terça-feira, 23 de dezembro de 2008
UM VOO ALEGRE, PERFUMADO E PLENO!
Iara Borges Aragonez.
Coletivo Desenvolvimento Sustentavel Semapi
desde a Nova Zelandia.
A POHUTUKAWA e uma arvore que domina a paisagem da Nova Zelandia, Ilha Norte, no mes de Dezembro, pelo vermelho intenso de suas flores. Mas, a destaco aqui pelo significado que tem junto aos MAORIS*. Para estes, as raizes da Pohotukawa, a partir de CAIPE REINGA**, levam o espirito de seus mortos de volta para HAWAIKI, lugar de onde vieram e onde deixaram seus ancestrais. Assim os reencontram.
Refletindo sobre essa crenca e sobre a historia desse povo guerreiro (no melhor sentido da palavra), imaginei o quanto seria bom se todos nos encontrassemos a nossa POHUTUKAWA. E e a partir dessa imagem que abraco e celebro, com cada um que acompanha e faz esse blog, a passagem desse mais um ano.
Desejo que todos nos encontremos uma POHOTUKAWA, seja ela na forma de nossos Ipes, Jacarandas, Pitangueiras, Manacas, Guapuruvus ou Figueiras. Mas, nesse caso, para que as suas raizes nos firmem e nos reafirmem em NOSSA TERRA. Com a forca suficiente para faze-la mais bela e justa e principal simbolo da nossa existencia. Nossa e dos Nossos. E, tambem, que seus frutos, folhas e flores, na danca dos ventos, espalhem a boa energia, entrelacando-nos cada vez mais em um voo alegre, perfumado e pleno. Que nessa danca e nesse voo realizemos o nosso Eu e o nosso Nos, fazendo-nos alegres e felizes o suficiente para espalharmos mais alegria e mais felicidade. Que sejamos ainda mais vitoriosos em nossa lutas ligadas a nossa terra e ao nosso povo. Que os "SEM", em suas marchas cada vez mais vigorosas, afirmem e reafirmem a sua forca, a sua dignidade e a sua identidade.
Assim meus queridos(as) companheiros(as), deixo um grande, forte e amoroso abraco e um FELIZ 2009 PARA TODOS(AS) NOS.
*MAORIS: Povo que chegou na Nova Zelandia, vindos de diferentes Ilhas do Pacifico, ha cerca de 1000 anos. Nos anos 1700 e 1800, com desdobramentos ate os dias de hoje, travaram muitas batalhas com os colonizadores ingleses para defender que as suas terras permanecessem em suas maos.
** CAIPE REINGA: O ponto mais setentrional da Nova Zelandia, onde e possivel assistir o encontro entre o Mar da TASMANIA e o OCEANO PACIFICO. E de la, segundo a crenca MAORI, que a POHUTUKAWA situada na ponta do Cabo, leva o espirito de seus mortos ao encontro de seus ancestrais.
*** Desculpem-me a falta de acentos, mas o teclado que utilizo nao me oferece essa possibilidade.
segunda-feira, 22 de dezembro de 2008
DO BLOG RS URGENTE - A CONQUISTA DE CAIBOATÉ
O BLOG DO COLETIVO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL não participou mas acompanhou de perto pelo excelente trabalho dos companheiros blogueiros....valeu esta foi a grande vitória da sustentabilidade de 2008. sem dúvidas o pampa não será mais o mesmo depois desta conquista!
SEGUNDA-FEIRA, 22 DE DEZEMBRO DE 2008
A conquista de Caiboaté
O MUNDO SEGUNDO A MONSATO
O Movimento Gaúcho em Defesa do Meio Ambiente – MoGDeMA - tem a honra de convidá-lo(a) para participar da exibição pública do documentário O Mundo Segundo a Monsanto – da dioxinas aos transgênicos, no dia 22 de Dezembro, às 18:00h, no Auditório do Semapi Sindicato. (Lima e Silva, 280)
O documentário bombástico da escritora Marie-Monique Rodin, "O Mundo Segundo a Monsanto" foi ao ar a primeira vez no dia 11 de março. Ele mostra como a Monsanto se envolveu no Projeto Manhatan, que deu origem à bomba atômica. Fala da participação da Monsanto na Guerra do Vietnã com seu agente laranja. Mostra a relação dos transgênicos da Monsanto e o suicídio de milhares de agricultores indianos. Conta a destruição causada agricultura dos países em desenvolvimento pela Monsanto. Mostra as táticas da Monsanto para calar qualquer voz que ameace falar contra algo que ela produz.
