domingo, 30 de março de 2008

Colheita do Arroz Ecológico








Estas são algumas das imagens que registrei sexta-feira, dia 28 de março, participando da Abertura da Colheita do Arroz Ecológico dos Assentamentos do MST da grande Porto Alegre/RS. A atividade foi no Assentamento 30 de maio em Charqueadas, coordenada pela Cooperativa de Produção Agropecuária de Charqueadas (COPAC). Celebraram juntas, as famílias dos assentamentos de Nova Santa Rita, Viamão, Guaíba, Eldorado do Sul e Tapes.

Aproveito essa vivência para avançar em nossas reflexões sobre SUSTENTABILIDADE e DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL.

O que vi lá, para além do arroz ecológico?

Vi homens, mulheres e crianças de cabeça erguida. Seguros do caminho que trilham. Com muita dignidade e paciência histórica. Conversei com muitos (as) que, depois de esperarem, acampados debaixo de lona preta, beira-de-estrada, por quatro, cinco, seis anos, finalmente desfrutam do ASSENTAMENTO. Vitória? Sim, porém, muita luta ainda pela frente. Moradia, educação, infra-estrutura, crédito, assistência técnica, equipamentos, insumos, produção, comercialização e o permanente desafio da construção coletiva. Nada vem pronto e para essa gente que luta pela sobrevivência desde sempre, nada é fácil. Ou melhor, tudo é muito difícil.

Entretanto, há uma magia nessa saga. Pois, forja poetas, “bruxos”, “curandeiros”, declamadores, cantantes, pajadores e guerreiros, no bom sentido, guerreiros. ARTISTAS, se retiro desse conceito alguns dos seus significados, como SENSIBILIDADE e TALENTO. Agrego ainda características como a capacidade de ensinar e de aprender o tempo todo. Dentre os ensinamentos o de que o tempo, a organização, a solidariedade, a tolerância, a tenacidade e a mística, são parte da vitória. E mais, que a vitória também depende do seu protagonismo na luta por políticas públicas que dêem conta de todas essas dimensões.

Ou seja, o movimento social forja seres integrais.

Mas, e o que isso tem a ver com sustentabilidade e desenvolvimento sustentável?

Eu não vou me ater em aprofundar essa reflexão. Opto por recorrer àqueles que já se debruçaram sobre o assunto e nos traduzem com muita sabedoria significados que nos permitem compreender a partir de referenciais científicos.

Aqui apenas destaco que a sustentabilidade está estreitamente vinculada a aspectos sociais, culturais, políticos, ético e étnico, para além do ambiental. De nada nos serviria um ARROZ ECOLÓGICO se este fosse fruto de processos que nos apresentassem como resultante social e psicológica, pessoas subordinadas, exploradas, embotadas, tristes, incapazes de sonhar coletivamente e de projetar um futuro digno para si, para os seus filhos e para a coletividade.

A experiência do MST e de outros processos sociais e econômicos, que têm nas pessoas a centralidade, têm muito a nos ensinar nesse sentido.

Mas, nesse exato momento, lembro de uma citação encontrada no livro “A TEIA DA VIDA” de Fritjof Capra, que diz o seguinte: “Isso nós sabemos. Todas as coisas são conectadas como o sangue que une uma família... O que acontecer com a terra acontecerá com os filhos e filhas da terra. O Homem não teceu a teia da vida, ele é dela apenas um fio. O que ele fizer para a teia estará fazendo a si mesmo”.

O grifo (negrito) é meu, pois acho uma afirmação perfeita e nos alerta para que não nos baseemos em valores estritamente antropocêntricos (centralizados no ser humano) e sim em valores ecocêntricos (centralizados na terra). Este último nos inclui e dá conta de todos os seres vivos. Segundo Capra, “...quando essa percepção ecológica profunda torna-se parte de nossa consciência cotidiana, emerge um sistema de ética radicalmente novo...”.

Bem, devo parar.

