segunda-feira, 16 de agosto de 2010
O Passo da Helicóide
Iara Borges Aragonez
Coletivo Desenvolvimento Sustentável
SEMAPI/RS
Pensando sobre o necessário ATO DE ENCERRAMENTO desse blog e suas razões, uma imagem recorrente vem povoando a minha mente. A de uma HELICÓIDE*.
Remeto-me então ao período em que participei de uma formação** na qual a figura helicoidal fazia parte de nossas avaliações, representando nossos processo ou projetos. Indicadores como tempo transcorrido, avanços, contextos, velocidade e qualidade eram representados e relatados a partir desta figura. E era muito interessante quando cada um de nós desenhava no quadro a sua helicóide para identificar a situação ou estágio de seu processo ou projeto. O tempo passou e eu deixei para trás essa imagem que hoje insiste em me provocar.
Como sou do tipo que não resiste a uma provocação, em especial quando vem da minha mente inquieta, voltei à figura e busquei utilizá-la para a leitura e avaliação desse momento.
A helicóide que utilizávamos, como é possível observar no desenho acima, recebia em suas laterais duas linhas verticais as quais delimitavam ou delimitam o “espaço projetual” no qual transcorre o processo ou projeto de cada um de nós.
Como vemos, a helicóide faz um movimento ascendente, sendo que cada volta representa uma nova etapa que agrega qualidade. Porém, ela é aberta e sujeita a entradas nem sempre previsíveis, com consequências também imprevisíveis.
Há momentos em que a ascendência é lenta, quase zero. Porém, um processo com baixa entropia, controlado, com pequenas dispersões acompanhadas de permanentes reajustes. Entretanto, quando há um "imput" externo significativo, seja ele positivo ou negativo, o processo e/ou projeto pode entrar em entropia e sair do "espaço projetual". A helicóide “engorda” mais, dispersa mais e ultrapassa as linhas laterais, exigindo re-arranjos, com novas táticas, novas interações, nova energia e novas sinergias. Pode ser uma oportunidade de um novo ciclo. De uma “volta” materializar-se, ou, então, do processo desorganizar-se a ponto de findar-se ou transformar-se em outra coisa. Isto ocorre pela perda do controle. Seja por negligência, por falta de foco, por leitura equivocada de contexto ou por absoluta ingovernabilidade frente a outros fatores externos que entram e alteram as interações.
O que isso tem a ver com o momento atual? e com este blog?
Os três anos em que estive a frente do SEMAPI, integrando a diretoria colegiada, percebo que a minha helicóide não chegou a dar uma volta. O seu movimento, além de lento, quase inerte, foi quase nada ascendente. É importante destacar que quando falo de ascendência refiro- me a avanços significativos e de qualidade, representando mudança de patamar, “realidade mexida” de acordo com os desafios colocados. Destaco também que a helicóide inicia-se não necessariamente no momento avaliado. O presente já é resultado de helicóides anteriores.
O momento atual é de helicóide expandida, “engordada” por “entradas” que estão provocando alta entropia, afetando o movimento e exigindo reposicionamentos acompanhados de criteriosas re-leituras. Como a “volta” nesse período não ocorreu, os desafios continuam. O risco é grande e urge ajustar as velas de acordo com os novos ventos, o que nem sempre é fácil, ou melhor, em geral é muito difícil...
Entretanto, há um alento. Ao analisar a situação atual, constato que a estagnação vivida nesses três anos não foi necessariamente estagnação. Os avanços no diálogo social acerca da sustentabilidade, estabelecido seja com o movimento sindical, ambiental, marcha mundial das mulheres, via campesina, com a categoria e com os (as) trabalhadores (as) do SEMAPI, possibilitou acumular um conjunto de elementos, objetivos e subjetivos, os quais constituíram as bases para criar a possibilidade de iniciar uma “volta” significativa. Ou seja, aquela que não foi dada em três anos, mas que, nesses mesmos três anos, a passos lentos, foi possível semear as sementes.
Re-arrumar para dar a ”volta’ é uma tarefa que vai além de uma pessoa, de um desejo, de um projeto isolado. Depende de um conjunto de forças articuladas. E há circunstâncias em que o conjunto de forças não é favorável. Re-arrumar nessa circunstância que vivencio agora, desafia e assusta. Voltar para um ambiente inóspito com projeto antagônico, fazer movimentos ascendentes, mesmo que lentos é (quase) impossível o que gera um efeito(quase) paralisador.
Mas, como disse, sementes foram semeadas e poderemos ter logo ali na frente o grande “insumo” para iniciar um novo ciclo, ascendente, contínuo e capaz de dar a “volta” de acordo com os desafios que estão a esperar pela ação. Portanto, esperar é preciso, e, já aprendi que em muitos momentos, a “não ação é a melhor ação”.
Então, ESPEREMOS e, de preferência, com serenidade. A resposta chegará junto com a Primavera. Esperaremos as boas notícias as quais serão recebidas com flores!
Queridos (as) companheiros (as), não sei se compliquei, se criei imagens desnecessárias, se optei pela tão criticada “falta de objetividade”, mas essa forma de expressar-me quase se impôs. E meus companheiros (as) de formação e “maestros” que me perdoem se cometi alguma heresia..., mas os elementos da análise helicoidal que vieram a minha mente foram esses...
Bem, o blog Coletivo Desenvolvimento Sustentável, de alguma forma embalou a minha vida nesse período. Muitos retornos que vieram, tenham sido eles pelo próprio blog ou pelo meu email, me realimentaram e me entusiasmaram a continuar.
Fazendo um passeio por ele desde a primeira postagem feita em 31 de outubro de 2007, convenci-me que valeu a pena. Considero-o uma boa “biblioteca”, com muita cor, flor, “aromas”, músicas e boas energias. Capaz de informar e provocar a reflexão acerca do tema da sustentabilidade e sobre o nosso papel nessa complexa teia que é a vida, seja enquanto indivíduos ou seres coletivos e políticos que somos.
Nesse tempo reafirmei minhas convicções, e, sobretudo, constituí em mim com muito mais força a convicção de que a única verdadeira saída é a mudança radical de paradigma. Outra lógica deve orientar a construção do desenvolvimento que queremos. Precisamos colocar em xeque os valores e princípios que organizam o modelo hegemônico e as nossas vidas. Felicidade, bem-viver, realização pessoal e social são conceitos que deverão ser compreendidos a partir de outra perspectiva.
Percebo cada vez mais que nada mudará se a sociedade não “re-fundar” seus valores para, a partir deles, fazer a transformação. Mas, precisa de “insumos”, bons “insumos” para uma sólida e coletiva construção. Lembremos de Paulo Freire: “ninguém liberta ninguém, ninguém se liberta sozinho: os homens se libertam em comunhão”. Eis um campo fundamental de luta. Em comunhão fazer à “re-fundação dos princípios”, dos valores e da ética. Apenas assim, será possível.
Pois bem, esse blog, que tratou sobre estas e muitas outras questões, foi constituído pelo Coletivo Desenvolvimento Sustentável do SEMAPI, sendo que todos os seus integrantes estão saindo do Sindicato. A atual direção definirá os novos integrantes os quais elegerão as suas formas de comunicação sobre esse tema. Certamente não permanecerá um vácuo por muito tempo.
Para Paulinho, Pacheco e Lauro, companheiros do Coletivo, o meu grande, carinhoso e afetuoso abraço. Embora nem sempre da forma mais coletiva, ideal, o fato é que nos apoiamos aqui e ali, andamos juntos na luta e assim executamos quase que integralmente o nosso planejamento estratégico. O que faltou... bem, aí é outra história...
Abaixo, deixo para todos nós um vídeo que mostra alguns caminhos que trilhamos no período de 2007 – 2010 por entendê-los como estratégicos do ponto de vista de nossos objetivos e desafios políticos, sociais e ambientais. Não foi fácil organizá-lo. Precisei descartar muitas imagens igualmente importantes, pois o tempo exigiu que assim o fizesse.
Mas a vida é assim, feita de escolhas. A grande questão é fazer as escolhas certas e, para que a vida flua e “tenha uma boa finalização” como um bom vinho, arriscar é preciso, ou melhor, fundamental!
Valeu companheiros (as)!
Um grande, forte e SUSTENTÁVEL abraço a todos (as) aqueles (as) que nos acompanharam até aqui.
* Compreendida como modelo isomorfo a “regulación dos sistemas vivientes”. Del Titanic a l Velero. Fundación CEPA.
** Especialización e Maestria en Desarrollo Sustentable – FLACAM. La Plata, Argentina.
domingo, 8 de agosto de 2010
Viva!
Bom mesmo é ir à luta com determinação,
abraçar a vida com paixão,
perder com classe
e vencer com ousadia,
porque o mundo pertence a quem se atreve
e a vida é "muito" pra ser insignificante.
Já perdoei erros quase imperdoáveis,
tentei substituir pessoas insubstituíveis
e esquecer pessoas inesquecíveis.
Já fiz coisas por impulso,
já me decepcionei com pessoas quando nunca pensei me decepcionar,
mas também decepcionei alguém.
Já abracei pra proteger,
já dei risada quando não podia,
fiz amigos eternos,
amei e fui amado,
mas também já fui rejeitado,
fui amado e não amei.
Já gritei e pulei de tanta felicidade,
já vivi de amor e fiz juras eternas,
"quebrei a cara muitas vezes"!
Já chorei ouvindo música e vendo fotos,
já liguei só para escutar uma voz,
me apaixonei por um sorriso,
já pensei que fosse morrer de tanta saudade
e tive medo de perder alguém especial (e acabei perdendo).
Mas vivi, e ainda vivo!
Não passo pela vida…
E você também não deveria passar!
Charles Chaplin
abraçar a vida com paixão,
perder com classe
e vencer com ousadia,
porque o mundo pertence a quem se atreve
e a vida é "muito" pra ser insignificante.
Já perdoei erros quase imperdoáveis,
tentei substituir pessoas insubstituíveis
e esquecer pessoas inesquecíveis.
Já fiz coisas por impulso,
já me decepcionei com pessoas quando nunca pensei me decepcionar,
mas também decepcionei alguém.
Já abracei pra proteger,
já dei risada quando não podia,
fiz amigos eternos,
amei e fui amado,
mas também já fui rejeitado,
fui amado e não amei.
Já gritei e pulei de tanta felicidade,
já vivi de amor e fiz juras eternas,
"quebrei a cara muitas vezes"!
Já chorei ouvindo música e vendo fotos,
já liguei só para escutar uma voz,
me apaixonei por um sorriso,
já pensei que fosse morrer de tanta saudade
e tive medo de perder alguém especial (e acabei perdendo).
Mas vivi, e ainda vivo!
Não passo pela vida…
E você também não deveria passar!
Charles Chaplin
domingo, 25 de julho de 2010
Demanda firme eleva área plantada com orgânicos na União Europeia
20/07/2010 - Fonte: Valor Online
Rudy Ruitenberg, Bloomberg
A indústria de produtos orgânicos da União Europeia está ganhando "massa crítica" à medida em que mais consumidores compram esses alimentos sem fertilizantes químicos e pesticidas, segundo um relatório do bloco.
A área com produção orgânica na UE aumentou anualmente, em média, 7,4% entre 2000 e 2008, saindo de 4,3 milhões de hectares para 7,6 milhões de hectares. A agricultura orgânica respondeu por 4,3% das terras agricultáveis em uso em 2008, segundo a UE.
A demanda "tem efeito impulsionador na agricultura orgânica", diz a UE. "Essa expansão deve permitir condições apropriadas para o desenvolvimento da agricultura orgânica no médio prazo e assegurar a manutenção dos prêmios sobre os preços que contribuem para a lucratividade do setor".
A UE tinha 22% da área de agricultura orgânica do mundo em 2008, de acordo com a Switzerland"s Forschungsinstitut fuer Biologischen Landbau. Nos EUA, 1,95 milhão de hectares tinham manejo orgânico, ou 0,6% do total das áreas agrícolas e de pastagem do país, mostra a pesquisa.
"O setor agora se amplia além de uma mera "agricultura de nicho" e alcança uma certa massa crítica", diz firma o documento. A demanda na UE por produtos orgânicos está ultrapassando o crescimento local da oferta. Entre as culturas aráveis, os cereais são a mais importante categoria, com 1,2 milhão de hectares produzidos organicamente em 2007.
A Espanha tinha a maior área com produção orgânica na União Europeia, com 1,13 milhões de hectares. Em percentual, o uso para produção orgânica das terras agrícolas era maior na Áustria, com uma fatia de 16% da área usada para agricultura. O tamanho médio de uma fazenda orgânica na União Europeia excedeu o dos estabelecimentos não orgânicos em 2007, segundo o relatório.
"No setor de pecuária, isso não é surpreendente dados os níveis mais baixos dos estoques e o maior uso de pastagem extensiva", dizem os autores do documento. "Em tais especializações, como lavouras permanentes e produção de vegetais, isso é mais surpreendente".
As fazendas orgânicas usaram menos mão de obra por área, mostram as estatísticas. Isso contraria a percepção de que o segmento emprega mais mão de obra para compensar a ausência de insumos químicos e fertilizantes nitrogenados.
"Contrariamente ao que é frequentemente considerado, os estabelecimentos orgânicos usariam menos mão de obra intensiva do que os convencionais", dizem os autores do relatório.
Rudy Ruitenberg, Bloomberg
A indústria de produtos orgânicos da União Europeia está ganhando "massa crítica" à medida em que mais consumidores compram esses alimentos sem fertilizantes químicos e pesticidas, segundo um relatório do bloco.
A área com produção orgânica na UE aumentou anualmente, em média, 7,4% entre 2000 e 2008, saindo de 4,3 milhões de hectares para 7,6 milhões de hectares. A agricultura orgânica respondeu por 4,3% das terras agricultáveis em uso em 2008, segundo a UE.
A demanda "tem efeito impulsionador na agricultura orgânica", diz a UE. "Essa expansão deve permitir condições apropriadas para o desenvolvimento da agricultura orgânica no médio prazo e assegurar a manutenção dos prêmios sobre os preços que contribuem para a lucratividade do setor".
A UE tinha 22% da área de agricultura orgânica do mundo em 2008, de acordo com a Switzerland"s Forschungsinstitut fuer Biologischen Landbau. Nos EUA, 1,95 milhão de hectares tinham manejo orgânico, ou 0,6% do total das áreas agrícolas e de pastagem do país, mostra a pesquisa.
"O setor agora se amplia além de uma mera "agricultura de nicho" e alcança uma certa massa crítica", diz firma o documento. A demanda na UE por produtos orgânicos está ultrapassando o crescimento local da oferta. Entre as culturas aráveis, os cereais são a mais importante categoria, com 1,2 milhão de hectares produzidos organicamente em 2007.
A Espanha tinha a maior área com produção orgânica na União Europeia, com 1,13 milhões de hectares. Em percentual, o uso para produção orgânica das terras agrícolas era maior na Áustria, com uma fatia de 16% da área usada para agricultura. O tamanho médio de uma fazenda orgânica na União Europeia excedeu o dos estabelecimentos não orgânicos em 2007, segundo o relatório.
"No setor de pecuária, isso não é surpreendente dados os níveis mais baixos dos estoques e o maior uso de pastagem extensiva", dizem os autores do documento. "Em tais especializações, como lavouras permanentes e produção de vegetais, isso é mais surpreendente".
As fazendas orgânicas usaram menos mão de obra por área, mostram as estatísticas. Isso contraria a percepção de que o segmento emprega mais mão de obra para compensar a ausência de insumos químicos e fertilizantes nitrogenados.
"Contrariamente ao que é frequentemente considerado, os estabelecimentos orgânicos usariam menos mão de obra intensiva do que os convencionais", dizem os autores do relatório.
quinta-feira, 22 de julho de 2010
PLEBISCITO POPULAR pelo LIMITE DA PROPRIEDADE DA TERRA
Iara Borges Aragonez*
Participei ontem do SEMINÁRIO ESTADUAL SOBRE O LIMITE DA PROPRIEDADE DA TERRA: em defesa da reforma agrária e da soberania territorial e alimentar, cujo propósito foi esclarecer sobre o PLEBISCITO POPULAR pelo LIMITE DA PROPRIEDADE DA TERRA e discutir formas de mobilização para garantir a efetiva participação da sociedade.
O Plebiscito acontecerá entre os dias 01 e 07 de setembro de 2010 e será uma oportunidade ímpar do povo brasileiro manifestar-se contra a concentração de terras no país.
Organizou o Seminário a Comissão Pastoral da Terra e Cáritas/RS. Foram palestrantes o advogado popular e educador, Dr.Jaques Alfonsin e também o representantes do CEBI - Centro de Estudos Bíblicos,Edson Costa, da CPT, Terezinha Ruzzarin, da Cáritas/RS, Loiva de Oliveira e da CUT/RS, o sindicalista Celso Woyciechowski.
A abordagem do representante do CEBI teve como eixo condutor a AGRICULTURA FAMILIAR X AGRICULTURA NÃO FAMILIAR a partir dos aspectos econômicos, sociais e políticos. O Dr. Jaques Alfonsin trabalhou aspectos relacionados a Constituição brasileira no que se refere a posse e uso da terra, bem como em relação a consultas populares como o Plebiscito. Loiva Oliveira, apresentou uma retrospectiva histórica das diferentes edições do Grito dos Excluídos, detendo-se na organização do 16º Grito que ocorrerá no dia 07 de Setembro de 2010 e tem como tema ONDE ESTÃO NOSSOS DIREITOS? VAMOS AS RUAS PARA CONSTRUIR UM PROJETO POPULAR. A representante da CPT, Terezinha Ruzzarin, falou sobre a publicação do CADERNO de CONFLITOS SOCIAIS NO CAMPO, destacando que há 25 anos o Caderno vem revelando a trágica realidade brasileira nessa questão.
Além do Plebiscito, está em curso um abaixo assinado com vistas a pressionar o Congresso Nacional para que seja incluído um novo inciso no artigo 186 da Constituição Brasileira, que trata da Função Social da terra, para limitar o tamanho máximo da propriedade. Acessando este link você pode agora mesmo fazer a sua adesão.
Como encaminhamento do Seminmário destaca-se a realização de seminários temáticos, até a data do Plebiscito, com o objetivo de sensibilizar e mobilizar outras organizações para engajarem-se no processo. Para planejar essas atividades ficou agendada para o dia 27 de Julho, 14h, reunião na CUT/RS.
No link é possível assistir o vídeo da Campanha Nacional que conta um pouco da história da propriedade da terra no Brasil, assim como mais informações acerca do tema.
*Coletivo Desenvolvimento Sustentável SEMAPI e Cooperativa GiraSol - Comércio Justo e Consumo Consciente. Porto Alegre/RS.
Participei ontem do SEMINÁRIO ESTADUAL SOBRE O LIMITE DA PROPRIEDADE DA TERRA: em defesa da reforma agrária e da soberania territorial e alimentar, cujo propósito foi esclarecer sobre o PLEBISCITO POPULAR pelo LIMITE DA PROPRIEDADE DA TERRA e discutir formas de mobilização para garantir a efetiva participação da sociedade.
O Plebiscito acontecerá entre os dias 01 e 07 de setembro de 2010 e será uma oportunidade ímpar do povo brasileiro manifestar-se contra a concentração de terras no país.
Organizou o Seminário a Comissão Pastoral da Terra e Cáritas/RS. Foram palestrantes o advogado popular e educador, Dr.Jaques Alfonsin e também o representantes do CEBI - Centro de Estudos Bíblicos,Edson Costa, da CPT, Terezinha Ruzzarin, da Cáritas/RS, Loiva de Oliveira e da CUT/RS, o sindicalista Celso Woyciechowski.
A abordagem do representante do CEBI teve como eixo condutor a AGRICULTURA FAMILIAR X AGRICULTURA NÃO FAMILIAR a partir dos aspectos econômicos, sociais e políticos. O Dr. Jaques Alfonsin trabalhou aspectos relacionados a Constituição brasileira no que se refere a posse e uso da terra, bem como em relação a consultas populares como o Plebiscito. Loiva Oliveira, apresentou uma retrospectiva histórica das diferentes edições do Grito dos Excluídos, detendo-se na organização do 16º Grito que ocorrerá no dia 07 de Setembro de 2010 e tem como tema ONDE ESTÃO NOSSOS DIREITOS? VAMOS AS RUAS PARA CONSTRUIR UM PROJETO POPULAR. A representante da CPT, Terezinha Ruzzarin, falou sobre a publicação do CADERNO de CONFLITOS SOCIAIS NO CAMPO, destacando que há 25 anos o Caderno vem revelando a trágica realidade brasileira nessa questão.
Além do Plebiscito, está em curso um abaixo assinado com vistas a pressionar o Congresso Nacional para que seja incluído um novo inciso no artigo 186 da Constituição Brasileira, que trata da Função Social da terra, para limitar o tamanho máximo da propriedade. Acessando este link você pode agora mesmo fazer a sua adesão.