O MoGDeMA é uma articulação que reúne ONG's ambientalistas, movimentos sociais do campo e da cidade, sindicatos, representantes de classe, lideranças religiosas, estudantes, professores, pesquisadores e demais lutadores sociais. Surge em decorrência da situação de crise deliberada e progressiva da gestão ambiental no Rio Grande do Sul. Visa ações conjuntas que fortaleçam as políticas públicas em defesa da natureza, promovendo o debate e a luta socioambiental, propondo a reflexão crítica ao modelo de desenvolvimento predatório hegemônico, e construindo as bases sociais para um novo modelo com sustentabilidade ambiental. O MoGDeMA é um espaço universal e plural, aberto a homens e mulheres, instituições e movimentos sociais. Carta de Princípios http://mogdema. blogspot. com/ . Neste endereço eletrônico também existe uma relação de atividades desenvolvidas neste ano de 2008.
Agradecemos desde já e contamos com sua participação.
sexta-feira, 19 de dezembro de 2008
BIOMA PAMPA NATURALMENTE GAÚCHO BRASILEIRO
Já faz um ano que o dia 17 de dezembro foi oficialmente instituído como o Dia Nacional do Bioma Pampa e poucos (ou quase nenhum) são os avanços no que tange a preservação e conservação desse bioma único no Brasil. Mesmo contando agora com um “dia nacional” os órgãos ambientais Federal e, principalmente o Estadual, parecem seguir de “costas” para o Bioma Pampa. Inclusive, “curiosamente”, hoje nada tratam do tema em seus sítios eletrônicos.
O Pampa sul-rio-grandense abrange cerca de 180 mil Km2, o que equivale a cerca de 60% da área do RS. O Pampa é caracterizado por uma vegetação campestre, que predomina em relevos de planície, e por uma vegetação mais densa, arbustiva e arbórea, nas encostas e ao longo dos cursos de água, além da ocorrência de banhados e áreas úmidas.
Além disso, as terras pampeanas ocupam uma área de aproximadamente 700 mil km2 entre os países da Argentina, Uruguai e Brasil. No Rio Grande dos Sul apenas 39% de sua área total ainda é constituída por remanescentes de campos naturais (Pillar apud Buckup, 2007).
E mesmo com uma imensa riqueza de biodiversidade e significantes endemismos (ou seja, espécies que só ocorrem nesse ecossistema) apenas 0,46% do Pampa gaúcho está protegido em Unidades de Conservação. Mesmo assim e em ritmo acelerado, os campos estão sendo convertidos em lavouras e plantações de árvores exóticas. Segundo Pillar (2006), entre os anos de 1970 e 2005 mais de 4,7 milhões de hectares de pastagens naturais foram modificadas. Atualmente o RS tem uma área de mais de 500 mil hectares de monoculturas de árvores exóticas e, segundo projeções, deverá ter cerca de um milhão de hectares de plantações de pinus, eucalipto e acácia até 2015.
A metade sul do RS, onde predomina o bioma, desde 2003 tem sofrido a ofensiva dos mega-projetos de três grandes empresas de celulose e papel (Aracruz, Votorantin e Stora Enso). Tais empresas já estão transformando o bioma Pampa e sua biodiversidade em imensos maciços de eucalipto, ou seja, em desertos verdes. Não obstante, além de transformar a biodiversidade do Pampa em desertos verdes também instalarão, pelo menos, três fábricas de celulose.
E o poder público? Enquanto o Governo federal se omite, ou melhor, apenas cria um data comemorativa, o Governo estadual “faz de tudo” para não preservar centímetro qualquer do Pampa. A cúpula do atual poder público estadual (gestão Yeda Crusius) assumiu os investimentos do setor da celulose e papel como projeto de governo e vem incentivando de diferentes formas a consolidação deste setor no Estado.
Estas formas de incentivo incluem, sobretudo, a flexibilização e o descumprimento da legislação ambiental (por exemplo, excluindo ou postergando a apresentação do Estudo Prévio de Impacto Ambiental em empreendimento de florestamento ou reflorestamento para fins empresariais com menos de 1000 hectares).