Abaixo, um texto do Dr.Francisco Roberto Caporal (no pé de página do texto encontram-se as informações curriculares) que, de forma científica, objetiva e muito pedagógica nos fala sobre o significado da Agroecologia. Segundo ele, a mesma, nos faz entender “que a prática da agricultura é um processo social, integrado a sistemas econômicos, e que, portanto, qualquer enfoque baseado simplesmente na tecnologia ou na mudança da base técnica da agricultura pode implicar no surgimento de novas relações sociais, de novo tipo de relação dos homens com o meio ambiente e, entre outras coisas, em maior ou menor grau de autonomia e capacidade de exercer a cidadania...”.

Mais abaixo, ainda para avançarmos na compreensão da SUSTENTABILIDADE, um texto do meu querido amigo Roberto Marinho (Diretor do Departamento de Estudos e Divulgação da Senaes – Secretaria Nacional de Economia Solidária) que discorre sobre sustentabilidade de forma também muito pedagógica, nos ajudando a avançar na compreensão histórica desse conceito. O relaciona com a economia solidária, territorialidade, inclusão social e muito mais.

Boa Leitura!!!
Iara Borges Aragonez.

Agroecologia não é um tipo de agricultura alternativa

Por Francisco Roberto Caporal*

Ao longo deste artigo vamos tentar argumentar sobre a importância do uso correto dos nomes das coisas para que se tenha maior precisão nas estratégias de desenvolvimento rural sustentável e de construção de tipos de agriculturas sustentáveis**, que possam impulsionar uma profunda mudança no meio rural e na agricultura, além de reorientar ações de Assistência Técnica e Extensão Rural, numa perspectiva que assegure maior sustentabilidade sócio-ambiental e econômica dos territórios rurais.

Como temos procurado alertar em outros textos, é comum a confusão quando se fala de tipos de agricultura alternativa e de Agroecologia, como se fossem a mesma coisa. Já faz muitos anos que, ao lado da implementação da agricultura convencional, agroquímica ou industrial, vêm sendo praticadas diferentes formas de agricultura que são sócio-ambientalmente mais adequadas. Nos anos 80, se convencionou chamar a estas agriculturas ambientalmente mais corretas de agricultura alternativa. De fato, existem muitos tipos de agriculturas alternativas, com diferentes denominações. Elas se orientam por determinadas linhas filosóficas, diferentes enfoques metodológicos, assim como diferentes práticas, tecnologias, uso de preparados ou, simplesmente, proibições e restrições de uso de certos insumos, etc. Dependendo do arranjo que seja adotado no processo produtivo, elas assumem diferentes denominações: Natural, Ecológica, Biodinâmica, Permacultura, Biológica ou Orgânica, entre outras. Contudo, estas escolas ou correntes da agricultura alternativa não necessariamente precisam estar seguindo as premissas básicas e os ensinamentos fundamentais da Agroecologia. Na realidade, uma agricultura que trata, por exemplo, apenas de substituir insumos químicos convencionais por insumos “alternativos”, “ecológicos” ou “orgânicos” não necessariamente será uma agricultura ecológica em sentido mais amplo.

Por outro lado, ainda nos anos 80, nascia a Agroecologia: um enfoque científico que iniciou com a tentativa de mostrar novas maneiras de integrar a Agronomia com a Ecologia, mas que, logo em seguida, viria a incorporar a importância do saber popular, sobre o ambiente e sobre o manejo dos recursos naturais nos processos produtivos agrícolas ou extrativistas, que foi acumulado pelas comunidades tradicionais ou camponesas ao longo dos anos, passando a articular, desta forma, o conhecimento científico com estes saberes.

