sexta-feira, 30 de abril de 2010
MST propõe aliança com a cidade por agricultura sustentável
29/04/2010
Por Vinicius Konchinski, da Agência Brasil
São Paulo - Há cerca de 30 anos, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) começou a se organizar nacionalmente com um propósito: promover a reforma agrária no Brasil. Os anos passaram, o movimento se consolidou, milhares de militantes foram assentados, e o foco de atenção do MST se ampliou.
Em entrevista exclusiva à Agência Brasil, João Pedro Stédile, um dos líderes nacionais do movimento, afirmou que é hora de os sem-terra lutarem por um agricultura mais fraterna e sustentável. Segundo ele, os militantes devem agora buscar diferentes alianças, principalmente com a população da cidade, para alcançar dois novos objetivos: a redução do uso de agrotóxicos nas lavouras e o fim do domínio de empresas multinacionais sobre a agricultura nacional.
“O MST percebeu que não basta você ser contra o latifúndio e a favor da distribuição de terra. Você tem que lutar também pela mudança do modelo agrícola.”
Stédile disse que, atualmente, três ou quatro empresas de atuação global dominam o mercado nacional de sementes, insumos e fertilizantes. “Isso subordinou a agricultura brasileira. Elas controlam o mercado mundial, controlam os preço e impõem o que querem à nossa agricultura.”
Ele disse também que poucas companhias incentivam os produtores rurais brasileiros a ser os que mais consomem agrotóxicos no mundo. São 720 milhões de litros por ano. “É impossível que isso tenha futuro. Os venenos destroem a fertilidade do solo, contaminam a água, ou então ficam nos alimentos que vão para o nosso estômago.”
Acompanhe abaixo os principais trechos da entrevista concedida por Stédile à Agência Brasil:
Agência Brasil: O MST espera conseguir o apoio de outros setores da sociedade com essa nova política de atuação contra os agrotóxicos e multinacionais?
João Pedro Stédile: Nós temos certeza de que a imensa maioria da sociedade brasileira também defende este programa. Já, agora, em movimentos pontuais, nós atuamos com o Greenpeace, com o movimento ambientalista e com os setores de defesa do consumidor. O próprio Idec [Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor] tem nos apoiado na questão dos agrotóxicos.
ABr: Essa nova política pode ajudar a mudar a imagem negativa do MST com alguns segmentos?
Stédile: A ampla maioria da sociedade brasileira nos apoia. Se o MST não tivesse apoio já teria sido destruído. Agora, queremos dar um passo a mais. Temos que nos aliar ao povo da cidade. Veja a situação dos agrotóxicos: quem come os produtos cheios de venenos? O povo pobre da cidade. Então, quando nós vamos resolver isso? Quando as massas da cidade tomarem consciência desse problema e resolverem se mobilizar.
ABr: A mudança de foco de atenção significa a redução das ocupações de terra?
Stédile: A ocupação faz parte da história da humanidade. Sempre que um território é apropriado apenas por uns poucos e nesse mesmo território convivem milhares de pessoas sem acesso à terra, é evidente que haverá ocupação. A política do MST é de organizar os pobres para que lutem por seus direitos. Em alguns lugares, serão passeatas. Em outros, ocupações.
ABr: Essa nova política é consenso no MST? Não seria uma proposta de parte do movimento que já foi assentada e, por isso, não milita mais pela terra?
Stédile: Consenso é a pior palavra. O consenso é burro. Em qualquer movimento social, há opiniões diferentes. Mas essa política que eu expressei aqui é da ampla maioria. Evidentemente, por causa da natureza da nossa luta, em cada região há um grupo que prioriza um aspecto. Se um sujeito está acampado, ele tem que lutar para conquistar terra o quanto antes. Se ele já está assentado há vinte anos e está enfrentando o problema do agrotóxico, é claro que o agrotóxico é o centro da luta dele.
ABr: O MST pretende apresentar essas propostas aos candidatos à Presidência?
Stédile: Nós estamos pensando em apresentar essas propostas para todos os candidatos, não só a presidente como a governos estaduais. Daqui até maio, eu acredito que esse processo de discussão das sugestões já vai estar concluído e, quando começar a campanha, vamos contribuir.
ABr: Já existem sugestões?
Stédile: Sim. Nós achamos que temos de transformar a Conab [Companhia Nacional de Abastecimento] numa grande empresa estatal. Ela deve garantir a compra de produtos dos camponeses e abastecer mercados populares com produtos de qualidade. Nós também temos que controlar o ingresso de multinacionais no Brasil. Estes dias eu li no jornal que uma empresa chinesa quer comprar 100 hectares de terra aqui. Isso é um absurdo. Não pode acontecer.
(Envolverde/Agência Brasil)
http://www.envolverde.com.br/index.php?edt=3#
Por Vinicius Konchinski, da Agência Brasil
São Paulo - Há cerca de 30 anos, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) começou a se organizar nacionalmente com um propósito: promover a reforma agrária no Brasil. Os anos passaram, o movimento se consolidou, milhares de militantes foram assentados, e o foco de atenção do MST se ampliou.
Em entrevista exclusiva à Agência Brasil, João Pedro Stédile, um dos líderes nacionais do movimento, afirmou que é hora de os sem-terra lutarem por um agricultura mais fraterna e sustentável. Segundo ele, os militantes devem agora buscar diferentes alianças, principalmente com a população da cidade, para alcançar dois novos objetivos: a redução do uso de agrotóxicos nas lavouras e o fim do domínio de empresas multinacionais sobre a agricultura nacional.
“O MST percebeu que não basta você ser contra o latifúndio e a favor da distribuição de terra. Você tem que lutar também pela mudança do modelo agrícola.”
Stédile disse que, atualmente, três ou quatro empresas de atuação global dominam o mercado nacional de sementes, insumos e fertilizantes. “Isso subordinou a agricultura brasileira. Elas controlam o mercado mundial, controlam os preço e impõem o que querem à nossa agricultura.”
Ele disse também que poucas companhias incentivam os produtores rurais brasileiros a ser os que mais consomem agrotóxicos no mundo. São 720 milhões de litros por ano. “É impossível que isso tenha futuro. Os venenos destroem a fertilidade do solo, contaminam a água, ou então ficam nos alimentos que vão para o nosso estômago.”
Acompanhe abaixo os principais trechos da entrevista concedida por Stédile à Agência Brasil:
Agência Brasil: O MST espera conseguir o apoio de outros setores da sociedade com essa nova política de atuação contra os agrotóxicos e multinacionais?
João Pedro Stédile: Nós temos certeza de que a imensa maioria da sociedade brasileira também defende este programa. Já, agora, em movimentos pontuais, nós atuamos com o Greenpeace, com o movimento ambientalista e com os setores de defesa do consumidor. O próprio Idec [Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor] tem nos apoiado na questão dos agrotóxicos.
ABr: Essa nova política pode ajudar a mudar a imagem negativa do MST com alguns segmentos?
Stédile: A ampla maioria da sociedade brasileira nos apoia. Se o MST não tivesse apoio já teria sido destruído. Agora, queremos dar um passo a mais. Temos que nos aliar ao povo da cidade. Veja a situação dos agrotóxicos: quem come os produtos cheios de venenos? O povo pobre da cidade. Então, quando nós vamos resolver isso? Quando as massas da cidade tomarem consciência desse problema e resolverem se mobilizar.
ABr: A mudança de foco de atenção significa a redução das ocupações de terra?
Stédile: A ocupação faz parte da história da humanidade. Sempre que um território é apropriado apenas por uns poucos e nesse mesmo território convivem milhares de pessoas sem acesso à terra, é evidente que haverá ocupação. A política do MST é de organizar os pobres para que lutem por seus direitos. Em alguns lugares, serão passeatas. Em outros, ocupações.
ABr: Essa nova política é consenso no MST? Não seria uma proposta de parte do movimento que já foi assentada e, por isso, não milita mais pela terra?
Stédile: Consenso é a pior palavra. O consenso é burro. Em qualquer movimento social, há opiniões diferentes. Mas essa política que eu expressei aqui é da ampla maioria. Evidentemente, por causa da natureza da nossa luta, em cada região há um grupo que prioriza um aspecto. Se um sujeito está acampado, ele tem que lutar para conquistar terra o quanto antes. Se ele já está assentado há vinte anos e está enfrentando o problema do agrotóxico, é claro que o agrotóxico é o centro da luta dele.
ABr: O MST pretende apresentar essas propostas aos candidatos à Presidência?
Stédile: Nós estamos pensando em apresentar essas propostas para todos os candidatos, não só a presidente como a governos estaduais. Daqui até maio, eu acredito que esse processo de discussão das sugestões já vai estar concluído e, quando começar a campanha, vamos contribuir.
ABr: Já existem sugestões?
Stédile: Sim. Nós achamos que temos de transformar a Conab [Companhia Nacional de Abastecimento] numa grande empresa estatal. Ela deve garantir a compra de produtos dos camponeses e abastecer mercados populares com produtos de qualidade. Nós também temos que controlar o ingresso de multinacionais no Brasil. Estes dias eu li no jornal que uma empresa chinesa quer comprar 100 hectares de terra aqui. Isso é um absurdo. Não pode acontecer.
(Envolverde/Agência Brasil)
http://www.envolverde.com.br/index.php?edt=3#
domingo, 25 de abril de 2010
Cochabamba: ausência de chefes de Estado não diminuiu importância da Conferência
23/04/2010
Por Celso Dobes Bacarji
Mesmo com a presença de apenas um chefe de Estado estrangeiro – Hugo Chavez – o encontro de Cochabamba foi um marco na mobilização popular e na sistematização de alternativas para a luta climática.
