivência na Cooperativa GiraSol - Comércio Justo e Consumo Consciente, Iara Aragonez falou do consumo como uma potente "arma" para enfrentar as transnacionais que controlam a cadeia produtiva alimentar e que no seu processo produtivo geram danos ao meio ambiente e a sociedade. Considerou que os movimentos sociais e organizações como sindicatos, associações, conselhos, ONGs, que têm como pauta e bandeiras, o enfrentamento do capital, devem incluir em suas táticas, o boicote a produtos e a empresas que simbolizam a dominação. Destacou que tal medida coletiva é um árduo caminho, pois, a sociedade orienta a sua prática de consumo induzida pela publicidade e pelos meios de comunicação hegemônicos e, de forma alienada, respondem aos seus incessantes apelos, perdendo o olhar crítico.

Entretanto, diz, há que se incluir o CONSUMO CONSCIENTE em nossa pautas, criando densidade social e as condições objetivas para atingir, por essa via, a alma do capitalismo.

Orientar os nossos salários e os orçamentos das organizações nas quais militamos, que em sua grande parte são compostos por recursos dos trabalhadores(as), para fortalecer economicamente empreendimentos do campo popular solidário, no qual localizam-se a ECONOMIA SOLIDÁRIA e a AGRICULTURA FAMILIAR ECOLÓGICA, é o caminho. Atualmente, grande parte das organizações realizam seus eventos e tocam o seu cotidiano, consumindo bebidas e alimentos industrializados, das grandes redes, e, por conseqüência, fortalecendo economicamente o inimigo ao qual combatem em seus discursos e em suas marchas.

"Desobedecer"* a mídia, a publicidade, a força da sedução dos produtos industrializados, dentre outras imposições do capital, é uma forma ativa de resistência. E, a nós, protagonistas dos movimentos e organizações, cabe mobilizar a sociedade,também para essa forma de resistência.

Foi muito interessante o debate e constatado que esse tema do consumo está ainda em construção/formulação nos movimentos e organizações da esquerda brasileira, sendo sim necessária uma maior apropriação do tema e de sua força, bem como a incorporação do mesmo como balisador das decisões do cotidiano, incluindo-o no conjunto de táticas que já lançam mão em suas lutas para o enfrentamento do capital.

*Thureau, em 1849, desenvolveu a tese da "desobediência civil", como forma de enfrentar o poder instituído e as leis injustas. Serviu como uma tática principal aos movimentos nacionalistas em antigas colonias da África e Ásia, antes de adquirirem a liberdade. Mahatma Gandhi, usou a desobediência civil como uma ferramenta anti colonialista.

"Se um homem marcha com um passo diferente do dos seus companheiros, é porque ouve outro tambor".(Thureau)

Iara Borges Aragonez.
SEMAPI Sindicato

Abaixo, a

Declaração Final do 1° Encontro Nacional de Mulheres em Luta por Soberania Alimentar e Energética.


Por soberania Alimentar e Energética!

Nós, mulheres do campo e da cidade reunidas em Belo Horizonte, de 28 a 31 de Agosto de 2008, expressamos nossa visão sobre desafios e alternativas para a construção de Soberania Alimentar e Energética.

Somos mulheres organizadas, protagonistas de lutas de resistência em defesa de uma sociedade igualitária, onde a organização da economia tenha como centralidade a sustentabilidade da vida humana e não o mercado e o lucro.

O modelo atual de desenvolvimento se apropria do racismo e do sexismo. Fundamenta-se em uma visão de economia que considera o econômico apenas as atividades mercantis e desconsidera a reprodução e invisibiliza o trabalho das mulheres. Esse modelo se pauta por uma concepção de desenvolvimento baseada na idéia de crescimento econômico ilimitado, onde o mercado e o lucro privado são priorizados em detrimento do interesse público e dos direitos humanos fundamentais, onde a política econômica se orienta pela opção exportadora, apoiada fortemente pelo Estado, no agronegócio empresarial e no setor minero-metalúrgico-energético e em uma demanda energética insustentável.