Nesse processo de construção da Agroecologia como uma nova ciência, foram sendo incorporados aportes de outros campos do conhecimento: Sociologia, Antropologia, Física, Economia Ecológica, História e tantas outras que nos ajudam a entender e explicar a crise sócio-ambiental gerada pelos modelos de desenvolvimento e de agricultura convencionais e, ao mesmo tempo, contribuem para a gente pensar e construir novos desenhos de agroecossistemas (sistemas manejados pelo homem) e de agricultura que caminhem na direção da sustentabilidade. Na verdade, então, a Agroecologia, no seu sentido mais comum, é a ciência que nos ajuda a articular diferentes conhecimentos científicos e saberes populares para a busca de mais sustentabilidade na agricultura.

Assim, ao contrário da agricultura convencional baseada na Agronomia tradicional ensinada pela Revolução Verde, que sempre tende para a simplificação dos sistemas agrícolas, levando para o extremo, como são as monoculturas, a Agroecologia é uma ciência que se situa no campo da complexidade, razão pela qual exige um enfoque holístico (ver o todo) e uma abordagem sistêmica (relações entre as partes) para o desenho de agroecossistemas mais sustentáveis e, por isso mesmo, necessariamente mais complexos.

Ademais, desde a Agroecologia se entende, também, que a prática da agricultura é um processo social, integrado a sistemas econômicos, e que, portanto, qualquer enfoque baseado simplesmente na tecnologia ou na mudança da base técnica da agricultura pode implicar no surgimento de novas relações sociais, de novo tipo de relação dos homens com o meio ambiente e, entre outras coisas, em maior ou menor grau de autonomia e capacidade de exercer a cidadania. O antes mencionado serve como reforço à idéia segundo a qual os contextos de agricultura e desenvolvimento rural mais sustentáveis exigem um tratamento mais eqüitativo a todos os atores envolvidos –especialmente em termos das oportunidades a eles estendidas–, buscando-se uma melhoria crescente e equilibrada daqueles elementos ou aspectos que expressam os avanços positivos em cada uma das seis dimensões da sustentabilidade. Por isto mesmo, quando se fala de Agroecologia, está se tratando de uma orientação científica cujas contribuições vão muito além de aspectos meramente tecnológicos ou agronômicos da produção agrícola ou pecuária, pois esta ciência nos leva a incorporar dimensões mais amplas e complexas, que incluem tanto variáveis econômicas, sociais e ambientais, como variáveis culturais, políticas e éticas da sustentabilidade. Por esta razão o complexo processo de transição agroecológica não dispensa o progresso técnico e o avanço do conhecimento científico, assim como não pode dispensar o saber popular.

A Agroecologia é, pois, um enfoque científico destinado a apoiar a transição dos atuais modelos de desenvolvimento rural e de agricultura convencionais para estilos de desenvolvimento rural e de agriculturas mais sustentáveis. Portanto, quando se está trabalhando a partir dos princípios da Agroecologia, aparece como central o conceito de transição agroecológica, entendida como um processo gradual e multilinear de mudança, que ocorre através do tempo, nas formas de manejo dos agroecossistemas, aproximando esses dos sistemas naturais onde estão inseridos. Esta idéia de mudança gradual se refere a um processo de evolução contínua e crescente no tempo, porém sem ter um momento final determinado. Porém, por se tratar de um processo social, isto é, por depender da intervenção humana, a transição agroecológica implica não somente na busca de uma maior racionalização econômico-produtiva, com base nas especificidades, por exemplo, do clima, solo e água de cada agroecossistema, mas também numa mudança nas atitudes e valores dos atores sociais em relação ao manejo e conservação dos recursos naturais. Isto determina, também, que quando se trabalha a partir dos princípios da Agroecologia não há a possibilidade de transferência unilateral de pacotes tecnológicos, pois devem ser respeitadas as condições locais tanto dos agroecossistemas como dos sistema culturais dos grupos sociais que os estão manejando. Adicionalmente, é preciso enfatizar que o processo de transição agroecológica adquire enorme complexidade, tanto tecnológica como metodológica e organizacional, dependendo dos objetivos e das metas que se estabeleçam, assim como do “nível” de sustentabilidade que se deseja alcançar.