Tiquipya, Bolívia, 23 Abr - A Conferência de Cochabamba terminou nesta quinta-feira (22/04) com a reunião dos chefes e representantes dos governos que atenderam ao convite do presidente boliviano, Evo Morales, no melhor hotel de Cochabamba. Além do presidente da Venezuela, Hugo Chaves, e do vice-presidente de Cuba, nenhum outro chefe de estado compareceu, embora alguns, como Equador, tenham enviado representantes diplomáticos. À tarde, no estádio municipal Félix Capriles, de Cochabamba, Morales encerrou a Conferência dos Povos comemorando o Dia da Terra, com apresentações culturais e plantio de árvores.(...)
(...)O Acordo entre os Povos
As conclusões dos 17 grupos de trabalho oficiais da Conferência de Cochabamba se basearam no princípio de que o conceito de acordo climático deve ser ampliado para acordo entre os povos. Mais do que uma diferença semântica, o acordo entre os povos coloca em xeque o modelo capitalista e as suas formas de exploração dos recursos naturais e do trabalho humano e propõe um modelo de convivência harmônica entre a humanidade e o Planeta.
O documento final elaborado pela Conferência, diz que o acordo entre os povos deve rejeitar a “lógica do capitalismo de competência, progresso e crescimento ilimitado”. Para isso, “pleiteia aos povos do mundo a recuperação, revalorização e fortalecimento dos conhecimentos, saberes e práticas ancestrais dos povos indígenas, firmados na vivência e proposta do bem viver, reconhecendo a Mãe Terra como um ser vivo, com o qual temos uma relação indivisível, interdependente, complementar e espiritual.
Nesse sentido, a Declaração Universal dos Direitos da Mãe Terra, cujo projeto foi elaborado por um dos grupos de trabalho, é peça fundamental. A começar pelo conceito de Mãe Terra, que foi brilhantemente abordado pelo teólogo e filósofo brasileiro Leonardo Boff, que participou do painel principal de discussão do tema. Para ele, o conceito de Mãe Terra, tem raízes ancestrais, encontradas inclusive na cultura da Grécia antiga, onde a deusa Gaia representava o caráter vivente do planeta.
Para Boff, depois de perder esse conceito a partir do racionalismo iluminista, a humanidade volta a reencontrá-lo, não apenas nas culturas indígenas, que nunca o abandonaram, mas também a partir das descobertas da ciência cosmológica e da física da energia. A partir dessas descobertas chegou-se à conclusão de que “tudo tem a ver com tudo em todos os instantes”, diz ele.
O teólogo brasileiro acredita que chegou o tempo da bio-civilização. Ele explicou que a ciência tem descoberto que a matéria é mais do que energia. Ela tem informações que podem ser acumuladas e que em última análise as diferenças entre os seres são apenas de grau de complexidade. “A Terra possui dignidade e cabe a nós deveres e cuidados para amá-la. Se o século 20 foi o tempo dos direitos humanos, o 21 será o século dos direitos da terra”, complementou Boff.
Em linhas gerais, o projeto de Declaração dos Direitos da Mãe Terra elaborado na Conferência dos Povos prevê:
• Direito à vida e à existência;
• Direito de ser respeitada;
• Direito à continuação de seus ciclos e processos vitais, livre de alterações humanas;
• Direito a manter sua identidade e integridade como seres diferenciados, auto-regulados e interrelacionados;
• Direito à água como fonte de vida;
• Direito ao ar limpo;
• Direito à saúde integral;
• Direito a estar livre da contaminação e poluição, de dejetos tóxicos e radioativos;
• Direito a não ser alterada geneticamente e modificada em sua estrutura ameaçando sua integridade ou funcionamento vital e saudável;
• Direito a uma restauração plena e pronta pelas violações aos direitos reconhecidos nesta declaração causados pelas atividades humanas.
(...)
A íntegra dessa matéria você pode ler no site
http://www.envolverde.com.br/index.php?
Por Celso Dobes Bacarji
Mesmo com a presença de apenas um chefe de Estado estrangeiro – Hugo Chavez – o encontro de Cochabamba foi um marco na mobilização popular e na sistematização de alternativas para a luta climática.
Tiquipya, Bolívia, 23 Abr - A Conferência de Cochabamba terminou nesta quinta-feira (22/04) com a reunião dos chefes e representantes dos governos que atenderam ao convite do presidente boliviano, Evo Morales, no melhor hotel de Cochabamba. Além do presidente da Venezuela, Hugo Chaves, e do vice-presidente de Cuba, nenhum outro chefe de estado compareceu, embora alguns, como Equador, tenham enviado representantes diplomáticos. À tarde, no estádio municipal Félix Capriles, de Cochabamba, Morales encerrou a Conferência dos Povos comemorando o Dia da Terra, com apresentações culturais e plantio de árvores.(...)
(...)O Acordo entre os Povos
As conclusões dos 17 grupos de trabalho oficiais da Conferência de Cochabamba se basearam no princípio de que o conceito de acordo climático deve ser ampliado para acordo entre os povos. Mais do que uma diferença semântica, o acordo entre os povos coloca em xeque o modelo capitalista e as suas formas de exploração dos recursos naturais e do trabalho humano e propõe um modelo de convivência harmônica entre a humanidade e o Planeta.
O documento final elaborado pela Conferência, diz que o acordo entre os povos deve rejeitar a “lógica do capitalismo de competência, progresso e crescimento ilimitado”. Para isso, “pleiteia aos povos do mundo a recuperação, revalorização e fortalecimento dos conhecimentos, saberes e práticas ancestrais dos povos indígenas, firmados na vivência e proposta do bem viver, reconhecendo a Mãe Terra como um ser vivo, com o qual temos uma relação indivisível, interdependente, complementar e espiritual.
Nesse sentido, a Declaração Universal dos Direitos da Mãe Terra, cujo projeto foi elaborado por um dos grupos de trabalho, é peça fundamental. A começar pelo conceito de Mãe Terra, que foi brilhantemente abordado pelo teólogo e filósofo brasileiro Leonardo Boff, que participou do painel principal de discussão do tema. Para ele, o conceito de Mãe Terra, tem raízes ancestrais, encontradas inclusive na cultura da Grécia antiga, onde a deusa Gaia representava o caráter vivente do planeta.
Para Boff, depois de perder esse conceito a partir do racionalismo iluminista, a humanidade volta a reencontrá-lo, não apenas nas culturas indígenas, que nunca o abandonaram, mas também a partir das descobertas da ciência cosmológica e da física da energia. A partir dessas descobertas chegou-se à conclusão de que “tudo tem a ver com tudo em todos os instantes”, diz ele.
O teólogo brasileiro acredita que chegou o tempo da bio-civilização. Ele explicou que a ciência tem descoberto que a matéria é mais do que energia. Ela tem informações que podem ser acumuladas e que em última análise as diferenças entre os seres são apenas de grau de complexidade. “A Terra possui dignidade e cabe a nós deveres e cuidados para amá-la. Se o século 20 foi o tempo dos direitos humanos, o 21 será o século dos direitos da terra”, complementou Boff.
Em linhas gerais, o projeto de Declaração dos Direitos da Mãe Terra elaborado na Conferência dos Povos prevê:
• Direito à vida e à existência;
• Direito de ser respeitada;
• Direito à continuação de seus ciclos e processos vitais, livre de alterações humanas;
• Direito a manter sua identidade e integridade como seres diferenciados, auto-regulados e interrelacionados;
• Direito à água como fonte de vida;
• Direito ao ar limpo;
• Direito à saúde integral;
• Direito a estar livre da contaminação e poluição, de dejetos tóxicos e radioativos;
• Direito a não ser alterada geneticamente e modificada em sua estrutura ameaçando sua integridade ou funcionamento vital e saudável;
• Direito a uma restauração plena e pronta pelas violações aos direitos reconhecidos nesta declaração causados pelas atividades humanas.
(...)
A íntegra dessa matéria você pode ler no site
http://www.envolverde.com.br/index.php?
“Acabar com o uso de combustíveis fósseis”
Por Franz Chávez, da IPS
Cochabamba, 20/4/2010 – A voz dos excluídos da cúpula de Copenhague, que defendem um desenvolvimento sustentável, será ouvida com força na Bolívia, em lugar da dos governos que ditam estratégias segundo seus interesses para enfrentar a mudança climática, como o mercado de carbono, afirmou Nnimmo Bassey. Este ativista nigeriano chegou à cidade boliviana de Cochabamba para participar da Conferência Mundial dos Povos sobre a Mudança Climática e os Direitos da Mãe Terra, iniciada ontem com presença de, aproximadamente, 15 mil representantes de organizações da sociedade civil, todas preocupadas com o rumo oficial na luta contra a variabilidade climática.
Bassey, o costarriquenho Isaac Rojas e o uruguaio Martín Drago são os portadores da posição da Amigos da Terra Internacional, rede composta por 77 organizações não governamentais. Com os objetivos de “mobilizar, resistir e transformar”, esta coletividade ambientalista promove a justiça econômica, a soberania alimentar, o uso de energias alternativas, a conservação da biodiversidade e uma aberta batalha contra a exploração inadequada de minerais e petróleo.
Destacado entre outras coisas por sua luta tenaz contra as atividades extrativistas contaminantes das empresas de petróleo multinacionais em seu país, Bassey resumiu para a IPS o que considera virtudes de um encontro como o de Cochabamba, onde os povos podem se expressar e estabelecer um discurso real contra a mudança climática.
IPS: Qual a diferença entre as cúpulas mundiais e esta de Cochabamba?
