terça-feira, 15 de junho de 2010

Sustentabilidade Humana


Por Demétrio Sena (*)

Saberes são sabores que advêm das vivências capazes de nos amadurecer.

Seria um sofrimento inexplicável não sofrer. Implicaria não ter ideia do que é sentir um alívio ou superar uma dor. São as sensações, boas ou ruins, que tornam o ser humano completo e o dotam de saberes que dão sentido à vida. Saberes são sabores que advêm das vivências capazes de amadurecer o espírito, a mente, o caráter, para que o corpo não passe pelo mundo como casca inútil cuja polpa nunca teve dulçor. Não teve, porque jamais amadureceu; foi de verde a podre, pulando estágios essenciais ao ser.

O alimento é precioso por existir a fome; a água, por existir a sede. O sono, porque há o cansaço. Logo, só existe o triunfo do soerguimento se houver antes a queda. Nenhuma dessas preciosidades valeria qualquer coisa sem a existência do seu oposto. E não é de coisas divinas que falo aqui. Sequer do próprio possível Deus. Falo das evidências que saltam aos olhos e quase sempre não queremos ver, porque nossa preguiça de viver está sempre à espera das facilidades que os vermes, os fungos e as bactérias também buscam. Com sucesso, porque é de suas naturezas e porque tudo apodrece, tornando-se nutrientes naturais de parasitas e afins. Também não me refiro aos autoflagelos nem aos sacrifícios e sofrimentos buscados como táticas artificiais e hipócritas de puruficação pessoal.

Refiro-me à coragem, à determinação para lutar contra os percalços, adversidades, tristezas e muitas frustrações que são mesmo próprios do existir e não visam méritos ou escolhem nas classes, etnias e culturas quem sofrerá o quê. Sendo assim, devemos dispensar as desventuras evitáveis e combater os efeitos aviltantes daquelas que nada pode anular quando vêm. Isto se chama equilíbrio; sustentabilidade humana. E todo esse exercício deve ser empreendido não apenas com vistas ao eu, mas também (e principalmente) ao nós. O mundo não é um indivíduo. É um coletivo no qual todos podem se ferir de alguma forma, quando algo foge do rumo.

Se todos nós aprendermos a fazer algo pelo outro ou por nós mesmos em razão do todo, seremos uma sociedade sadia; que sabe vencer os desafios e desafiar novos horizontes, mistérios e surpresas que nunca deixarão de surgir.

* Demétrio Sena é educador lotado no CIEP 327, Suruí - Magé - RJ, palestrante e membro da Academia Mageense de Letras

(Envolverde/Pauta Social)

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