O que se está tentando dizer é que, como resultado da aplicação dos princípios da Agroecologia, pode-se alcançar estilos de agriculturas de base ecológica e, assim, obter produtos de qualidade biológica superior. Mas, para respeitar aqueles princípios, esta agricultura deve atender requisitos sociais, considerar aspectos culturais, preservar recursos ambientais, apoiar a participação política e o empoderamento dos seus atores, além de permitir a obtenção de resultados econômicos favoráveis ao conjunto da sociedade, com uma perspectiva temporal de longo prazo, ou seja, uma agricultura sustentável. Logo, é fundamental que tenhamos um entendimento correto destes conceitos, para evitar que, dando nomes errados às coisas, possamos estar colaborando para reafirmar um equívoco, já que a Agroecologia como tentamos mostrar não é mais uma das agriculturas alternativas.

*Engenheiro Agrônomo, Mestre em Extensão Rural (CPGER/UFSM), Doutor pelo Programa de “Agroecología, Campesinado e Historia” (Universidad de Córdoba – España) e Extensionista Rural da EMATER/RS-ASCAR. Atualmente atuando como Coordenador Geral de Ater (MDA-SAF-DATE) – Brasília, 21/11/2005. E-mail: francisco.caporal@mda.gov.br -

**A expressão Agriculturas Sustentáveis (usada aqui no plural) pretende marcar a importância que o enfoque agroecológico dá às especificidades socioculturais dos atores sociais que trabalham na agricultura, assim como a necessidade de adaptação da agricultura aos diferentes agroecossistemas.

A Economia Solidária e os Novos Paradigmas de Desenvolvimento: sustentabilidade, solidariedade e territorialidade.

Roberto Marinho Alves da Silva

Se o desenvolvimento funda-se na realização das capacidades humanas, é natural que se empreste a esta idéia um sentido positivo. As sociedades são desenvolvidas na medida em que nelas mais cabalmente o homem logra satisfazer suas necessidades e renovar suas aspirações (Celso Furtado, 1980)

Desvios do Desenvolvimento ou a Encruzilhada Civilizatória
Com o advento das sociedades modernas, o desenvolvimento tem sido relacionado à sua dimensão econômica (produção de riquezas), tendo por base o progresso técnico-científico e o consumo de bens, como medida. Mesmo com o acréscimo dos aspectos social e humano à concepção de desenvolvimento, o crescimento econômico continuou subordinando o bem estar social e a qualidade de vida humana.

Trata-se, de um paradigma civilizatório que vem sendo utilizado para justificar o sacrifício das classes trabalhadoras e dos recursos naturais. O que confere o status de modernidade são o acesso e uso dos mais avançados produtos da economia e à tecnologia necessária para fabricá-los. Essa busca do progresso torna-se um objetivo utilitarista que mobiliza as sociedades, sobrepondo a economia a outros valores e finalidades da vida humana. A modernidade técnica é um modo de vida que impõe um padrão consumista predador da natureza e de vidas humanas em beneficio de minorias privilegiadas: “Na modernidade-técnica, o avanço técnico define a racionalidade econômica, subordinando a ela os objetivos sociais e ignorando os valores éticos”. (Buarque, 2001: 224)

Nas três últimas décadas um conjunto de mudanças na ordem econômica e política mundial fortaleceu ainda mais esse modelo. As transformações tecnológicas sob o controle do capital financeiro contribuíram para desvalorização do trabalho, ampliando a exclusão social pela via do desemprego duradouro e em massa. A hegemonia do pensamento neoliberal incidiu negativamente nas capacidades nacionais de promoção do desenvolvimento, aumentando a dependência dos países periféricos ao capital transnacional, com implicações diretas no processo de destituição de direitos sociais em nome da lógica do mercado.

A forma como o Brasil se inseriu nesse processo, priorizando a integração competitiva de forma subordinada aos interesses do capital transnacional, tendo por base políticas econômicas direcionadas ao ajuste fiscal e à estabilidade monetária, conduziu ao sucateamento do Estado e ao desmonte de políticas públicas. Esse processo de globalização neoliberal aprofundou as desigualdades e aumentou a exclusão social.