Como encaminhamento do Seminmário destaca-se a realização de seminários temáticos, até a data do Plebiscito, com o objetivo de sensibilizar e mobilizar outras organizações para engajarem-se no processo. Para planejar essas atividades ficou agendada para o dia 27 de Julho, 14h, reunião na CUT/RS.
No link é possível assistir o vídeo da Campanha Nacional que conta um pouco da história da propriedade da terra no Brasil, assim como mais informações acerca do tema.
*Coletivo Desenvolvimento Sustentável SEMAPI e Cooperativa GiraSol - Comércio Justo e Consumo Consciente. Porto Alegre/RS.
domingo, 18 de julho de 2010
segunda-feira, 12 de julho de 2010
Entendendo o vazamento de petróleo nos EUA
Por Redação IHU
Entrevista concedida em 08/07/2010
As informações que chegam à população são de que pelo menos cinco mil litros de óleo vazam diariamente do “buraco” do poço de petróleo que sofreu acidente no Golfo do México. Este volume é cinco vezes maior do que o estimado quando a plataforma que extraia óleo deste poço afundou. A IHU On-Line conversou com o professor de Geologia da Unisinos, Gerson Fauth, sobre as implicações técnicas para conter o vazamento e se há chances de ocorrer algo semelhante no Brasil, que, com o pré-sal, começa a investir pesado na extração de petróleo. A entrevista foi realizada por telefone.
“Nesse final de semana, uma tormenta forte deve chegar à região e empurrará o óleo em direção ao litoral. Esse vazamento deve levar até dois meses para ser estancado, e isso causará uma série de consequências no litoral sul dos Estados Unidos, principalmente para a população da Louisiana. Como essa região é pantanosa, o problema é mais grave ainda. Isso porque, se o óleo entrar nessa região de pântano, será impossível retirá-lo”, disse.
Gerson Fauth é mestre em Geociências pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e doutor em Geologia pela Universitat Heidelberg (Alemanha). Atualmente, é professor do PPG em Geologia da Unisinos, onde ministra as disciplinas de Bioestratigrafia e Ostracodes.
Confira a entrevista.
IHU On-Line – Para entendermos a questão do vazamento do petróleo no Golfo do México. Porque o processo de contenção do óleo é tão demorado?
Gerson Fauth – As condições de onde está sendo retirado esse óleo são de mar profundo. Existe uma série de dificuldades técnicas para se chegar a esse lugar e ter condições para pegar todo esse petróleo que está jorrando do poço. Este óleo, quando sai do “buraco” que se abriu, tende a migrar para a parte mais superficial, mais leve e, na medida em que sai do poço, se espalha bastante, impactando uma área gigantesca. A imprensa tem dito que eram cinco mil barris por dia, mas a conta pode ser muito maior do que essa.
IHU On-Line – Que implicações técnicas são necessárias para a contenção desse vazamento?
Gerson Fauth – A implicação técnica exata ninguém sabe ao certo. Esses tipos de problemas que ocorreram agora não são muito comuns. Ainda assim, há uma série de precauções que devem ser tomadas quando se vai perfurar para extrair o óleo, é preciso ter muitas válvulas e portas que são trancadas caso exista um erro. Comenta-se que uma determinada válvula que precisava ser colocada, não foi. A British Petroleum não tomou certas precauções para evitar problemas que decorreram nessa catástrofe ecológica. Ou seja, houve uma economia que causou esse problema. Quando é uma empresa séria, esse tipo de situação não ocorre.
IHU On-Line – Por quanto tempo se sofrerá com as consequências desse vazamento?
Gerson Fauth – Não se sabe ainda ao certo. Nesse final de semana, uma tormenta forte deve chegar à região, e ela deve empurrar o óleo em direção ao litoral. Esse vazamento levará até dois meses para ser estancado, e isso vai causar uma série de consequências no litoral sul dos Estados Unidos, principalmente para a população da Louisiana. Como essa região é pantanosa, o problema é mais grave ainda. Isso porque, se o óleo entrar nessa região de pântano, será impossível retirá-lo. Provavelmente, muitas gerações vão sofrer com as consequências desse desastre.
IHU On-Line – Que danos ambientais, especificamente, esse vazamento pode causar?
Gerson Fauth – Os mais prejudicados são os ambientes pantanosos no sul dos EUA. Dessa forma, o desastre atinge as aves que vivem sobre a água e a própria população ribeirinha que vive da pesca. Imagine um lugar pantanoso, muita água, pouca energia, poucas ondas, que é invadido por um óleo que bate nos troncos e nas folhas. Dificilmente ele vai ser retirado. A mesma coisa aconteceu no Alasca, só que num lugar pedregoso. Lá, as pedras foram “lavadas” e o problema praticamente solucionado. Como lavar um lugar pantanoso? Quando chega na areia é fácil de tirar, mas nos pântanos não.
IHU On-Line – Algo parecido pode acontecer no Brasil?
Gerson Fauth – É pouco provável. Bom, pode acontecer com qualquer sonda, qualquer plataforma no mundo em que não sejam tomadas as devidas precauções. As chances de isso acontecer no Brasil são pequenas, porque as empresas que trabalham aqui são mais sérias. No caso dos EUA, houve uma espécie de “quarteirização”, pois uma empresa cedeu à outra empresa, que cedeu para uma terceira. No final, ninguém se responsabilizou e assumiu a culpa. Mas a BP, que é uma das maiores petroleiras do mundo, está sendo culpada por ser a principal responsável por aquele poço, embora ela não estivesse naquele lugar, naquele momento.
IHU On-Line – O Brasil teria condições de amparar um problema assim?
Gerson Fauth – Nenhum país tem condições. Os EUA são o país mais rico do mundo, com melhor tecnologia, com os profissionais mais capacitados, e não conseguem resolver o problema. O presidente Obama está sendo humilhado por não conseguir contornar a situação. Ninguém está preparado para isso.
IHU On-Line – Esse vazamento no Golfo do México pode mudar de alguma forma a economia do petróleo?
Gerson Fauth – Eu entendo que não, não muda nada. Agora, o que muda é que haverá maiores estudos a respeito de aperfeiçoamento de técnicas para evitar esse tipo de problema no futuro. Na história da extração do petróleo no mundo, existiram vários vazamentos, mas nenhum tão intenso, tenso e catastrófico para o meio ambiente como esse. E também este vazamento no Golfo do México só está na mídia porque é nos EUA. A Nigéria está vivendo o mesmo problema e não está na mídia. O que é lamentável, pois sempre que uma catástrofe como essa acontecesse, a população e o mundo deveriam ser alertados.
Fonte: Envolverde - HU On-Line
Entrevista concedida em 08/07/2010
As informações que chegam à população são de que pelo menos cinco mil litros de óleo vazam diariamente do “buraco” do poço de petróleo que sofreu acidente no Golfo do México. Este volume é cinco vezes maior do que o estimado quando a plataforma que extraia óleo deste poço afundou. A IHU On-Line conversou com o professor de Geologia da Unisinos, Gerson Fauth, sobre as implicações técnicas para conter o vazamento e se há chances de ocorrer algo semelhante no Brasil, que, com o pré-sal, começa a investir pesado na extração de petróleo. A entrevista foi realizada por telefone.
“Nesse final de semana, uma tormenta forte deve chegar à região e empurrará o óleo em direção ao litoral. Esse vazamento deve levar até dois meses para ser estancado, e isso causará uma série de consequências no litoral sul dos Estados Unidos, principalmente para a população da Louisiana. Como essa região é pantanosa, o problema é mais grave ainda. Isso porque, se o óleo entrar nessa região de pântano, será impossível retirá-lo”, disse.
Gerson Fauth é mestre em Geociências pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e doutor em Geologia pela Universitat Heidelberg (Alemanha). Atualmente, é professor do PPG em Geologia da Unisinos, onde ministra as disciplinas de Bioestratigrafia e Ostracodes.
Confira a entrevista.
IHU On-Line – Para entendermos a questão do vazamento do petróleo no Golfo do México. Porque o processo de contenção do óleo é tão demorado?
Gerson Fauth – As condições de onde está sendo retirado esse óleo são de mar profundo. Existe uma série de dificuldades técnicas para se chegar a esse lugar e ter condições para pegar todo esse petróleo que está jorrando do poço. Este óleo, quando sai do “buraco” que se abriu, tende a migrar para a parte mais superficial, mais leve e, na medida em que sai do poço, se espalha bastante, impactando uma área gigantesca. A imprensa tem dito que eram cinco mil barris por dia, mas a conta pode ser muito maior do que essa.
IHU On-Line – Que implicações técnicas são necessárias para a contenção desse vazamento?
Gerson Fauth – A implicação técnica exata ninguém sabe ao certo. Esses tipos de problemas que ocorreram agora não são muito comuns. Ainda assim, há uma série de precauções que devem ser tomadas quando se vai perfurar para extrair o óleo, é preciso ter muitas válvulas e portas que são trancadas caso exista um erro. Comenta-se que uma determinada válvula que precisava ser colocada, não foi. A British Petroleum não tomou certas precauções para evitar problemas que decorreram nessa catástrofe ecológica. Ou seja, houve uma economia que causou esse problema. Quando é uma empresa séria, esse tipo de situação não ocorre.
IHU On-Line – Por quanto tempo se sofrerá com as consequências desse vazamento?
Gerson Fauth – Não se sabe ainda ao certo. Nesse final de semana, uma tormenta forte deve chegar à região, e ela deve empurrar o óleo em direção ao litoral. Esse vazamento levará até dois meses para ser estancado, e isso vai causar uma série de consequências no litoral sul dos Estados Unidos, principalmente para a população da Louisiana. Como essa região é pantanosa, o problema é mais grave ainda. Isso porque, se o óleo entrar nessa região de pântano, será impossível retirá-lo. Provavelmente, muitas gerações vão sofrer com as consequências desse desastre.
IHU On-Line – Que danos ambientais, especificamente, esse vazamento pode causar?
Gerson Fauth – Os mais prejudicados são os ambientes pantanosos no sul dos EUA. Dessa forma, o desastre atinge as aves que vivem sobre a água e a própria população ribeirinha que vive da pesca. Imagine um lugar pantanoso, muita água, pouca energia, poucas ondas, que é invadido por um óleo que bate nos troncos e nas folhas. Dificilmente ele vai ser retirado. A mesma coisa aconteceu no Alasca, só que num lugar pedregoso. Lá, as pedras foram “lavadas” e o problema praticamente solucionado. Como lavar um lugar pantanoso? Quando chega na areia é fácil de tirar, mas nos pântanos não.
IHU On-Line – Algo parecido pode acontecer no Brasil?
Gerson Fauth – É pouco provável. Bom, pode acontecer com qualquer sonda, qualquer plataforma no mundo em que não sejam tomadas as devidas precauções. As chances de isso acontecer no Brasil são pequenas, porque as empresas que trabalham aqui são mais sérias. No caso dos EUA, houve uma espécie de “quarteirização”, pois uma empresa cedeu à outra empresa, que cedeu para uma terceira. No final, ninguém se responsabilizou e assumiu a culpa. Mas a BP, que é uma das maiores petroleiras do mundo, está sendo culpada por ser a principal responsável por aquele poço, embora ela não estivesse naquele lugar, naquele momento.
IHU On-Line – O Brasil teria condições de amparar um problema assim?
Gerson Fauth – Nenhum país tem condições. Os EUA são o país mais rico do mundo, com melhor tecnologia, com os profissionais mais capacitados, e não conseguem resolver o problema. O presidente Obama está sendo humilhado por não conseguir contornar a situação. Ninguém está preparado para isso.
IHU On-Line – Esse vazamento no Golfo do México pode mudar de alguma forma a economia do petróleo?
Gerson Fauth – Eu entendo que não, não muda nada. Agora, o que muda é que haverá maiores estudos a respeito de aperfeiçoamento de técnicas para evitar esse tipo de problema no futuro. Na história da extração do petróleo no mundo, existiram vários vazamentos, mas nenhum tão intenso, tenso e catastrófico para o meio ambiente como esse. E também este vazamento no Golfo do México só está na mídia porque é nos EUA. A Nigéria está vivendo o mesmo problema e não está na mídia. O que é lamentável, pois sempre que uma catástrofe como essa acontecesse, a população e o mundo deveriam ser alertados.
Fonte: Envolverde - HU On-Line
Projetos podem prejudicar biodiversidade agrícola, dizem especialistas
Por Noéli Nobre e Verônica Lima, da Agência Câmara
Em audiência pública, Nazareno Fonteles defendeu a inconstitucionalidade da proposta (PL 268/07) que permite a alteração genética de sementes, a fim de torná-las estéreis.
Projetos de lei que tramitam na Câmara podem prejudicar os produtores e a biodiversidade da agricultura brasileira, segundo especialistas do setor. O assunto foi debatido nesta quinta-feira em audiência pública das comissões de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural; e de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável.
Entre as proposições criticadas está o PL 2325/07, que condiciona a venda de produtos agrícolas à autorização expressa do detentor da patente da cultivar utilizada para o plantio. Cultivar é a espécie vegetal certificada de acordo com a Lei de Proteção de Cultivares (9.456/97).
Outra medida contestada foi a proposta (substitutivo ao PL 268/07) que libera, em determinadas situações, o plantio, a comercialização e a pesquisa de sementes geneticamente modificadas para serem estéreis. Nesses casos, essas sementes não se reproduzem, impedindo que o agricultor possa utilizá-las em uma safra futura.
Apropriação de sementes
Na reunião, a promotora de Justiça do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) Juliana Santilli e a representante da Articulação Nacional de Agroecologia Larissa Packer afirmaram que os projetos incentivam a apropriação privada de sementes por grandes empresas multinacionais, impedindo o chamado “uso próprio” por agricultores. Com isso, o País tem de importar cultivares.
Outra consequência, conforme Larissa, é a redução da biodiversidade, uma vez que o agronegócio baseado na tecnologia privilegia a monocultura. “Até 2030, poderemos ter 75% das espécies animais e vegetais ameaçadas de extinção. Hoje, esse número é de 36%”, disse.
Santilli ressaltou que a agrobiodiversidade será essencial no enfrentamento dos efeitos das mudanças climáticas pelo País. “A diversidade permite que as espécies se adaptem às mudanças ambientais”, afirmou. A promotora sugeriu a criação de um fundo de apoio a programas de conservação da biodiversidade agrícola, formado com recursos da venda de sementes.
Pedido de arquivamento
O deputado Nazareno Fonteles (PT-PI), que sugeriu a audiência, pediu o arquivamento dos projetos. Fonteles disse que tem se reunido com autores e relatores para discutir o assunto. Caso as propostas sejam aprovadas pela Câmara, ele cogita apelar para a Justiça contra as medidas.
O parlamentar classificou as propostas como inconstitucionais, pois, segundo ele, qualquer prática que leve à redução do patrimônio genético e da diversidade de espécies está proibida pela Constituição.
Anteprojeto
O Ministério da Agricultura apresentou à Casa Civil um anteprojeto de lei que regula o acesso aos recursos genéticos, a fim de desenvolver novas raças de animais e variedades de plantas. “Esse projeto tem como foco promover o melhoramento genético, indistinto de onde ele ocorra (propriedade, empresa ou instituto de pesquisa), e principalmente resguardar as práticas tradicionais”, explicou o assessor de Propriedade Intelectual e Tecnologia da Agropecuária do ministério, Leontino Taveira.
Para os críticos, no entanto, o anteprojeto, assim como as propostas em análise na Câmara, restringe o direito ao livre uso da agrobiodiversidade.
Edição – Marcelo Oliveira
(Envolverde/Agência Câmara)
Em audiência pública, Nazareno Fonteles defendeu a inconstitucionalidade da proposta (PL 268/07) que permite a alteração genética de sementes, a fim de torná-las estéreis.
Projetos de lei que tramitam na Câmara podem prejudicar os produtores e a biodiversidade da agricultura brasileira, segundo especialistas do setor. O assunto foi debatido nesta quinta-feira em audiência pública das comissões de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural; e de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável.
Entre as proposições criticadas está o PL 2325/07, que condiciona a venda de produtos agrícolas à autorização expressa do detentor da patente da cultivar utilizada para o plantio. Cultivar é a espécie vegetal certificada de acordo com a Lei de Proteção de Cultivares (9.456/97).
Outra medida contestada foi a proposta (substitutivo ao PL 268/07) que libera, em determinadas situações, o plantio, a comercialização e a pesquisa de sementes geneticamente modificadas para serem estéreis. Nesses casos, essas sementes não se reproduzem, impedindo que o agricultor possa utilizá-las em uma safra futura.
Apropriação de sementes
Na reunião, a promotora de Justiça do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) Juliana Santilli e a representante da Articulação Nacional de Agroecologia Larissa Packer afirmaram que os projetos incentivam a apropriação privada de sementes por grandes empresas multinacionais, impedindo o chamado “uso próprio” por agricultores. Com isso, o País tem de importar cultivares.
Outra consequência, conforme Larissa, é a redução da biodiversidade, uma vez que o agronegócio baseado na tecnologia privilegia a monocultura. “Até 2030, poderemos ter 75% das espécies animais e vegetais ameaçadas de extinção. Hoje, esse número é de 36%”, disse.
Santilli ressaltou que a agrobiodiversidade será essencial no enfrentamento dos efeitos das mudanças climáticas pelo País. “A diversidade permite que as espécies se adaptem às mudanças ambientais”, afirmou. A promotora sugeriu a criação de um fundo de apoio a programas de conservação da biodiversidade agrícola, formado com recursos da venda de sementes.
Pedido de arquivamento
O deputado Nazareno Fonteles (PT-PI), que sugeriu a audiência, pediu o arquivamento dos projetos. Fonteles disse que tem se reunido com autores e relatores para discutir o assunto. Caso as propostas sejam aprovadas pela Câmara, ele cogita apelar para a Justiça contra as medidas.
O parlamentar classificou as propostas como inconstitucionais, pois, segundo ele, qualquer prática que leve à redução do patrimônio genético e da diversidade de espécies está proibida pela Constituição.
Anteprojeto
O Ministério da Agricultura apresentou à Casa Civil um anteprojeto de lei que regula o acesso aos recursos genéticos, a fim de desenvolver novas raças de animais e variedades de plantas. “Esse projeto tem como foco promover o melhoramento genético, indistinto de onde ele ocorra (propriedade, empresa ou instituto de pesquisa), e principalmente resguardar as práticas tradicionais”, explicou o assessor de Propriedade Intelectual e Tecnologia da Agropecuária do ministério, Leontino Taveira.
Para os críticos, no entanto, o anteprojeto, assim como as propostas em análise na Câmara, restringe o direito ao livre uso da agrobiodiversidade.
Edição – Marcelo Oliveira
(Envolverde/Agência Câmara)
quinta-feira, 8 de julho de 2010
sexta-feira, 2 de julho de 2010
Candidatos assumem compromissos em defesa da Emater/RS
A Frente de Defesa da Extensão Rural realizou nesta quinta-feira (1º) o Seminário Estadual SOS Emater – O presente e o futuro da Extensão Rural em Debate. Os trabalhadores da Casa atenderam ao chamado das entidades e lotaram o Teatro Dante Barone.
Entidades defendem maior investimento
Na abertura do seminário, os representantes das entidades que compõem a Frente de Defesa da Extensão Rural (ASAE, SEMAPI, SENGE, SINTARGS, FAZER, ASAPAS, AESR, AGC) destacaram a urgência de um plano de fortalecimento da empresa e a importância da união de todos em prol deste objetivo.
Também participaram da mesa de abertura o diretor da Emater Romeu Rodhi, o delegado do MDA/RS, Nilton Pinho de Bem, e o presidente da Comissão de Agricultura, Pecuária e Cooperativismo, deputado Edson Brum.
Depoimentos de agricultores emocionam
No início da tarde, após a entrega de alimentos trazidos pelos trabalhadores ao Banco de Alimentos, o seminário foi retomado com depoimentos de agricultores familiares. O produtor Eronito Vencato, de Tapes, ressaltou que sem a extensão rural os agricultores não sobreviveriam no campo. “Estamos vendo a falta de profissionais em muitos municípios. Os técnicos têm que se desdobrar. Muitas vezes deixam suas famílias de lado para estar lá nos atendendo. A Emater faz parte da família do produtor”.
Veja matéria na íntegra e fotos no site do SEMAPI: www.semapirs.com.br
Abaixo, reveja vídeo que registra a já incansável luta dos(as) trabalhadores(as) da EMATER/RS, em 2007, em defesa da extensão rural e da agricultura familiar. Belo trabalho feito pela Engenho Comunicação e Arte. Meu destaque para a escolha da música.
quinta-feira, 1 de julho de 2010
Cooperativa opera pequenas centrais hidrelétricas com baixo impacto ambiental
Um sistema de geração de energia instalado no norte do Estado virou exemplo de prática sustentável para o mundo. O modelo de represas para abastecimento de hidrelétricas da Cooperativa de Distribuição de Energia (Creluz), de Pinhal, foi reconhecida por uma ONG britânica pelo uso adequado dos recursos naturais.
