quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Primavera silenciosa

Bernardi,L.E. ¹

Adepto ao chavão, você é o que lê, fui fisgado no dia de hoje (18/11/2008) por uma chamada radiofônica sobre uma matéria que circularia no jornal O Sul, pg. 5 do Caderno Reportagem. “Veneno disfarçado de salada? Alface e tomate a dupla infalível no prato estão entre os alimentos mais expostos aos agrotóxicos, mas por meio de medidas caseiras, é possível minimizar o problema”.

Para contribuir com uma reflexão sobre a responsabilidade do conhecimento, transcrevo trechos colhidos do livro SILENT SPRING, 305p. Publicado em 1962, de autoria da bióloga Rachel Carson.


ELIXIRES DA MORTE

“Pela primeira vez na história do mundo, cada um dos seres humanos esta agora sujeito a entrar em contato com substâncias químicas perigosas, desde o momento que é concebido até o momento que sua morte ocorre. Em menos de dois decênios do seu uso, os pesticidas sintéticos foram tão intensamente distribuídos pelo mundo que eles aparecem virtualmente em toda a parte. Na água, no corpo dos peixes, dos pássaros, dos répteis, dos animais domésticos e selvagens e no próprio homem, tornando-se quase impossível localizar exemplares livre das referidas substâncias, mesmo em regiões isoladas.... Esta indústria criada para a produção de produtos sintéticos é um dos frutos da segunda guerra mundial... Seduzido pela técnica insinuante de vendas, bem como pelo persuasor oculto, o cidadão médio raramente forma consciência do caráter mortífero dos materiais de que se circunda, na verdade, esse cidadão chega mesmo a não perceber sequer que os está usando. ... Cada uma destas repetidas exposições ao veneno, por mais leve que seja, contribui para o envenenamento cumulativo... O Relatório mensal do Escritório de Estatísticas Vitais, de julho de 1959, declara que os crescimentos malignos – inclusive dos tecidos linfáticos e dos formadores do sangue - foram responsáveis por 15 por cento das mortes ocorridas em 1958. Compare-se isso com a proporção de 4 por cento, em 1900.....A situação, relativamente as crianças, é ainda mais profundamente perturbadora. Há um quarto de século o câncer nas crianças, era considerado raridade médica. Hoje, mais crianças em idade escolar, nos Estados Unidos, morrem de câncer, do que qualquer outra enfermidade. Grandes quantidades de tumores malignos são descobertas, clinicamente, em crianças com idade inferior a cinco anos, mas constitui fato ainda mais impressionante o de que uma quantidade muito expressiva de crescimentos malignos, isto é, de tumores cancerosos, se encontrarem presentes ao nascimento da criança, e mesmo antes disso... O Dr. Francis Ray, da Universidade da Flórida, advertiu que nós talvez estejamos iniciando o câncer, nas crianças de hoje, por meio da adição de substâncias químicas (aos alimentos)...Por enquanto, muito pouco se sabe a respeito da extensão a que nossos genes, sob condições de exposição aos efeitos das substâncias químicas inusitadas, estão sendo submetidos a tais influências mutagênicas...”.

Enfim, o debate deve ir além das “receitas caseiras para minimizar o problema”. A questão de fundo passa por este modelo produtivo suicida e, avança para a permissividade de nosso aparato de vigilância e controle.

¹ Engº. Agrº. Emater-RS, Esp. Planejamento e Gestão Ambiental, membro do Coletivo Desenvolvimento Sustentável do SEMAPI.

Um comentário:

Anônimo disse...

O titulo desta publicação da Rachel Carson, decorreu da constatação de que os patos do lago Clean estavam morrendo a partir da Bioconcentração de clorados na cadeia alimentar, derrubando a teoria da diluição dos agroquímicos. Partindo de uma aplicação na água em ppm, descobriu-se que na sequencia da cadeia, algas, microorganismos, crustáceoas, peixes e, por fim os patos, tinham concentrações de clorados absurdamente maiores do que a orioginal. Primavera silenciosa vale a pena ser resignificado pelo seu contexto histórico e atual.