NNIMMO BASSEY: Aqui não prevalecem os governos, que habitualmente dizem o que se deve fazer. Agora é o povo que dirá aos governantes quais tarefas devem realizar em matéria de luta contra a mudança climática. Em dezembro, em Copenhague – na 15ª Conferência das Partes da Convenção Marco das Nações Unidas sobre Mudança Climática (COP-15) –, as organizações sociais, como a Amigos da Terra, foram excluídas dos debates, mas em Cochabamba ocorre o inverso, e participamos de todas as mesas de análises.
IPS: Quais as suas expectativas com relação a este encontro de organizações sociais?
NB: Nesta conferência o mundo tem a oportunidade de ouvir as demandas do povo, conhecer os problemas e as soluções reais e autênticas. Nossa posição é contrária às compensações de emissões de carbono em troca da conservação das florestas. As selvas devem ficar fora das considerações do mercado. Rechaçamos a monocultura, a produção de alimentos geneticamente modificados, e exigimos manter os combustíveis de origem fóssil debaixo da terra. A indústria agrícola está se transformando na causa do problema climático e, em lugar disso, lutamos por uma atividade sustentável no campo, igual à demanda expressa pela organização Via Camponesa, o movimento mundial de camponeses que impulsiona a produção de alimentos sadios.
IPS: Em que consiste sua proposta de manter o petróleo debaixo da terra?
NB: Na Nigéria fizemos campanhas para manter o petróleo sob a terra e contra as multinacionais que causam a contaminação pelas emissões de carbono, promovem a destruição ambiental e a vida dos habitantes e das comunidades. Queremos mudar esta forma de geração de energia por um modelo de desenvolvimento sustentável para acabar com o uso de combustíveis fósseis e promover o investimento em energia renovável.
IPS: Qual o papel dos povos indígenas nesta batalha?
NB: O importante é expressar a reclamação pela destruição do meio ambiente onde vivem os povos, mas eles precisam ter o poder sobre as terras e adquirir capacidade para administrar seus recursos naturais. Trata-se de uma demanda por poder para a produção de alimentos em condições apropriadas com a natureza e com a preservação dos recursos naturais. Também se busca reduzir o poder das transnacionais, e o seu desmantelamento.
IPS: Essa meta parece muito ambiciosa, considerando o poder dos países industrializados e de suas empresas. Então, qual é o processo que vem a seguir?
NB: Está claro que a batalha é muito grande, mas precisamos nos unir, compartilhar informação e experiências de lutas contra o poder multinacional.
IPS: A partir dessa postura, que opinião tem sobre o modelo boliviano que promove a defesa da Mãe Terra?
NB: O governo da Bolívia é muito inspirador para os povos do mundo. É como um sonho ter um governo disposto a ouvir as demandas dos povos e cuidar da Pachamama (Mãe Terra). IPS/Envolverde
(IPS/Envolverde)
http://www.envolverde.com.br/
Cochabamba, 20/4/2010 – A voz dos excluídos da cúpula de Copenhague, que defendem um desenvolvimento sustentável, será ouvida com força na Bolívia, em lugar da dos governos que ditam estratégias segundo seus interesses para enfrentar a mudança climática, como o mercado de carbono, afirmou Nnimmo Bassey. Este ativista nigeriano chegou à cidade boliviana de Cochabamba para participar da Conferência Mundial dos Povos sobre a Mudança Climática e os Direitos da Mãe Terra, iniciada ontem com presença de, aproximadamente, 15 mil representantes de organizações da sociedade civil, todas preocupadas com o rumo oficial na luta contra a variabilidade climática.
Bassey, o costarriquenho Isaac Rojas e o uruguaio Martín Drago são os portadores da posição da Amigos da Terra Internacional, rede composta por 77 organizações não governamentais. Com os objetivos de “mobilizar, resistir e transformar”, esta coletividade ambientalista promove a justiça econômica, a soberania alimentar, o uso de energias alternativas, a conservação da biodiversidade e uma aberta batalha contra a exploração inadequada de minerais e petróleo.
Destacado entre outras coisas por sua luta tenaz contra as atividades extrativistas contaminantes das empresas de petróleo multinacionais em seu país, Bassey resumiu para a IPS o que considera virtudes de um encontro como o de Cochabamba, onde os povos podem se expressar e estabelecer um discurso real contra a mudança climática.
IPS: Qual a diferença entre as cúpulas mundiais e esta de Cochabamba?
NNIMMO BASSEY: Aqui não prevalecem os governos, que habitualmente dizem o que se deve fazer. Agora é o povo que dirá aos governantes quais tarefas devem realizar em matéria de luta contra a mudança climática. Em dezembro, em Copenhague – na 15ª Conferência das Partes da Convenção Marco das Nações Unidas sobre Mudança Climática (COP-15) –, as organizações sociais, como a Amigos da Terra, foram excluídas dos debates, mas em Cochabamba ocorre o inverso, e participamos de todas as mesas de análises.
IPS: Quais as suas expectativas com relação a este encontro de organizações sociais?
NB: Nesta conferência o mundo tem a oportunidade de ouvir as demandas do povo, conhecer os problemas e as soluções reais e autênticas. Nossa posição é contrária às compensações de emissões de carbono em troca da conservação das florestas. As selvas devem ficar fora das considerações do mercado. Rechaçamos a monocultura, a produção de alimentos geneticamente modificados, e exigimos manter os combustíveis de origem fóssil debaixo da terra. A indústria agrícola está se transformando na causa do problema climático e, em lugar disso, lutamos por uma atividade sustentável no campo, igual à demanda expressa pela organização Via Camponesa, o movimento mundial de camponeses que impulsiona a produção de alimentos sadios.
IPS: Em que consiste sua proposta de manter o petróleo debaixo da terra?
NB: Na Nigéria fizemos campanhas para manter o petróleo sob a terra e contra as multinacionais que causam a contaminação pelas emissões de carbono, promovem a destruição ambiental e a vida dos habitantes e das comunidades. Queremos mudar esta forma de geração de energia por um modelo de desenvolvimento sustentável para acabar com o uso de combustíveis fósseis e promover o investimento em energia renovável.
IPS: Qual o papel dos povos indígenas nesta batalha?
NB: O importante é expressar a reclamação pela destruição do meio ambiente onde vivem os povos, mas eles precisam ter o poder sobre as terras e adquirir capacidade para administrar seus recursos naturais. Trata-se de uma demanda por poder para a produção de alimentos em condições apropriadas com a natureza e com a preservação dos recursos naturais. Também se busca reduzir o poder das transnacionais, e o seu desmantelamento.
IPS: Essa meta parece muito ambiciosa, considerando o poder dos países industrializados e de suas empresas. Então, qual é o processo que vem a seguir?
NB: Está claro que a batalha é muito grande, mas precisamos nos unir, compartilhar informação e experiências de lutas contra o poder multinacional.
IPS: A partir dessa postura, que opinião tem sobre o modelo boliviano que promove a defesa da Mãe Terra?
NB: O governo da Bolívia é muito inspirador para os povos do mundo. É como um sonho ter um governo disposto a ouvir as demandas dos povos e cuidar da Pachamama (Mãe Terra). IPS/Envolverde
(IPS/Envolverde)
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quarta-feira, 21 de abril de 2010
A vida secreta dos ingredientes - Pegue uma embalagem de biscoito e dê uma lida no rótulo
A vida secreta dos ingredientes - Pegue uma embalagem de biscoito em sua cozinha e dê uma lida no rótulo. Você conhece a origem e a função de todos os ingredientes? O jornalista americano Steve Ettlinger também não sabia, mas viajou o mundo para descobrir e relatou tudo no livro Twinkie, Deconstructed (Twinkie, Desconstruído, sem edição brasileira). A ideia surgiu durante um piquenique com a família. Seu filho perguntou o que é o polissorbato 60: “Dá em árvores?” Ettlinger não soube o que responder e decidiu descobrir e compartilhar esse conhecimento com outros consumidores. Foi pesquisar a origem de todos os ingredientes do famoso bolinho recheado Twinkie, vendido há mais de 70 anos nos Estados Unidos. Em alguns casos, a origem está em refinarias de química cuja localização é protegida por leis antiterrorismo. Noutros, nas fazendas de milho e soja do Meio Oeste americano. (Ah, sim: o polissorbato 60 de certa forma dá em árvores. Trata-se de um polímero derivado de milho e óleo vegetal. É um emulsificante: faz com que a água e a gordura se combinem. No caso do Twinkie, sua função é substituir a capacidade estabilizante dos ovos e do leite, que ajudam no crescimento das massas.)
Você continua a comer Twinkies depois de conhecer seus ingredientes?
Não. Estou muito mais interessado em alimentos locais e integrais. É claro que eu já conhecia essas opções. Vivi na França por um tempo e trabalhei como cozinheiro, então eu gosto de comida de verdade. Mas agora definitivamente é algo de que preciso em minha vida. Após escrever o livro, fiquei ainda mais fã dos agricultores locais.
A comida processada é mesmo tão ruim para nós?
Essa pergunta exige uma resposta muito longa. O termo “comida processada” é amplo e pode designar muitos tipos de comida. Qualquer coisa salgada, como o bacalhau, é processada. Qualquer coisa cozida é processada, na verdade. Além disso, nós precisamos de alimentos industrializados para viajar. É por isso que a comida processada tem nos acompanhado por eras. É por isso que as pessoas inventaram o salgamento e a defumação. Isso nos deu maior liberdade de movimentação e é o que nos permitiu chegar ao século 21. No entanto, creio que há um problema quando as pessoas consomem muita comida de conveniência, especialmente salgadinhos e doces, porque elas não fornecem boas calorias, estão repletas de gordura, sódio e açúcar. O consumo desse tipo de “bobagem” deve ser diminuído. Outro ponto problemático é o grande aparato industrial necessário para produzir os ingredientes desse tipo de comida. No livro, eu exploro a origem de todas essas coisas e descubro que a maior parte da comida industrializada é feita com ingredientes que vêm de grandes petroquímicas e fábricas de químicos básicos. Veja só: 14 dos 20 produtos químicos mais usados nos Estados Unidos fazem parte direta ou indiretamente da receita do Twinkie.
