domingo, 14 de março de 2010
Entrevista com Michael Pollan
Michael Pollan, ensaísta norte-americano,autor do livro "Em Defesa da Comida" e "O Dilema do Onívoro"
PO - Como você vê o crescimento dos orgânicos industrializados?
MP - Eu acho que existe uma tensão entre a lógica do industrializado e da lógica do orgânico. A preocupação com o preço, o mais barato possível e a eficiência pode levar as pessoas a simplificar ou complicar demais o que é orgânico. Agricultura local é muito importante e este conceito está se perdendo. Grandes indústrias orgânicas americanas estão comprando frutas silvestres ("berries") no Chile. Eu não sou contra produtos orgânicos industriais. Eu acho que eles são necessários e que nós precisamos deles. Mas as pessoas precisam saber que não é só por causa do que eles estão vendo nos rótulos que elas estão comprando o que está em seu imaginário.
PO: Conforme você escreve no seu artigo, realmente as pessoas, pelo rótulo, muitas vezes imaginam uma fazenda familiar, uma vida pastoral
MP- Exatamente, um sonho pastoral. Isto é o que as pessoas pensam que estão comprando. O que não é verdade. Me dei conta disto quando prestei mais atenção a alguns produtos. Em alguns casos, como no caso do leite - como escrevi no artigo – que é um produto super processado- fica longe do ideal orgânico.
PO : Você não acha que a palavra orgânico nos anos 70 tinha outro significado?
MP: Eu acho que atualmente o sentido de orgânico ficou muito restrito. Se você
insistir num orgânico não processado e numa produção local , a produção ficará sempre muito pequena. A verdade é que qualquer sonho fica comprometido quando entra no sistema.
PO - Mas, embora industrializadas, estas fazendas seguem a maior parte das regras do orgânico. Não é o ideal, mas é melhor do que a alternativa...
MP: Se você for preocupado com meio ambiente, com o que está acontecendo com as fazendas, com o solo e etc, então compre a maior quantidade possível de terra e a torne orgânica. Isto é o que está fazendo a Cascadian. O que eu estou dizendo é que as pessoas devem esquecer o que ficou para trás. Todas as revoluções sociais dos anos 60 se comprometeram com o sistema durante o caminho. No meu ponto de vista uma das coisas importantes dos orgânicos, é descobrir um caminho para que os pequenos produtores sobrevivam, num momento que o agribusiness está tomando conta de tudo.
PO – Você acha que o mercado orgânico vai continuar crescendo?
MP: Acho que vai crescer e muito. Ainda é um mercado pequeno, mas tem um potencial muito grande.O que é triste é ver estas grandes industrias arrasarem com os pequenos produtores.
PO – Você diz que o número de fazendeiros orgânicos está aumentando nos Estados Unidos. A que você atribui este crescimento ? Poderia ser a perspectiva de um novo mercado?
MP: Eu acho que os agricultores acreditam no que eles vêm. Quando alguma coisa da certo, eles a adotam. Eles se analisam entre si muito cuidadosamente e estão sempre perguntando "o que será que o meu vizinho está plantando?". Portanto, quanto mais orgânico estiver sendo plantado, mais pessoas estarão experimentando o orgânico também. Eu sei que orgânico dá mais trabalho do que a agricultura convencional, O orgânico toma mais tempo na administração da plantação. Intelectualmente também dá mais trabalho, ao invés de você comprar um pacote de agrotóxicos você tem que ter um sistema de proteção natural na sua plantação. Há um valor espiritual no orgânico.
PO: Qual a visão do consumidor em relação aos orgânicos?
MP - Eu fiz uma palestra na OTA (Organic Trade Association) e lhes disse que eles tinham que decidir qual a mensagem que eles queriam passar ao consumidor. Se estavam vendendo uma mensagem em favor do meio ambiente ou a preocupação de vender saúde. Eles chegaram à conclusão que a mensagem pela saúde tem mais poder sobre os consumidores. Todo produto hoje em dia tem um apelo para a boa saúde; ou é bom para o coração, ou bom para o colesterol e assim por diante. Vocês já visitaram o supermercado Whole Foods? Eles tem produtos orgânicos, em transição e convencional. É uma cadeia gigante de supermercados que está investindo muito em orgânicos. Eles tem uma excelente loja em Chelsea.