A cerimônia de premiação será amanhã, em Londres, com o anúncio do projeto vencedor. A cooperativa gaúcha é a única finalista que produz energia por meio de usinas hidrelétricas, em um sistema que não necessita de grandes represas. São seis Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs), movidas pela água dos rios, evitando alagar grandes áreas e retirar famílias de suas propriedades.
– Quando se fala em usinas hidrelétricas, as pessoas imaginam um ecossistema que se perde e famílias que precisam ir embora. Mas não é o que acontece aqui. A água do rio é aproveitada com o menor impacto possível – ressalta Joviano Perotti, assessor de gestão ambiental da cooperativa.
Com o sistema, a Creluz gera e distribui energia para cerca de 20 mil famílias em 36 cidades da Região Norte. Cerca de 70% dos associados da Creluz são agricultores, e o grupo também atende a reservas indígenas em Liberato Salzano e Iraí, em parceria com o programa federal Luz Para Todos.
– Além do mínimo impacto ambiental, chamou a atenção da ONG o preço da energia, que não é reajustado há seis anos para o associado e até teve redução – explica Elemar Battisti, presidente do Grupo Creluz.
Modelo para o mundo
O PRÊMIO
- A distinção é concedida pela Ashden Awards, ONG fundada em 2001 que incentiva a geração de energia limpa, renovável e sustentável em países da América Latina, África e Ásia, além do Reino Unido. Nesta edição do prêmio, concorreram 104 projetos de 49 países.
- Em fevereiro, um juiz do prêmio visitou as seis usinas e entrevistou associados. Em março, a ONG anunciou que a cooperativa gaúcha havia sido selecionada como uma entre as seis finalistas.
- Em maio, um documentarista da BBC de Londres esteve na região para gravar um documentário de cinco minutos, que será apresentado amanhã, durante a cerimônia de premiação.
OS OUTROS FINALISTAS
- Índia, D. Light Design: projeto de lanternas solares com preço acessível.
- Nicarágua, Tecnosol: energia solar em estabelecimentos médicos.
- Vietnã,Ministério da Agricultura e do Desenvolvimento Rural: distribuição em larga escala da tecnologia de produção de biogás.
- Quênia, Sky Link Innovators: popularização do uso de biogás para cozinha
- África Sub-saariana (Uganda), Rural Energy Foundation: projeto de estimulo à prática sustentável para produção de energia solar.
A CRELUZ
- É uma cooperativa fundada em 1966, com sede em Pinhal, no norte gaúcho.
- Até o ano 2000, operava apenas com a distribuição de energia de outras empresas.
- Atualmente, tem seis usinas em Taquaruçu do Sul, Seberi, Palmeira das Missões, Erval Seco, Cristal do Sul e Novo Tiradentes.
A cerimônia de premiação será amanhã, em Londres, com o anúncio do projeto vencedor. A cooperativa gaúcha é a única finalista que produz energia por meio de usinas hidrelétricas, em um sistema que não necessita de grandes represas. São seis Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs), movidas pela água dos rios, evitando alagar grandes áreas e retirar famílias de suas propriedades.
– Quando se fala em usinas hidrelétricas, as pessoas imaginam um ecossistema que se perde e famílias que precisam ir embora. Mas não é o que acontece aqui. A água do rio é aproveitada com o menor impacto possível – ressalta Joviano Perotti, assessor de gestão ambiental da cooperativa.
Com o sistema, a Creluz gera e distribui energia para cerca de 20 mil famílias em 36 cidades da Região Norte. Cerca de 70% dos associados da Creluz são agricultores, e o grupo também atende a reservas indígenas em Liberato Salzano e Iraí, em parceria com o programa federal Luz Para Todos.
– Além do mínimo impacto ambiental, chamou a atenção da ONG o preço da energia, que não é reajustado há seis anos para o associado e até teve redução – explica Elemar Battisti, presidente do Grupo Creluz.
Modelo para o mundo
O PRÊMIO
- A distinção é concedida pela Ashden Awards, ONG fundada em 2001 que incentiva a geração de energia limpa, renovável e sustentável em países da América Latina, África e Ásia, além do Reino Unido. Nesta edição do prêmio, concorreram 104 projetos de 49 países.
- Em fevereiro, um juiz do prêmio visitou as seis usinas e entrevistou associados. Em março, a ONG anunciou que a cooperativa gaúcha havia sido selecionada como uma entre as seis finalistas.
- Em maio, um documentarista da BBC de Londres esteve na região para gravar um documentário de cinco minutos, que será apresentado amanhã, durante a cerimônia de premiação.
OS OUTROS FINALISTAS
- Índia, D. Light Design: projeto de lanternas solares com preço acessível.
- Nicarágua, Tecnosol: energia solar em estabelecimentos médicos.
- Vietnã,Ministério da Agricultura e do Desenvolvimento Rural: distribuição em larga escala da tecnologia de produção de biogás.
- Quênia, Sky Link Innovators: popularização do uso de biogás para cozinha
- África Sub-saariana (Uganda), Rural Energy Foundation: projeto de estimulo à prática sustentável para produção de energia solar.
A CRELUZ
- É uma cooperativa fundada em 1966, com sede em Pinhal, no norte gaúcho.
- Até o ano 2000, operava apenas com a distribuição de energia de outras empresas.
- Atualmente, tem seis usinas em Taquaruçu do Sul, Seberi, Palmeira das Missões, Erval Seco, Cristal do Sul e Novo Tiradentes.
sábado, 26 de junho de 2010
Sete mitos fatais da agricultura industrial
Mito Um
A agricultura industrial vai alimentar o mundo.
A verdade
A fome no mundo não é causada por falta de alimentos, mas pela pobreza e pela falta de terra que impedem o acesso à comida. Na realidade a alimentação industrial aumenta a fome ao aumentar o custo do cultivo, ao expulsar dezenas de milhões de agricultores de suas terras e ao cultivar principalmente colheitas lucrativas para exportação e luxo.
Como alimentar um mundo faminto? Transformando cada terreno vazio em um canteiro.
Mito Dois
Alimentos industrializados são seguros, saudáveis e nutritivos.
A verdade
A agricultura industrial contamina vegetais e frutas com pesticidas e introduz hormônios de crescimento geneticamente manipulados no leite. Não é surpresa que o câncer, doenças provocadas pela alimentação e obesidade estejam alcançando picos nunca vistos.
Não há nada de seguro no uso rotineiro de fumigantes com brometo de metila e cloropicrim.
Milho consorciado com amarante e leguminosas em base de rotação dispensa pesticidas e adubos químicos para aumentar a fertilidade do solo
Mito Três
A alimentação industrializada é barata.
A verdade
Se você acrescentar o custo real dos alimentos industrializados — seus custos para a saúde, o meio ambiente e os custos sociais — nem nossos cidad ãos mais ricos teriam meios de pagá-los.
Um coquetel químico cobre filas intermináveis de feijão. O "sucesso" comercial da industria de pesticidas exige um custo muito elevado em ecossistemas e saúde humana
A orgia de cores e sabores atrai as pessoa para a feira dos agricultores. Amigos e vizinhos se reúnem para comprar, encontrar-se e celebrar as "estrelas" da estação. Estes são alimentos verdadeiros a preços verdadeiros
Mito Quatro
A agricultura industrializada é eficaz.
A Verdade
Pequenas propriedades produzem mais alimentos por área do que as grandes fazendas. Além disso, fazendas maiores, não diversificadas, requerem maior quantidade de máquinas e produtos químicos. Esta quantidade crescente de insumos está destruindo o meio ambiente e, muitas vezes, levam o agricultor à falência.
Um campo de mil acres,
sem uma única erva daninha à vista, indica o uso nocivo de pesticidas e herbicidas
Cada paisagem contém uma história. Fileiras de colheitas variadas indicam que a roça é diversificada, em pequena escala, permitindo que os predadores e os polinizadores naturais realizem a sua tarefa
Mito Cinco
Os alimentos industrializados oferecem mais variedades.
A Verdade
O que o consumidor realmente recebe no supermercado é uma escolha ilusória. A variedade de produtos nas prateleiras dos supermercados esconde na verdade uma perda trágica de dezenas de milhares de espécies causada pela agricultura industrial.
80,6% das variedades conhecidas de tomates foram
perdidas entre 1903 e 1983
Mito Seis
Agricultura industrial beneficia o meio ambiente e a fauna.
A Verdade
A agricultura industrial é a maior ameaça à biodiversidade.
Mito Sete
A biotecnologia vai resolver os problemas da agricultura industrializada.
A Verdade
A biotecnologia vai destruir a biodiversidade e segurança alimentar e vai forçar os agricultores a deixarem suas terras, consolidando o controle da oferta mundial de alimentos na mão de algumas poucas corporações enormes.
Fonte: Resurgence nº 217, março/abril 2003. Extraído do livro Fatal Harvest
editado por Andrew Kimbrell, Island Press, 2002 www.islandpress.org
A agricultura industrial vai alimentar o mundo.
A verdade
A fome no mundo não é causada por falta de alimentos, mas pela pobreza e pela falta de terra que impedem o acesso à comida. Na realidade a alimentação industrial aumenta a fome ao aumentar o custo do cultivo, ao expulsar dezenas de milhões de agricultores de suas terras e ao cultivar principalmente colheitas lucrativas para exportação e luxo.
Como alimentar um mundo faminto? Transformando cada terreno vazio em um canteiro.
Mito Dois
Alimentos industrializados são seguros, saudáveis e nutritivos.
A verdade
A agricultura industrial contamina vegetais e frutas com pesticidas e introduz hormônios de crescimento geneticamente manipulados no leite. Não é surpresa que o câncer, doenças provocadas pela alimentação e obesidade estejam alcançando picos nunca vistos.
Não há nada de seguro no uso rotineiro de fumigantes com brometo de metila e cloropicrim.
Milho consorciado com amarante e leguminosas em base de rotação dispensa pesticidas e adubos químicos para aumentar a fertilidade do solo
Mito Três
A alimentação industrializada é barata.
A verdade
Se você acrescentar o custo real dos alimentos industrializados — seus custos para a saúde, o meio ambiente e os custos sociais — nem nossos cidad ãos mais ricos teriam meios de pagá-los.
Um coquetel químico cobre filas intermináveis de feijão. O "sucesso" comercial da industria de pesticidas exige um custo muito elevado em ecossistemas e saúde humana
A orgia de cores e sabores atrai as pessoa para a feira dos agricultores. Amigos e vizinhos se reúnem para comprar, encontrar-se e celebrar as "estrelas" da estação. Estes são alimentos verdadeiros a preços verdadeiros
Mito Quatro
A agricultura industrializada é eficaz.
A Verdade
Pequenas propriedades produzem mais alimentos por área do que as grandes fazendas. Além disso, fazendas maiores, não diversificadas, requerem maior quantidade de máquinas e produtos químicos. Esta quantidade crescente de insumos está destruindo o meio ambiente e, muitas vezes, levam o agricultor à falência.
Um campo de mil acres,
sem uma única erva daninha à vista, indica o uso nocivo de pesticidas e herbicidas
Cada paisagem contém uma história. Fileiras de colheitas variadas indicam que a roça é diversificada, em pequena escala, permitindo que os predadores e os polinizadores naturais realizem a sua tarefa
Mito Cinco
Os alimentos industrializados oferecem mais variedades.
A Verdade
O que o consumidor realmente recebe no supermercado é uma escolha ilusória. A variedade de produtos nas prateleiras dos supermercados esconde na verdade uma perda trágica de dezenas de milhares de espécies causada pela agricultura industrial.
80,6% das variedades conhecidas de tomates foram
perdidas entre 1903 e 1983
Mito Seis
Agricultura industrial beneficia o meio ambiente e a fauna.
A Verdade
A agricultura industrial é a maior ameaça à biodiversidade.
Mito Sete
A biotecnologia vai resolver os problemas da agricultura industrializada.
A Verdade
A biotecnologia vai destruir a biodiversidade e segurança alimentar e vai forçar os agricultores a deixarem suas terras, consolidando o controle da oferta mundial de alimentos na mão de algumas poucas corporações enormes.
Fonte: Resurgence nº 217, março/abril 2003. Extraído do livro Fatal Harvest
editado por Andrew Kimbrell, Island Press, 2002 www.islandpress.org
sexta-feira, 25 de junho de 2010
quarta-feira, 23 de junho de 2010
Não aguento mais rúcula
Daniela Gomes Pinto*
Uma das coisas que credito à globalização – e sou grata a ela – é a combinação rúcula-tomate seco-muzzarela de búfala. O trio é banal hoje em dia. Você encontra os ingredientes em qualquer mercado e no cardápio de todo restaurante. Mas quem tem mais de 30 anos deve lembrar: quando éramos crianças, esses ingredientes não existiam nos supermercados. Tínhamos nossas alfaces, mas nada equiparado à rúcula. Tínhamos nossos tomates, mas nada igual ao tomate seco. O mundo globalizado colocou em nossa mesa a mesma comida dos pequenos vilarejos italianos. Mas não necessariamente diversificou nosso cardápio.
A ideia de que só a agricultura industrial poderia dar conta de alimentar o planeta todo é um dos grandes mitos da globalização. Seus defensores idolatram o avanço tecnológico da produção alimentícia em grande escala, que soube superar as limitações relacionadas às estações do ano, às localidades geográficas, aos riscos de pragas. O resultado? Você pode comprar sua rúcula em qualquer lugar, em qualquer época do ano. O problema? Ai de você se bater uma saudade das alfaces de antigamente. Daqui a pouco, elas não existirão mais.
A variedade conhecida no Brasil como “alface americana”, famosa pela sua absoluta falta de sabor na minha humilde opinião, foi responsável na última década por mais de 70% de toda a produção de alface nos Estados Unidos. No percurso, os americanos extinguiram uma centena de outras variedades, de amargas a doces, de roxaescuras a verde-claras. O mesmo acontece com as maçãs. Graças aos processos industriais, temos hoje acesso às maçãs vermelhas americanas o ano todo. Mas o preço foi alto. Não se encontram mais os milhares de variedades que existiam até o século passado. Apenas duas variedades são responsáveis por mais de 50% do mercado americano.
Quem levanta esses dados é Andrew Kimbrell, organizador do livro Fatal Harvest, que acusa a monocultura da agricultura industrial de ter reduzido a diversidade natural de praticamente toda produção agrícola em termos de tamanho, cor e sabor. De novo, resgatemos a memória dos trintões. Nós chegamos a conhecer o sabor verdadeiro dos morangos, pequenos e feios nas prateleiras. Hoje, o morango é igual em todo o lugar: tamanho acintoso, brilho ofuscante, sabor medíocre.
A limitação trazida pela agricultura industrial globalizada não é apenas ruim para nosso cardápio. Ela reduz as escolhas das futuras gerações. Recentemente o jornal The New York Times relatou a expedição do cientista Andrey Sabitov à uma remota ilha na Rússia. Um lugar inóspito e frio.
Depois de três dias de caminhada, ele atingiu o vulcão Atsonupuri, para encontrar o que foi buscar: o morango silvestre Fragaria iturupensis, uma variedade não domesticada, parte de um esforço internacional de proteção de sementes ligado às preocupações com as mudanças climáticas. O aquecimento global, as secas e o aumento da salinidade das águas devem extinguir muitas variedades agrícolas.
Uma operação importante, portanto, é salvar sementes de variedades com maior potencial de sobreviver às alterações climáticas. E adivinhe. Frequentemente, as variedades selvagens mostram muito mais adaptabilidade do que as domesticadas.
Colorido sem graça
O problema é que, no passo que estamos, as variedades simplesmente não existirão para contar a sua história. A Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) estima que no último século perdemos 75% de toda a diversidade genética agrícola mundial. Segundo pesquisa da Rural Advancement Foundation International, em apenas 80 anos – entre 1903 e 1983 - os inventários de estoques de sementes diminuíram vertiginosamente. Perdemos 96% das variedades de milho, 95% das variedades de tomates e 98% da variedades de aspargos.
Por isso, a paisagem do supermercado é traiçoeira. Aquele colorido todo não representa, na prática, tanta diversidade. A indústria alimentícia aperfeiçoou-se em variações sobre os mesmos temas: milho, soja, trigo e arroz. Dois terços de todas as calorias ingeridas pelo homem vêm deles. É uma simplificação radical das potencialidades da alimentação. Mas a matemática serve ao mundo moderno. Temos hoje variedade apenas dos alimentos que atingiram em escala mundial eficiência na plantação, colheita, distribuição e embalagem. E é possível contar nas mãos as empresas detentoras das marcas.
O ciclo é vicioso. Grandes empresas atingem um nível de distribuição em escala mundial que atende as grandes redes de supermercado, que, por sua vez, facilitam o trabalho das compras dos restaurantes. Alimentos mais regionais, peculiares e menos eficientes, não chegam às prateleiras. Comprar de pequenos agricultores dá trabalho, custa mais caro e impõe riscos. Mas o consumidor agradece. Acredite. Pode chegar o dia em que você, assim como eu, não vai mais aguentar rúcula.
* Pesquisadora do Gvces e mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente pela London Schoolof Economics and Political Science
Uma das coisas que credito à globalização – e sou grata a ela – é a combinação rúcula-tomate seco-muzzarela de búfala. O trio é banal hoje em dia. Você encontra os ingredientes em qualquer mercado e no cardápio de todo restaurante. Mas quem tem mais de 30 anos deve lembrar: quando éramos crianças, esses ingredientes não existiam nos supermercados. Tínhamos nossas alfaces, mas nada equiparado à rúcula. Tínhamos nossos tomates, mas nada igual ao tomate seco. O mundo globalizado colocou em nossa mesa a mesma comida dos pequenos vilarejos italianos. Mas não necessariamente diversificou nosso cardápio.
A ideia de que só a agricultura industrial poderia dar conta de alimentar o planeta todo é um dos grandes mitos da globalização. Seus defensores idolatram o avanço tecnológico da produção alimentícia em grande escala, que soube superar as limitações relacionadas às estações do ano, às localidades geográficas, aos riscos de pragas. O resultado? Você pode comprar sua rúcula em qualquer lugar, em qualquer época do ano. O problema? Ai de você se bater uma saudade das alfaces de antigamente. Daqui a pouco, elas não existirão mais.
A variedade conhecida no Brasil como “alface americana”, famosa pela sua absoluta falta de sabor na minha humilde opinião, foi responsável na última década por mais de 70% de toda a produção de alface nos Estados Unidos. No percurso, os americanos extinguiram uma centena de outras variedades, de amargas a doces, de roxaescuras a verde-claras. O mesmo acontece com as maçãs. Graças aos processos industriais, temos hoje acesso às maçãs vermelhas americanas o ano todo. Mas o preço foi alto. Não se encontram mais os milhares de variedades que existiam até o século passado. Apenas duas variedades são responsáveis por mais de 50% do mercado americano.
Quem levanta esses dados é Andrew Kimbrell, organizador do livro Fatal Harvest, que acusa a monocultura da agricultura industrial de ter reduzido a diversidade natural de praticamente toda produção agrícola em termos de tamanho, cor e sabor. De novo, resgatemos a memória dos trintões. Nós chegamos a conhecer o sabor verdadeiro dos morangos, pequenos e feios nas prateleiras. Hoje, o morango é igual em todo o lugar: tamanho acintoso, brilho ofuscante, sabor medíocre.
A limitação trazida pela agricultura industrial globalizada não é apenas ruim para nosso cardápio. Ela reduz as escolhas das futuras gerações. Recentemente o jornal The New York Times relatou a expedição do cientista Andrey Sabitov à uma remota ilha na Rússia. Um lugar inóspito e frio.
Depois de três dias de caminhada, ele atingiu o vulcão Atsonupuri, para encontrar o que foi buscar: o morango silvestre Fragaria iturupensis, uma variedade não domesticada, parte de um esforço internacional de proteção de sementes ligado às preocupações com as mudanças climáticas. O aquecimento global, as secas e o aumento da salinidade das águas devem extinguir muitas variedades agrícolas.
Uma operação importante, portanto, é salvar sementes de variedades com maior potencial de sobreviver às alterações climáticas. E adivinhe. Frequentemente, as variedades selvagens mostram muito mais adaptabilidade do que as domesticadas.
Colorido sem graça
O problema é que, no passo que estamos, as variedades simplesmente não existirão para contar a sua história. A Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) estima que no último século perdemos 75% de toda a diversidade genética agrícola mundial. Segundo pesquisa da Rural Advancement Foundation International, em apenas 80 anos – entre 1903 e 1983 - os inventários de estoques de sementes diminuíram vertiginosamente. Perdemos 96% das variedades de milho, 95% das variedades de tomates e 98% da variedades de aspargos.