Em pleno século XXI, a fome continua como um dos graves problemas da estrutura e do modelo socioeconômico do país. Tendo por base dados da PNAD de 2001, é possível identificar que 9,3 milhões de famílias ou 44 milhões de pessoas (27,3% da população total do país), com renda abaixo de US$ 1,00 por dia, não têm condições de garantir a segurança alimentar. As desigualdades geram uma situação de apartação social, onde uma minoria privilegiada vive cada vez mais acuada diante do aumento generalizado da violência e da insegurança.

A falta de alternativa de emprego e os baixos salários são os principais fatores de exclusão e de violência. A sangria dos recursos nacionais para o pagamento das dívidas externa e interna tem impacto significativo na redução dos investimentos sociais e de infra-estrutura, reduzindo significativamente a capacidade do Estado em reverter esse quadro.

Além da exclusão social de milhares de seres humanos, o atual modelo de desenvolvimento gera desequilíbrios ambientais de conseqüências ainda não plenamente calculadas. A miopia ecológica soma-se à ganância empresarial para produzir as ameaças eminentes de esgotamento de recursos naturais, colocando em risco o futuro de milhões de espécies vivas terrestres. A produção e o consumo se aceleram em ritmo febril criando um ambiente onde a vida tornou-se física e mentalmente doentia.
Essas numerosas manifestações da crise indicam que se trata de uma crise civilizatória, uma crise complexa, onde os problemas são sistêmicos. A humanidade encontra-se numa encruzilhada civilizatória, frustrada com a noção moderna de desenvolvimento econômico: “O estilo de vida criado pelo capitalismo industrial sempre será o privilégio de uma minoria. O custo em termos de depredação do mundo físico, desse estilo de vida é de tal forma elevado que toda tentativa de generalizá-lo levaria inexoravelmente ao colapso de toda uma civilização, pondo em risco a sobrevivência da espécie humana” (Furtado, 1974: 75).

Novos Paradigmas: sustentabilidade e solidariedade
A proposta de um projeto alternativo para a sociedade surge da crítica a um modelo de desenvolvimento que produz riquezas gerando miséria e depredando o meio ambiente, colocando em risco o futuro da vida na terra e a crescente exclusão social de bilhões de pessoas. A problemática do desenvolvimento tem provocado o surgimento de vários movimentos de tomada de consciência dos impactos ambientais. O avanço recente da consciência ecológica diante de análises de desastres ambientais conduz a uma articulação de grupos e movimentos que passam a questionar o uso insustentável dos recursos naturais não renováveis. A incorporação da questão ambiental resultou na proposta do desenvolvimento sustentável que estabelece novas relações de equilíbrio entre as dimensões econômica, social e ambiental.

Esses movimentos procuram alternativas de desenvolvimento que permitam satisfazer, de forma adequada, as necessidades e aspirações das populações presentes (solidariedade sincrônica) sem comprometer o bem–estar das gerações futuras (solidariedade diacrônica). A harmonização das necessidades básicas da humanidade com as capacidades limitadas dos recursos da natureza seria, conforme Sachs (2000, p. 29), o ideal de “uma nova forma de civilização, fundamentada no aproveitamento sustentável dos recursos naturais”.

A compreensão do desenvolvimento sustentável começou a ser construída na Conferência de Estocolmo (1972) e no Simpósio de Cocoyok (1974). Esses eventos tiveram grandes méritos: a identificação de relações intrínsecas entre meio ambiente e desenvolvimento; os avanços conceituais que enfrentaram os reducionismos; e a formulação de estratégias para a promoção de um “desenvolvimento sócio-econômico eqüitativo, ou ecodesenvolvimento” (Sachs, 1993, p. 30).