Para manter esse modelo, grandes projetos energéticos e de infra-estrutura são construídos, distantes das lógicas produtivas e culturais que organizam os territórios, provocando a expulsão do campesinato e de populações tradicionais das suas terras, a contaminação dos trabalhadores e trabalhadoras e o aprofundamento da crise ambiental e das mudanças climáticas. Ao mesmo tempo, são desconsiderados os caminhos alternativos e modos de desenvolvimento voltados para a igualdade social e a justiça ambiental que nossos movimentos têm proposto a partir de suas práticas concretas nos territórios que se pautam pela construção de Soberania Alimentar e Energética.

Em contraposição a este modelo afirmamos nossa luta feminista e socialista por uma nova economia e sociedade baseada na justiça social e ambiental, na igualdade, na solidariedade entre os povos, assentada em valores éticos coerentes com a sustentabilidade de todas as formas de vida e a soberania de todos os povos e comunidades tradicionais sobre seus territórios.

Diante disso:

Denunciamos:

O atual modelo de produção de energia que visa manter um padrão de produção e de consumo ambientalmente insustentável e socialmente injusto, baseado no monopólio das fontes de energia pelas grandes empresas.

As falsas soluções de mercado que estão sendo propostas para reverter o quadro de mudanças climáticas como a produção de agrocombustíveis em grande escala, assim como as expansão de impactantes projetos hidroelétricos e a retomada do programa nuclear brasileiro, energia perigosa, cara e sem soluções para os seus rejeitos.

O atual modelo de produção de agrocombustíveis, baseado em monoculturas; modelo defendido pelo governo brasileiro e controlado pelo agronegócio, que vem homogeneizando os territórios, pressionando a expansão das fronteiras agrícolas, gerando impactos sociais e ambientais e que tem sido um dos grandes responsáveis pelo aumento dos preços dos alimentos.

A especulação internacional dos produtos alimentícios que também se constitui em uma das causas do aumento dos preços dos alimentos, ao lado do aumento do preço do petróleo e do desvio de alimentos para produção de etanol e biodiesel.

O trabalho escravo que sustenta esse modelo e as péssimas condições de trabalho e de exploração do assalariado e assalariada rural, além do abuso sexual e o assedio moral a que são vitimas trabalhadoras do campo e da cidade.

Que o controle da cadeia produtiva alimentar pelas grandes transnacionais ameaça a soberania alimentar e a saúde da população. Em especial os produtos transgênicos e os altos níveis de agrotóxicos utilizados nos alimentos com a cumplicidade das autoridades públicas que não zelam para que as legislações sobre rotulagem de transgênicos e agrotóxicos sejam respeitada pelas indústrias.

O desaparecimento de sementes crioulas, a perda de biodiversidade e a ameaça a segurança alimentar em virtude da liberação comercial de cultivos transgênicos e da expansão das monoculturas de exportação, apoiadas por empresas e universidades publicas, enquanto falta pesquisa para avaliar riscos no meio ambiente e`a saúde do consumo de transgênico.

A privatização dos recursos naturais e a apropriação de nossas terras, a exploração da nossa floresta, das águas e de nossos rios, mares e manguezais pelo capital com apoio dos recursos públicos.

A privatização do setor elétrico que contribuiu para que as tarifas de energia sejam diferenciadas entre os consumidores residenciais e indústria e as políticas energéticas beneficiem as grandes indústrias para obterem cada vez mais, mais lucros.

As cidades brasileiras sofrem impactos diretos desse modelo de desenvolvimento alimentar e energético, com as altas taxas no preço da energia, com o aumento dos preços dos alimentos, com a precarização do trabalho e do transporte coletivo urbano e com a especulação imobiliária.

