domingo, 30 de março de 2008

Colheita do Arroz Ecológico








Estas são algumas das imagens que registrei sexta-feira, dia 28 de março, participando da Abertura da Colheita do Arroz Ecológico dos Assentamentos do MST da grande Porto Alegre/RS. A atividade foi no Assentamento 30 de maio em Charqueadas, coordenada pela Cooperativa de Produção Agropecuária de Charqueadas (COPAC). Celebraram juntas, as famílias dos assentamentos de Nova Santa Rita, Viamão, Guaíba, Eldorado do Sul e Tapes.

Aproveito essa vivência para avançar em nossas reflexões sobre SUSTENTABILIDADE e DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL.

O que vi lá, para além do arroz ecológico?

Vi homens, mulheres e crianças de cabeça erguida. Seguros do caminho que trilham. Com muita dignidade e paciência histórica. Conversei com muitos (as) que, depois de esperarem, acampados debaixo de lona preta, beira-de-estrada, por quatro, cinco, seis anos, finalmente desfrutam do ASSENTAMENTO. Vitória? Sim, porém, muita luta ainda pela frente. Moradia, educação, infra-estrutura, crédito, assistência técnica, equipamentos, insumos, produção, comercialização e o permanente desafio da construção coletiva. Nada vem pronto e para essa gente que luta pela sobrevivência desde sempre, nada é fácil. Ou melhor, tudo é muito difícil.

Entretanto, há uma magia nessa saga. Pois, forja poetas, “bruxos”, “curandeiros”, declamadores, cantantes, pajadores e guerreiros, no bom sentido, guerreiros. ARTISTAS, se retiro desse conceito alguns dos seus significados, como SENSIBILIDADE e TALENTO. Agrego ainda características como a capacidade de ensinar e de aprender o tempo todo. Dentre os ensinamentos o de que o tempo, a organização, a solidariedade, a tolerância, a tenacidade e a mística, são parte da vitória. E mais, que a vitória também depende do seu protagonismo na luta por políticas públicas que dêem conta de todas essas dimensões.

Ou seja, o movimento social forja seres integrais.

Mas, e o que isso tem a ver com sustentabilidade e desenvolvimento sustentável?

Eu não vou me ater em aprofundar essa reflexão. Opto por recorrer àqueles que já se debruçaram sobre o assunto e nos traduzem com muita sabedoria significados que nos permitem compreender a partir de referenciais científicos.

Aqui apenas destaco que a sustentabilidade está estreitamente vinculada a aspectos sociais, culturais, políticos, ético e étnico, para além do ambiental. De nada nos serviria um ARROZ ECOLÓGICO se este fosse fruto de processos que nos apresentassem como resultante social e psicológica, pessoas subordinadas, exploradas, embotadas, tristes, incapazes de sonhar coletivamente e de projetar um futuro digno para si, para os seus filhos e para a coletividade.

A experiência do MST e de outros processos sociais e econômicos, que têm nas pessoas a centralidade, têm muito a nos ensinar nesse sentido.

Mas, nesse exato momento, lembro de uma citação encontrada no livro “A TEIA DA VIDA” de Fritjof Capra, que diz o seguinte: “Isso nós sabemos. Todas as coisas são conectadas como o sangue que une uma família... O que acontecer com a terra acontecerá com os filhos e filhas da terra. O Homem não teceu a teia da vida, ele é dela apenas um fio. O que ele fizer para a teia estará fazendo a si mesmo”.

O grifo (negrito) é meu, pois acho uma afirmação perfeita e nos alerta para que não nos baseemos em valores estritamente antropocêntricos (centralizados no ser humano) e sim em valores ecocêntricos (centralizados na terra). Este último nos inclui e dá conta de todos os seres vivos. Segundo Capra, “...quando essa percepção ecológica profunda torna-se parte de nossa consciência cotidiana, emerge um sistema de ética radicalmente novo...”.

Bem, devo parar.

Abaixo, um texto do Dr.Francisco Roberto Caporal (no pé de página do texto encontram-se as informações curriculares) que, de forma científica, objetiva e muito pedagógica nos fala sobre o significado da Agroecologia. Segundo ele, a mesma, nos faz entender “que a prática da agricultura é um processo social, integrado a sistemas econômicos, e que, portanto, qualquer enfoque baseado simplesmente na tecnologia ou na mudança da base técnica da agricultura pode implicar no surgimento de novas relações sociais, de novo tipo de relação dos homens com o meio ambiente e, entre outras coisas, em maior ou menor grau de autonomia e capacidade de exercer a cidadania...”.

Mais abaixo, ainda para avançarmos na compreensão da SUSTENTABILIDADE, um texto do meu querido amigo Roberto Marinho (Diretor do Departamento de Estudos e Divulgação da Senaes – Secretaria Nacional de Economia Solidária) que discorre sobre sustentabilidade de forma também muito pedagógica, nos ajudando a avançar na compreensão histórica desse conceito. O relaciona com a economia solidária, territorialidade, inclusão social e muito mais.

Boa Leitura!!!
Iara Borges Aragonez.

Um comentário:

Gervásio disse...

Bela reflexão, companheira Iara.
Oxalá possamos, cada vez mais, celebrar a colheita dos frutos da terra, produzidos de forma harmoniosa com o entorno, e partilhá-los de forma justa e solidária.
Gervásio