quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Flores da primavera



Percorrendo as ruas e parques de Porto Alegre é impossível ficar indiferente ao presente que a natureza nos oferece nesse período. Além de outras flores e árvores, particularmente os JACARANDÁS estão belíssimos. Vale a pena apreciá-los vagarosamente. Andar pelas ruas, seja a pé ou de ônibus, deve ter um significado para além de nos levar a algum lugar. Vamos deixar(saber quando isso é fundamental exige sabedoria) o pragmatismo de lado e dar atenção às coisas belas da vida. Olhar para os lados, parar, tocar, enfim, apreciar a beleza que é a PRIMAVERA em nossa cidade. Este, pode ser um bom começo. Humaniza, faz bem para a alma e nos deixa mais felizes. E, como felicidade contagia, ela também brotará naqueles que nos cercam. Para homenagear a PRIMAVERA e nos realimentarmos da energia dessa estação, publicamos o texto abaixo. É lindo, inspirador e ajuda a lembrarmos o quanto ainda devemos lutar para que as flores com seus perfumes e os pássaros com as suas sinfonias continuem a nos visitar ano a ano. Boa Leitura!!!

Iara Borges Aragonez
Coletivo Desenvolvimento Sustentável
SEMAPI

Pe. Alfredo J. Gonçalves *

Abre-se a primavera. Estação das flores, das cores e dos amores. Vale a pena parar um pouco para contemplar, meditar, refletir. Que nos dizem a flor e a primavera?
Primeiro, seu sorriso livre, gratuito e aberto constitui por si só uma linguagem sem palavras. Linguagem que, em harmonia com o canto dos pássaros, o brilho do sol e das estrelas, o olhar das crianças e dos animais, o sussurro da brisa e da água, forma a grande sinfonia do universo. Um mundo em música e em festa, como um jardim florido, ao redor do qual as abelhas entoam o hino da fecundação!

Mas a flor tem outras lições. Como a espiga, como o edifício, ou como o poema, ela se levanta do chão. Busca o ar livre, o céu, a luz e o sol, mas depois de mergulhar as raízes na terra. Antes de crescer para cima, cresce para baixo. Sonha com o horizonte, mas com os pés firmes no chão da história. Aliás, a flor costuma ser tanto mais bela quanto mais árido e agreste é o solo. Os sonhos, como transfiguração das carências, também costumam ser mais belos e radicais nos porões e periferias da sociedade.

Nas asas da brisa e na dança dos pássaros, voa o pólen das flores. Mas para voar, além de asas, é preciso ter pés. As pétalas se vestem de luz somente quando as raízes buscam os nutrientes que vêm do chão escuro, frio e úmido. Projetos que não tenham os alicerces firmes na rocha do contexto histórico serão facilmente arrastados pelo vento. Manipulados pelos furacões oportunistas da política.
Também impressiona a gratuidade da flor. Entrega-se à contemplação sem nada exigir em troca. Sendo efêmero, seu brilho parece mais vivo e colorido. Como se tivesse consciência de sua passagem fugaz pela face da terra, doa-se com toda a intensidade. Faz lembrar Fernando Pessoa: "para ser grande, sê inteiro: nada teu exagera ou excluí"! A passagem pela vida é breve e única. Por isso a flor se reveste da mais bela roupagem, antes de murchar e desaparecer para sempre. O perfume e a beleza são de tal magnitude que compensam seu desfile meteórico aos olhos dos viajantes.

Em sua gratuidade, a flor revela-se, ao mesmo tempo, forte e frágil. Como o amor, de que é o símbolo por excelência, vê-se impotente diante das intempéries. Acariciada pela brisa, ela pode ser devastada pela impetuosidade dos ventos. Mas estes, no dizer do poeta, embora possam destruir as flores, jamais impedirão o retorno da primavera.

A flor orienta-se pela luz. Busca a luz e dela se nutre. O nome do girassol traduz exatamente isso. O mais interessante é que, mesmo de noite, ele insiste em seguir o sol. Baixa o olhar para o solo como se adivinhasse que o astro rei encontra-se lá, do outro lado do planeta. Mesmo no escuro, segue fielmente a trajetória da luz. Sabe que as trevas são passageiras e que a nova aurora não tarda.

Impressiona, ainda, a diversidade das flores. Profusão de cores e tons, roupas e formatos. Inútil perguntar se a rosa é mais bela que o crisântemo, ou se o cravo é mais perfumado que a magnólia. Elas não são melhores nem piores, umas em relação às outras. São diferentes! E é justamente essa diferença que torna belo o jardim. Para brilhar, nenhuma necessita apagar o sorriso da outra. Todas e cada uma em particular encontram seu espaço na harmonia do conjunto.

Hoje corremos o risco de destruir as flores e o jardim, a natureza e o planeta. Reduzimos tudo a valor monetário, a lucro e acumulação de capital sobre capital. Está em jogo a vida, o oxigênio, a biodiversidade. Que esta estação nos ensine a lição das flores, junto com a necessidade de fazê-las brotar, nem que seja na pedra, no concreto no asfalto. Só assim estaremos avançando para a eterna primavera!

* Assessor das Pastorais Sociais.
Texto publicado em www.adital.com.br

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