PO - Algumas pessoas ainda não compreendem que saúde e meio ambiente estão intrinsecamente ligados
MP – Exatamente. Foi feita uma pesquisa e o resultado foi que somente de 7 a 9% das pessoas que compram orgânicos estão conscientes que consumindo orgânicos estão colaborando para a preservação do meio ambiente.
PO : Você não acha que os "Chefs" dos restaurantes tem um importante papel para difundir os produtos orgânicos?
MP: Com certeza! Os chefs criam demanda por orgânicos e aumentam seu prestígio. A primeira geração dos orgânicos não tinha muita preocupação com a aparência. Hoje os chefs vão as feiras para escolherem seus próprios produtos, exemplo disto é o Peter Hoffman que é proprietário do Savoy, restaurante orgânico no Soho .Ótimo restaurante, com um menu delicioso. Peter também é presidente da Associação de Agricultura Sustentável. Você pode encontrá-lo fazendo compras na feira da Union Square, com a sua bicicleta.
PO-Fale um pouco sobre seu livro The Botany of Desire. Como surgiu a idéia?
MP- O livro começa exatamente como eu disse, eu estava no jardim, eu gosto das plantas e aos poucos me dei conta que estava trabalhando para elas ao invés delas trabalharem para mim. Eu gosto de escrever uma longa história sobre uma única planta; buscar toda sua história, metodologia, filosofia, e quanto mais me aprofundo vejo que tem dois canais de comunicação.Ninguém já chegou no ápice da evolução, todo mundo interage na evolução do outro.
PO_Que outros livros você publicou?
Meus outros livros são: "Second Nature (Segunda Natureza)" que é um livro sobre ensaios que brotou das minhas experiências com o meu jardim. Eu me dei conta enquanto estava escrevendo o livro que o jardim é um lugar muito interessante para se estudar a relação do homem com a natureza. Tradicionalmente isto acontece na América. Escritores que escrevem sobre a natureza na América, vão em busca da vida selvagem para escrever sobre a natureza; vão para os bosques, para as montanhas, para o oceano, onde eles encontram grandes idéias sobre a natureza. Tudo bem! Eu aprendi o que pude disto. Mas eu também acho que nós temos que interagir. Na natureza selvagem nós ficamos somente como espectadores e no jardim nós temos que agir. Olhando para ele vemos que temos que nos dedicar, participar dele. Nós temos que descobrir um meio responsável de participar da natureza. O jardim tem muitos ensinamentos. O meu segundo livro é sobre Arquitetura – "A Place of My Own". Já foi lançado em diversos países: Inglaterra, França, Japão e até na China.
PO - Depois de ler o seu livro, começamos a olhar para as maçãs de modo diferente.Há tantas variedades de maçãs nos Estados Unidos
MP – Realmente existe uma variedade muito grande nos EUUU. Alguns anos são melhores do que os outros. O ano passado não foi um bom ano. Este ano está sendo muito bom. Quando vocês forem ao Greenmarket encontrarão uma maças excelentes.
PO - E os vinhos orgânicos? Como é este mercado?
MP – Vocês sabem que existe muito mais vinhos orgânicos do que se pode imaginar. E alguns não levam no rótulo o selo orgânico. Vocês sabem por que? Muitos vinicultores da Califórnia tornaram-se orgânicos, mas eles descobriram que colocando a palavra "orgânico" não vendiam tanto quanto sem a especificação orgânica. Simplesmente porque as pessoas perguntam "será que este vinho orgânico pode ser bom?" "Galo é um grande vinhedo orgânico.
PO – E o Coppola também. Nós experimentamos um excelente vinho orgânico chamado "Bonterra". Nos foi indicado pela Nell Newman quando estivemos na Califórnia no ano passado
PO - O que você vê num futuro próximo?
MP- Talvez uma terceira via. Algo entre orgânico e convencional. Muitos fazendeiros com quem tenho conversado ficam receosos de se livrar totalmente dos químicos.Não que eles queiram utilizá-los rotineiramente, na verdade eles também odeiam os químicos. Mas eles tem receio de se arriscar e não ter como resolver uma situação de emergência.Eles estão desenvolvendo um sistema híbrido. Por outro lado, já há vários fazendeiros que utilizam os dois sistemas ( orgânico e convencional) na mesma fazenda.Desta forma, aos poucos, vão descobrindo as qualidades do sistema orgânico.