Por isso, a paisagem do supermercado é traiçoeira. Aquele colorido todo não representa, na prática, tanta diversidade. A indústria alimentícia aperfeiçoou-se em variações sobre os mesmos temas: milho, soja, trigo e arroz. Dois terços de todas as calorias ingeridas pelo homem vêm deles. É uma simplificação radical das potencialidades da alimentação. Mas a matemática serve ao mundo moderno. Temos hoje variedade apenas dos alimentos que atingiram em escala mundial eficiência na plantação, colheita, distribuição e embalagem. E é possível contar nas mãos as empresas detentoras das marcas.
O ciclo é vicioso. Grandes empresas atingem um nível de distribuição em escala mundial que atende as grandes redes de supermercado, que, por sua vez, facilitam o trabalho das compras dos restaurantes. Alimentos mais regionais, peculiares e menos eficientes, não chegam às prateleiras. Comprar de pequenos agricultores dá trabalho, custa mais caro e impõe riscos. Mas o consumidor agradece. Acredite. Pode chegar o dia em que você, assim como eu, não vai mais aguentar rúcula.
* Pesquisadora do Gvces e mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente pela London Schoolof Economics and Political Science
terça-feira, 15 de junho de 2010
Sustentabilidade Humana
Por Demétrio Sena (*)
Saberes são sabores que advêm das vivências capazes de nos amadurecer.
Seria um sofrimento inexplicável não sofrer. Implicaria não ter ideia do que é sentir um alívio ou superar uma dor. São as sensações, boas ou ruins, que tornam o ser humano completo e o dotam de saberes que dão sentido à vida. Saberes são sabores que advêm das vivências capazes de amadurecer o espírito, a mente, o caráter, para que o corpo não passe pelo mundo como casca inútil cuja polpa nunca teve dulçor. Não teve, porque jamais amadureceu; foi de verde a podre, pulando estágios essenciais ao ser.
O alimento é precioso por existir a fome; a água, por existir a sede. O sono, porque há o cansaço. Logo, só existe o triunfo do soerguimento se houver antes a queda. Nenhuma dessas preciosidades valeria qualquer coisa sem a existência do seu oposto. E não é de coisas divinas que falo aqui. Sequer do próprio possível Deus. Falo das evidências que saltam aos olhos e quase sempre não queremos ver, porque nossa preguiça de viver está sempre à espera das facilidades que os vermes, os fungos e as bactérias também buscam. Com sucesso, porque é de suas naturezas e porque tudo apodrece, tornando-se nutrientes naturais de parasitas e afins. Também não me refiro aos autoflagelos nem aos sacrifícios e sofrimentos buscados como táticas artificiais e hipócritas de puruficação pessoal.
Refiro-me à coragem, à determinação para lutar contra os percalços, adversidades, tristezas e muitas frustrações que são mesmo próprios do existir e não visam méritos ou escolhem nas classes, etnias e culturas quem sofrerá o quê. Sendo assim, devemos dispensar as desventuras evitáveis e combater os efeitos aviltantes daquelas que nada pode anular quando vêm. Isto se chama equilíbrio; sustentabilidade humana. E todo esse exercício deve ser empreendido não apenas com vistas ao eu, mas também (e principalmente) ao nós. O mundo não é um indivíduo. É um coletivo no qual todos podem se ferir de alguma forma, quando algo foge do rumo.
Se todos nós aprendermos a fazer algo pelo outro ou por nós mesmos em razão do todo, seremos uma sociedade sadia; que sabe vencer os desafios e desafiar novos horizontes, mistérios e surpresas que nunca deixarão de surgir.
* Demétrio Sena é educador lotado no CIEP 327, Suruí - Magé - RJ, palestrante e membro da Academia Mageense de Letras
(Envolverde/Pauta Social)
domingo, 6 de junho de 2010
Sabores em risco
por Priscilla Santos
Revista Vida Simples
Não só animais estão ameaçados de extinção. No Brasil, há diversos alimentos perigando desaparecer – levando junto tradições culturais e memórias gastronômicas
No caminho para casa, Carlo decidiu parar no restaurante de um velho amigo com o intuito de se recuperar de uma extenuante viagem com o afago de um prato de peperonata, ensopado italiano salpicado por um pimentão doce e carnudo da variedade “quadrado d’Asti”. Para seu desalento, o que provou foi o empobrecimento do gosto daquela receita dos deuses, sendo que a qualidade do chef era inquestionável. Decepcionado, descobriu que aqueles pimentões perfumados e polpudos que povoavam sua memória gustativa quase não eram mais produzidos na região. No lugar deles, variedades insossas cultivadas em larga escala na Holanda haviam extorquido a originalidade da receita. “São mais baratos e ninguém compra os nossos”, lhe explicou, mais tarde, um ex-produtor dos pimentões de Asti, que sorriu ao dizer que agora cultiva bulbos de tulipas e os envia à Holanda para florescer.
A concorrência dos alimentos produzidos em larga escala é apenas uma das causas que colocam cerca de 800 produtos em uma lista mundial de alimentos em risco de desaparecer. Isso mesmo: assim como animais, ingredientes também podem estar em processo de extinção, afinal, são frutos da natureza. O catálogo internacional chama-se Arca do Gosto, numa referência à metáfora bíblica da Arca de Noé. Foi elaborado e é atualizado constantemente por chefs de cozinha, agrônomos, cientistas da alimentação, jornalistas e antropólogos, que se voluntariam em um projeto da Fundação Slow Food pela Biodiversidade, presidida por Carlo Petrini, o Carlo, que não se conformou com o sumiço dos pimentões de Asti.
Para entrar na lista, um ingrediente ou alimento processado precisa não só estar em risco de sumir do mapa mas ter sabor especial, ser produzido em pequena escala de forma artesanal e estar ligado à memória e à identidade dos habitantes de certa região. “Para mim, como italiano, perder um queijo é como amputar uma igreja gótica ou um castelo medieval, pois gerações de pessoas trabalharam com esse alimento, é um patrimônio identitário, sem ele somos pobres”, diz Petrini.
Revista Vida Simples
Não só animais estão ameaçados de extinção. No Brasil, há diversos alimentos perigando desaparecer – levando junto tradições culturais e memórias gastronômicas
No caminho para casa, Carlo decidiu parar no restaurante de um velho amigo com o intuito de se recuperar de uma extenuante viagem com o afago de um prato de peperonata, ensopado italiano salpicado por um pimentão doce e carnudo da variedade “quadrado d’Asti”. Para seu desalento, o que provou foi o empobrecimento do gosto daquela receita dos deuses, sendo que a qualidade do chef era inquestionável. Decepcionado, descobriu que aqueles pimentões perfumados e polpudos que povoavam sua memória gustativa quase não eram mais produzidos na região. No lugar deles, variedades insossas cultivadas em larga escala na Holanda haviam extorquido a originalidade da receita. “São mais baratos e ninguém compra os nossos”, lhe explicou, mais tarde, um ex-produtor dos pimentões de Asti, que sorriu ao dizer que agora cultiva bulbos de tulipas e os envia à Holanda para florescer.
A concorrência dos alimentos produzidos em larga escala é apenas uma das causas que colocam cerca de 800 produtos em uma lista mundial de alimentos em risco de desaparecer. Isso mesmo: assim como animais, ingredientes também podem estar em processo de extinção, afinal, são frutos da natureza. O catálogo internacional chama-se Arca do Gosto, numa referência à metáfora bíblica da Arca de Noé. Foi elaborado e é atualizado constantemente por chefs de cozinha, agrônomos, cientistas da alimentação, jornalistas e antropólogos, que se voluntariam em um projeto da Fundação Slow Food pela Biodiversidade, presidida por Carlo Petrini, o Carlo, que não se conformou com o sumiço dos pimentões de Asti.
Para entrar na lista, um ingrediente ou alimento processado precisa não só estar em risco de sumir do mapa mas ter sabor especial, ser produzido em pequena escala de forma artesanal e estar ligado à memória e à identidade dos habitantes de certa região. “Para mim, como italiano, perder um queijo é como amputar uma igreja gótica ou um castelo medieval, pois gerações de pessoas trabalharam com esse alimento, é um patrimônio identitário, sem ele somos pobres”, diz Petrini.
segunda-feira, 31 de maio de 2010
Entidades lançam Rede pela sustentabilidade nas cidades nesta terça
Atividades de mobilização iniciam em 1º de junho, na Casa dos Bancários, em Porto Alegre.
Mostra de vídeos, exposições, debates. Essas e outras atividades estão previstas para acontecer em Porto Alegre a partir do dia 1º de junho, antecedendo a Semana do Meio Ambiente. Os eventos devem ser realizados durante o ano, através da série de encontros Ciclo 21, organizado por ativistas sociais e ambientais. “Pretendemos formar uma rede permanente de mobilização pela sustentabilidade, discutindo o futuro que queremos para nossas cidades”, revela Paulo Mendes Filho, diretor do Semapi e secretário de Meio Ambiente da CUT/RS.
VEJA MAIS EM: www.semapirs.com.br
Mostra de vídeos, exposições, debates. Essas e outras atividades estão previstas para acontecer em Porto Alegre a partir do dia 1º de junho, antecedendo a Semana do Meio Ambiente. Os eventos devem ser realizados durante o ano, através da série de encontros Ciclo 21, organizado por ativistas sociais e ambientais. “Pretendemos formar uma rede permanente de mobilização pela sustentabilidade, discutindo o futuro que queremos para nossas cidades”, revela Paulo Mendes Filho, diretor do Semapi e secretário de Meio Ambiente da CUT/RS.
VEJA MAIS EM: www.semapirs.com.br
quinta-feira, 27 de maio de 2010
terça-feira, 25 de maio de 2010
Oficina Gastronômica - Rede EcoSindical
Dia 22 de maio de 2010 realizamos no SEMAPI uma “Oficina Gastronômica”, parte das atividades de formação do Projeto Cultura Ambiental, Consumo e Sustentabilidade, as bases para a formação de uma Rede EcoSindical.
A atividade contou com a participação do Ecólogo Felipe Amaral, do Instituto Biofilia, das nutricionistas Regina Miranda, Presidenta do CONSEA – Conselho de Segurança e Soberania Alimentar do RS e Cláudia Lulkin, eco-nutricionista vegana, que vem resistindo a homogenização dos alimentos e lutando por uma agricultura orgânica desde a Cooperativa COLMÉIA, década de 1980.
A primeira fala da Oficina foi de Felipe Amaral. Sua abordagem foi sobre a BIODIVERSIDADE, considerando que no dia 22 de maio comemora-se o seu dia.
Após, Regina Miranda fez a sua intervenção cuja abordagem destacou os aspectos nutricionais dos alimentos industrializados e sobre o seu impacto na saúde humana, além de demonstrar como podemos recolher em nossa cultura alimentar, livre de processamentos e agrotóxicos, os nutrientes necessários para a nossa saúde.
Na sequência, o trabalho transferiu-se para a cozinha do SEMAPI. Cláudia Lulkin, a partir dos alimentos, criteriosamente selecionados, mostrou como podemos cozinhar em nosso cotidiano, atendendo nossas necessidades nutricionais, a baixo custo, ao mesmo tempo em que contribuímos para o desenvolvimento local e para o fortalecimento da agricultura familiar de base ecológica.
Todos (as) com a mão na massa. Deliciosamente ouvimos, interagimos e elaboramos o nosso almoço. Foi um grande momento. Aprendemos que o prazer nas nossas refeições pode ser encontrado nos produtos mais tradicionais e ao nosso alcance. Produtos da época nos quais as nossas avós eram especialistas. E que essa é uma herança que não podemos e não devemos desprezar. Já dizia, e diz, Michael Pollan, jornalista norte-americano, autor do “Dilema do Onívoro”, “não coma nada que sua avó não reconheceria como comida”.
Aprendemos mais. Cozinhar, estarmos à volta da mesa e criarmos situações que envolvam nossos (as) filhos (as), nossos companheiros (as), nossa família na elaboração e degustação de uma boa comida regional, com produtos locais, tem um valor que ainda somos incapazes de dimensionar.
Vamos pensar sobre isso?
Abaixo as fotos que retratam o nosso sábado.
Um grande abraço.
Iara Aragonez.
A atividade contou com a participação do Ecólogo Felipe Amaral, do Instituto Biofilia, das nutricionistas Regina Miranda, Presidenta do CONSEA – Conselho de Segurança e Soberania Alimentar do RS e Cláudia Lulkin, eco-nutricionista vegana, que vem resistindo a homogenização dos alimentos e lutando por uma agricultura orgânica desde a Cooperativa COLMÉIA, década de 1980.
A primeira fala da Oficina foi de Felipe Amaral. Sua abordagem foi sobre a BIODIVERSIDADE, considerando que no dia 22 de maio comemora-se o seu dia.
Após, Regina Miranda fez a sua intervenção cuja abordagem destacou os aspectos nutricionais dos alimentos industrializados e sobre o seu impacto na saúde humana, além de demonstrar como podemos recolher em nossa cultura alimentar, livre de processamentos e agrotóxicos, os nutrientes necessários para a nossa saúde.
Na sequência, o trabalho transferiu-se para a cozinha do SEMAPI. Cláudia Lulkin, a partir dos alimentos, criteriosamente selecionados, mostrou como podemos cozinhar em nosso cotidiano, atendendo nossas necessidades nutricionais, a baixo custo, ao mesmo tempo em que contribuímos para o desenvolvimento local e para o fortalecimento da agricultura familiar de base ecológica.
Todos (as) com a mão na massa. Deliciosamente ouvimos, interagimos e elaboramos o nosso almoço. Foi um grande momento. Aprendemos que o prazer nas nossas refeições pode ser encontrado nos produtos mais tradicionais e ao nosso alcance. Produtos da época nos quais as nossas avós eram especialistas. E que essa é uma herança que não podemos e não devemos desprezar. Já dizia, e diz, Michael Pollan, jornalista norte-americano, autor do “Dilema do Onívoro”, “não coma nada que sua avó não reconheceria como comida”.
Aprendemos mais. Cozinhar, estarmos à volta da mesa e criarmos situações que envolvam nossos (as) filhos (as), nossos companheiros (as), nossa família na elaboração e degustação de uma boa comida regional, com produtos locais, tem um valor que ainda somos incapazes de dimensionar.
Vamos pensar sobre isso?
Abaixo as fotos que retratam o nosso sábado.
Um grande abraço.
Iara Aragonez.
terça-feira, 18 de maio de 2010
Um mundo que ninguém viu e nem verá jamais, na RBS…
BRASIL RURAL CONTEMPORÂNEO
Durante quatro dias Porto Alegre foi palco de uma grande festa. A festa dos trabalhadores e trabalhadoras que produzem o alimento nosso de cada dia. Uma festa que representa uma realidade que ninguém viu, ninguém vê e ninguém verá nos meios de comunicação monopolizados.Quem têm alguma dúvida disso é só reler as edições de Zero Hora durante os quatro dias da feira Brasil Rural Contemporâneo, realizado no Cais do Porto. Isso porque esse Brasil Rural Comtemporâneo- titulo que reflete de forma inequívoca a realidade do Brasil que produz- não representa aquele “Brasil Rural Atrasado” baseado no grande latifúndio na monocultura exportadora, no deserto verde, das fumajeiras, da soja, do trabalho escravo e infantil. Modelo promovido como “moderno” pelos defensores dos monopólios privados de qualquer setor econômico, principalmente das comunicações.
Continue a leitura: http://miud.in/4Wv
Durante quatro dias Porto Alegre foi palco de uma grande festa. A festa dos trabalhadores e trabalhadoras que produzem o alimento nosso de cada dia. Uma festa que representa uma realidade que ninguém viu, ninguém vê e ninguém verá nos meios de comunicação monopolizados.Quem têm alguma dúvida disso é só reler as edições de Zero Hora durante os quatro dias da feira Brasil Rural Contemporâneo, realizado no Cais do Porto. Isso porque esse Brasil Rural Comtemporâneo- titulo que reflete de forma inequívoca a realidade do Brasil que produz- não representa aquele “Brasil Rural Atrasado” baseado no grande latifúndio na monocultura exportadora, no deserto verde, das fumajeiras, da soja, do trabalho escravo e infantil. Modelo promovido como “moderno” pelos defensores dos monopólios privados de qualquer setor econômico, principalmente das comunicações.
Continue a leitura: http://miud.in/4Wv
quinta-feira, 13 de maio de 2010
O MORRO É NOSSO
terça-feira, 11 de maio de 2010
Felicity Lawrence denuncia a indústria mundial de alimentos
Substâncias danosas ao organismo geram lucros bilionários.
A indústria mundial de comida nos alimenta mal, cria hábitos pouco saudáveis, nos entope de substâncias danosas ao organismo, enquanto acumula lucros bilionários. Grandes empresas multinacionais dominam o setor e fogem da transparência que revelaria suas práticas nocivas.
O consumidor não tem tempo para fiscalizar o que compra no mercado e depois come, sem perceber quando é manipulado pela má informação nos rótulos e na publicidade. Estas e outras denúncias aparecem no trabalho investigativo da jornalista britânica Felicity Lawrence.
Para assistir vídeo com entrevista completa com Felicity Lawrence, acessar:
http://globonews.globo.com/Jornalismo/GN/0,,MUL1592313-17665,00-FELICITY+LAWRENCE+DENUNCIA+A+INDUSTRIA+MUNDIAL+DE+ALIMENTOS.html
A indústria mundial de comida nos alimenta mal, cria hábitos pouco saudáveis, nos entope de substâncias danosas ao organismo, enquanto acumula lucros bilionários. Grandes empresas multinacionais dominam o setor e fogem da transparência que revelaria suas práticas nocivas.
O consumidor não tem tempo para fiscalizar o que compra no mercado e depois come, sem perceber quando é manipulado pela má informação nos rótulos e na publicidade. Estas e outras denúncias aparecem no trabalho investigativo da jornalista britânica Felicity Lawrence.
Para assistir vídeo com entrevista completa com Felicity Lawrence, acessar:
http://globonews.globo.com/Jornalismo/GN/0,,MUL1592313-17665,00-FELICITY+LAWRENCE+DENUNCIA+A+INDUSTRIA+MUNDIAL+DE+ALIMENTOS.html
terça-feira, 4 de maio de 2010
Os enganosos números da desnutrição
Por Paul Virgo, da IPS
Roma, 3/5/2010 – O fato de haver 1,02 bilhão de famintos em um mundo cheio de alimentos é má notícia. Mas há outra ainda pior: este número conta apenas uma parte da história da insegurança alimentar mundial. Isto não se deve somente ao problema de as estatísticas nunca mostrarem um panorama completo sobre as vítimas que este flagelo causa entre os que não têm comida suficiente. Também obedece ao simples fato de a quantidade de pessoas que sofrem insegurança alimentar, na realidade, ser muito maior do que esses números, por si só escandalosos. Quanto mais, ninguém sabe.
Todo mês de outubro, a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO) elabora as estatísticas sobre a fome que depois são citadas por líderes internacionais, políticos, organizações não governamentais e meios de comunicação quando falam do assunto. Devido à complexidade da tarefa e dos recursos que representa, não tem rivais nesta área. A FAO adota um enfoque conservador, presumivelmente para evitar ser acusada de exagerar o problema.
Primeiro analisa dados sobre comércio e produção alimentar de Estados individualmente, para avaliar qual a quantidade disponível de alimentos. Depois utiliza padrões de consumo interno para calcular o acesso a eles e que proporção de uma determinada população está desnutrida. O principal grande problema é que as estimativas sobre os alimentos necessários para atender as necessidades mínimas de energia se baseiam nos requisitos para um estilo de vida sedentário. Isto sugere que muitas pessoas não são contadas como desnutridas apesar de não consumirem calorias suficientes para levar uma vida saudável e ativa.
Talvez, um problema ainda maior seja que, embora as cifras da FAO sejam aceitas como representativas da população desnutrida, de todo modo isto não fala de quantos pobres estão mal alimentados por não poderem pagar uma dieta adequada. O provérbio de que “nem só de pão vive o homem” é verdadeiro, tanto literal quanto no sentido figurado. Uma pessoa pode atender suas necessidades de energia enchendo-se de arroz ou batata, mas se não pode realizar variações em sua dieta não obterá micronutrientes importantes como ferro, iodo, vitamina A e zinco, com efeitos dramáticos para sua saúde e capacidade de funcionar.
Este caso se refere especificamente à má nutrição induzida pela pobreza. Mas também se considera mal nutrida a população de países em desenvolvimento que é obesa por ingerir uma quantidade excessiva de calorias. O mesmo também ocorre com as pessoas que sofrem doenças que impedem que seus organismos se nutram adequadamente a partir dos alimentos, apesar de consumidos de maneira satisfatória. Mas estes grupos não são parte desta análise. Dados divulgados no ano passado pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) sugerem que a má nutrição causada pela pobreza é um enorme problema.