Além disso, os licenciamentos ambientais dos plantios de eucaliptos estão sendo liberados de forma precária, descumprindo regras e sem a conclusão do Zoneamento Ambiental para atividade de Silvicultura (ZAS), desenvolvido pela Fundação Estadual de Proteção Ambiental e da Fundação Zoobotânica. É importante ressaltam que com o ZAS finalizado, o mesmo foi desqualificado e rechaçado pelas empresas, por algumas entidades e sindicatos e, pasmem, pelo próprio governo, uma vez que o zoneamento limitava plantios de pínus e eucalipto em grande escala e em determinadas áreas do RS. Sendo assim, resta concluir que o descomprometimento real com a questão ambiental e que a falta de políticas efetivas de preservação e de conservação do bioma Pampa tem permitido e incentivado que o mesmo seja convertido em monoculturas de eucaliptos.
Por Cíntia Barenho, Centro de Estudos Ambientais, 18/12/2008
quarta-feira, 17 de dezembro de 2008
NO URUGUAI NÃO DEU CERTO...
Monocultura do eucalipto muda paisagem e vida no Uruguai
Introduzido de forma intensiva a partir dos anos 90, com os primeiros projetos da indústria de celulose que então se alinhavavam por lá, o Uruguai hoje convive com a monocultura do eucalipto ressentindo-se de profundos impactos socioeconômicos. Com 1,1 milhão de hectares cultivados continuamente para dar conta da demanda de 1 milhão de toneladas de celulose produzidas anualmente pela empresa de origem finlandesa Botnia, o país já contabiliza prejuízos ao emprego, inclusive ao segmento do turismo.
O cenário é muito diferente de décadas atrás, em que o eucalipto convivia, em forma de ilhas, com a agricultura e a criação de gado. “Naquela época já se sabia que nada se cultivava a menos de 30 metros do eucalipto, pois cada árvore dessas consome de 30 a 40 litros de água”, lembra Victor Bacchetta, jornalista uruguaio que esteve nesta segunda-feira em Porto Alegre, lançando o livro “A Fraude da Celulose”, que mostra, em seis capítulos, num total de 225 páginas, o processo de empobrecimento socioambiental e cultural decorrente da adoção massiva da cultura do eucalipto.
Palestrante pela manhã no lançamento do Movimento Gaúcho em Defesa do Meio Ambiente na Assembléia Legislativa e, à noite, no Sindicato dos Empregados em Perícias e Fundações do RS (Semapi), Bacchetta fez uma retrospectiva das implicações da entrada e operação do setor de celulose em seu país, comparando com a situação brasileira. Segundo ele, está havendo, especialmente dos anos 70 para cá, uma transferência deste setor, dos países do Norte para os do Sul. “No Brasil, são 5 milhões de hectares de florestas plantadas, num processo que se iniciou no Espírito Santo e no sul da Bahia. Mas nos Pampas, este processo é mais recente, e aqui há um ecossistema totalmente diferente”, observa. “Essa decisão, de trasladar as empresas de celulose do Norte, dos países europeus, para o Sul, é tomada por razões de controle ambiental, porque na Europa se aplicam normas mais restritivas quanto à proteção ambiental, o que aqui não acontece”, sustenta.
Segundo o jornalista, a indústria da celulose necessita de escalas intensivas de produção para se sustentar: “Isso faz parte de uma condição imposta pelo BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), que financia programas que, na realidade, institucionalizam a pobreza em um nível minimamente aceitável, e o Governo da Frente Ampla (do presidente Tabaré Vázquez) aceitou plenamente esta política.”
Impacto social
Para a produção de 1,1 milhão de toneladas de celulose, a Botnia, de acordo com Bacchetta, necessita de 200 mil hectares de florestas de eucalipto, que estão plantadas a um raio entre 150 e 200 quilômetros de sua planta. “Se nas décadas de 50 e 60 se falavam em latifúndios de 20 mil, 25 mil hectares, hoje as plantações de eucalipto formam áreas contínuas de 150 mil hectares. Devido a esta florestação, vivemos um segundo processo de esvaziamento do campo, com abandono de atividades agrícolas tradicionais e criação de gado e fechamento de escolas”, descreve.
O impacto mais relevante é sobre o emprego rural. Segundo o último censo do Uruguai, para cada mil hectares de florestas, são empregados 4,8 a 4,9 trabalhadores, enquanto que na criação de gado, para a mesma área, são 5,8 a 5,9 trabalhadores. “No Departamento de Rio Negro, onde está instalada a Botnia [a sede é em Fray Bentos, norte do país], a taxa de desemprego é de 13,8%, de acordo com o censo de abril de 2008, mais elevada que a média do Uruguai todo, que é de 7,6%”, compara o autor.