Reafirmamos:

A necessidade de construir um novo modelo energético para o Brasil que priorize a produção e a distribuição descentralizada de energia visando atender as necessidades locais e territoriais e que contemple a participação da população no seu planejamento, decisão e execução. E que contribua para a autonomia das mulheres, possibilitando a elas protagonizarem experiências de Soberania Energética em seus territórios.

A necessidade de desenvolvermos formas de consumo e comercialização de produtos de forma solidária e sustentável com o fortalecimento dos mercados locais e feiras livres, assim como o reconhecimento do trabalho produtivo das mulheres e seu fortalecimento.

Que é tarefa do Estado a viabilização de políticas públicas que garantam a nossa Soberania Alimentar e Energética.

A importância da pesquisa, desenvolvimento e implantação de fontes energéticas alternativas e o reconhecimento e investimento do Governo nas experiências descentrizadas de produção alternativa de energia, na socialização do trabalho doméstico e no fortalecimento da agricultura camponesa.

A agroecologia como projeto político para alcançar a soberania alimentar, assim como a luta pela Reforma Urbana, a agricultura urbana e a defesa de uma nova ocupação do espaço urbano para moradia e produção como orientadoras de políticas publicas.

A luta pelo direito à terra através da Reforma Agrária, onde esteja garantido o direito da mulher a terra, o acesso aos recursos naturais e `as decisões sobre seus usos.

Os direitos territoriais de povos indígenas e populações quilombolas.

O direito ao trabalho em condições dignas e bem remunerado. O direito a previdência social, a diminuição da jornada de trabalho, a socialização do trabalho reprodutivo.

Uma integração regional que esteja pautada na solidariedade, na complementariedade entre nossas economias, na sustentabilidade das praticas socioculturais e produtivas.

Nos comprometemos:

A lutar por justiça ambiental, pela reforma agrária, e em defesa da sustentabilidade da vida como valor central para a economia.

A desenvolver formas organizativas de luta das mulheres contra esse modelo de desenvolvimento que afeta o campo e a cidade e a denunciar permanentemente as diferentes formas de opressão e mercantilização que vivem as mulheres.

A construir e a fortalecer alianças entre movimentos sociais do campo e da cidade e a defender a necessidade de articularmos nossas experiências reivindicando políticas públicas que visibilizem as nossas experiências alternativas e nossas propostas para construção de uma transição rumo a um modelo de desenvolvimento que tenha como centro a sustentabilidade e a dignidade da vida humana.

A desenvolver formas de uso sustentável dos recursos naturais e das energias renováveis sustentáveis (eólica, solar e biomassa) bem como o aproveitando a água da chuva através da utilização de cisternas, o uso de placas solares e de experiências autônomas que contribuam para a construção de um novo modelo energético;

A lutar pela reestatização do setor elétrico e a defender o uso sustentável das águas e dos recursos energéticos.

A lutar pela autonomia econômica das mulheres e pelo direito ao trabalho digno e a fortalecer a luta dos trabalhadoras e trabalhadores assalariadas.

A lutar pela recuperação, preservação e multiplicação das plantas medicinais e sementes crioulas, em defesa da biodiversidade, da água e pelo direito de decidir sobre nossa vida, nossos alimentos, nosso corpo.

A lutar pelo direitos territoriais dos quilombolas e indígenas, porque suas lutas também são nossas. Por isso apoiamos a demarcação continua da Terra Indígena Raposa Serra do Sol em Roraima e reafirmamos os direitos dos povos indígenas aos seus territórios.

A realizar as mobilizações dos dias 16 e 17 de outubro por Soberania Alimentar, a participar da campanha contra o preço de energia e a fortalecer nossa marcha no 8 de março como processos de reafirmação de nossa luta por soberania alimentar e energética, diante da necessidade de construir um novo modelo energético e alimentar para o Brasil.


Mulheres em Luta por Soberania Alimentar e Energética!