Às vezes se chama de “fome oculta” e pode ter consequências irreversíveis, especialmente para menores de 2 anos e para fetos de mães mal nutridas. Segundo o Unicef, 129 milhões de crianças com menos de 5 anos nos países em desenvolvimento têm peso inferior ao que deveriam apresentar e, portanto, são mal nutridas. Mas a quantidade desses pequenos que sofrem raquitismo devido a dietas inadequadas é muito superior, situando-se em 195 milhões. “A quantidade estimada de pessoas com deficiências de ferro ou iodo é, na realidade, muito maior do que a de “desnutridas”, no sentido de deficiência energética na dieta”, disse à IPS a especialista em segurança alimentar Doris Wiesmann.
A FAO reconhece que também há outros elementos que não chega a cobrir. “As pessoas que estão adequadamente nutridas hoje, mas correm o risco de não estarem assim no futuro” devido à possibilidade de um desastre natural ou uma crise econômica que derive na perda do emprego também sofrem insegurança alimentar, disse David Dawe, economista da FAO. “Mas, não há estimativas confiáveis de quantas pessoas estão nessa situação”, acrescentou.
A FAO é a primeira a admitir que nenhum número pode representar plenamente a insegurança alimentar. Também tem pouco espaço de manobra porque, se mudar radicalmente seus métodos, suas estatísticas se tornarão inúteis aos efeitos de comparações históricas. Wiesmann ajudou o Instituto Internacional de Pesquisa sobre Políticas Alimentares, com sede em Washington, a desenvolver o Índice Global da Fome, que combina dados da FAO sobre proporção de desnutridos com indicadores sobre má nutrição e mortalidade infantis.
Embora esse sistema chegue a um resultado que fornece um panorama mais amplo sobre a situação da fome em determinado país e seja útil para fazer comparações regionais, nacionais e mundiais, não serve para obter números absolutos sobre indivíduos que sofrem insegurança alimentar. E, mesmo se soubéssemos exatamente quantas são essas pessoas, ou mesmo que duplicam o número atual, há motivos para duvidar de que isso signifique alguma diferença para as vítimas.
Na Cúpula Mundial sobre Segurança Alimentar que a FAO realizou em novembro do ano passado em Roma, a comunidade internacional não chegou a um acordo sobre compromissos vinculantes em matéria de assistência, nem a estabelecer um prazo para erradicar a fome. E isto apesar de poucos dias antes a FAO ter dito que a quantidade de desnutridos havia superado, pela primeira vez, o limite de um bilhão. IPS/Envolverde
(IPS/Envolverde)
Roma, 3/5/2010 – O fato de haver 1,02 bilhão de famintos em um mundo cheio de alimentos é má notícia. Mas há outra ainda pior: este número conta apenas uma parte da história da insegurança alimentar mundial. Isto não se deve somente ao problema de as estatísticas nunca mostrarem um panorama completo sobre as vítimas que este flagelo causa entre os que não têm comida suficiente. Também obedece ao simples fato de a quantidade de pessoas que sofrem insegurança alimentar, na realidade, ser muito maior do que esses números, por si só escandalosos. Quanto mais, ninguém sabe.
Todo mês de outubro, a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO) elabora as estatísticas sobre a fome que depois são citadas por líderes internacionais, políticos, organizações não governamentais e meios de comunicação quando falam do assunto. Devido à complexidade da tarefa e dos recursos que representa, não tem rivais nesta área. A FAO adota um enfoque conservador, presumivelmente para evitar ser acusada de exagerar o problema.
Primeiro analisa dados sobre comércio e produção alimentar de Estados individualmente, para avaliar qual a quantidade disponível de alimentos. Depois utiliza padrões de consumo interno para calcular o acesso a eles e que proporção de uma determinada população está desnutrida. O principal grande problema é que as estimativas sobre os alimentos necessários para atender as necessidades mínimas de energia se baseiam nos requisitos para um estilo de vida sedentário. Isto sugere que muitas pessoas não são contadas como desnutridas apesar de não consumirem calorias suficientes para levar uma vida saudável e ativa.
Talvez, um problema ainda maior seja que, embora as cifras da FAO sejam aceitas como representativas da população desnutrida, de todo modo isto não fala de quantos pobres estão mal alimentados por não poderem pagar uma dieta adequada. O provérbio de que “nem só de pão vive o homem” é verdadeiro, tanto literal quanto no sentido figurado. Uma pessoa pode atender suas necessidades de energia enchendo-se de arroz ou batata, mas se não pode realizar variações em sua dieta não obterá micronutrientes importantes como ferro, iodo, vitamina A e zinco, com efeitos dramáticos para sua saúde e capacidade de funcionar.
Este caso se refere especificamente à má nutrição induzida pela pobreza. Mas também se considera mal nutrida a população de países em desenvolvimento que é obesa por ingerir uma quantidade excessiva de calorias. O mesmo também ocorre com as pessoas que sofrem doenças que impedem que seus organismos se nutram adequadamente a partir dos alimentos, apesar de consumidos de maneira satisfatória. Mas estes grupos não são parte desta análise. Dados divulgados no ano passado pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) sugerem que a má nutrição causada pela pobreza é um enorme problema.
Às vezes se chama de “fome oculta” e pode ter consequências irreversíveis, especialmente para menores de 2 anos e para fetos de mães mal nutridas. Segundo o Unicef, 129 milhões de crianças com menos de 5 anos nos países em desenvolvimento têm peso inferior ao que deveriam apresentar e, portanto, são mal nutridas. Mas a quantidade desses pequenos que sofrem raquitismo devido a dietas inadequadas é muito superior, situando-se em 195 milhões. “A quantidade estimada de pessoas com deficiências de ferro ou iodo é, na realidade, muito maior do que a de “desnutridas”, no sentido de deficiência energética na dieta”, disse à IPS a especialista em segurança alimentar Doris Wiesmann.
A FAO reconhece que também há outros elementos que não chega a cobrir. “As pessoas que estão adequadamente nutridas hoje, mas correm o risco de não estarem assim no futuro” devido à possibilidade de um desastre natural ou uma crise econômica que derive na perda do emprego também sofrem insegurança alimentar, disse David Dawe, economista da FAO. “Mas, não há estimativas confiáveis de quantas pessoas estão nessa situação”, acrescentou.
A FAO é a primeira a admitir que nenhum número pode representar plenamente a insegurança alimentar. Também tem pouco espaço de manobra porque, se mudar radicalmente seus métodos, suas estatísticas se tornarão inúteis aos efeitos de comparações históricas. Wiesmann ajudou o Instituto Internacional de Pesquisa sobre Políticas Alimentares, com sede em Washington, a desenvolver o Índice Global da Fome, que combina dados da FAO sobre proporção de desnutridos com indicadores sobre má nutrição e mortalidade infantis.
Embora esse sistema chegue a um resultado que fornece um panorama mais amplo sobre a situação da fome em determinado país e seja útil para fazer comparações regionais, nacionais e mundiais, não serve para obter números absolutos sobre indivíduos que sofrem insegurança alimentar. E, mesmo se soubéssemos exatamente quantas são essas pessoas, ou mesmo que duplicam o número atual, há motivos para duvidar de que isso signifique alguma diferença para as vítimas.
Na Cúpula Mundial sobre Segurança Alimentar que a FAO realizou em novembro do ano passado em Roma, a comunidade internacional não chegou a um acordo sobre compromissos vinculantes em matéria de assistência, nem a estabelecer um prazo para erradicar a fome. E isto apesar de poucos dias antes a FAO ter dito que a quantidade de desnutridos havia superado, pela primeira vez, o limite de um bilhão. IPS/Envolverde
(IPS/Envolverde)
sexta-feira, 30 de abril de 2010
MST propõe aliança com a cidade por agricultura sustentável
29/04/2010
Por Vinicius Konchinski, da Agência Brasil
São Paulo - Há cerca de 30 anos, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) começou a se organizar nacionalmente com um propósito: promover a reforma agrária no Brasil. Os anos passaram, o movimento se consolidou, milhares de militantes foram assentados, e o foco de atenção do MST se ampliou.
Em entrevista exclusiva à Agência Brasil, João Pedro Stédile, um dos líderes nacionais do movimento, afirmou que é hora de os sem-terra lutarem por um agricultura mais fraterna e sustentável. Segundo ele, os militantes devem agora buscar diferentes alianças, principalmente com a população da cidade, para alcançar dois novos objetivos: a redução do uso de agrotóxicos nas lavouras e o fim do domínio de empresas multinacionais sobre a agricultura nacional.
“O MST percebeu que não basta você ser contra o latifúndio e a favor da distribuição de terra. Você tem que lutar também pela mudança do modelo agrícola.”
Stédile disse que, atualmente, três ou quatro empresas de atuação global dominam o mercado nacional de sementes, insumos e fertilizantes. “Isso subordinou a agricultura brasileira. Elas controlam o mercado mundial, controlam os preço e impõem o que querem à nossa agricultura.”
Ele disse também que poucas companhias incentivam os produtores rurais brasileiros a ser os que mais consomem agrotóxicos no mundo. São 720 milhões de litros por ano. “É impossível que isso tenha futuro. Os venenos destroem a fertilidade do solo, contaminam a água, ou então ficam nos alimentos que vão para o nosso estômago.”
Acompanhe abaixo os principais trechos da entrevista concedida por Stédile à Agência Brasil:
Agência Brasil: O MST espera conseguir o apoio de outros setores da sociedade com essa nova política de atuação contra os agrotóxicos e multinacionais?
João Pedro Stédile: Nós temos certeza de que a imensa maioria da sociedade brasileira também defende este programa. Já, agora, em movimentos pontuais, nós atuamos com o Greenpeace, com o movimento ambientalista e com os setores de defesa do consumidor. O próprio Idec [Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor] tem nos apoiado na questão dos agrotóxicos.
ABr: Essa nova política pode ajudar a mudar a imagem negativa do MST com alguns segmentos?
Stédile: A ampla maioria da sociedade brasileira nos apoia. Se o MST não tivesse apoio já teria sido destruído. Agora, queremos dar um passo a mais. Temos que nos aliar ao povo da cidade. Veja a situação dos agrotóxicos: quem come os produtos cheios de venenos? O povo pobre da cidade. Então, quando nós vamos resolver isso? Quando as massas da cidade tomarem consciência desse problema e resolverem se mobilizar.
ABr: A mudança de foco de atenção significa a redução das ocupações de terra?
Stédile: A ocupação faz parte da história da humanidade. Sempre que um território é apropriado apenas por uns poucos e nesse mesmo território convivem milhares de pessoas sem acesso à terra, é evidente que haverá ocupação. A política do MST é de organizar os pobres para que lutem por seus direitos. Em alguns lugares, serão passeatas. Em outros, ocupações.
ABr: Essa nova política é consenso no MST? Não seria uma proposta de parte do movimento que já foi assentada e, por isso, não milita mais pela terra?
Stédile: Consenso é a pior palavra. O consenso é burro. Em qualquer movimento social, há opiniões diferentes. Mas essa política que eu expressei aqui é da ampla maioria. Evidentemente, por causa da natureza da nossa luta, em cada região há um grupo que prioriza um aspecto. Se um sujeito está acampado, ele tem que lutar para conquistar terra o quanto antes. Se ele já está assentado há vinte anos e está enfrentando o problema do agrotóxico, é claro que o agrotóxico é o centro da luta dele.
ABr: O MST pretende apresentar essas propostas aos candidatos à Presidência?
Stédile: Nós estamos pensando em apresentar essas propostas para todos os candidatos, não só a presidente como a governos estaduais. Daqui até maio, eu acredito que esse processo de discussão das sugestões já vai estar concluído e, quando começar a campanha, vamos contribuir.
ABr: Já existem sugestões?
Stédile: Sim. Nós achamos que temos de transformar a Conab [Companhia Nacional de Abastecimento] numa grande empresa estatal. Ela deve garantir a compra de produtos dos camponeses e abastecer mercados populares com produtos de qualidade. Nós também temos que controlar o ingresso de multinacionais no Brasil. Estes dias eu li no jornal que uma empresa chinesa quer comprar 100 hectares de terra aqui. Isso é um absurdo. Não pode acontecer.
(Envolverde/Agência Brasil)
http://www.envolverde.com.br/index.php?edt=3#
Por Vinicius Konchinski, da Agência Brasil
São Paulo - Há cerca de 30 anos, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) começou a se organizar nacionalmente com um propósito: promover a reforma agrária no Brasil. Os anos passaram, o movimento se consolidou, milhares de militantes foram assentados, e o foco de atenção do MST se ampliou.
Em entrevista exclusiva à Agência Brasil, João Pedro Stédile, um dos líderes nacionais do movimento, afirmou que é hora de os sem-terra lutarem por um agricultura mais fraterna e sustentável. Segundo ele, os militantes devem agora buscar diferentes alianças, principalmente com a população da cidade, para alcançar dois novos objetivos: a redução do uso de agrotóxicos nas lavouras e o fim do domínio de empresas multinacionais sobre a agricultura nacional.
“O MST percebeu que não basta você ser contra o latifúndio e a favor da distribuição de terra. Você tem que lutar também pela mudança do modelo agrícola.”
Stédile disse que, atualmente, três ou quatro empresas de atuação global dominam o mercado nacional de sementes, insumos e fertilizantes. “Isso subordinou a agricultura brasileira. Elas controlam o mercado mundial, controlam os preço e impõem o que querem à nossa agricultura.”
Ele disse também que poucas companhias incentivam os produtores rurais brasileiros a ser os que mais consomem agrotóxicos no mundo. São 720 milhões de litros por ano. “É impossível que isso tenha futuro. Os venenos destroem a fertilidade do solo, contaminam a água, ou então ficam nos alimentos que vão para o nosso estômago.”
Acompanhe abaixo os principais trechos da entrevista concedida por Stédile à Agência Brasil:
Agência Brasil: O MST espera conseguir o apoio de outros setores da sociedade com essa nova política de atuação contra os agrotóxicos e multinacionais?
João Pedro Stédile: Nós temos certeza de que a imensa maioria da sociedade brasileira também defende este programa. Já, agora, em movimentos pontuais, nós atuamos com o Greenpeace, com o movimento ambientalista e com os setores de defesa do consumidor. O próprio Idec [Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor] tem nos apoiado na questão dos agrotóxicos.
ABr: Essa nova política pode ajudar a mudar a imagem negativa do MST com alguns segmentos?
Stédile: A ampla maioria da sociedade brasileira nos apoia. Se o MST não tivesse apoio já teria sido destruído. Agora, queremos dar um passo a mais. Temos que nos aliar ao povo da cidade. Veja a situação dos agrotóxicos: quem come os produtos cheios de venenos? O povo pobre da cidade. Então, quando nós vamos resolver isso? Quando as massas da cidade tomarem consciência desse problema e resolverem se mobilizar.
ABr: A mudança de foco de atenção significa a redução das ocupações de terra?
Stédile: A ocupação faz parte da história da humanidade. Sempre que um território é apropriado apenas por uns poucos e nesse mesmo território convivem milhares de pessoas sem acesso à terra, é evidente que haverá ocupação. A política do MST é de organizar os pobres para que lutem por seus direitos. Em alguns lugares, serão passeatas. Em outros, ocupações.
ABr: Essa nova política é consenso no MST? Não seria uma proposta de parte do movimento que já foi assentada e, por isso, não milita mais pela terra?
Stédile: Consenso é a pior palavra. O consenso é burro. Em qualquer movimento social, há opiniões diferentes. Mas essa política que eu expressei aqui é da ampla maioria. Evidentemente, por causa da natureza da nossa luta, em cada região há um grupo que prioriza um aspecto. Se um sujeito está acampado, ele tem que lutar para conquistar terra o quanto antes. Se ele já está assentado há vinte anos e está enfrentando o problema do agrotóxico, é claro que o agrotóxico é o centro da luta dele.
ABr: O MST pretende apresentar essas propostas aos candidatos à Presidência?
Stédile: Nós estamos pensando em apresentar essas propostas para todos os candidatos, não só a presidente como a governos estaduais. Daqui até maio, eu acredito que esse processo de discussão das sugestões já vai estar concluído e, quando começar a campanha, vamos contribuir.
ABr: Já existem sugestões?
Stédile: Sim. Nós achamos que temos de transformar a Conab [Companhia Nacional de Abastecimento] numa grande empresa estatal. Ela deve garantir a compra de produtos dos camponeses e abastecer mercados populares com produtos de qualidade. Nós também temos que controlar o ingresso de multinacionais no Brasil. Estes dias eu li no jornal que uma empresa chinesa quer comprar 100 hectares de terra aqui. Isso é um absurdo. Não pode acontecer.
(Envolverde/Agência Brasil)
http://www.envolverde.com.br/index.php?edt=3#
domingo, 25 de abril de 2010
Cochabamba: ausência de chefes de Estado não diminuiu importância da Conferência
23/04/2010
Por Celso Dobes Bacarji
Mesmo com a presença de apenas um chefe de Estado estrangeiro – Hugo Chavez – o encontro de Cochabamba foi um marco na mobilização popular e na sistematização de alternativas para a luta climática.
Tiquipya, Bolívia, 23 Abr - A Conferência de Cochabamba terminou nesta quinta-feira (22/04) com a reunião dos chefes e representantes dos governos que atenderam ao convite do presidente boliviano, Evo Morales, no melhor hotel de Cochabamba. Além do presidente da Venezuela, Hugo Chaves, e do vice-presidente de Cuba, nenhum outro chefe de estado compareceu, embora alguns, como Equador, tenham enviado representantes diplomáticos. À tarde, no estádio municipal Félix Capriles, de Cochabamba, Morales encerrou a Conferência dos Povos comemorando o Dia da Terra, com apresentações culturais e plantio de árvores.(...)
(...)O Acordo entre os Povos
As conclusões dos 17 grupos de trabalho oficiais da Conferência de Cochabamba se basearam no princípio de que o conceito de acordo climático deve ser ampliado para acordo entre os povos. Mais do que uma diferença semântica, o acordo entre os povos coloca em xeque o modelo capitalista e as suas formas de exploração dos recursos naturais e do trabalho humano e propõe um modelo de convivência harmônica entre a humanidade e o Planeta.
O documento final elaborado pela Conferência, diz que o acordo entre os povos deve rejeitar a “lógica do capitalismo de competência, progresso e crescimento ilimitado”. Para isso, “pleiteia aos povos do mundo a recuperação, revalorização e fortalecimento dos conhecimentos, saberes e práticas ancestrais dos povos indígenas, firmados na vivência e proposta do bem viver, reconhecendo a Mãe Terra como um ser vivo, com o qual temos uma relação indivisível, interdependente, complementar e espiritual.
Nesse sentido, a Declaração Universal dos Direitos da Mãe Terra, cujo projeto foi elaborado por um dos grupos de trabalho, é peça fundamental. A começar pelo conceito de Mãe Terra, que foi brilhantemente abordado pelo teólogo e filósofo brasileiro Leonardo Boff, que participou do painel principal de discussão do tema. Para ele, o conceito de Mãe Terra, tem raízes ancestrais, encontradas inclusive na cultura da Grécia antiga, onde a deusa Gaia representava o caráter vivente do planeta.
Para Boff, depois de perder esse conceito a partir do racionalismo iluminista, a humanidade volta a reencontrá-lo, não apenas nas culturas indígenas, que nunca o abandonaram, mas também a partir das descobertas da ciência cosmológica e da física da energia. A partir dessas descobertas chegou-se à conclusão de que “tudo tem a ver com tudo em todos os instantes”, diz ele.
O teólogo brasileiro acredita que chegou o tempo da bio-civilização. Ele explicou que a ciência tem descoberto que a matéria é mais do que energia. Ela tem informações que podem ser acumuladas e que em última análise as diferenças entre os seres são apenas de grau de complexidade. “A Terra possui dignidade e cabe a nós deveres e cuidados para amá-la. Se o século 20 foi o tempo dos direitos humanos, o 21 será o século dos direitos da terra”, complementou Boff.
Em linhas gerais, o projeto de Declaração dos Direitos da Mãe Terra elaborado na Conferência dos Povos prevê:
• Direito à vida e à existência;
• Direito de ser respeitada;
• Direito à continuação de seus ciclos e processos vitais, livre de alterações humanas;
• Direito a manter sua identidade e integridade como seres diferenciados, auto-regulados e interrelacionados;
• Direito à água como fonte de vida;
• Direito ao ar limpo;
• Direito à saúde integral;
• Direito a estar livre da contaminação e poluição, de dejetos tóxicos e radioativos;
• Direito a não ser alterada geneticamente e modificada em sua estrutura ameaçando sua integridade ou funcionamento vital e saudável;
• Direito a uma restauração plena e pronta pelas violações aos direitos reconhecidos nesta declaração causados pelas atividades humanas.
(...)
A íntegra dessa matéria você pode ler no site
http://www.envolverde.com.br/index.php?