Atividades de fruticultura ocupam bem mais pessoas: 71 por mil hectares, o que chega a ser 14 vezes mais que a mão-de-obra para o plantio de eucalipto. Este número é ainda maior para a horticultura: 138 indivíduos empregados por mil hectares. “Com o avanço do eucalipto, perdem-se empregos em outras áreas e cresce a violência urbana”, resume Bacchetta, lembrando que na fábrica trabalham 190 pessoas. Ele destaca que houve prejuízos não somente às lavouras tradicionais, mas a atividades como apicultura, turismo e pesca, que perderam 1,4 mil postos de trabalho. “A fábrica está em zona franca, conta com vários benefícios fiscais”, afirma o jornalista, acrescentando que os trabalhadores que operam em atividades de poda, fumigação e outras relacionadas à manutenção do plantio de eucaliptos são terceirizados, fazem atividades eventuais e não têm assegurados cuidados com saúde no trabalho e riscos contra acidentes.
Questões ambientais
A fábrica da Botnia utiliza 86 milhões de litros de água diariamente e devolve 71 milhões. “O problema é que temos aí dioxinas e furanos, material cancerígeno e cumulativo mesmo em pequenas quantidades”, afirma Bacchetta. “O governo uruguaio adotou um limite máximo de emissões de dioxinas e furanos, e muitos técnicos dizem que esses índices são indetectáveis, mas isto é um eufemismo, pois o problema continua, mesmo sendo indetectáveis pelos instrumentos.” A principal causa dessas emissões, diz, é a opção das empresas por tecnologias que não eliminam totalmente o cloro do processo produtivo: “Existem tecnologias TCF, ou seja, processo totalmente livre de cloro elementar, mas não utilizam porque não é rentável. Além disto, as empresas de celulose alegam que com o processo ECF, ou seja, livre de cloro elementar, mas com compostos de cloro, conseguem um produto de melhores características do que com TCF”, explica.
Além das dioxinas, há problemas como emissões de nitrogênio e fósforo em elevadas quantidades, que ocasionam eutrofização, implicando aparecimento de algas e conseqüente mortandade de peixes e espécies vegetais. “O Rio Uruguai já estava comprometido ambientalmente com as elevadas quantidades de nitrogênio e fósforo dos efluentes de outras indústrias e das substâncias químicas empregadas nas lavouras. Agora, a situação se agrava”, nota.
“O argumento da Botnia de que as florestas de eucalipto capturam emissões de carbono, sendo portanto um mecanismo de redução da poluição do ar, diminuição do efeito estufa etc, não considera o fato de que as lavouras tradicionais absorvem muito mais o dióxido de carbono, pelas folhas e pelo solo. Não se pode comprar o papel apenas das folhas das plantas de eucalipto com o da biomassa do solo nesse tipo de absorção”, argumenta.
Incidente
A fábrica da Botnia entrou em operação em outubro do ano passado, depois de um incidente diplomático entre Uruguai e Argentina, pois a planta fica a 40 quilômetros de Gualeguaychu, na proivíncia de Entre Rios, Argentina, onde há uma forte tradição ambientalista. Em abril de 2005, o acirramento de ânimos entre os dois países chegou ao auge, quando moradores da cidade argentina fecharam a ponte que liga Gualeguayachu a Fray Bentos.
Conforme Bacchetta, o governo uruguaio explorou este incidente apelando para o senso de patriotismo, criando, para a opinião pública, a imagem de que quem estivesse contra a papeleira seria antipatriota. Isto, porém, não corresponde ao que de fato era o sentimento público, pois muito uruguaios se posicionaram contra a fábrica “sem deixar de ser patriotas”, atesta.
Há inclusive um julgamento internacional tramitando no Tribunal de Haia, porque o governo uruguaio não cumpriu o processo de consulta popular determinado pelo Tratado do Rio Uruguai, firmado entre este país e a Argentina. “A província de Entre Rios exigiu o cumprimento desse tratado, mas o Uruguai saiu com a resposta de que se tratava de uma decisão soberana, dele”, recorda-se Bacchetta.