Para além do movimento ambientalista, existe hoje um quase consenso em torno da necessidade de um novo modelo de desenvolvimento dotado de sustentabilidade. Ocorrem avanços na recuperação de uma visão holística sobre a relação entre o meio ambiente natural e os seus habitantes, superando a visão antropocêntrica que justifica a exploração ilimitada e a depredação do meio ambiente, e avança na construção de postulados de sustentabilidade.

Não se trata apenas de mudanças nas concepções de desenvolvimento, mas da emergência de um novo paradigma. São novos conceitos, idéias e percepções que tendem a orientar os processos de desenvolvimento: “uma mudança profunda no pensamento, percepções e valores que formam uma determinada visão da realidade” (Capra, 1999, p. 29). Essas mudanças na visão de mundo expressam a passagem da concepção mecanicista para uma visão holística e ecológica. Rompem com a visão antropocêntrica, proporcionando a reconciliação do homem com a natureza. A inter-relação e a interdependência são elementos essenciais em todos os fenômenos físicos, biológicos, culturais e sociais.
Já o paradigma da solidariedade do desenvolvimento baseia-se numa ética onde é bom tudo o que nos ajuda a compartilhar os dons da natureza e os bens socialmente produzidos com vistas à realização de todas as pessoas. Todos e todas somos co-responsáveis para cuidar desses bens para que frutifiquem e beneficiem a todos/as em iguais condições. Isso exige uma nova relação humana em que o individual não sufoque o coletivo e ambas as dimensões se fortaleçam reciprocamente, numa dinâmica cumulativa. Percebe-se a quase impossibilidade de que esses postulados sejam plenamente exercidos pela ótica capitalista.

A lógica da solidariedade e da sustentabilidade do desenvolvimento implica na humanização de todas as relações sociais e uma integração orgânica do ser humano com a natureza. Passa pela formação de laços sociais de solidariedade, nos quais o significado da cidadania vai do grau mínimo de satisfação das necessidades básicas - condição para a participação cidadã – até a realização completa dos humanos-seres-solidários. Acreditamos ser esse o caminho para chegarmos à verdadeira democracia que exige a superação de todas as formas de discriminação e dominação: de classe, de raça e de gênero.

Percebe-se a necessidade e possibilidade de desenvolver a sustentabilidade no sentido de valorizar a tecnologia para que possa estar a serviço de uma organização solidária de sociedade. Para isso é fundamental integrar a dimensão ecológica em todas as dimensões da ação humana. A solidariedade estará plenamente expressa na satisfação das necessidades básicas de todos sem continuar destruindo a vida em nosso planeta.

O Lócus do Desenvolvimento: novas visões de territorialidade
Outra característica contemporânea da busca de um novo modelo de desenvolvimento é a sua relação direta com a realidade local. O reordenamento espacial é certamente um dos fenômenos políticos que marcam a contemporaneidade. O que se convenciona chamar de globalização, como ampliação do espaço econômico internacional, além de ter referência na formação de blocos continentais e num processo de crise do Estado-Nação, tem sido acompanhada de uma relativa revalorização de espaços locais. A economia local ganha importância como alternativa diante da crise do trabalho nos centros urbanos industrializados.

Esta ressignificação do local vem acompanhada do resgate de utopias humanizadoras do desenvolvimento, na perspectiva de que os espaços locais possam oportunizar a sociedade a retomada das rédeas do seu desenvolvimento, com base em práticas cada vez mais democráticas e solidárias. O poder local é visto para além do governo e das elites dominantes e incorpora as forças sociais nos processos decisórios (Dowbor, 1994).

Do ponto de vista cultural, a “volta ao local” é uma manifestação de valorização da diversidade cultural, da recomposição e afirmação de identidades e territórios, como propõe Hassan Zaoual (2003, p. 95), com o conceito de sítio simbólico de pertencimento: um espaço de crenças e práticas ajustado às circunstâncias locais. Sua transversalidade articula a cultura dos atores da situação, com a sociedade e o meio ambiente. Contrariamente à exclusiva visão de mercado que subtrai o homem do seu ambiente social, o sítio o inclui e o vincula a suas raízes, dando sentido aos seus comportamentos.