Por Celso Dobes Bacarji
Mesmo com a presença de apenas um chefe de Estado estrangeiro – Hugo Chavez – o encontro de Cochabamba foi um marco na mobilização popular e na sistematização de alternativas para a luta climática.
Tiquipya, Bolívia, 23 Abr - A Conferência de Cochabamba terminou nesta quinta-feira (22/04) com a reunião dos chefes e representantes dos governos que atenderam ao convite do presidente boliviano, Evo Morales, no melhor hotel de Cochabamba. Além do presidente da Venezuela, Hugo Chaves, e do vice-presidente de Cuba, nenhum outro chefe de estado compareceu, embora alguns, como Equador, tenham enviado representantes diplomáticos. À tarde, no estádio municipal Félix Capriles, de Cochabamba, Morales encerrou a Conferência dos Povos comemorando o Dia da Terra, com apresentações culturais e plantio de árvores.(...)
(...)O Acordo entre os Povos
As conclusões dos 17 grupos de trabalho oficiais da Conferência de Cochabamba se basearam no princípio de que o conceito de acordo climático deve ser ampliado para acordo entre os povos. Mais do que uma diferença semântica, o acordo entre os povos coloca em xeque o modelo capitalista e as suas formas de exploração dos recursos naturais e do trabalho humano e propõe um modelo de convivência harmônica entre a humanidade e o Planeta.
O documento final elaborado pela Conferência, diz que o acordo entre os povos deve rejeitar a “lógica do capitalismo de competência, progresso e crescimento ilimitado”. Para isso, “pleiteia aos povos do mundo a recuperação, revalorização e fortalecimento dos conhecimentos, saberes e práticas ancestrais dos povos indígenas, firmados na vivência e proposta do bem viver, reconhecendo a Mãe Terra como um ser vivo, com o qual temos uma relação indivisível, interdependente, complementar e espiritual.
Nesse sentido, a Declaração Universal dos Direitos da Mãe Terra, cujo projeto foi elaborado por um dos grupos de trabalho, é peça fundamental. A começar pelo conceito de Mãe Terra, que foi brilhantemente abordado pelo teólogo e filósofo brasileiro Leonardo Boff, que participou do painel principal de discussão do tema. Para ele, o conceito de Mãe Terra, tem raízes ancestrais, encontradas inclusive na cultura da Grécia antiga, onde a deusa Gaia representava o caráter vivente do planeta.
Para Boff, depois de perder esse conceito a partir do racionalismo iluminista, a humanidade volta a reencontrá-lo, não apenas nas culturas indígenas, que nunca o abandonaram, mas também a partir das descobertas da ciência cosmológica e da física da energia. A partir dessas descobertas chegou-se à conclusão de que “tudo tem a ver com tudo em todos os instantes”, diz ele.
O teólogo brasileiro acredita que chegou o tempo da bio-civilização. Ele explicou que a ciência tem descoberto que a matéria é mais do que energia. Ela tem informações que podem ser acumuladas e que em última análise as diferenças entre os seres são apenas de grau de complexidade. “A Terra possui dignidade e cabe a nós deveres e cuidados para amá-la. Se o século 20 foi o tempo dos direitos humanos, o 21 será o século dos direitos da terra”, complementou Boff.
Em linhas gerais, o projeto de Declaração dos Direitos da Mãe Terra elaborado na Conferência dos Povos prevê:
• Direito à vida e à existência;
• Direito de ser respeitada;
• Direito à continuação de seus ciclos e processos vitais, livre de alterações humanas;
• Direito a manter sua identidade e integridade como seres diferenciados, auto-regulados e interrelacionados;
• Direito à água como fonte de vida;
• Direito ao ar limpo;
• Direito à saúde integral;
• Direito a estar livre da contaminação e poluição, de dejetos tóxicos e radioativos;
• Direito a não ser alterada geneticamente e modificada em sua estrutura ameaçando sua integridade ou funcionamento vital e saudável;
• Direito a uma restauração plena e pronta pelas violações aos direitos reconhecidos nesta declaração causados pelas atividades humanas.
(...)
A íntegra dessa matéria você pode ler no site
http://www.envolverde.com.br/index.php?
“Acabar com o uso de combustíveis fósseis”
Por Franz Chávez, da IPS
Cochabamba, 20/4/2010 – A voz dos excluídos da cúpula de Copenhague, que defendem um desenvolvimento sustentável, será ouvida com força na Bolívia, em lugar da dos governos que ditam estratégias segundo seus interesses para enfrentar a mudança climática, como o mercado de carbono, afirmou Nnimmo Bassey. Este ativista nigeriano chegou à cidade boliviana de Cochabamba para participar da Conferência Mundial dos Povos sobre a Mudança Climática e os Direitos da Mãe Terra, iniciada ontem com presença de, aproximadamente, 15 mil representantes de organizações da sociedade civil, todas preocupadas com o rumo oficial na luta contra a variabilidade climática.
Bassey, o costarriquenho Isaac Rojas e o uruguaio Martín Drago são os portadores da posição da Amigos da Terra Internacional, rede composta por 77 organizações não governamentais. Com os objetivos de “mobilizar, resistir e transformar”, esta coletividade ambientalista promove a justiça econômica, a soberania alimentar, o uso de energias alternativas, a conservação da biodiversidade e uma aberta batalha contra a exploração inadequada de minerais e petróleo.
Destacado entre outras coisas por sua luta tenaz contra as atividades extrativistas contaminantes das empresas de petróleo multinacionais em seu país, Bassey resumiu para a IPS o que considera virtudes de um encontro como o de Cochabamba, onde os povos podem se expressar e estabelecer um discurso real contra a mudança climática.
IPS: Qual a diferença entre as cúpulas mundiais e esta de Cochabamba?
NNIMMO BASSEY: Aqui não prevalecem os governos, que habitualmente dizem o que se deve fazer. Agora é o povo que dirá aos governantes quais tarefas devem realizar em matéria de luta contra a mudança climática. Em dezembro, em Copenhague – na 15ª Conferência das Partes da Convenção Marco das Nações Unidas sobre Mudança Climática (COP-15) –, as organizações sociais, como a Amigos da Terra, foram excluídas dos debates, mas em Cochabamba ocorre o inverso, e participamos de todas as mesas de análises.
IPS: Quais as suas expectativas com relação a este encontro de organizações sociais?
NB: Nesta conferência o mundo tem a oportunidade de ouvir as demandas do povo, conhecer os problemas e as soluções reais e autênticas. Nossa posição é contrária às compensações de emissões de carbono em troca da conservação das florestas. As selvas devem ficar fora das considerações do mercado. Rechaçamos a monocultura, a produção de alimentos geneticamente modificados, e exigimos manter os combustíveis de origem fóssil debaixo da terra. A indústria agrícola está se transformando na causa do problema climático e, em lugar disso, lutamos por uma atividade sustentável no campo, igual à demanda expressa pela organização Via Camponesa, o movimento mundial de camponeses que impulsiona a produção de alimentos sadios.
IPS: Em que consiste sua proposta de manter o petróleo debaixo da terra?
NB: Na Nigéria fizemos campanhas para manter o petróleo sob a terra e contra as multinacionais que causam a contaminação pelas emissões de carbono, promovem a destruição ambiental e a vida dos habitantes e das comunidades. Queremos mudar esta forma de geração de energia por um modelo de desenvolvimento sustentável para acabar com o uso de combustíveis fósseis e promover o investimento em energia renovável.
IPS: Qual o papel dos povos indígenas nesta batalha?
NB: O importante é expressar a reclamação pela destruição do meio ambiente onde vivem os povos, mas eles precisam ter o poder sobre as terras e adquirir capacidade para administrar seus recursos naturais. Trata-se de uma demanda por poder para a produção de alimentos em condições apropriadas com a natureza e com a preservação dos recursos naturais. Também se busca reduzir o poder das transnacionais, e o seu desmantelamento.
IPS: Essa meta parece muito ambiciosa, considerando o poder dos países industrializados e de suas empresas. Então, qual é o processo que vem a seguir?
NB: Está claro que a batalha é muito grande, mas precisamos nos unir, compartilhar informação e experiências de lutas contra o poder multinacional.
IPS: A partir dessa postura, que opinião tem sobre o modelo boliviano que promove a defesa da Mãe Terra?
NB: O governo da Bolívia é muito inspirador para os povos do mundo. É como um sonho ter um governo disposto a ouvir as demandas dos povos e cuidar da Pachamama (Mãe Terra). IPS/Envolverde
(IPS/Envolverde)
http://www.envolverde.com.br/
Cochabamba, 20/4/2010 – A voz dos excluídos da cúpula de Copenhague, que defendem um desenvolvimento sustentável, será ouvida com força na Bolívia, em lugar da dos governos que ditam estratégias segundo seus interesses para enfrentar a mudança climática, como o mercado de carbono, afirmou Nnimmo Bassey. Este ativista nigeriano chegou à cidade boliviana de Cochabamba para participar da Conferência Mundial dos Povos sobre a Mudança Climática e os Direitos da Mãe Terra, iniciada ontem com presença de, aproximadamente, 15 mil representantes de organizações da sociedade civil, todas preocupadas com o rumo oficial na luta contra a variabilidade climática.
Bassey, o costarriquenho Isaac Rojas e o uruguaio Martín Drago são os portadores da posição da Amigos da Terra Internacional, rede composta por 77 organizações não governamentais. Com os objetivos de “mobilizar, resistir e transformar”, esta coletividade ambientalista promove a justiça econômica, a soberania alimentar, o uso de energias alternativas, a conservação da biodiversidade e uma aberta batalha contra a exploração inadequada de minerais e petróleo.
Destacado entre outras coisas por sua luta tenaz contra as atividades extrativistas contaminantes das empresas de petróleo multinacionais em seu país, Bassey resumiu para a IPS o que considera virtudes de um encontro como o de Cochabamba, onde os povos podem se expressar e estabelecer um discurso real contra a mudança climática.
IPS: Qual a diferença entre as cúpulas mundiais e esta de Cochabamba?
NNIMMO BASSEY: Aqui não prevalecem os governos, que habitualmente dizem o que se deve fazer. Agora é o povo que dirá aos governantes quais tarefas devem realizar em matéria de luta contra a mudança climática. Em dezembro, em Copenhague – na 15ª Conferência das Partes da Convenção Marco das Nações Unidas sobre Mudança Climática (COP-15) –, as organizações sociais, como a Amigos da Terra, foram excluídas dos debates, mas em Cochabamba ocorre o inverso, e participamos de todas as mesas de análises.
IPS: Quais as suas expectativas com relação a este encontro de organizações sociais?
NB: Nesta conferência o mundo tem a oportunidade de ouvir as demandas do povo, conhecer os problemas e as soluções reais e autênticas. Nossa posição é contrária às compensações de emissões de carbono em troca da conservação das florestas. As selvas devem ficar fora das considerações do mercado. Rechaçamos a monocultura, a produção de alimentos geneticamente modificados, e exigimos manter os combustíveis de origem fóssil debaixo da terra. A indústria agrícola está se transformando na causa do problema climático e, em lugar disso, lutamos por uma atividade sustentável no campo, igual à demanda expressa pela organização Via Camponesa, o movimento mundial de camponeses que impulsiona a produção de alimentos sadios.
IPS: Em que consiste sua proposta de manter o petróleo debaixo da terra?
NB: Na Nigéria fizemos campanhas para manter o petróleo sob a terra e contra as multinacionais que causam a contaminação pelas emissões de carbono, promovem a destruição ambiental e a vida dos habitantes e das comunidades. Queremos mudar esta forma de geração de energia por um modelo de desenvolvimento sustentável para acabar com o uso de combustíveis fósseis e promover o investimento em energia renovável.
IPS: Qual o papel dos povos indígenas nesta batalha?
NB: O importante é expressar a reclamação pela destruição do meio ambiente onde vivem os povos, mas eles precisam ter o poder sobre as terras e adquirir capacidade para administrar seus recursos naturais. Trata-se de uma demanda por poder para a produção de alimentos em condições apropriadas com a natureza e com a preservação dos recursos naturais. Também se busca reduzir o poder das transnacionais, e o seu desmantelamento.
IPS: Essa meta parece muito ambiciosa, considerando o poder dos países industrializados e de suas empresas. Então, qual é o processo que vem a seguir?
NB: Está claro que a batalha é muito grande, mas precisamos nos unir, compartilhar informação e experiências de lutas contra o poder multinacional.
IPS: A partir dessa postura, que opinião tem sobre o modelo boliviano que promove a defesa da Mãe Terra?
NB: O governo da Bolívia é muito inspirador para os povos do mundo. É como um sonho ter um governo disposto a ouvir as demandas dos povos e cuidar da Pachamama (Mãe Terra). IPS/Envolverde
(IPS/Envolverde)
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quarta-feira, 21 de abril de 2010
A vida secreta dos ingredientes - Pegue uma embalagem de biscoito e dê uma lida no rótulo
A vida secreta dos ingredientes - Pegue uma embalagem de biscoito em sua cozinha e dê uma lida no rótulo. Você conhece a origem e a função de todos os ingredientes? O jornalista americano Steve Ettlinger também não sabia, mas viajou o mundo para descobrir e relatou tudo no livro Twinkie, Deconstructed (Twinkie, Desconstruído, sem edição brasileira). A ideia surgiu durante um piquenique com a família. Seu filho perguntou o que é o polissorbato 60: “Dá em árvores?” Ettlinger não soube o que responder e decidiu descobrir e compartilhar esse conhecimento com outros consumidores. Foi pesquisar a origem de todos os ingredientes do famoso bolinho recheado Twinkie, vendido há mais de 70 anos nos Estados Unidos. Em alguns casos, a origem está em refinarias de química cuja localização é protegida por leis antiterrorismo. Noutros, nas fazendas de milho e soja do Meio Oeste americano. (Ah, sim: o polissorbato 60 de certa forma dá em árvores. Trata-se de um polímero derivado de milho e óleo vegetal. É um emulsificante: faz com que a água e a gordura se combinem. No caso do Twinkie, sua função é substituir a capacidade estabilizante dos ovos e do leite, que ajudam no crescimento das massas.)
Você continua a comer Twinkies depois de conhecer seus ingredientes?
Não. Estou muito mais interessado em alimentos locais e integrais. É claro que eu já conhecia essas opções. Vivi na França por um tempo e trabalhei como cozinheiro, então eu gosto de comida de verdade. Mas agora definitivamente é algo de que preciso em minha vida. Após escrever o livro, fiquei ainda mais fã dos agricultores locais.
A comida processada é mesmo tão ruim para nós?
Essa pergunta exige uma resposta muito longa. O termo “comida processada” é amplo e pode designar muitos tipos de comida. Qualquer coisa salgada, como o bacalhau, é processada. Qualquer coisa cozida é processada, na verdade. Além disso, nós precisamos de alimentos industrializados para viajar. É por isso que a comida processada tem nos acompanhado por eras. É por isso que as pessoas inventaram o salgamento e a defumação. Isso nos deu maior liberdade de movimentação e é o que nos permitiu chegar ao século 21. No entanto, creio que há um problema quando as pessoas consomem muita comida de conveniência, especialmente salgadinhos e doces, porque elas não fornecem boas calorias, estão repletas de gordura, sódio e açúcar. O consumo desse tipo de “bobagem” deve ser diminuído. Outro ponto problemático é o grande aparato industrial necessário para produzir os ingredientes desse tipo de comida. No livro, eu exploro a origem de todas essas coisas e descubro que a maior parte da comida industrializada é feita com ingredientes que vêm de grandes petroquímicas e fábricas de químicos básicos. Veja só: 14 dos 20 produtos químicos mais usados nos Estados Unidos fazem parte direta ou indiretamente da receita do Twinkie.
Por que isso é ruim?
Primeiro, esses alimentos dependem de produtos químicos vindos do petróleo. A alta do preço do petróleo é um problema, mas não só: um dia, ele vai acabar. Segundo, esses produtos químicos são usados para produzir soja e milho, os principais ingredientes dos alimentos industrializados. De fato, oito dos ingredientes do Twinkie vêm do milho. Terceiro, é um problema depender da soja, que é importada, grande parte dela do Brasil, inclusive. Se esses produtos dependem de insumos que se tornarão mais caros ou mais raros no futuro, isso é um problema. Além disso, esse tipo de produção extensiva tende a degradar o solo. Provavelmente seria melhor para todos se usássemos menos químicos para produzir comida. Nós pagamos subsídios com nossos impostos, especialmente à indústria petroquímica, para fazer herbicidas, pesticidas e fertilizantes, que permitem produzir essa comida e vendê-la com o apoio do governo a preços artificialmente baixos.
No livro, você afirma que diretores e funcionários do setor não quiseram dar declaracões. Por que a indústria alimentícia é avessa à transparência?
Acho que eles tiveram muitos problemas no passado com pessoas apontando quanta ajuda o governo oferece a essa indústria e o quanto a comida produzida é ruim para a saúde, em contrapartida. Eles também sabem que, mesmo incentivando o consumo de novos produtos, como barras de cereais, aparentemente bons para a saúde, na verdade você pode comer castanhas e frutas e ficar bem satisfeito. Comida fresca não dá dinheiro para a indústria alimentícia. Então, a única maneira pela qual eles podem fazer dinheiro é adicionando algo pelo qual se tenha de pagar, como uma embalagem atraente. Veja os flocos de milho. As empresas ganham muito mais vendendo cereais matinais do que vendendo milho. Então, quanto mais nós discutimos e aprendemos sobre isso, pior é para a indústria. Não vale a pena para eles informar o consumidor.
Os governos estão fazendo esforços no sentido de informar o cidadão sobre a alimentação?
Esse será um ponto interessante a observar com o nosso novo presidente. Ele está recebendo muita informação de pessoas que, como eu, estão envolvidas em educar o consumidor sobre comida e alimentação saudável. Em particular, pessoas que promovem o consumo de alimentos integrais e produzidos localmente, frutas e vegetais e assim por diante. Há gente pedindo a ele que plante um jardim orgânico no quintal da Casa Branca. Algo assim não aconteceria no governo Bush nem aconteceu em outros governos. Nixon e Reagan fizeram tudo o que puderam para dar apoio através de leis e dinheiro a grandes companhias de processamento de milho e soja. Essas companhias, por sua vez, encorajaram os agricultores a plantar apenas um ou dois tipos de grão em fazendas enormes. No passado, as fazendas produziam diversos tipos de vegetais e frutas. Alguns agricultores estão voltando a fazê-lo. É nesse sentido que Barack Obama ajudará a mudar o envolvimento do governo americano na agricultura. Por sinal, temos um ministro da agricultura, mas há um movimento para mudar o título da pasta para Ministro da Alimentação e Agricultura. Acho que essa é uma grande ideia.
Qual foi a reação de seus filhos quando você explicou a eles de onde vem o polissorbato 60?
Na verdade, eles nunca gostaram de Twinkie. Em todo caso, eles não ficaram nada animados com os processos industriais envolvidos. (risos) Acho que, sem ter de treinar muito, eles sempre vão preferir comer uma maçã ou um iogurte no lugar de uma bobagem dessas.
LIVRO Twinkie, Deconstructed, Steve Ettlinger, Penguin/USA
* Texto retirado do blog http://transnet.ning.com/profiles/blogs/a-vida-secreta-dos
Você continua a comer Twinkies depois de conhecer seus ingredientes?
Não. Estou muito mais interessado em alimentos locais e integrais. É claro que eu já conhecia essas opções. Vivi na França por um tempo e trabalhei como cozinheiro, então eu gosto de comida de verdade. Mas agora definitivamente é algo de que preciso em minha vida. Após escrever o livro, fiquei ainda mais fã dos agricultores locais.
A comida processada é mesmo tão ruim para nós?
Essa pergunta exige uma resposta muito longa. O termo “comida processada” é amplo e pode designar muitos tipos de comida. Qualquer coisa salgada, como o bacalhau, é processada. Qualquer coisa cozida é processada, na verdade. Além disso, nós precisamos de alimentos industrializados para viajar. É por isso que a comida processada tem nos acompanhado por eras. É por isso que as pessoas inventaram o salgamento e a defumação. Isso nos deu maior liberdade de movimentação e é o que nos permitiu chegar ao século 21. No entanto, creio que há um problema quando as pessoas consomem muita comida de conveniência, especialmente salgadinhos e doces, porque elas não fornecem boas calorias, estão repletas de gordura, sódio e açúcar. O consumo desse tipo de “bobagem” deve ser diminuído. Outro ponto problemático é o grande aparato industrial necessário para produzir os ingredientes desse tipo de comida. No livro, eu exploro a origem de todas essas coisas e descubro que a maior parte da comida industrializada é feita com ingredientes que vêm de grandes petroquímicas e fábricas de químicos básicos. Veja só: 14 dos 20 produtos químicos mais usados nos Estados Unidos fazem parte direta ou indiretamente da receita do Twinkie.
Por que isso é ruim?