Você pode conferir a primeira parte dessa entrevista no site do Planeta Orgânico http://www.planetaorganico.com.br/pollan1.htm
PO - Como você vê o crescimento dos orgânicos industrializados?
MP - Eu acho que existe uma tensão entre a lógica do industrializado e da lógica do orgânico. A preocupação com o preço, o mais barato possível e a eficiência pode levar as pessoas a simplificar ou complicar demais o que é orgânico. Agricultura local é muito importante e este conceito está se perdendo. Grandes indústrias orgânicas americanas estão comprando frutas silvestres ("berries") no Chile. Eu não sou contra produtos orgânicos industriais. Eu acho que eles são necessários e que nós precisamos deles. Mas as pessoas precisam saber que não é só por causa do que eles estão vendo nos rótulos que elas estão comprando o que está em seu imaginário.
PO: Conforme você escreve no seu artigo, realmente as pessoas, pelo rótulo, muitas vezes imaginam uma fazenda familiar, uma vida pastoral
MP- Exatamente, um sonho pastoral. Isto é o que as pessoas pensam que estão comprando. O que não é verdade. Me dei conta disto quando prestei mais atenção a alguns produtos. Em alguns casos, como no caso do leite - como escrevi no artigo – que é um produto super processado- fica longe do ideal orgânico.
PO : Você não acha que a palavra orgânico nos anos 70 tinha outro significado?
MP: Eu acho que atualmente o sentido de orgânico ficou muito restrito. Se você
insistir num orgânico não processado e numa produção local , a produção ficará sempre muito pequena. A verdade é que qualquer sonho fica comprometido quando entra no sistema.
PO - Mas, embora industrializadas, estas fazendas seguem a maior parte das regras do orgânico. Não é o ideal, mas é melhor do que a alternativa...
MP: Se você for preocupado com meio ambiente, com o que está acontecendo com as fazendas, com o solo e etc, então compre a maior quantidade possível de terra e a torne orgânica. Isto é o que está fazendo a Cascadian. O que eu estou dizendo é que as pessoas devem esquecer o que ficou para trás. Todas as revoluções sociais dos anos 60 se comprometeram com o sistema durante o caminho. No meu ponto de vista uma das coisas importantes dos orgânicos, é descobrir um caminho para que os pequenos produtores sobrevivam, num momento que o agribusiness está tomando conta de tudo.
PO – Você acha que o mercado orgânico vai continuar crescendo?
MP: Acho que vai crescer e muito. Ainda é um mercado pequeno, mas tem um potencial muito grande.O que é triste é ver estas grandes industrias arrasarem com os pequenos produtores.
PO – Você diz que o número de fazendeiros orgânicos está aumentando nos Estados Unidos. A que você atribui este crescimento ? Poderia ser a perspectiva de um novo mercado?
MP: Eu acho que os agricultores acreditam no que eles vêm. Quando alguma coisa da certo, eles a adotam. Eles se analisam entre si muito cuidadosamente e estão sempre perguntando "o que será que o meu vizinho está plantando?". Portanto, quanto mais orgânico estiver sendo plantado, mais pessoas estarão experimentando o orgânico também. Eu sei que orgânico dá mais trabalho do que a agricultura convencional, O orgânico toma mais tempo na administração da plantação. Intelectualmente também dá mais trabalho, ao invés de você comprar um pacote de agrotóxicos você tem que ter um sistema de proteção natural na sua plantação. Há um valor espiritual no orgânico.
PO: Qual a visão do consumidor em relação aos orgânicos?
MP - Eu fiz uma palestra na OTA (Organic Trade Association) e lhes disse que eles tinham que decidir qual a mensagem que eles queriam passar ao consumidor. Se estavam vendendo uma mensagem em favor do meio ambiente ou a preocupação de vender saúde. Eles chegaram à conclusão que a mensagem pela saúde tem mais poder sobre os consumidores. Todo produto hoje em dia tem um apelo para a boa saúde; ou é bom para o coração, ou bom para o colesterol e assim por diante. Vocês já visitaram o supermercado Whole Foods? Eles tem produtos orgânicos, em transição e convencional. É uma cadeia gigante de supermercados que está investindo muito em orgânicos. Eles tem uma excelente loja em Chelsea.