Por que isso é ruim?
Primeiro, esses alimentos dependem de produtos químicos vindos do petróleo. A alta do preço do petróleo é um problema, mas não só: um dia, ele vai acabar. Segundo, esses produtos químicos são usados para produzir soja e milho, os principais ingredientes dos alimentos industrializados. De fato, oito dos ingredientes do Twinkie vêm do milho. Terceiro, é um problema depender da soja, que é importada, grande parte dela do Brasil, inclusive. Se esses produtos dependem de insumos que se tornarão mais caros ou mais raros no futuro, isso é um problema. Além disso, esse tipo de produção extensiva tende a degradar o solo. Provavelmente seria melhor para todos se usássemos menos químicos para produzir comida. Nós pagamos subsídios com nossos impostos, especialmente à indústria petroquímica, para fazer herbicidas, pesticidas e fertilizantes, que permitem produzir essa comida e vendê-la com o apoio do governo a preços artificialmente baixos.
No livro, você afirma que diretores e funcionários do setor não quiseram dar declaracões. Por que a indústria alimentícia é avessa à transparência?
Acho que eles tiveram muitos problemas no passado com pessoas apontando quanta ajuda o governo oferece a essa indústria e o quanto a comida produzida é ruim para a saúde, em contrapartida. Eles também sabem que, mesmo incentivando o consumo de novos produtos, como barras de cereais, aparentemente bons para a saúde, na verdade você pode comer castanhas e frutas e ficar bem satisfeito. Comida fresca não dá dinheiro para a indústria alimentícia. Então, a única maneira pela qual eles podem fazer dinheiro é adicionando algo pelo qual se tenha de pagar, como uma embalagem atraente. Veja os flocos de milho. As empresas ganham muito mais vendendo cereais matinais do que vendendo milho. Então, quanto mais nós discutimos e aprendemos sobre isso, pior é para a indústria. Não vale a pena para eles informar o consumidor.
Os governos estão fazendo esforços no sentido de informar o cidadão sobre a alimentação?
Esse será um ponto interessante a observar com o nosso novo presidente. Ele está recebendo muita informação de pessoas que, como eu, estão envolvidas em educar o consumidor sobre comida e alimentação saudável. Em particular, pessoas que promovem o consumo de alimentos integrais e produzidos localmente, frutas e vegetais e assim por diante. Há gente pedindo a ele que plante um jardim orgânico no quintal da Casa Branca. Algo assim não aconteceria no governo Bush nem aconteceu em outros governos. Nixon e Reagan fizeram tudo o que puderam para dar apoio através de leis e dinheiro a grandes companhias de processamento de milho e soja. Essas companhias, por sua vez, encorajaram os agricultores a plantar apenas um ou dois tipos de grão em fazendas enormes. No passado, as fazendas produziam diversos tipos de vegetais e frutas. Alguns agricultores estão voltando a fazê-lo. É nesse sentido que Barack Obama ajudará a mudar o envolvimento do governo americano na agricultura. Por sinal, temos um ministro da agricultura, mas há um movimento para mudar o título da pasta para Ministro da Alimentação e Agricultura. Acho que essa é uma grande ideia.
Qual foi a reação de seus filhos quando você explicou a eles de onde vem o polissorbato 60?
Na verdade, eles nunca gostaram de Twinkie. Em todo caso, eles não ficaram nada animados com os processos industriais envolvidos. (risos) Acho que, sem ter de treinar muito, eles sempre vão preferir comer uma maçã ou um iogurte no lugar de uma bobagem dessas.
LIVRO Twinkie, Deconstructed, Steve Ettlinger, Penguin/USA
* Texto retirado do blog http://transnet.ning.com/profiles/blogs/a-vida-secreta-dos
Você continua a comer Twinkies depois de conhecer seus ingredientes?
Não. Estou muito mais interessado em alimentos locais e integrais. É claro que eu já conhecia essas opções. Vivi na França por um tempo e trabalhei como cozinheiro, então eu gosto de comida de verdade. Mas agora definitivamente é algo de que preciso em minha vida. Após escrever o livro, fiquei ainda mais fã dos agricultores locais.
A comida processada é mesmo tão ruim para nós?
Essa pergunta exige uma resposta muito longa. O termo “comida processada” é amplo e pode designar muitos tipos de comida. Qualquer coisa salgada, como o bacalhau, é processada. Qualquer coisa cozida é processada, na verdade. Além disso, nós precisamos de alimentos industrializados para viajar. É por isso que a comida processada tem nos acompanhado por eras. É por isso que as pessoas inventaram o salgamento e a defumação. Isso nos deu maior liberdade de movimentação e é o que nos permitiu chegar ao século 21. No entanto, creio que há um problema quando as pessoas consomem muita comida de conveniência, especialmente salgadinhos e doces, porque elas não fornecem boas calorias, estão repletas de gordura, sódio e açúcar. O consumo desse tipo de “bobagem” deve ser diminuído. Outro ponto problemático é o grande aparato industrial necessário para produzir os ingredientes desse tipo de comida. No livro, eu exploro a origem de todas essas coisas e descubro que a maior parte da comida industrializada é feita com ingredientes que vêm de grandes petroquímicas e fábricas de químicos básicos. Veja só: 14 dos 20 produtos químicos mais usados nos Estados Unidos fazem parte direta ou indiretamente da receita do Twinkie.
Por que isso é ruim?
Primeiro, esses alimentos dependem de produtos químicos vindos do petróleo. A alta do preço do petróleo é um problema, mas não só: um dia, ele vai acabar. Segundo, esses produtos químicos são usados para produzir soja e milho, os principais ingredientes dos alimentos industrializados. De fato, oito dos ingredientes do Twinkie vêm do milho. Terceiro, é um problema depender da soja, que é importada, grande parte dela do Brasil, inclusive. Se esses produtos dependem de insumos que se tornarão mais caros ou mais raros no futuro, isso é um problema. Além disso, esse tipo de produção extensiva tende a degradar o solo. Provavelmente seria melhor para todos se usássemos menos químicos para produzir comida. Nós pagamos subsídios com nossos impostos, especialmente à indústria petroquímica, para fazer herbicidas, pesticidas e fertilizantes, que permitem produzir essa comida e vendê-la com o apoio do governo a preços artificialmente baixos.
No livro, você afirma que diretores e funcionários do setor não quiseram dar declaracões. Por que a indústria alimentícia é avessa à transparência?
Acho que eles tiveram muitos problemas no passado com pessoas apontando quanta ajuda o governo oferece a essa indústria e o quanto a comida produzida é ruim para a saúde, em contrapartida. Eles também sabem que, mesmo incentivando o consumo de novos produtos, como barras de cereais, aparentemente bons para a saúde, na verdade você pode comer castanhas e frutas e ficar bem satisfeito. Comida fresca não dá dinheiro para a indústria alimentícia. Então, a única maneira pela qual eles podem fazer dinheiro é adicionando algo pelo qual se tenha de pagar, como uma embalagem atraente. Veja os flocos de milho. As empresas ganham muito mais vendendo cereais matinais do que vendendo milho. Então, quanto mais nós discutimos e aprendemos sobre isso, pior é para a indústria. Não vale a pena para eles informar o consumidor.
Os governos estão fazendo esforços no sentido de informar o cidadão sobre a alimentação?
Esse será um ponto interessante a observar com o nosso novo presidente. Ele está recebendo muita informação de pessoas que, como eu, estão envolvidas em educar o consumidor sobre comida e alimentação saudável. Em particular, pessoas que promovem o consumo de alimentos integrais e produzidos localmente, frutas e vegetais e assim por diante. Há gente pedindo a ele que plante um jardim orgânico no quintal da Casa Branca. Algo assim não aconteceria no governo Bush nem aconteceu em outros governos. Nixon e Reagan fizeram tudo o que puderam para dar apoio através de leis e dinheiro a grandes companhias de processamento de milho e soja. Essas companhias, por sua vez, encorajaram os agricultores a plantar apenas um ou dois tipos de grão em fazendas enormes. No passado, as fazendas produziam diversos tipos de vegetais e frutas. Alguns agricultores estão voltando a fazê-lo. É nesse sentido que Barack Obama ajudará a mudar o envolvimento do governo americano na agricultura. Por sinal, temos um ministro da agricultura, mas há um movimento para mudar o título da pasta para Ministro da Alimentação e Agricultura. Acho que essa é uma grande ideia.
Qual foi a reação de seus filhos quando você explicou a eles de onde vem o polissorbato 60?
Na verdade, eles nunca gostaram de Twinkie. Em todo caso, eles não ficaram nada animados com os processos industriais envolvidos. (risos) Acho que, sem ter de treinar muito, eles sempre vão preferir comer uma maçã ou um iogurte no lugar de uma bobagem dessas.
LIVRO Twinkie, Deconstructed, Steve Ettlinger, Penguin/USA
* Texto retirado do blog http://transnet.ning.com/profiles/blogs/a-vida-secreta-dos
Campanha Carta da Terra 2010 - Começa com você!
Começa com você em se transformar para transformar o mundo.