Primeiro, esses alimentos dependem de produtos químicos vindos do petróleo. A alta do preço do petróleo é um problema, mas não só: um dia, ele vai acabar. Segundo, esses produtos químicos são usados para produzir soja e milho, os principais ingredientes dos alimentos industrializados. De fato, oito dos ingredientes do Twinkie vêm do milho. Terceiro, é um problema depender da soja, que é importada, grande parte dela do Brasil, inclusive. Se esses produtos dependem de insumos que se tornarão mais caros ou mais raros no futuro, isso é um problema. Além disso, esse tipo de produção extensiva tende a degradar o solo. Provavelmente seria melhor para todos se usássemos menos químicos para produzir comida. Nós pagamos subsídios com nossos impostos, especialmente à indústria petroquímica, para fazer herbicidas, pesticidas e fertilizantes, que permitem produzir essa comida e vendê-la com o apoio do governo a preços artificialmente baixos.
No livro, você afirma que diretores e funcionários do setor não quiseram dar declaracões. Por que a indústria alimentícia é avessa à transparência?
Acho que eles tiveram muitos problemas no passado com pessoas apontando quanta ajuda o governo oferece a essa indústria e o quanto a comida produzida é ruim para a saúde, em contrapartida. Eles também sabem que, mesmo incentivando o consumo de novos produtos, como barras de cereais, aparentemente bons para a saúde, na verdade você pode comer castanhas e frutas e ficar bem satisfeito. Comida fresca não dá dinheiro para a indústria alimentícia. Então, a única maneira pela qual eles podem fazer dinheiro é adicionando algo pelo qual se tenha de pagar, como uma embalagem atraente. Veja os flocos de milho. As empresas ganham muito mais vendendo cereais matinais do que vendendo milho. Então, quanto mais nós discutimos e aprendemos sobre isso, pior é para a indústria. Não vale a pena para eles informar o consumidor.
Os governos estão fazendo esforços no sentido de informar o cidadão sobre a alimentação?
Esse será um ponto interessante a observar com o nosso novo presidente. Ele está recebendo muita informação de pessoas que, como eu, estão envolvidas em educar o consumidor sobre comida e alimentação saudável. Em particular, pessoas que promovem o consumo de alimentos integrais e produzidos localmente, frutas e vegetais e assim por diante. Há gente pedindo a ele que plante um jardim orgânico no quintal da Casa Branca. Algo assim não aconteceria no governo Bush nem aconteceu em outros governos. Nixon e Reagan fizeram tudo o que puderam para dar apoio através de leis e dinheiro a grandes companhias de processamento de milho e soja. Essas companhias, por sua vez, encorajaram os agricultores a plantar apenas um ou dois tipos de grão em fazendas enormes. No passado, as fazendas produziam diversos tipos de vegetais e frutas. Alguns agricultores estão voltando a fazê-lo. É nesse sentido que Barack Obama ajudará a mudar o envolvimento do governo americano na agricultura. Por sinal, temos um ministro da agricultura, mas há um movimento para mudar o título da pasta para Ministro da Alimentação e Agricultura. Acho que essa é uma grande ideia.
Qual foi a reação de seus filhos quando você explicou a eles de onde vem o polissorbato 60?
Na verdade, eles nunca gostaram de Twinkie. Em todo caso, eles não ficaram nada animados com os processos industriais envolvidos. (risos) Acho que, sem ter de treinar muito, eles sempre vão preferir comer uma maçã ou um iogurte no lugar de uma bobagem dessas.
LIVRO Twinkie, Deconstructed, Steve Ettlinger, Penguin/USA
* Texto retirado do blog http://transnet.ning.com/profiles/blogs/a-vida-secreta-dos
Campanha Carta da Terra 2010 - Começa com você!
Começa com você em se transformar para transformar o mundo.
Dia 22 de abril a Carta da Terra lançará mundialmente a sua campanha nos meios de comunicação de massa em prol a conscientização da necessidade de um mundo melhor, mais cidadão e responsável.
Convidamos você a divulgar essa idéia na página ou blog da sua instituição ou empresa. Pois apenas trabalhando em conjunto conseguiremos mobilizar a sociedade a ver que somos uma única família na Terra e que a mudança do futuro está nas mãos de cada um.
O que é a Carta da Terra?
A “Iniciativa da Carta da Terra” é o nome dado a uma rede global de extraordinária diversidade de pessoas, organizações e instituições que participam da promoção e implantação dos valores e princípios da Carta da Terra.
A Carta da Terra é uma declaração de 16 princípios éticos fundamentais para a construção de uma sociedade global justa, sustentável e pacífica. Ela é estruturada em quatro grandes tópicos: Respeito e cuidado pela comunidade da vida, integridade ecológica, justiça social e econômica, democracia, não-violência e paz. É uma visão de esperança e um chamado à ação.
Como posso difundir essa idéia?
Além de falar da iniciativa da Carta da Terra aos seus amigos e familiares, você pode publicar no seu blog, site ou perfil nas redes sociais o comercial da campanha ou banner e logotipo da Carta da Terra.
Você pode também unir-se a Carta da Terra no Orkut, Facebook, Linkedin, Youtube e Twitter comentando, divulgando e convidando seus amigos a participar dessa iniciativa. No Twitter, lhe convidamos a usar o hashtag #cartadaterrabr para tentarmos assim alcançar o maior número de pessoas.
Assista o comercial - http://www.youtube.com/user/ECInternational#p/u/6/Na58ssHw6jA
Sobre a campanha “Começa com você”
A campanha remete ao pensamento de Gandhi que lembra que a mudança que queremos ver no mundo começa por cada indivíduo. O objetivo é fomentar entre o grande público o conceito de “Cidadania Terra” onde os interesses pelo bem comum do planeta estão acima dos individuais.
O filme será veiculado a partir do dia 22 de Abril no Brasil e na América Latina e possivelmente na Europa, em espaços doados pelas principais emissoras de televisão por assinatura e redes aberta. A campanha conta também com anúncios impressos doados por diversas revistas e jornais, um spot de rádio e banners para veiculação na internet.
Participe!
Afinal, sonhamos com um planeta mais justo, sustentável e pacífico.
Carta da Terra
Começa com você!
(Envolverde/Assessoria de Imprensa)
Dia 22 de abril a Carta da Terra lançará mundialmente a sua campanha nos meios de comunicação de massa em prol a conscientização da necessidade de um mundo melhor, mais cidadão e responsável.
Convidamos você a divulgar essa idéia na página ou blog da sua instituição ou empresa. Pois apenas trabalhando em conjunto conseguiremos mobilizar a sociedade a ver que somos uma única família na Terra e que a mudança do futuro está nas mãos de cada um.
O que é a Carta da Terra?
A “Iniciativa da Carta da Terra” é o nome dado a uma rede global de extraordinária diversidade de pessoas, organizações e instituições que participam da promoção e implantação dos valores e princípios da Carta da Terra.
A Carta da Terra é uma declaração de 16 princípios éticos fundamentais para a construção de uma sociedade global justa, sustentável e pacífica. Ela é estruturada em quatro grandes tópicos: Respeito e cuidado pela comunidade da vida, integridade ecológica, justiça social e econômica, democracia, não-violência e paz. É uma visão de esperança e um chamado à ação.
Como posso difundir essa idéia?
Além de falar da iniciativa da Carta da Terra aos seus amigos e familiares, você pode publicar no seu blog, site ou perfil nas redes sociais o comercial da campanha ou banner e logotipo da Carta da Terra.
Você pode também unir-se a Carta da Terra no Orkut, Facebook, Linkedin, Youtube e Twitter comentando, divulgando e convidando seus amigos a participar dessa iniciativa. No Twitter, lhe convidamos a usar o hashtag #cartadaterrabr para tentarmos assim alcançar o maior número de pessoas.
Assista o comercial - http://www.youtube.com/user/ECInternational#p/u/6/Na58ssHw6jA
Sobre a campanha “Começa com você”
A campanha remete ao pensamento de Gandhi que lembra que a mudança que queremos ver no mundo começa por cada indivíduo. O objetivo é fomentar entre o grande público o conceito de “Cidadania Terra” onde os interesses pelo bem comum do planeta estão acima dos individuais.
O filme será veiculado a partir do dia 22 de Abril no Brasil e na América Latina e possivelmente na Europa, em espaços doados pelas principais emissoras de televisão por assinatura e redes aberta. A campanha conta também com anúncios impressos doados por diversas revistas e jornais, um spot de rádio e banners para veiculação na internet.
Participe!
Afinal, sonhamos com um planeta mais justo, sustentável e pacífico.
Carta da Terra
Começa com você!
(Envolverde/Assessoria de Imprensa)
quinta-feira, 15 de abril de 2010
Brasil despreza sua biodiversidade alimentar
Valdely Kinupp
do coletivo de comunicação Catarse
Entrevista com Valdely Kinupp
O que de especial te motivou a trabalhar com as plantas alimentícias não-convencionais?
Foi a questão econômica e de sustentabilidade, mas também o prazer de fazer um trabalho novo, praticamente inédito, da forma como foi feito. Pensando numa alternativa, desde a sobrevivência na selva, na lida do campo, mas também numa perspectiva de geração de renda, empregos, conservação da natureza, porque hoje a gente vive uma monotonia alimentar.
As PANCs [Nota do Viomundo: Plantas Alimentícias Não-Convencionais], e nossa biodiversidade como um todo, seja ornamental, medicinal, madeireira são, muitas vezes, negligenciadas. Especialmente as alimentícias aqui no Brasil – se a gente olhar a nossa mesa, no que existe de cardápio nos restaurantes, dos self-service ou nas gôndolas dos supermercados e nas feiras, praticamente tudo é exótico, pouco é local, com baixa importância regional, nacional e, muito menos, internacional.
O Rio Grande do Sul, mesmo sendo considerado um dos celeiros do Brasil, não está adaptado a futuras mudanças climáticas – e vários estudos internacionais vêm mostrando que as plantas regionais, as ditas plantas “daninhas”, as plantas espontâneas, são muito mais adaptadas [até por rotas metabólicas e fisiológicas diferentes] ao aumento do gás carbônico e da temperatura no ar, em comparação com as commodities agrícolas.
Não estamos preparados para catástrofes e desastres ambientais, porque as pessoas não sabem mais o que comer do seu quintal. E isso é um ciclo vicioso. As crianças deveriam aprender desde cedo nas escolas que existem milhares de plantas que podemos comer. Isso deve ser rotineiro, para que as pessoas deixem de encarar como comportamento de pobre que está passando por carência ou comida para porco.
Muitas vezes, nas saídas de coletas que realizamos periodicamente, sempre aparecem curiosos. Eu já aproveito para fazer uma educação informal, mostrando o que é comestível, e mesmo assim, alguns ainda pensam que sou uma pessoa que está passando necessidade, porque estou catando um frutinho qualquer ali no mato.
Precisamos quebrar essa tabu. Sabendo que determinada planta é comestível, você não mais a verá como mato. É preciso aprender isso: tudo foi mato um dia, até as pessoas descobrirem que aquilo se poderia comer, com as plantas mudando de categoria e inaugurando um novo paradigma alimentar. Só existe preocupação da sociedade quando ocorrem secas drásticas e as pessoas ficam sem uma planta folhosa local para comerem e precisam trazer de outras regiões.
Se, por exemplo, estivéssemos plantando bertalha (e.g., Anredera cordifolia, A. krapovickasii – Basellaceae), como hortaliça aqui no RS e não o alface, os agricultores não estariam passando tantos problemas, porque são plantas que toleram o período de estiagem e co-evoluíram neste ambiente. A bertalha foi um dos carros-chefe na minha pesquisa, ou espinafre-gaúcho, como preferi registrar popularmente, que você pode comer as folhas, muito rica em zinco, ótimo para memória, uma planta perene, mas que possui outra boa vantagem: além folhas como verdura, há as batatinhas áreas e também os tubérculos subterrâneos na pequena batata que ela produz que são legumes, com usos similares a batata-inglesa.
Destes órgãos amiláceos foi descoberta uma substância nova, em 2007, de proteção para cavidade gástrica, que inibe a ação de tripisina [“Ancordin”]. Alguns estrangeiros queriam comprar cerca de duas toneladas de batata. Cadê o produtor? Não há cultivos racionais desta espécie no Brasil. E continuamos falando da nossa biodiversidade, mas comendo a biodiversidade dos outros continentes/países. Criamos vaca e galinha que não são nossas. Plantamos trigo, arroz, café, laranja, eucalipto e soja, e nada é do Brasil.
Cadê a criação de anta, veado, mutum? Cadê o plantio de bertalha, ália, crem, jacaratiá… A domesticação do pêssego-do-mato? E tantas outras hortaliças e frutíferas silvestres com grande potencial agrícola e nutricional. Não existe. As pessoas valorizam tanto suas tradições em cada um dos nossos estados, falam bastante da biodiversidade, mas não a conhecem, e isso é riqueza abstrata. Se fala que a Amazônia vale trilhões. Vale nada. As pessoas estão passando fome lá.
Muita gente vivendo precariamente, como aqui, na famosa Porto Alegre, com sua periferia cheia de pessoas comendo mal, sentindo frio ao dormir. Não adianta termos uma biodiversidade imensa na Região Metropolitana se não a comemos ou a utilizamos de forma sustentável para outros fins. Muito menos geramos divisas e empregos, porque ninguém planta. Nós somos xenófilos, gostamos do que é de fora, aceitamos de pronto. Meu intuito é fazer a extensão, a popularização, dessas plantas nativas e subsidiar outras áreas do conhecimento, não ficar uma ação isolada. Que a Agronomia possa estudar isso no aspecto fitotécnico e horticultural; a Nutrição pesquisar a parte bromatológica; a Química, a Bioquímica, a Farmácia com a parte toxicológica e fitoquímica.
Ninguém pesquisa aquilo que não se conhece. Trazer à tona, resgatar e propor novas plantas para serem incorporadas na dieta humana conduz aos estudos transversais. E aí a importância, num trabalho básico desse como o nosso, de detalhar as plantas nativas. Mas friso que não se pode entender isso como uma verdade absoluta. É uma proposta em construção, que começa desde as experiências individuais dos pesquisadores envolvidos, nos relatos de pessoas que fazem uso tradicional, por dados de etnobotânica antigos. E será apenas um segmento da pesquisa, que servirá como subsídio para outras áreas de conhecimento.
E aí, o mais importante disso o que é? Ponderar o uso e ter diversificação. Por isso a ciência é dinâmica. Todas as plantas têm seus prós e contras, seus modos de preparo adequados, períodos de consumo, com maior ou menor sensibilidade das pessoas. Mas nós não podemos blindar as plantas não-convencionais por acharem que são mais tóxicas que as comuns que você tem no dia-a-dia.
Há carência de pesquisa, pois o comum é pesquisar só aquilo que está badalado: o morango ou tomate. E não se pesquisa nosso juá nativo, que tem tanto ou mais licopeno que o tomate, porque nem se conhece. Por isso a necessidade da transdisciplinaridade e de fazer essa passagem para o uso real e efetivo da nossa flora diversa. Nós não sabemos nem quantas espécies temos no Brasil ainda – 50 mil? – ficando restrito à Botânica. Não há consenso, nem uma listagem garantida.
Há hipóteses, mas nem isso a gente sabe. Não só a biodiversidade vegetal, mas animal também, que é mais paradigmática e cheia de tabus, com legislação cada vez mais engessada, necessitando ser revista com urgência, para que a nossa fauna alimentícia possa e deva ser criada de forma ecologicamente correta.
Estamos em uma área muito boa de se trabalhar.
Eu pude fazer uma pesquisa aplicada e transferir isso para as pessoas. Esse é um tipo de trabalho que desperta bastante interesse, de compartilhar aquilo que você pode fazer no ponto de ônibus e dentro dele, na divulgação corpo-a-corpo, porque as pessoas entendem, sendo gratificante para o pesquisador poder conseguir explicar o que faz. Falo que trabalho com as plantas que existem por aqui no chão, em todo o lugar, que não são aproveitadas, mas que dá para comer, seja verdura ou frutíferas, condimentos e por aí vai. No entanto, uma área, infelizmente, carente de pesquisa e de editais de financiamento no Brasil. Nós temos uma biodiversidade muito grande, mas não a comemos.
do coletivo de comunicação Catarse
Entrevista com Valdely Kinupp
O que de especial te motivou a trabalhar com as plantas alimentícias não-convencionais?
Foi a questão econômica e de sustentabilidade, mas também o prazer de fazer um trabalho novo, praticamente inédito, da forma como foi feito. Pensando numa alternativa, desde a sobrevivência na selva, na lida do campo, mas também numa perspectiva de geração de renda, empregos, conservação da natureza, porque hoje a gente vive uma monotonia alimentar.
As PANCs [Nota do Viomundo: Plantas Alimentícias Não-Convencionais], e nossa biodiversidade como um todo, seja ornamental, medicinal, madeireira são, muitas vezes, negligenciadas. Especialmente as alimentícias aqui no Brasil – se a gente olhar a nossa mesa, no que existe de cardápio nos restaurantes, dos self-service ou nas gôndolas dos supermercados e nas feiras, praticamente tudo é exótico, pouco é local, com baixa importância regional, nacional e, muito menos, internacional.
O Rio Grande do Sul, mesmo sendo considerado um dos celeiros do Brasil, não está adaptado a futuras mudanças climáticas – e vários estudos internacionais vêm mostrando que as plantas regionais, as ditas plantas “daninhas”, as plantas espontâneas, são muito mais adaptadas [até por rotas metabólicas e fisiológicas diferentes] ao aumento do gás carbônico e da temperatura no ar, em comparação com as commodities agrícolas.
Não estamos preparados para catástrofes e desastres ambientais, porque as pessoas não sabem mais o que comer do seu quintal. E isso é um ciclo vicioso. As crianças deveriam aprender desde cedo nas escolas que existem milhares de plantas que podemos comer. Isso deve ser rotineiro, para que as pessoas deixem de encarar como comportamento de pobre que está passando por carência ou comida para porco.
Muitas vezes, nas saídas de coletas que realizamos periodicamente, sempre aparecem curiosos. Eu já aproveito para fazer uma educação informal, mostrando o que é comestível, e mesmo assim, alguns ainda pensam que sou uma pessoa que está passando necessidade, porque estou catando um frutinho qualquer ali no mato.
Precisamos quebrar essa tabu. Sabendo que determinada planta é comestível, você não mais a verá como mato. É preciso aprender isso: tudo foi mato um dia, até as pessoas descobrirem que aquilo se poderia comer, com as plantas mudando de categoria e inaugurando um novo paradigma alimentar. Só existe preocupação da sociedade quando ocorrem secas drásticas e as pessoas ficam sem uma planta folhosa local para comerem e precisam trazer de outras regiões.
Se, por exemplo, estivéssemos plantando bertalha (e.g., Anredera cordifolia, A. krapovickasii – Basellaceae), como hortaliça aqui no RS e não o alface, os agricultores não estariam passando tantos problemas, porque são plantas que toleram o período de estiagem e co-evoluíram neste ambiente. A bertalha foi um dos carros-chefe na minha pesquisa, ou espinafre-gaúcho, como preferi registrar popularmente, que você pode comer as folhas, muito rica em zinco, ótimo para memória, uma planta perene, mas que possui outra boa vantagem: além folhas como verdura, há as batatinhas áreas e também os tubérculos subterrâneos na pequena batata que ela produz que são legumes, com usos similares a batata-inglesa.
Destes órgãos amiláceos foi descoberta uma substância nova, em 2007, de proteção para cavidade gástrica, que inibe a ação de tripisina [“Ancordin”]. Alguns estrangeiros queriam comprar cerca de duas toneladas de batata. Cadê o produtor? Não há cultivos racionais desta espécie no Brasil. E continuamos falando da nossa biodiversidade, mas comendo a biodiversidade dos outros continentes/países. Criamos vaca e galinha que não são nossas. Plantamos trigo, arroz, café, laranja, eucalipto e soja, e nada é do Brasil.
Cadê a criação de anta, veado, mutum? Cadê o plantio de bertalha, ália, crem, jacaratiá… A domesticação do pêssego-do-mato? E tantas outras hortaliças e frutíferas silvestres com grande potencial agrícola e nutricional. Não existe. As pessoas valorizam tanto suas tradições em cada um dos nossos estados, falam bastante da biodiversidade, mas não a conhecem, e isso é riqueza abstrata. Se fala que a Amazônia vale trilhões. Vale nada. As pessoas estão passando fome lá.