Ovo podre
O cheiro tão conhecido no início dos anos 70 pelos moradores da Região Metropolitana de Porto Alegre (especificamente, Capital, Guaíba e arredores) marcou presença recentemente em Fray Bentos. De acordo com Bacchetta, desde que começou a funcionar, a fábrica da Botnia teve vários episódios de parada na produção por problemas técnicos, “e sentimos freqüentemente emissões de gases com cheiro de podre”. As paradas ocorrem praticamente todos os meses, segundo ele. “Várias vezes o cheiro inundou a cidade de Fray Bentos, e ninguém sabia de onde era. Enviaram dois técnicos de Montevidéu para saber a origem, e informaram depois que não era possível estabelecer a fonte”, afirma.
Mais e mais
Segundo a Organização Mundial das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), o consumo de papel quintuplicou nos últimos 50 anos. Do que é produzido, 51% vão para o mercado de supérfluos (catálogos de shoppings, propagandas de lojas etc), e 41% para educação (livros, cadernos) e outras necessidades básicas (higiene). “Há um uso irracional de papel, e mesmo a informática, que se pensava iria diminuir o consumo de papel, teve efeito oposto, ou seja, fez aumentar o uso de impressos”, diz o jornalista. Conforme a FAO, uma pessoa necessita de 30 a 40 quilos por ano de papel par atender suas necessidades básicas, mas a realidade de consumo de vários países é muito superior a isto. No Uruguai, por exemplo, usam-se 36 quilos per capita por ano; na Finlândia, 325 quilos; nos Estados Unidos, 200 a 300 quilos; na França, 190 quilos. Seguindo essa lógica de mais e mais consumo de papel, a área cultivada com eucalipto, no Uruguai, subiu de 93 mil hectares, em 1990, para 949 mil hectares, atualmente (quase 1 milhão). Um aumento de mais ou menos dez vezes. O espaço entre as árvores é de três metros, e entre essas “florestas” e as casas remanescentes, de apenas 30 metros.
Bacchetta informa ainda que as terras adquiridas pelas empresas para o plantio de eucalipto o foram por preços de 13 a 14 vezes o valor de mercado. Assim, dificilmente se convenceria os proprietários a não vender. No cenário de Fray Bentos, não é difícil encontrarem-se casas abandonadas em meio aos eucaliptais.
A paisagem mudou, e o panorama vai mudar mais ainda. As empresas Stora Enso e Portocel (esta última, de Portugal) já compraram áreas no departamento de Durazno e estão iniciando plantio. Uma fábrica da Ence está sendo construída. E mais: as empresas Nipon Paper (japonesa) e International Paper Co. (norte-americana) declararam interesse em se estabelecer no Uruguai. Um dos pontos visados é próximo à Lagoa Mirim, na fronteira entre Uruguai e Brasil (RS). O Uruguai tem 17,6 milhões de hectares de área, e se todos esses projetos vingarem, cerca de 25% do território do país (mais ou menos 4 milhões de hectares) serão tomados por eucaliptos. Estâncias, gado, tradição da mais refinada cultura européia. Tudo isso impregna com boas emoções a memória do turista que visita o Uruguai, mas é uma paisagem que poderá ficar apenas em retratos do passado.
Fonte: Cláudia Viegas, AmbienteJÁ, 16/12/2008
MOGDEMA - A NATUREZA TE ESPERA!
Foi muito emocionante assistir a rebeldia dos velhos e bons guardiões do movimento ambientalista gaúcho!
A Luta continua!
MOGDEMA nasce forte!
Com uma homenagem aos pioneiros da ecologia no Rio Grande do Sul, foi lançado nesta segunda-feira (15/12), oficialmente, o Movimento Gaúcho em Defesa do Meio Ambiente (Mogdema), com a filiação inicial de 37 signatários, entre ONGs, conselhos, instituições, associações e entidades religiosas, sociais, sindicais, estudantis e comunitárias. O propósito declarado do movimento é popularizar a luta ambiental, para além das ONGs, levando-a aos movimentos sociais e à população em geral.
O Mogdema "visa ações conjuntas que fortaleçam as políticas públicas em defesa da Natureza, promovendo o debate e a luta socioambiental, propondo a reflexão crítica ao modelo de desenvolvimento predatório hegemônico, e construindo as bases sociais para um novo modelo com sustentabilidade ambiental", diz a Carta de Princípios do Movimento, lida na solenidade.
“Há uma necessidade da ecologização dos movimentos sociais, sozinhos, como a história está mostrando, não somos capazes de dar conta do recado”, discursou Celso Marques, representando a Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural (Agapan). “Estamos num momento crítico em que isto é indispensável”, insistiu, traduzindo um pensamento que é comum entre os criadores do Mogdema.