Dia 22 de abril a Carta da Terra lançará mundialmente a sua campanha nos meios de comunicação de massa em prol a conscientização da necessidade de um mundo melhor, mais cidadão e responsável.
Convidamos você a divulgar essa idéia na página ou blog da sua instituição ou empresa. Pois apenas trabalhando em conjunto conseguiremos mobilizar a sociedade a ver que somos uma única família na Terra e que a mudança do futuro está nas mãos de cada um.
O que é a Carta da Terra?
A “Iniciativa da Carta da Terra” é o nome dado a uma rede global de extraordinária diversidade de pessoas, organizações e instituições que participam da promoção e implantação dos valores e princípios da Carta da Terra.
A Carta da Terra é uma declaração de 16 princípios éticos fundamentais para a construção de uma sociedade global justa, sustentável e pacífica. Ela é estruturada em quatro grandes tópicos: Respeito e cuidado pela comunidade da vida, integridade ecológica, justiça social e econômica, democracia, não-violência e paz. É uma visão de esperança e um chamado à ação.
Como posso difundir essa idéia?
Além de falar da iniciativa da Carta da Terra aos seus amigos e familiares, você pode publicar no seu blog, site ou perfil nas redes sociais o comercial da campanha ou banner e logotipo da Carta da Terra.
Você pode também unir-se a Carta da Terra no Orkut, Facebook, Linkedin, Youtube e Twitter comentando, divulgando e convidando seus amigos a participar dessa iniciativa. No Twitter, lhe convidamos a usar o hashtag #cartadaterrabr para tentarmos assim alcançar o maior número de pessoas.
Assista o comercial - http://www.youtube.com/user/ECInternational#p/u/6/Na58ssHw6jA
Sobre a campanha “Começa com você”
A campanha remete ao pensamento de Gandhi que lembra que a mudança que queremos ver no mundo começa por cada indivíduo. O objetivo é fomentar entre o grande público o conceito de “Cidadania Terra” onde os interesses pelo bem comum do planeta estão acima dos individuais.
O filme será veiculado a partir do dia 22 de Abril no Brasil e na América Latina e possivelmente na Europa, em espaços doados pelas principais emissoras de televisão por assinatura e redes aberta. A campanha conta também com anúncios impressos doados por diversas revistas e jornais, um spot de rádio e banners para veiculação na internet.
Participe!
Afinal, sonhamos com um planeta mais justo, sustentável e pacífico.
Carta da Terra
Começa com você!
(Envolverde/Assessoria de Imprensa)
Dia 22 de abril a Carta da Terra lançará mundialmente a sua campanha nos meios de comunicação de massa em prol a conscientização da necessidade de um mundo melhor, mais cidadão e responsável.
Convidamos você a divulgar essa idéia na página ou blog da sua instituição ou empresa. Pois apenas trabalhando em conjunto conseguiremos mobilizar a sociedade a ver que somos uma única família na Terra e que a mudança do futuro está nas mãos de cada um.
O que é a Carta da Terra?
A “Iniciativa da Carta da Terra” é o nome dado a uma rede global de extraordinária diversidade de pessoas, organizações e instituições que participam da promoção e implantação dos valores e princípios da Carta da Terra.
A Carta da Terra é uma declaração de 16 princípios éticos fundamentais para a construção de uma sociedade global justa, sustentável e pacífica. Ela é estruturada em quatro grandes tópicos: Respeito e cuidado pela comunidade da vida, integridade ecológica, justiça social e econômica, democracia, não-violência e paz. É uma visão de esperança e um chamado à ação.
Como posso difundir essa idéia?
Além de falar da iniciativa da Carta da Terra aos seus amigos e familiares, você pode publicar no seu blog, site ou perfil nas redes sociais o comercial da campanha ou banner e logotipo da Carta da Terra.
Você pode também unir-se a Carta da Terra no Orkut, Facebook, Linkedin, Youtube e Twitter comentando, divulgando e convidando seus amigos a participar dessa iniciativa. No Twitter, lhe convidamos a usar o hashtag #cartadaterrabr para tentarmos assim alcançar o maior número de pessoas.
Assista o comercial - http://www.youtube.com/user/ECInternational#p/u/6/Na58ssHw6jA
Sobre a campanha “Começa com você”
A campanha remete ao pensamento de Gandhi que lembra que a mudança que queremos ver no mundo começa por cada indivíduo. O objetivo é fomentar entre o grande público o conceito de “Cidadania Terra” onde os interesses pelo bem comum do planeta estão acima dos individuais.
O filme será veiculado a partir do dia 22 de Abril no Brasil e na América Latina e possivelmente na Europa, em espaços doados pelas principais emissoras de televisão por assinatura e redes aberta. A campanha conta também com anúncios impressos doados por diversas revistas e jornais, um spot de rádio e banners para veiculação na internet.
Participe!
Afinal, sonhamos com um planeta mais justo, sustentável e pacífico.
Carta da Terra
Começa com você!
(Envolverde/Assessoria de Imprensa)
quinta-feira, 15 de abril de 2010
Brasil despreza sua biodiversidade alimentar
Valdely Kinupp
do coletivo de comunicação Catarse
Entrevista com Valdely Kinupp
O que de especial te motivou a trabalhar com as plantas alimentícias não-convencionais?
Foi a questão econômica e de sustentabilidade, mas também o prazer de fazer um trabalho novo, praticamente inédito, da forma como foi feito. Pensando numa alternativa, desde a sobrevivência na selva, na lida do campo, mas também numa perspectiva de geração de renda, empregos, conservação da natureza, porque hoje a gente vive uma monotonia alimentar.
As PANCs [Nota do Viomundo: Plantas Alimentícias Não-Convencionais], e nossa biodiversidade como um todo, seja ornamental, medicinal, madeireira são, muitas vezes, negligenciadas. Especialmente as alimentícias aqui no Brasil – se a gente olhar a nossa mesa, no que existe de cardápio nos restaurantes, dos self-service ou nas gôndolas dos supermercados e nas feiras, praticamente tudo é exótico, pouco é local, com baixa importância regional, nacional e, muito menos, internacional.
O Rio Grande do Sul, mesmo sendo considerado um dos celeiros do Brasil, não está adaptado a futuras mudanças climáticas – e vários estudos internacionais vêm mostrando que as plantas regionais, as ditas plantas “daninhas”, as plantas espontâneas, são muito mais adaptadas [até por rotas metabólicas e fisiológicas diferentes] ao aumento do gás carbônico e da temperatura no ar, em comparação com as commodities agrícolas.
Não estamos preparados para catástrofes e desastres ambientais, porque as pessoas não sabem mais o que comer do seu quintal. E isso é um ciclo vicioso. As crianças deveriam aprender desde cedo nas escolas que existem milhares de plantas que podemos comer. Isso deve ser rotineiro, para que as pessoas deixem de encarar como comportamento de pobre que está passando por carência ou comida para porco.
Muitas vezes, nas saídas de coletas que realizamos periodicamente, sempre aparecem curiosos. Eu já aproveito para fazer uma educação informal, mostrando o que é comestível, e mesmo assim, alguns ainda pensam que sou uma pessoa que está passando necessidade, porque estou catando um frutinho qualquer ali no mato.
Precisamos quebrar essa tabu. Sabendo que determinada planta é comestível, você não mais a verá como mato. É preciso aprender isso: tudo foi mato um dia, até as pessoas descobrirem que aquilo se poderia comer, com as plantas mudando de categoria e inaugurando um novo paradigma alimentar. Só existe preocupação da sociedade quando ocorrem secas drásticas e as pessoas ficam sem uma planta folhosa local para comerem e precisam trazer de outras regiões.
Se, por exemplo, estivéssemos plantando bertalha (e.g., Anredera cordifolia, A. krapovickasii – Basellaceae), como hortaliça aqui no RS e não o alface, os agricultores não estariam passando tantos problemas, porque são plantas que toleram o período de estiagem e co-evoluíram neste ambiente. A bertalha foi um dos carros-chefe na minha pesquisa, ou espinafre-gaúcho, como preferi registrar popularmente, que você pode comer as folhas, muito rica em zinco, ótimo para memória, uma planta perene, mas que possui outra boa vantagem: além folhas como verdura, há as batatinhas áreas e também os tubérculos subterrâneos na pequena batata que ela produz que são legumes, com usos similares a batata-inglesa.
Destes órgãos amiláceos foi descoberta uma substância nova, em 2007, de proteção para cavidade gástrica, que inibe a ação de tripisina [“Ancordin”]. Alguns estrangeiros queriam comprar cerca de duas toneladas de batata. Cadê o produtor? Não há cultivos racionais desta espécie no Brasil. E continuamos falando da nossa biodiversidade, mas comendo a biodiversidade dos outros continentes/países. Criamos vaca e galinha que não são nossas. Plantamos trigo, arroz, café, laranja, eucalipto e soja, e nada é do Brasil.
Cadê a criação de anta, veado, mutum? Cadê o plantio de bertalha, ália, crem, jacaratiá… A domesticação do pêssego-do-mato? E tantas outras hortaliças e frutíferas silvestres com grande potencial agrícola e nutricional. Não existe. As pessoas valorizam tanto suas tradições em cada um dos nossos estados, falam bastante da biodiversidade, mas não a conhecem, e isso é riqueza abstrata. Se fala que a Amazônia vale trilhões. Vale nada. As pessoas estão passando fome lá.