PO - Algumas pessoas ainda não compreendem que saúde e meio ambiente estão intrinsecamente ligados
MP – Exatamente. Foi feita uma pesquisa e o resultado foi que somente de 7 a 9% das pessoas que compram orgânicos estão conscientes que consumindo orgânicos estão colaborando para a preservação do meio ambiente.
PO : Você não acha que os "Chefs" dos restaurantes tem um importante papel para difundir os produtos orgânicos?
MP: Com certeza! Os chefs criam demanda por orgânicos e aumentam seu prestígio. A primeira geração dos orgânicos não tinha muita preocupação com a aparência. Hoje os chefs vão as feiras para escolherem seus próprios produtos, exemplo disto é o Peter Hoffman que é proprietário do Savoy, restaurante orgânico no Soho .Ótimo restaurante, com um menu delicioso. Peter também é presidente da Associação de Agricultura Sustentável. Você pode encontrá-lo fazendo compras na feira da Union Square, com a sua bicicleta.
PO-Fale um pouco sobre seu livro The Botany of Desire. Como surgiu a idéia?
MP- O livro começa exatamente como eu disse, eu estava no jardim, eu gosto das plantas e aos poucos me dei conta que estava trabalhando para elas ao invés delas trabalharem para mim. Eu gosto de escrever uma longa história sobre uma única planta; buscar toda sua história, metodologia, filosofia, e quanto mais me aprofundo vejo que tem dois canais de comunicação.Ninguém já chegou no ápice da evolução, todo mundo interage na evolução do outro.
PO_Que outros livros você publicou?
Meus outros livros são: "Second Nature (Segunda Natureza)" que é um livro sobre ensaios que brotou das minhas experiências com o meu jardim. Eu me dei conta enquanto estava escrevendo o livro que o jardim é um lugar muito interessante para se estudar a relação do homem com a natureza. Tradicionalmente isto acontece na América. Escritores que escrevem sobre a natureza na América, vão em busca da vida selvagem para escrever sobre a natureza; vão para os bosques, para as montanhas, para o oceano, onde eles encontram grandes idéias sobre a natureza. Tudo bem! Eu aprendi o que pude disto. Mas eu também acho que nós temos que interagir. Na natureza selvagem nós ficamos somente como espectadores e no jardim nós temos que agir. Olhando para ele vemos que temos que nos dedicar, participar dele. Nós temos que descobrir um meio responsável de participar da natureza. O jardim tem muitos ensinamentos. O meu segundo livro é sobre Arquitetura – "A Place of My Own". Já foi lançado em diversos países: Inglaterra, França, Japão e até na China.
PO - Depois de ler o seu livro, começamos a olhar para as maçãs de modo diferente.Há tantas variedades de maçãs nos Estados Unidos
MP – Realmente existe uma variedade muito grande nos EUUU. Alguns anos são melhores do que os outros. O ano passado não foi um bom ano. Este ano está sendo muito bom. Quando vocês forem ao Greenmarket encontrarão uma maças excelentes.
PO - E os vinhos orgânicos? Como é este mercado?
MP – Vocês sabem que existe muito mais vinhos orgânicos do que se pode imaginar. E alguns não levam no rótulo o selo orgânico. Vocês sabem por que? Muitos vinicultores da Califórnia tornaram-se orgânicos, mas eles descobriram que colocando a palavra "orgânico" não vendiam tanto quanto sem a especificação orgânica. Simplesmente porque as pessoas perguntam "será que este vinho orgânico pode ser bom?" "Galo é um grande vinhedo orgânico.
PO – E o Coppola também. Nós experimentamos um excelente vinho orgânico chamado "Bonterra". Nos foi indicado pela Nell Newman quando estivemos na Califórnia no ano passado
PO - O que você vê num futuro próximo?
MP- Talvez uma terceira via. Algo entre orgânico e convencional. Muitos fazendeiros com quem tenho conversado ficam receosos de se livrar totalmente dos químicos.Não que eles queiram utilizá-los rotineiramente, na verdade eles também odeiam os químicos. Mas eles tem receio de se arriscar e não ter como resolver uma situação de emergência.Eles estão desenvolvendo um sistema híbrido. Por outro lado, já há vários fazendeiros que utilizam os dois sistemas ( orgânico e convencional) na mesma fazenda.Desta forma, aos poucos, vão descobrindo as qualidades do sistema orgânico.
Você pode conferir a primeira parte dessa entrevista no site do Planeta Orgânico http://www.planetaorganico.com.br/pollan1.htm
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