O surgimento do Mogdema vem de um período extremamente conturbado na política ambiental do Estado, como há muito não se via. O fator deflagrador foram os megaprojetos das papeleiras, que tiveram seus licenciamentos ambientais acelerados pelo governo. Criou-se uma situação de conflito aberto que, por outro lado, mobilizou e unificou os ambientalistas com outras entidades e organizações da sociedade civil.
Bebendo na fonte
Para se inspirar, os fundadores do Mogdema decidiram beber na fonte e reuniram numa mesma mesa, na cerimônia de hoje, alguns dos principais fundadores do ambientalismo no Rio Grande do Sul: Flávio Lewgoy, Augusto Carneiro, Hilda Zimmermann, Caio Lustosa e o Irmão (marista) Antônio Cechin. “O movimento ambientalista vive, está mais vivo do que nunca, e isto é uma satisfação indizível, porque cada um que está aqui representa outros milhares” disse Flávio Lewgoy, professor aposentado da Ufrgs e um dos fundadores da Agapan, ao auditório lotado de pessoas de todas as idades.
O hoje livreiro Augusto Carneiro fez uma defesa apaixonada dos parques, “porque são sinônino de futuro, quando não tiver mais nada (dos recursos naturais e biodiversidade) é deles que vai sair a semente da vida”, disse. “Aqui, os parques são invadidos permanentemente e o povo brasileiro adora queimar os parques, infelizmente”, completou.
Hilda Zimmerman observou que se os ambientalistas não conseguem mobilizar o povo por amor ao meio ambiente, esta mobilização vai acontecer por necessidade. Já o Irmão Cechin anunciou que a Pastoral da Ecologia passará a participar do Mogdema e citou Santo Agostinho, que disse: “Deus perdoa sempre, os homens perdoam às vezes, mas a natureza não perdoa nunca”. Por isso, segundo ele, as pessoas deveriam aprender as leis da natureza e respeitá-las.
Comissão de Meio Ambiente
Um dos coordenadores do Movimento, Felipe Amaral, do Instituto Biofilia, avaliou como excelente, acima das expectativas o lançamento do Mogdema, pelo público e representantividade das entidades que se filiaram até agora. Apontou como objetivos imediatos a aproximação com o Poder Legislativo, visando a criação de uma comissão específica de meio ambiente na casa. Também a busca da paridade de representação no Conselho Estadual do Meio Ambiente (Consema), onde hoje os ambientalistas são minoria, e, principalmente, inciativas para propor um novo modelo de desenvolvimento do Estado, além da crítica, simplesmente.
Entre os compromissos da Carta de Princípios do Movimento estão: defender a biodiversidade, a agricultura familiar de base ecológica, a soberania alimentar e territorial, o abastecimento interno, o emprego urbano e rural e as culturas tradicionais; defender os Biomas Pampa e Mata Atlântica, aí incluídos os Campos de Cima da Serra, promovendo a proteção da biodiversidade; defender os recursos hídricos superficiais e subterrâneos, em especial o Aquífero Guarani; lutar pela abolição do modelo de produção das monoculturas, das lavouras energéticas do agrocombustível e de matéria prima industrial e da lavoura geneticamente modificada;
“Vida longa ao Movimento, porque é em defesa da vida que ele nasce, hoje todos os interesses só se movem pelo capital, precisamos dar um basta nisso, não podemos deixar para amanhã para assumir um compromisso com a vida e com o futuro do nosso planeta”, conclamou o diretor do Semapi (sindicato que reúne servidores de fundações) e presidente da Associação dos Servidores da Fundação Estadual de Proteção Ambietal (Fepam), Antenor Pacheco. A programação foi concluída com um painel que teve a participação do jornalista uruguaio Victor Bacchetta, que discorreu sobre sue livro A Fraude da Celulose*, e do professor Antônio Libório Philomena, que abordou "O contexto ambiental no limite, o futuro da humanidade".
Fonte: Ulisses A. Nenê/Ecoagência
Matéria também reproduzida no site do SEMAPI.
segunda-feira, 15 de dezembro de 2008
LANÇAMENTO DO MOGDEMA
Movimento Gaúcho em Defesa do Meio Ambiente será lançado nesta segunda, dia 15
O Movimento Gaúcho em Defesa do Meio Ambiente (Mogdema) será lançado oficialmente nesta segunda-feira, dia 15 de dezembro, às 9 horas, em um ato público no plenarinho da Asembléia Legislativa do Rio Grande do Sul.O movimento é uma articulação que reúne ONGs ambientalistas, movimentos sociais do campo e da cidade, sindicatos, representantes de classe, lideranças religiosas, estudantes, professores e pesquisadores que pretende enfrentar a situação de crise progressiva da gestão ambiental no Estado.