Uma síntese do enfoque territorial do desenvolvimento pode ser encontrada na apresentação da recém-criada Secretaria de Desenvolvimento Territorial, no Ministério do Desenvolvimento Agrário: “uma visão essencialmente integradora de espaços, atores sociais, agentes, mercados e políticas públicas de intervenção, e tem na eqüidade, no respeito à diversidade, na solidariedade, na justiça social, no sentimento de pertencimento cultural e na inclusão social, metas fundamentais a serem atingidas e conquistadas” .

A valorização e legitimação do local têm pelo menos três motivações políticas básicas:
a) A descentralização de responsabilidades e de políticas como uma forma de enfrentamento da crise do Estado, enquanto estratégia localizante de regulação da ordem social. É nesse sentido que o desenvolvimento local ganha destaque no plano internacional a partir das agências de desenvolvimento (BIRD, Banco Mundial, órgãos das Nações Unidas etc.).
b) Os avanços nas teorias de desenvolvimento local, contrapondo-se ao desenvolvimento pelo alto, surgem como resposta acadêmica às crises econômicas da década de 1970 em nível mundial (motivação acadêmica e técnica na área de planejamento).
c) Os interesses das forças de centro-esquerda no processo de reorganização da sociedade política com a ativação da municipalização (proximidade e imbricamento entre cidadão, sociedade organizada e poder público). No Brasil, as experiências de gestão municipal popular e democrática e a Constituição de 1988 refletem as propostas democráticas participativas que viabilizem a implantação de políticas locais, como forma de aprofundar seus vínculos com a sociedade.

No entanto, o local não é um espaço autônomo que possa ter um processo autóctone de desenvolvimento tendo em vista a existência e preponderância dos problemas e potencialidades externas. É constatado que os municípios periféricos ao desenvolvimento capitalista (menos industrializados) são fortemente dependentes dos repasses de recursos dos níveis estadual e federal, cujo desenvolvimento não pode ser concebido de forma autônoma ou ao sabor dos interesses e da lógica do mercado. A estratégia locacional dos investimentos privados pode conduzir, segundo Tânia Bacelar (1997:287), à (re)concentração das atividades econômicas com base na seletividade dos investimentos em alguns focos de dinamismo, promovendo a “desintegração competitiva”. Faz-se necessário, portanto, a combinação do local com políticas de integração nacional e de desenvolvimento regional, evitando a “guerra fiscal” entre estados e municípios.

A globalização dos mercados, no entanto, não elimina as alternativas locais, pois as possibilidades de desenvolvimento continuam sendo endógenas e requerem a mobilização de forças locais para empreendê-la. Ao mesmo tempo em que há uma concentração no acesso ao mercado globalizado com o acirramento da competitividade com base na melhoria dos padrões produtivos em benefício de grandes grupos econômicos mundiais, colocando em crise setores econômicos tradicionais, são abertas algumas brechas para produtos e serviços no nível local. Isto é, ao buscar saídas de minimização dos efeitos da globalização, são valorizadas as especificidades e potencialidades locais, na busca do “que sabe fazer melhor”, do “que é bom e atrativo”, implicando na valorização de novos fatores de produção e impulsionando o núcleo criativo da economia.

Considerando esse debate sobre as potencialidades e limites, o desenvolvimento local ou endógeno tem uma série de características próprias que devem ser conhecidas para compreensão adequada de seus limites e potencialidade, evitando que se transforme numa panacéia sem nenhuma base crítica.

O desenvolvimento local é uma forma de valorizar as potencialidades locais (econômicas, humanas, ambientais) para proporcionar o crescimento econômico, a melhoria das condições de vida da população e o fortalecimento da cidadania, conforme a definição de Sérgio Cristovam Buarque (1997): “O desenvolvimento local é um processo endógeno de mobilização das energias sociais na implementação de mudanças que elevam as oportunidades sociais e as condições de vida no plano local (comunitário, municipal ou sub-regional), com base nas potencialidades e no envolvimento da sociedade nos processos decisórios.”