Muita gente vivendo precariamente, como aqui, na famosa Porto Alegre, com sua periferia cheia de pessoas comendo mal, sentindo frio ao dormir. Não adianta termos uma biodiversidade imensa na Região Metropolitana se não a comemos ou a utilizamos de forma sustentável para outros fins. Muito menos geramos divisas e empregos, porque ninguém planta. Nós somos xenófilos, gostamos do que é de fora, aceitamos de pronto. Meu intuito é fazer a extensão, a popularização, dessas plantas nativas e subsidiar outras áreas do conhecimento, não ficar uma ação isolada. Que a Agronomia possa estudar isso no aspecto fitotécnico e horticultural; a Nutrição pesquisar a parte bromatológica; a Química, a Bioquímica, a Farmácia com a parte toxicológica e fitoquímica.
Ninguém pesquisa aquilo que não se conhece. Trazer à tona, resgatar e propor novas plantas para serem incorporadas na dieta humana conduz aos estudos transversais. E aí a importância, num trabalho básico desse como o nosso, de detalhar as plantas nativas. Mas friso que não se pode entender isso como uma verdade absoluta. É uma proposta em construção, que começa desde as experiências individuais dos pesquisadores envolvidos, nos relatos de pessoas que fazem uso tradicional, por dados de etnobotânica antigos. E será apenas um segmento da pesquisa, que servirá como subsídio para outras áreas de conhecimento.
E aí, o mais importante disso o que é? Ponderar o uso e ter diversificação. Por isso a ciência é dinâmica. Todas as plantas têm seus prós e contras, seus modos de preparo adequados, períodos de consumo, com maior ou menor sensibilidade das pessoas. Mas nós não podemos blindar as plantas não-convencionais por acharem que são mais tóxicas que as comuns que você tem no dia-a-dia.
Há carência de pesquisa, pois o comum é pesquisar só aquilo que está badalado: o morango ou tomate. E não se pesquisa nosso juá nativo, que tem tanto ou mais licopeno que o tomate, porque nem se conhece. Por isso a necessidade da transdisciplinaridade e de fazer essa passagem para o uso real e efetivo da nossa flora diversa. Nós não sabemos nem quantas espécies temos no Brasil ainda – 50 mil? – ficando restrito à Botânica. Não há consenso, nem uma listagem garantida.
Há hipóteses, mas nem isso a gente sabe. Não só a biodiversidade vegetal, mas animal também, que é mais paradigmática e cheia de tabus, com legislação cada vez mais engessada, necessitando ser revista com urgência, para que a nossa fauna alimentícia possa e deva ser criada de forma ecologicamente correta.
Estamos em uma área muito boa de se trabalhar.
Eu pude fazer uma pesquisa aplicada e transferir isso para as pessoas. Esse é um tipo de trabalho que desperta bastante interesse, de compartilhar aquilo que você pode fazer no ponto de ônibus e dentro dele, na divulgação corpo-a-corpo, porque as pessoas entendem, sendo gratificante para o pesquisador poder conseguir explicar o que faz. Falo que trabalho com as plantas que existem por aqui no chão, em todo o lugar, que não são aproveitadas, mas que dá para comer, seja verdura ou frutíferas, condimentos e por aí vai. No entanto, uma área, infelizmente, carente de pesquisa e de editais de financiamento no Brasil. Nós temos uma biodiversidade muito grande, mas não a comemos.
do coletivo de comunicação Catarse
Entrevista com Valdely Kinupp
O que de especial te motivou a trabalhar com as plantas alimentícias não-convencionais?
Foi a questão econômica e de sustentabilidade, mas também o prazer de fazer um trabalho novo, praticamente inédito, da forma como foi feito. Pensando numa alternativa, desde a sobrevivência na selva, na lida do campo, mas também numa perspectiva de geração de renda, empregos, conservação da natureza, porque hoje a gente vive uma monotonia alimentar.
As PANCs [Nota do Viomundo: Plantas Alimentícias Não-Convencionais], e nossa biodiversidade como um todo, seja ornamental, medicinal, madeireira são, muitas vezes, negligenciadas. Especialmente as alimentícias aqui no Brasil – se a gente olhar a nossa mesa, no que existe de cardápio nos restaurantes, dos self-service ou nas gôndolas dos supermercados e nas feiras, praticamente tudo é exótico, pouco é local, com baixa importância regional, nacional e, muito menos, internacional.
O Rio Grande do Sul, mesmo sendo considerado um dos celeiros do Brasil, não está adaptado a futuras mudanças climáticas – e vários estudos internacionais vêm mostrando que as plantas regionais, as ditas plantas “daninhas”, as plantas espontâneas, são muito mais adaptadas [até por rotas metabólicas e fisiológicas diferentes] ao aumento do gás carbônico e da temperatura no ar, em comparação com as commodities agrícolas.
Não estamos preparados para catástrofes e desastres ambientais, porque as pessoas não sabem mais o que comer do seu quintal. E isso é um ciclo vicioso. As crianças deveriam aprender desde cedo nas escolas que existem milhares de plantas que podemos comer. Isso deve ser rotineiro, para que as pessoas deixem de encarar como comportamento de pobre que está passando por carência ou comida para porco.
Muitas vezes, nas saídas de coletas que realizamos periodicamente, sempre aparecem curiosos. Eu já aproveito para fazer uma educação informal, mostrando o que é comestível, e mesmo assim, alguns ainda pensam que sou uma pessoa que está passando necessidade, porque estou catando um frutinho qualquer ali no mato.
Precisamos quebrar essa tabu. Sabendo que determinada planta é comestível, você não mais a verá como mato. É preciso aprender isso: tudo foi mato um dia, até as pessoas descobrirem que aquilo se poderia comer, com as plantas mudando de categoria e inaugurando um novo paradigma alimentar. Só existe preocupação da sociedade quando ocorrem secas drásticas e as pessoas ficam sem uma planta folhosa local para comerem e precisam trazer de outras regiões.
Se, por exemplo, estivéssemos plantando bertalha (e.g., Anredera cordifolia, A. krapovickasii – Basellaceae), como hortaliça aqui no RS e não o alface, os agricultores não estariam passando tantos problemas, porque são plantas que toleram o período de estiagem e co-evoluíram neste ambiente. A bertalha foi um dos carros-chefe na minha pesquisa, ou espinafre-gaúcho, como preferi registrar popularmente, que você pode comer as folhas, muito rica em zinco, ótimo para memória, uma planta perene, mas que possui outra boa vantagem: além folhas como verdura, há as batatinhas áreas e também os tubérculos subterrâneos na pequena batata que ela produz que são legumes, com usos similares a batata-inglesa.
Destes órgãos amiláceos foi descoberta uma substância nova, em 2007, de proteção para cavidade gástrica, que inibe a ação de tripisina [“Ancordin”]. Alguns estrangeiros queriam comprar cerca de duas toneladas de batata. Cadê o produtor? Não há cultivos racionais desta espécie no Brasil. E continuamos falando da nossa biodiversidade, mas comendo a biodiversidade dos outros continentes/países. Criamos vaca e galinha que não são nossas. Plantamos trigo, arroz, café, laranja, eucalipto e soja, e nada é do Brasil.
Cadê a criação de anta, veado, mutum? Cadê o plantio de bertalha, ália, crem, jacaratiá… A domesticação do pêssego-do-mato? E tantas outras hortaliças e frutíferas silvestres com grande potencial agrícola e nutricional. Não existe. As pessoas valorizam tanto suas tradições em cada um dos nossos estados, falam bastante da biodiversidade, mas não a conhecem, e isso é riqueza abstrata. Se fala que a Amazônia vale trilhões. Vale nada. As pessoas estão passando fome lá.
Muita gente vivendo precariamente, como aqui, na famosa Porto Alegre, com sua periferia cheia de pessoas comendo mal, sentindo frio ao dormir. Não adianta termos uma biodiversidade imensa na Região Metropolitana se não a comemos ou a utilizamos de forma sustentável para outros fins. Muito menos geramos divisas e empregos, porque ninguém planta. Nós somos xenófilos, gostamos do que é de fora, aceitamos de pronto. Meu intuito é fazer a extensão, a popularização, dessas plantas nativas e subsidiar outras áreas do conhecimento, não ficar uma ação isolada. Que a Agronomia possa estudar isso no aspecto fitotécnico e horticultural; a Nutrição pesquisar a parte bromatológica; a Química, a Bioquímica, a Farmácia com a parte toxicológica e fitoquímica.
Ninguém pesquisa aquilo que não se conhece. Trazer à tona, resgatar e propor novas plantas para serem incorporadas na dieta humana conduz aos estudos transversais. E aí a importância, num trabalho básico desse como o nosso, de detalhar as plantas nativas. Mas friso que não se pode entender isso como uma verdade absoluta. É uma proposta em construção, que começa desde as experiências individuais dos pesquisadores envolvidos, nos relatos de pessoas que fazem uso tradicional, por dados de etnobotânica antigos. E será apenas um segmento da pesquisa, que servirá como subsídio para outras áreas de conhecimento.
E aí, o mais importante disso o que é? Ponderar o uso e ter diversificação. Por isso a ciência é dinâmica. Todas as plantas têm seus prós e contras, seus modos de preparo adequados, períodos de consumo, com maior ou menor sensibilidade das pessoas. Mas nós não podemos blindar as plantas não-convencionais por acharem que são mais tóxicas que as comuns que você tem no dia-a-dia.
Há carência de pesquisa, pois o comum é pesquisar só aquilo que está badalado: o morango ou tomate. E não se pesquisa nosso juá nativo, que tem tanto ou mais licopeno que o tomate, porque nem se conhece. Por isso a necessidade da transdisciplinaridade e de fazer essa passagem para o uso real e efetivo da nossa flora diversa. Nós não sabemos nem quantas espécies temos no Brasil ainda – 50 mil? – ficando restrito à Botânica. Não há consenso, nem uma listagem garantida.