Muita gente vivendo precariamente, como aqui, na famosa Porto Alegre, com sua periferia cheia de pessoas comendo mal, sentindo frio ao dormir. Não adianta termos uma biodiversidade imensa na Região Metropolitana se não a comemos ou a utilizamos de forma sustentável para outros fins. Muito menos geramos divisas e empregos, porque ninguém planta. Nós somos xenófilos, gostamos do que é de fora, aceitamos de pronto. Meu intuito é fazer a extensão, a popularização, dessas plantas nativas e subsidiar outras áreas do conhecimento, não ficar uma ação isolada. Que a Agronomia possa estudar isso no aspecto fitotécnico e horticultural; a Nutrição pesquisar a parte bromatológica; a Química, a Bioquímica, a Farmácia com a parte toxicológica e fitoquímica.
Ninguém pesquisa aquilo que não se conhece. Trazer à tona, resgatar e propor novas plantas para serem incorporadas na dieta humana conduz aos estudos transversais. E aí a importância, num trabalho básico desse como o nosso, de detalhar as plantas nativas. Mas friso que não se pode entender isso como uma verdade absoluta. É uma proposta em construção, que começa desde as experiências individuais dos pesquisadores envolvidos, nos relatos de pessoas que fazem uso tradicional, por dados de etnobotânica antigos. E será apenas um segmento da pesquisa, que servirá como subsídio para outras áreas de conhecimento.
E aí, o mais importante disso o que é? Ponderar o uso e ter diversificação. Por isso a ciência é dinâmica. Todas as plantas têm seus prós e contras, seus modos de preparo adequados, períodos de consumo, com maior ou menor sensibilidade das pessoas. Mas nós não podemos blindar as plantas não-convencionais por acharem que são mais tóxicas que as comuns que você tem no dia-a-dia.
Há carência de pesquisa, pois o comum é pesquisar só aquilo que está badalado: o morango ou tomate. E não se pesquisa nosso juá nativo, que tem tanto ou mais licopeno que o tomate, porque nem se conhece. Por isso a necessidade da transdisciplinaridade e de fazer essa passagem para o uso real e efetivo da nossa flora diversa. Nós não sabemos nem quantas espécies temos no Brasil ainda – 50 mil? – ficando restrito à Botânica. Não há consenso, nem uma listagem garantida.
Há hipóteses, mas nem isso a gente sabe. Não só a biodiversidade vegetal, mas animal também, que é mais paradigmática e cheia de tabus, com legislação cada vez mais engessada, necessitando ser revista com urgência, para que a nossa fauna alimentícia possa e deva ser criada de forma ecologicamente correta.
Estamos em uma área muito boa de se trabalhar.
Eu pude fazer uma pesquisa aplicada e transferir isso para as pessoas. Esse é um tipo de trabalho que desperta bastante interesse, de compartilhar aquilo que você pode fazer no ponto de ônibus e dentro dele, na divulgação corpo-a-corpo, porque as pessoas entendem, sendo gratificante para o pesquisador poder conseguir explicar o que faz. Falo que trabalho com as plantas que existem por aqui no chão, em todo o lugar, que não são aproveitadas, mas que dá para comer, seja verdura ou frutíferas, condimentos e por aí vai. No entanto, uma área, infelizmente, carente de pesquisa e de editais de financiamento no Brasil. Nós temos uma biodiversidade muito grande, mas não a comemos.
quinta-feira, 1 de abril de 2010
Atualizar a Páscoa
Dom Demétrio Valentini*
Adital
Como sabemos, a páscoa remonta a tradições ancestrais. Seu primeiro contexto estava ligado à natureza. Celebrava o triunfo da vida, vencidas as ameaças do inverno ou da estiagem, quando parecia que a vida iria sucumbir. A exuberância da primavera, ou a estação das chuvas, revertiam o quadro, e a vida retomava sua forma exuberante e esplêndida.
Deste primeiro contexto, guardamos até hoje o ritmo anual da páscoa, estreitamente ligado às condições da vida em nosso planeta terra. Quer queiramos ou não, a vida está associada ao planeta em que nos encontramos.
A segunda expressão da páscoa é fruto da experiência do povo de Israel. Ele teve a intuição de associar sua saída do Egito, onde a vida estava sendo sufocada, exatamente num momento de celebração da páscoa natural.
Desta maneira, a páscoa passou a ter dimensão histórica. Introduziu a tremenda suposição de que, a partir de então, a vida depende da intervenção humana que sobre ela exercemos.
A terceira expressão da páscoa é a mais profunda, e a que melhor recolhe as duas anteriores. É a celebração da páscoa a partir da tradição cristã. Seria um assunto inesgotável analisar com a atenção que merece a providência de Cristo, de inserir o testemunho de sua vida no contexto da celebração pascal dos judeus.
Impressiona ver como ele tinha consciência de que, como profeta, "não podia morrer fora de Jerusalém", nem antes da hora, nem por motivos fúteis de episódios desconexos e circunstanciais. Ele queria colocar sua vida bem no cerne da dinâmica da história humana. Escolheu a páscoa para o confronto final, que lhe possibilitou dar seu testemunho definitivo em favor da vida plena e verdadeira.
Não há fato mais surpreendente, do que ver a Igreja surgindo com Cristo do sepulcro onde seu corpo tinha sido depositado. A Igreja é essencialmente pascal. Por isto, quanto mais batem nela, e tentam sufocá-la ou inviabilizá-la, mais ela revela a força da vida, a serviço da qual foi convocada por Cristo, e incumbida de religar continuamente a história humana ao nascedouro da vida nova. "Façam isto em memória de mim".
Esta providência de instituir uma "nova e eterna" páscoa, no momento da celebração da páscoa antiga, foi a ação mais estratégica e mais radical de Cristo. Ele que tinha dito "não ser deste mundo", sabia captar mais do que ninguém a dinâmica deste mundo, e nela inserir a esperança de uma vida para além deste mundo.
Sem perder a centralidade cristã da páscoa, nos dias de hoje nos damos conta da validade permanente da primeira dimensão pascal. A natureza continua seu processo vital, com sucessivos ciclos de mortes e ressurgimentos. Para entender o que se passa hoje com as preocupantes mudanças climáticas, precisamos de um recuo de milhões de anos. A contribuição dos geólogos é muito preciosa para perceber a trajetória da vida em nosso planeta. Sem recorrer a muitos dados, basta o mais evidente.
O desaparecimento dos dinossauros, que dominaram o planeta por mais de cem milhões de anos, serve de alerta para a nossa espécie humana. Para permanecer viva, a terra é capaz de se desfazer de espécies inteiras, se passam a agir contra o senso da vida.
Mas como a páscoa nos ensina que a vida no planeta passou a depender também da ação histórica da humanidade, que pode se tornar a expressão consciente da própria natureza, ainda é tempo de sintonizar melhor nossa ação humana com a dinâmica da vida.
De tal modo que a páscoa pode comportar a mística cristã, renovar nossa consciência histórica, e despertar nossa sintonia com a natureza.
Assim todos podemos ter uma boa páscoa!
(www.diocesedejales.org.br)
* Bispo de Jales (SP) e Presidente da Cáritas Brasileira
Adital
Como sabemos, a páscoa remonta a tradições ancestrais. Seu primeiro contexto estava ligado à natureza. Celebrava o triunfo da vida, vencidas as ameaças do inverno ou da estiagem, quando parecia que a vida iria sucumbir. A exuberância da primavera, ou a estação das chuvas, revertiam o quadro, e a vida retomava sua forma exuberante e esplêndida.
Deste primeiro contexto, guardamos até hoje o ritmo anual da páscoa, estreitamente ligado às condições da vida em nosso planeta terra. Quer queiramos ou não, a vida está associada ao planeta em que nos encontramos.
A segunda expressão da páscoa é fruto da experiência do povo de Israel. Ele teve a intuição de associar sua saída do Egito, onde a vida estava sendo sufocada, exatamente num momento de celebração da páscoa natural.
Desta maneira, a páscoa passou a ter dimensão histórica. Introduziu a tremenda suposição de que, a partir de então, a vida depende da intervenção humana que sobre ela exercemos.
A terceira expressão da páscoa é a mais profunda, e a que melhor recolhe as duas anteriores. É a celebração da páscoa a partir da tradição cristã. Seria um assunto inesgotável analisar com a atenção que merece a providência de Cristo, de inserir o testemunho de sua vida no contexto da celebração pascal dos judeus.
Impressiona ver como ele tinha consciência de que, como profeta, "não podia morrer fora de Jerusalém", nem antes da hora, nem por motivos fúteis de episódios desconexos e circunstanciais. Ele queria colocar sua vida bem no cerne da dinâmica da história humana. Escolheu a páscoa para o confronto final, que lhe possibilitou dar seu testemunho definitivo em favor da vida plena e verdadeira.
Não há fato mais surpreendente, do que ver a Igreja surgindo com Cristo do sepulcro onde seu corpo tinha sido depositado. A Igreja é essencialmente pascal. Por isto, quanto mais batem nela, e tentam sufocá-la ou inviabilizá-la, mais ela revela a força da vida, a serviço da qual foi convocada por Cristo, e incumbida de religar continuamente a história humana ao nascedouro da vida nova. "Façam isto em memória de mim".
Esta providência de instituir uma "nova e eterna" páscoa, no momento da celebração da páscoa antiga, foi a ação mais estratégica e mais radical de Cristo. Ele que tinha dito "não ser deste mundo", sabia captar mais do que ninguém a dinâmica deste mundo, e nela inserir a esperança de uma vida para além deste mundo.
Sem perder a centralidade cristã da páscoa, nos dias de hoje nos damos conta da validade permanente da primeira dimensão pascal. A natureza continua seu processo vital, com sucessivos ciclos de mortes e ressurgimentos. Para entender o que se passa hoje com as preocupantes mudanças climáticas, precisamos de um recuo de milhões de anos. A contribuição dos geólogos é muito preciosa para perceber a trajetória da vida em nosso planeta. Sem recorrer a muitos dados, basta o mais evidente.
O desaparecimento dos dinossauros, que dominaram o planeta por mais de cem milhões de anos, serve de alerta para a nossa espécie humana. Para permanecer viva, a terra é capaz de se desfazer de espécies inteiras, se passam a agir contra o senso da vida.
Mas como a páscoa nos ensina que a vida no planeta passou a depender também da ação histórica da humanidade, que pode se tornar a expressão consciente da própria natureza, ainda é tempo de sintonizar melhor nossa ação humana com a dinâmica da vida.
De tal modo que a páscoa pode comportar a mística cristã, renovar nossa consciência histórica, e despertar nossa sintonia com a natureza.
Assim todos podemos ter uma boa páscoa!
(www.diocesedejales.org.br)
* Bispo de Jales (SP) e Presidente da Cáritas Brasileira
Pileque precoce
Frei Betto *
Adital
Pesquisas indicam que o perfil preponderante do jovem brasileiro de hoje é, ao contrário da minha geração, conservador, individualista, distante daqueles que, em meados do século XX, queriam mudar o mundo.
Agora, ele se mostra mais preocupado em ter um bom emprego do que motivações ideológicas; menos propenso a riscos e mais apegado à família. A relação com a sociedade é mais virtual que real: fechado em seu quarto, ele nem precisa rezar "venham todos ao meu reino", pois tudo lhe chega através do telefone, da TV, da internet, do MP3.
A cultura consumista a todos nós oferece, em cálice dourado, o elixir da eterna juventude. Os jovens não querem deixar de ser jovens; adultos e idosos insistem em imitar os jovens. E o principal fator de afirmação é a autoimagem, a valorização da estética.
O jovem atual não quer se arriscar; anseia por experimentar. Na falta de motivação religiosa, experiência espiritual e ideologia altruísta, tende a buscar na bebida e na droga a alteração de seu estado de consciência. Sem isso não se sente suficientemente relaxado, loquaz, divertido e ousado.
É óbvio que a mídia dita padrões de comportamento, hábitos de consumo e paradigmas ideológicos. A diferença é que tudo isso chega ao jovem de tal forma bem embalado em papel brilhante e fita colorida, que ele nem percebe o quanto é vulnerável à ditadura do consumismo.
No Brasil, a ingestão de bebidas alcoólicas é legalmente proibida a menores de 18 anos (nos EUA, 21 anos). A fiscalização pouco funciona e o Estado permite a publicidade de cerveja a qualquer hora em rádio e TV -concessões públicas- e o estímulo ao consumo precoce. Inclusive a utilização publicitária de pessoas famosas das áreas de entretenimento, artes e esportes, para suscitar em crianças e jovens reações miméticas de consumo de álcool.
Dados do Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (Cebrid) informam que 42% das crianças brasileiras com idade entre 10 e 12 anos já consumiram bebida alcoólica, e 10% dos jovens de 12 a 17 anos podem ser classificados como dependentes de álcool.
Os adolescentes acreditam que um copo de chope não implica risco à saúde. Talvez. O problema é que, ao se enturmar num bar, ele bebe oito ou dez. Ou apela para o mais barato, no duplo sentido da palavra - custo e efeito: uma garrafa de cachaça ou vodca custa menos que uma rodada de chope e provoca rápido "um barato"...
O Ministério da Saúde já calculou quanto o alcoolismo custa aos cofres públicos? Quanto gasta o INSS com os alcoólicos afastados do trabalho por razões de dependência? De que adiantam as campanhas de prevenção se atletas de renome fazem propaganda de bebida alcoólica?
A publicidade de bebida destilada -cachaça, uísque, vodca- obedece à restrição de horários, regulados pela lei 9.294/1996. Entre 6h e 21h é vetada a publicidade de destilados, embora muitas rádios burlem a proibição. A cerveja, que responde por 70% de todo álcool ingerido no Brasil, é livre de regulamentação. E é por ela que muitos jovens ingressam na dependência química.
Pela lei 9.294, bebida alcoólica é a que possui mais de 13 graus na escala Gay-Lussac. O Congresso Nacional assim determinou pressionado pelos produtores de cerveja e vinho. Normas internacionais consideram que é alcoólica toda bebida com 0,5º GL ou acima.
Todas as demais leis do Brasil -de trânsito, de fabricação etc.- consideram alcoólica toda bebida com mais de 0,5º GL. A cerveja tem cerca de 4,8º GL. Verifique com lupa o rótulo de uma cerveja dita "sem álcool". Com exceção de uma marca, as demais possuem 0,5º GL, ou seja, fazem, com respaldo da lei, propaganda enganosa. Assim, pais desavisados deixam crianças ingerirem a cerveja "sem álcool" e alcoólicos em tratamento são vítimas do mesmo engodo.
O Código de Autorregulamentacao do Conar (Conselho de Autorregulamentação Publicitária) alerta que comerciais de cervejas não devem ser atrativos para o público jovem. O que se vê é o contrário. As peças publicitárias exalam jovialidade, bom humor, espírito de tribo, linguagem própria de jovens, sem que haja nenhum controle.
Vêm aí a Copa do Mundo e as Olimpíadas. Se permanecer liberado o direito de associar desportistas com bebidas alcoólicas a Lei Seca, com certeza, vai dar água...
Em muitos países, como no Canadá, há regulamentação à publicidade de bebida alcoólica, visando à proteção do público infantil. Lá não se vende bebida alcoólica em supermercados, lojas, padarias e mercearias. Só se permite em bares e restaurantes.
O Free Jazz, festival de música, foi cancelado por ser patrocinado por uma marca de cigarro. O mais badalado camarote do sambódromo exige que se vista a camisa de uma produtora de cerveja. Não existe o alerta: "Se fumar, não dirija". Já no caso da bebida...
O argumento de que regular a publicidade é censura ou fere a liberdade de expressão é mero terrorismo consumista centrado em sobrepor interesses privados ao interesse público, como é o caso da proteção da saúde da população, em especial de nossas crianças e adolescentes.
Artigo retirado do site Adital
http://www.adital.com.br/site/noticia.asp?lang=PT&cod=46494
[Autor, em parceria com Marcelo Barros, de "O amor fecunda o Universo - ecologia e espiritualidade" (Agir), entre outros livros.
Adital
Pesquisas indicam que o perfil preponderante do jovem brasileiro de hoje é, ao contrário da minha geração, conservador, individualista, distante daqueles que, em meados do século XX, queriam mudar o mundo.
Agora, ele se mostra mais preocupado em ter um bom emprego do que motivações ideológicas; menos propenso a riscos e mais apegado à família. A relação com a sociedade é mais virtual que real: fechado em seu quarto, ele nem precisa rezar "venham todos ao meu reino", pois tudo lhe chega através do telefone, da TV, da internet, do MP3.
A cultura consumista a todos nós oferece, em cálice dourado, o elixir da eterna juventude. Os jovens não querem deixar de ser jovens; adultos e idosos insistem em imitar os jovens. E o principal fator de afirmação é a autoimagem, a valorização da estética.
O jovem atual não quer se arriscar; anseia por experimentar. Na falta de motivação religiosa, experiência espiritual e ideologia altruísta, tende a buscar na bebida e na droga a alteração de seu estado de consciência. Sem isso não se sente suficientemente relaxado, loquaz, divertido e ousado.
É óbvio que a mídia dita padrões de comportamento, hábitos de consumo e paradigmas ideológicos. A diferença é que tudo isso chega ao jovem de tal forma bem embalado em papel brilhante e fita colorida, que ele nem percebe o quanto é vulnerável à ditadura do consumismo.
No Brasil, a ingestão de bebidas alcoólicas é legalmente proibida a menores de 18 anos (nos EUA, 21 anos). A fiscalização pouco funciona e o Estado permite a publicidade de cerveja a qualquer hora em rádio e TV -concessões públicas- e o estímulo ao consumo precoce. Inclusive a utilização publicitária de pessoas famosas das áreas de entretenimento, artes e esportes, para suscitar em crianças e jovens reações miméticas de consumo de álcool.
Dados do Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (Cebrid) informam que 42% das crianças brasileiras com idade entre 10 e 12 anos já consumiram bebida alcoólica, e 10% dos jovens de 12 a 17 anos podem ser classificados como dependentes de álcool.
Os adolescentes acreditam que um copo de chope não implica risco à saúde. Talvez. O problema é que, ao se enturmar num bar, ele bebe oito ou dez. Ou apela para o mais barato, no duplo sentido da palavra - custo e efeito: uma garrafa de cachaça ou vodca custa menos que uma rodada de chope e provoca rápido "um barato"...
O Ministério da Saúde já calculou quanto o alcoolismo custa aos cofres públicos? Quanto gasta o INSS com os alcoólicos afastados do trabalho por razões de dependência? De que adiantam as campanhas de prevenção se atletas de renome fazem propaganda de bebida alcoólica?
A publicidade de bebida destilada -cachaça, uísque, vodca- obedece à restrição de horários, regulados pela lei 9.294/1996. Entre 6h e 21h é vetada a publicidade de destilados, embora muitas rádios burlem a proibição. A cerveja, que responde por 70% de todo álcool ingerido no Brasil, é livre de regulamentação. E é por ela que muitos jovens ingressam na dependência química.
Pela lei 9.294, bebida alcoólica é a que possui mais de 13 graus na escala Gay-Lussac. O Congresso Nacional assim determinou pressionado pelos produtores de cerveja e vinho. Normas internacionais consideram que é alcoólica toda bebida com 0,5º GL ou acima.
Todas as demais leis do Brasil -de trânsito, de fabricação etc.- consideram alcoólica toda bebida com mais de 0,5º GL. A cerveja tem cerca de 4,8º GL. Verifique com lupa o rótulo de uma cerveja dita "sem álcool". Com exceção de uma marca, as demais possuem 0,5º GL, ou seja, fazem, com respaldo da lei, propaganda enganosa. Assim, pais desavisados deixam crianças ingerirem a cerveja "sem álcool" e alcoólicos em tratamento são vítimas do mesmo engodo.
O Código de Autorregulamentacao do Conar (Conselho de Autorregulamentação Publicitária) alerta que comerciais de cervejas não devem ser atrativos para o público jovem. O que se vê é o contrário. As peças publicitárias exalam jovialidade, bom humor, espírito de tribo, linguagem própria de jovens, sem que haja nenhum controle.
Vêm aí a Copa do Mundo e as Olimpíadas. Se permanecer liberado o direito de associar desportistas com bebidas alcoólicas a Lei Seca, com certeza, vai dar água...
Em muitos países, como no Canadá, há regulamentação à publicidade de bebida alcoólica, visando à proteção do público infantil. Lá não se vende bebida alcoólica em supermercados, lojas, padarias e mercearias. Só se permite em bares e restaurantes.
O Free Jazz, festival de música, foi cancelado por ser patrocinado por uma marca de cigarro. O mais badalado camarote do sambódromo exige que se vista a camisa de uma produtora de cerveja. Não existe o alerta: "Se fumar, não dirija". Já no caso da bebida...
O argumento de que regular a publicidade é censura ou fere a liberdade de expressão é mero terrorismo consumista centrado em sobrepor interesses privados ao interesse público, como é o caso da proteção da saúde da população, em especial de nossas crianças e adolescentes.
Artigo retirado do site Adital
http://www.adital.com.br/site/noticia.asp?lang=PT&cod=46494
[Autor, em parceria com Marcelo Barros, de "O amor fecunda o Universo - ecologia e espiritualidade" (Agir), entre outros livros.
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