Segundo sua Carta de Princípios, o movimento pretende implementar ações que "fortaleçam as políticas públicas em defesa da natureza, promovendo o debate e a luta sócio-ambiental, propondo uma reflexão crítica sobre o modelo de desenvolvimento predatório hegemônico, e construindo as bases sociais para um novo modelo com sustentabilidade ambiental".
Crise e polêmicas
Segundo o diretor do Semapi Antenor Pacheco, o movimento vem sendo formado há meses, em reuniões periódicas, e surge em decorrência da situação de crise e das várias polêmicas - como há muito não se via - em torno da gestão ambiental no Rio Grande do Sul. Especialmente, a aprovação e implantação de vários megaprojetos de papeleiras, com plantio intensivo de eucaliptos, na Metade Sul do Rio Grande do Sul.
Estarão presentes como painelistas, dia 15, o jornalista uruguaio especializado em jornalismo ambiental Victor Bacchetta, autor do livro "A Fraude da Celulose" e membro-fundador da Rede de Comunicação Ambiental da América Latina e Caribe, e o oceanógrafo, doutor em Ecologia, professor da FURG Antonio Philomena.
Programação:
Manhã
9h: Homenagem aos pioneiros do movimento ecológico no RS – Augusto Carneiro, Caio Lustosa, Flávio Lewgoy, Giselda Castro, Hilda Zimmermann, Irmão Cecchin e Sebastião Pinheiro;
10h: Leitura da carta de princípios e de assinatura da mesma pelas instituições presentes;
11h: Palestras com convidados especiais:
Victor Bacchetta – A fraude da Celulose
Antonio Philomena – Contexto ambiental e o futuro da Humanidade
Noite:
19h: Conversa com Victor Bacchetta – Os impactos do Modelo Florestal da Celulose sobre o Bioma Pampa.
Local: Auditório do SEMAPI – Rua Lima e Silva, 280
20h30min: Confraternização – Bar Pinacoteca (Rua República, 409)
sexta-feira, 5 de dezembro de 2008
Eucalipitais - Qual Rio Grande desejamos?
O livro surgiu de um processo baseado na discussão de várias opiniões, sobre um tema "que quer ser controverso", mas não o é, que são as lavouras de eucalipto e as empresas papeleiras, melhor denominadas de "pasteiras".
Políticos retribuindo o apoio financeiro das papeleiras em doações eleitorais, a divulgação, burla do regramento legal, ardilosas violações constitucionais, informações distorcidas sobre a geração de emprego formam o arcabouço do apelidado "reflorestamento". É como um conto policial.
O momento não poderia ser mais oportuno. Empolgados pelo jogo do dinheiro fácil nos cassinos financeiros as papeleiras, depois de se lambuzarem, caíram de quatro na crise da especulação, se desmancharam, tal como papel picado. Não vão mais investir no Rio Grande do Sul. Aqueles que acreditaram estão esperando o Papai Noel em dezembro!
terça-feira, 2 de dezembro de 2008
SOLOS UMA RELAÇÃO DE AMIZADE
segunda-feira, 1 de dezembro de 2008
SOBERANIA ALIMENTAR/SEGURANÇA ALIMENTAR
Para mim é uma discussão oportuna que permite distinguir muito bem a diferença entre SOBERANIA ALIMENTAR e SEGURANÇA ALIMENTAR ( a Iara já falava disso).
Uma diferença RADICAL, e ser radical, como disse MARX é pegar as coisas pela raiz e a raiz para o homem é o próprio homem. E é isso mesmo, que o Stédile e o Lauro nos fazem pensar - ser radical ou seja, pegar as coisas pela raiz, é isso, vamos radicalizar!
Paulinho Mendes
Soberania alimentar e a agricultura
"Atualmente, não mais do que 30 conglomerados transnacionais controlam toda a produção e o comércio agrícola mundial", constatam João Pedro Stédile, economista, integrante da coordenação nacional do MST e da Via Campesina, e Dom Tomás Balduino, bispo emérito da Diocese de Goiás, conselheiro permanente da CPT (Comissão da Pastoral da Terra), órgão vinculado à CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), em artigo publicado no jornal Folha de S. Paulo, 16-10-2008."