Há hipóteses, mas nem isso a gente sabe. Não só a biodiversidade vegetal, mas animal também, que é mais paradigmática e cheia de tabus, com legislação cada vez mais engessada, necessitando ser revista com urgência, para que a nossa fauna alimentícia possa e deva ser criada de forma ecologicamente correta.
Estamos em uma área muito boa de se trabalhar.
Eu pude fazer uma pesquisa aplicada e transferir isso para as pessoas. Esse é um tipo de trabalho que desperta bastante interesse, de compartilhar aquilo que você pode fazer no ponto de ônibus e dentro dele, na divulgação corpo-a-corpo, porque as pessoas entendem, sendo gratificante para o pesquisador poder conseguir explicar o que faz. Falo que trabalho com as plantas que existem por aqui no chão, em todo o lugar, que não são aproveitadas, mas que dá para comer, seja verdura ou frutíferas, condimentos e por aí vai. No entanto, uma área, infelizmente, carente de pesquisa e de editais de financiamento no Brasil. Nós temos uma biodiversidade muito grande, mas não a comemos.
quinta-feira, 1 de abril de 2010
Atualizar a Páscoa
Dom Demétrio Valentini*
Adital
Como sabemos, a páscoa remonta a tradições ancestrais. Seu primeiro contexto estava ligado à natureza. Celebrava o triunfo da vida, vencidas as ameaças do inverno ou da estiagem, quando parecia que a vida iria sucumbir. A exuberância da primavera, ou a estação das chuvas, revertiam o quadro, e a vida retomava sua forma exuberante e esplêndida.
Deste primeiro contexto, guardamos até hoje o ritmo anual da páscoa, estreitamente ligado às condições da vida em nosso planeta terra. Quer queiramos ou não, a vida está associada ao planeta em que nos encontramos.
A segunda expressão da páscoa é fruto da experiência do povo de Israel. Ele teve a intuição de associar sua saída do Egito, onde a vida estava sendo sufocada, exatamente num momento de celebração da páscoa natural.
Desta maneira, a páscoa passou a ter dimensão histórica. Introduziu a tremenda suposição de que, a partir de então, a vida depende da intervenção humana que sobre ela exercemos.
A terceira expressão da páscoa é a mais profunda, e a que melhor recolhe as duas anteriores. É a celebração da páscoa a partir da tradição cristã. Seria um assunto inesgotável analisar com a atenção que merece a providência de Cristo, de inserir o testemunho de sua vida no contexto da celebração pascal dos judeus.
Impressiona ver como ele tinha consciência de que, como profeta, "não podia morrer fora de Jerusalém", nem antes da hora, nem por motivos fúteis de episódios desconexos e circunstanciais. Ele queria colocar sua vida bem no cerne da dinâmica da história humana. Escolheu a páscoa para o confronto final, que lhe possibilitou dar seu testemunho definitivo em favor da vida plena e verdadeira.
Não há fato mais surpreendente, do que ver a Igreja surgindo com Cristo do sepulcro onde seu corpo tinha sido depositado. A Igreja é essencialmente pascal. Por isto, quanto mais batem nela, e tentam sufocá-la ou inviabilizá-la, mais ela revela a força da vida, a serviço da qual foi convocada por Cristo, e incumbida de religar continuamente a história humana ao nascedouro da vida nova. "Façam isto em memória de mim".
Esta providência de instituir uma "nova e eterna" páscoa, no momento da celebração da páscoa antiga, foi a ação mais estratégica e mais radical de Cristo. Ele que tinha dito "não ser deste mundo", sabia captar mais do que ninguém a dinâmica deste mundo, e nela inserir a esperança de uma vida para além deste mundo.
Sem perder a centralidade cristã da páscoa, nos dias de hoje nos damos conta da validade permanente da primeira dimensão pascal. A natureza continua seu processo vital, com sucessivos ciclos de mortes e ressurgimentos. Para entender o que se passa hoje com as preocupantes mudanças climáticas, precisamos de um recuo de milhões de anos. A contribuição dos geólogos é muito preciosa para perceber a trajetória da vida em nosso planeta. Sem recorrer a muitos dados, basta o mais evidente.
O desaparecimento dos dinossauros, que dominaram o planeta por mais de cem milhões de anos, serve de alerta para a nossa espécie humana. Para permanecer viva, a terra é capaz de se desfazer de espécies inteiras, se passam a agir contra o senso da vida.
Mas como a páscoa nos ensina que a vida no planeta passou a depender também da ação histórica da humanidade, que pode se tornar a expressão consciente da própria natureza, ainda é tempo de sintonizar melhor nossa ação humana com a dinâmica da vida.
De tal modo que a páscoa pode comportar a mística cristã, renovar nossa consciência histórica, e despertar nossa sintonia com a natureza.
Assim todos podemos ter uma boa páscoa!
(www.diocesedejales.org.br)
* Bispo de Jales (SP) e Presidente da Cáritas Brasileira
Adital
Como sabemos, a páscoa remonta a tradições ancestrais. Seu primeiro contexto estava ligado à natureza. Celebrava o triunfo da vida, vencidas as ameaças do inverno ou da estiagem, quando parecia que a vida iria sucumbir. A exuberância da primavera, ou a estação das chuvas, revertiam o quadro, e a vida retomava sua forma exuberante e esplêndida.
Deste primeiro contexto, guardamos até hoje o ritmo anual da páscoa, estreitamente ligado às condições da vida em nosso planeta terra. Quer queiramos ou não, a vida está associada ao planeta em que nos encontramos.
A segunda expressão da páscoa é fruto da experiência do povo de Israel. Ele teve a intuição de associar sua saída do Egito, onde a vida estava sendo sufocada, exatamente num momento de celebração da páscoa natural.
Desta maneira, a páscoa passou a ter dimensão histórica. Introduziu a tremenda suposição de que, a partir de então, a vida depende da intervenção humana que sobre ela exercemos.
A terceira expressão da páscoa é a mais profunda, e a que melhor recolhe as duas anteriores. É a celebração da páscoa a partir da tradição cristã. Seria um assunto inesgotável analisar com a atenção que merece a providência de Cristo, de inserir o testemunho de sua vida no contexto da celebração pascal dos judeus.
Impressiona ver como ele tinha consciência de que, como profeta, "não podia morrer fora de Jerusalém", nem antes da hora, nem por motivos fúteis de episódios desconexos e circunstanciais. Ele queria colocar sua vida bem no cerne da dinâmica da história humana. Escolheu a páscoa para o confronto final, que lhe possibilitou dar seu testemunho definitivo em favor da vida plena e verdadeira.
Não há fato mais surpreendente, do que ver a Igreja surgindo com Cristo do sepulcro onde seu corpo tinha sido depositado. A Igreja é essencialmente pascal. Por isto, quanto mais batem nela, e tentam sufocá-la ou inviabilizá-la, mais ela revela a força da vida, a serviço da qual foi convocada por Cristo, e incumbida de religar continuamente a história humana ao nascedouro da vida nova. "Façam isto em memória de mim".
Esta providência de instituir uma "nova e eterna" páscoa, no momento da celebração da páscoa antiga, foi a ação mais estratégica e mais radical de Cristo. Ele que tinha dito "não ser deste mundo", sabia captar mais do que ninguém a dinâmica deste mundo, e nela inserir a esperança de uma vida para além deste mundo.
Sem perder a centralidade cristã da páscoa, nos dias de hoje nos damos conta da validade permanente da primeira dimensão pascal. A natureza continua seu processo vital, com sucessivos ciclos de mortes e ressurgimentos. Para entender o que se passa hoje com as preocupantes mudanças climáticas, precisamos de um recuo de milhões de anos. A contribuição dos geólogos é muito preciosa para perceber a trajetória da vida em nosso planeta. Sem recorrer a muitos dados, basta o mais evidente.
O desaparecimento dos dinossauros, que dominaram o planeta por mais de cem milhões de anos, serve de alerta para a nossa espécie humana. Para permanecer viva, a terra é capaz de se desfazer de espécies inteiras, se passam a agir contra o senso da vida.
Mas como a páscoa nos ensina que a vida no planeta passou a depender também da ação histórica da humanidade, que pode se tornar a expressão consciente da própria natureza, ainda é tempo de sintonizar melhor nossa ação humana com a dinâmica da vida.
De tal modo que a páscoa pode comportar a mística cristã, renovar nossa consciência histórica, e despertar nossa sintonia com a natureza.
Assim todos podemos ter uma boa páscoa!
(www.diocesedejales.org.br)
* Bispo de Jales (SP) e Presidente da Cáritas Brasileira
Pileque precoce
Frei Betto *
Adital
Pesquisas indicam que o perfil preponderante do jovem brasileiro de hoje é, ao contrário da minha geração, conservador, individualista, distante daqueles que, em meados do século XX, queriam mudar o mundo.
Agora, ele se mostra mais preocupado em ter um bom emprego do que motivações ideológicas; menos propenso a riscos e mais apegado à família. A relação com a sociedade é mais virtual que real: fechado em seu quarto, ele nem precisa rezar "venham todos ao meu reino", pois tudo lhe chega através do telefone, da TV, da internet, do MP3.
A cultura consumista a todos nós oferece, em cálice dourado, o elixir da eterna juventude. Os jovens não querem deixar de ser jovens; adultos e idosos insistem em imitar os jovens. E o principal fator de afirmação é a autoimagem, a valorização da estética.
O jovem atual não quer se arriscar; anseia por experimentar. Na falta de motivação religiosa, experiência espiritual e ideologia altruísta, tende a buscar na bebida e na droga a alteração de seu estado de consciência. Sem isso não se sente suficientemente relaxado, loquaz, divertido e ousado.
É óbvio que a mídia dita padrões de comportamento, hábitos de consumo e paradigmas ideológicos. A diferença é que tudo isso chega ao jovem de tal forma bem embalado em papel brilhante e fita colorida, que ele nem percebe o quanto é vulnerável à ditadura do consumismo.
No Brasil, a ingestão de bebidas alcoólicas é legalmente proibida a menores de 18 anos (nos EUA, 21 anos). A fiscalização pouco funciona e o Estado permite a publicidade de cerveja a qualquer hora em rádio e TV -concessões públicas- e o estímulo ao consumo precoce. Inclusive a utilização publicitária de pessoas famosas das áreas de entretenimento, artes e esportes, para suscitar em crianças e jovens reações miméticas de consumo de álcool.
Dados do Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (Cebrid) informam que 42% das crianças brasileiras com idade entre 10 e 12 anos já consumiram bebida alcoólica, e 10% dos jovens de 12 a 17 anos podem ser classificados como dependentes de álcool.
Os adolescentes acreditam que um copo de chope não implica risco à saúde. Talvez. O problema é que, ao se enturmar num bar, ele bebe oito ou dez. Ou apela para o mais barato, no duplo sentido da palavra - custo e efeito: uma garrafa de cachaça ou vodca custa menos que uma rodada de chope e provoca rápido "um barato"...
O Ministério da Saúde já calculou quanto o alcoolismo custa aos cofres públicos? Quanto gasta o INSS com os alcoólicos afastados do trabalho por razões de dependência? De que adiantam as campanhas de prevenção se atletas de renome fazem propaganda de bebida alcoólica?
A publicidade de bebida destilada -cachaça, uísque, vodca- obedece à restrição de horários, regulados pela lei 9.294/1996. Entre 6h e 21h é vetada a publicidade de destilados, embora muitas rádios burlem a proibição. A cerveja, que responde por 70% de todo álcool ingerido no Brasil, é livre de regulamentação. E é por ela que muitos jovens ingressam na dependência química.
Pela lei 9.294, bebida alcoólica é a que possui mais de 13 graus na escala Gay-Lussac. O Congresso Nacional assim determinou pressionado pelos produtores de cerveja e vinho. Normas internacionais consideram que é alcoólica toda bebida com 0,5º GL ou acima.
Todas as demais leis do Brasil -de trânsito, de fabricação etc.- consideram alcoólica toda bebida com mais de 0,5º GL. A cerveja tem cerca de 4,8º GL. Verifique com lupa o rótulo de uma cerveja dita "sem álcool". Com exceção de uma marca, as demais possuem 0,5º GL, ou seja, fazem, com respaldo da lei, propaganda enganosa. Assim, pais desavisados deixam crianças ingerirem a cerveja "sem álcool" e alcoólicos em tratamento são vítimas do mesmo engodo.
O Código de Autorregulamentacao do Conar (Conselho de Autorregulamentação Publicitária) alerta que comerciais de cervejas não devem ser atrativos para o público jovem. O que se vê é o contrário. As peças publicitárias exalam jovialidade, bom humor, espírito de tribo, linguagem própria de jovens, sem que haja nenhum controle.
Vêm aí a Copa do Mundo e as Olimpíadas. Se permanecer liberado o direito de associar desportistas com bebidas alcoólicas a Lei Seca, com certeza, vai dar água...
Em muitos países, como no Canadá, há regulamentação à publicidade de bebida alcoólica, visando à proteção do público infantil. Lá não se vende bebida alcoólica em supermercados, lojas, padarias e mercearias. Só se permite em bares e restaurantes.
O Free Jazz, festival de música, foi cancelado por ser patrocinado por uma marca de cigarro. O mais badalado camarote do sambódromo exige que se vista a camisa de uma produtora de cerveja. Não existe o alerta: "Se fumar, não dirija". Já no caso da bebida...
O argumento de que regular a publicidade é censura ou fere a liberdade de expressão é mero terrorismo consumista centrado em sobrepor interesses privados ao interesse público, como é o caso da proteção da saúde da população, em especial de nossas crianças e adolescentes.
Artigo retirado do site Adital
http://www.adital.com.br/site/noticia.asp?lang=PT&cod=46494
[Autor, em parceria com Marcelo Barros, de "O amor fecunda o Universo - ecologia e espiritualidade" (Agir), entre outros livros.
Adital
Pesquisas indicam que o perfil preponderante do jovem brasileiro de hoje é, ao contrário da minha geração, conservador, individualista, distante daqueles que, em meados do século XX, queriam mudar o mundo.
Agora, ele se mostra mais preocupado em ter um bom emprego do que motivações ideológicas; menos propenso a riscos e mais apegado à família. A relação com a sociedade é mais virtual que real: fechado em seu quarto, ele nem precisa rezar "venham todos ao meu reino", pois tudo lhe chega através do telefone, da TV, da internet, do MP3.
A cultura consumista a todos nós oferece, em cálice dourado, o elixir da eterna juventude. Os jovens não querem deixar de ser jovens; adultos e idosos insistem em imitar os jovens. E o principal fator de afirmação é a autoimagem, a valorização da estética.
O jovem atual não quer se arriscar; anseia por experimentar. Na falta de motivação religiosa, experiência espiritual e ideologia altruísta, tende a buscar na bebida e na droga a alteração de seu estado de consciência. Sem isso não se sente suficientemente relaxado, loquaz, divertido e ousado.
É óbvio que a mídia dita padrões de comportamento, hábitos de consumo e paradigmas ideológicos. A diferença é que tudo isso chega ao jovem de tal forma bem embalado em papel brilhante e fita colorida, que ele nem percebe o quanto é vulnerável à ditadura do consumismo.
No Brasil, a ingestão de bebidas alcoólicas é legalmente proibida a menores de 18 anos (nos EUA, 21 anos). A fiscalização pouco funciona e o Estado permite a publicidade de cerveja a qualquer hora em rádio e TV -concessões públicas- e o estímulo ao consumo precoce. Inclusive a utilização publicitária de pessoas famosas das áreas de entretenimento, artes e esportes, para suscitar em crianças e jovens reações miméticas de consumo de álcool.
Dados do Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (Cebrid) informam que 42% das crianças brasileiras com idade entre 10 e 12 anos já consumiram bebida alcoólica, e 10% dos jovens de 12 a 17 anos podem ser classificados como dependentes de álcool.
Os adolescentes acreditam que um copo de chope não implica risco à saúde. Talvez. O problema é que, ao se enturmar num bar, ele bebe oito ou dez. Ou apela para o mais barato, no duplo sentido da palavra - custo e efeito: uma garrafa de cachaça ou vodca custa menos que uma rodada de chope e provoca rápido "um barato"...
O Ministério da Saúde já calculou quanto o alcoolismo custa aos cofres públicos? Quanto gasta o INSS com os alcoólicos afastados do trabalho por razões de dependência? De que adiantam as campanhas de prevenção se atletas de renome fazem propaganda de bebida alcoólica?
A publicidade de bebida destilada -cachaça, uísque, vodca- obedece à restrição de horários, regulados pela lei 9.294/1996. Entre 6h e 21h é vetada a publicidade de destilados, embora muitas rádios burlem a proibição. A cerveja, que responde por 70% de todo álcool ingerido no Brasil, é livre de regulamentação. E é por ela que muitos jovens ingressam na dependência química.
Pela lei 9.294, bebida alcoólica é a que possui mais de 13 graus na escala Gay-Lussac. O Congresso Nacional assim determinou pressionado pelos produtores de cerveja e vinho. Normas internacionais consideram que é alcoólica toda bebida com 0,5º GL ou acima.
Todas as demais leis do Brasil -de trânsito, de fabricação etc.- consideram alcoólica toda bebida com mais de 0,5º GL. A cerveja tem cerca de 4,8º GL. Verifique com lupa o rótulo de uma cerveja dita "sem álcool". Com exceção de uma marca, as demais possuem 0,5º GL, ou seja, fazem, com respaldo da lei, propaganda enganosa. Assim, pais desavisados deixam crianças ingerirem a cerveja "sem álcool" e alcoólicos em tratamento são vítimas do mesmo engodo.
O Código de Autorregulamentacao do Conar (Conselho de Autorregulamentação Publicitária) alerta que comerciais de cervejas não devem ser atrativos para o público jovem. O que se vê é o contrário. As peças publicitárias exalam jovialidade, bom humor, espírito de tribo, linguagem própria de jovens, sem que haja nenhum controle.
Vêm aí a Copa do Mundo e as Olimpíadas. Se permanecer liberado o direito de associar desportistas com bebidas alcoólicas a Lei Seca, com certeza, vai dar água...
Em muitos países, como no Canadá, há regulamentação à publicidade de bebida alcoólica, visando à proteção do público infantil. Lá não se vende bebida alcoólica em supermercados, lojas, padarias e mercearias. Só se permite em bares e restaurantes.
O Free Jazz, festival de música, foi cancelado por ser patrocinado por uma marca de cigarro. O mais badalado camarote do sambódromo exige que se vista a camisa de uma produtora de cerveja. Não existe o alerta: "Se fumar, não dirija". Já no caso da bebida...
O argumento de que regular a publicidade é censura ou fere a liberdade de expressão é mero terrorismo consumista centrado em sobrepor interesses privados ao interesse público, como é o caso da proteção da saúde da população, em especial de nossas crianças e adolescentes.
Artigo retirado do site Adital
http://www.adital.com.br/site/noticia.asp?lang=PT&cod=46494
[Autor, em parceria com Marcelo Barros, de "O amor fecunda o Universo - ecologia e espiritualidade" (Agir), entre outros livros.
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