Eis o artigo.
Em 1960 , havia 80 milhões de seres humanos que passavam fome em todo o mundo. Um escândalo! Naquela época, Josué de Castro, que agora completaria 100 anos, marcava posição com suas teses, defendendo que a fome era conseqüência das relações sociais, não resultado de problemas climáticos ou da fertilidade do solo.
O capital, com as suas empresas transnacionais e o seu governo imperial dos Estados Unidos, procurou dar uma resposta ao problema: criou a chamada Revolução Verde. Ela foi uma grande campanha de propaganda para justificar à sociedade que bastava "modernizar" a agricultura, com uso intensivo de máquinas, fertilizantes químicos e venenos. Com isso, a produção aumentaria, e a humanidade acabaria com a fome.
Passaram-se 50 anos, a produtividade física por hectare aumentou muito e a produção total quadruplicou em nível mundial. Mas as empresas transnacionais tomaram conta da agricultura com suas máquinas, venenos e fertilizantes químicos. Ganharam muito dinheiro, acumularam bastante capital e, com isso, houve uma concentração e centralização das empresas. Atualmente, não mais do que 30 conglomerados transnacionais controlam toda a produção e comércio agrícola.
Quais foram os resultados sociais?
Os seres humanos que passam fome aumentaram de 80 milhões para 800 milhões. Só nos últimos dois anos, em função da substituição da produção de alimentos por agrocombustíveis, de acordo com a FAO (Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação), aumentou em mais 80 milhões o número de famintos. Ou seja, agora são 880 milhões.
Nunca a propriedade da terra esteve tão concentrada e houve tantos migrantes camponeses saindo do interior e indo para as metrópoles e mudando de países pobres para a Europa e os Estados Unidos. Somente neste ano, a Europa prendeu e extraditou 200 mil imigrantes africanos, a maioria camponeses.
Há oito milhões de trabalhadores agrícolas mexicanos nos Estados Unidos. Setenta países do hemisfério sul não conseguem mais alimentar seus povos e estão totalmente dependentes de importações agrícolas. Perderam a auto-suficiência alimentar, perderam sua autonomia política e econômica.
O pior é que, em todos os países do mundo, os alimentos chegam aos supermercados cada vez mais envenenados pelo elevado uso de agrotóxicos, provocando enfermidades, alterando a biodiversidade e causando o aquecimento global. Isso acontece porque as empresas transnacionais padronizaram os alimentos para ganhar em escala e lucros. Os alimentos devem ser produzidos de acordo com a natureza, com a energia do habitat.
A comida não pode ser padronizada, uma vez que faz parte de nossa cultura e de nossos hábitos. Diante disso, qual é a saída? O Estado, em nome da sociedade, deve desenvolver políticas públicas para proteger a agricultura, priorizando a produção de alimentos. Cada município, região e povo precisa produzir seus próprios alimentos, que devem ser sadios e para todos. Assim nos ensina toda a historia da humanidade.
A lógica do comércio e intercâmbio dos alimentos não pode se basear nas regras do livre mercado e no lucro, como pretende impor a OMC.
Por isso, consideramos o alimento um direito de todo ser humano, e não uma mercadoria, como, aliás, já defende a Declaração Universal dos Direitos Humanos. Cada povo e todos os povos devem ter o direito de produzir seus próprios alimentos. Isso se chama soberania alimentar. Não basta dar cesta básica, dar o peixe. Isso é a segurança alimentar, mas não é soberania alimentar. É preciso que o povo saiba pescar!
No Brasil, com um território e condições edafoclimáticas tão propícias, não temos soberania alimentar. Importamos muitos alimentos, do exterior e entre as regiões do país. Mesmo em nossas "ricas" metrópoles, o povo depende de programas assistenciais do governo para se alimentar. A única forma é fortalecer a produção dos camponeses, dos pequenos e médios agricultores, que demandam muita mão-de-obra têm conhecimento histórico acumulado.
A chamada agricultura industrial é predadora do ambiente, só produz com agrotóxicos. É insustentável a longo prazo. Por isso, neste 16 de outubro, Dia Mundial da Alimentação, as organizações camponesas, movimentos de mulheres, ambientalistas e consumidores faremos manifestações em o todo mundo para denunciar problemas e apresentar propostas para que a humanidade, enfim, resolva o problema da fome no mundo.