Para alcançar esses objetivos, o desenvolvimento local requer políticas públicas inovadoras formuladas com base nos seguintes princípios:
1 – A reorientação das prioridades:
• Econômicas: aproveitamento das potencialidades locais para criar oportunidades econômicas através de investimentos e reestruturação da base produtiva e da capacitação humana.
• Sociais: melhoria da qualidade de vida através da geração de trabalho e renda e do acesso aos serviços sociais básicos com qualidade;
• Ambientais: manejo sustentável dos recursos naturais com a adaptação e incorporação de tecnologias adequadas, de modo que as atividades produtivas não comprometam o meio-ambiente;

2 – A construção de novas formas de relação entre Estado e sociedade:
• Fortalecimento das capacidades locais, através da descentralização administrativa (planejamento e gestão das ações) e financeira (recursos para promover as ações de desenvolvimento) para o âmbito local;
• Democratização do poder com a criação de mecanismos de participação direta da sociedade civil na gestão de políticas públicas;
• Mobilização das diversas forças sociais, econômicas e políticas locais em torno de objetivos que são comuns;

3 – A integração das ações:
• Integração dos vários setores de desenvolvimento, articulando a dimensão econômica com a social, ambiental e cultural;
• Articulação e Parceria dos diversos órgãos e entidades governamentais (diversas esferas: municipal, estadual e federal) e da sociedade civil em torno da complementaridade de ações e objetivos específicos, evitando a fragmentação das ações.

Apesar de ser uma proposta inovadora, verifica-se a existência de diversas barreiras que têm limitado as tentativas de implementação das propostas de desenvolvimento local. Entre estes limites destacam-se: insuficiência na capacidade organizativa da sociedade civil local para garantir o funcionamento dos mecanismos de gestão participativa; manutenção e reprodução de práticas políticas tradicionais na gestão de bens públicos; limitação do acesso a recursos para implementação das ações previstas; e o imediatismo e fragmentação na execução das ações e nos modelos tradicionais de gestão pública centralizada no poder executivo, com pouco envolvimento da população e suas organizações.

Diante dessas dificuldades, a capacitação da população e o fortalecimento das organizações da sociedade civil, tornam-se elementos fundamentais para o sucesso das iniciativas de desenvolvimento local. Isso porque, os três pilares de sustentação do desenvolvimento local são: a participação cidadã, a cooperação ativa e a capacitação integral dos sujeitos sociais.
• A participação cidadã garantida e incentivada em todos os momentos: desde o planejamento das ações locais de desenvolvimento, até na sua implementação e controle, através de diversos mecanismos de participação social: comitês, comissões, conselhos de gestão de políticas, conselhos de desenvolvimento, fóruns, congressos, consulta popular, etc.
• A mobilização e cooperação ativa (crítica) da sociedade e entre os órgãos públicos possibilitam a integração dos esforços e ações, refletindo o comprometimento da população local e das organizações públicas e privadas com os objetivos do desenvolvimento local.
• A Capacitação ético-política Para a cooperação e a participação: A capacitação ético-política deve proporcionar a descoberta e a vivência de valores democráticos, da justiça social, da autonomia e da cooperação solidária, fazendo prevalecer a busca dos objetivos coletivos, contribuindo para a superação do imediatismo e do individualismo que estão na base da má utilização e desvio dos recursos.

Os dois primeiros pilares não se sustentam se não houver um processo de capacitação integral das pessoas. Em especial, a capacitação ético-política deve contribuir para a constituição dos sujeitos do desenvolvimento, isto é, pessoas e organizações com capacidade de sensibilizar, mobilizar, organizar, representar interesses e animar os diversos processos de planejamento e execução das ações do desenvolvimento local. Esses sujeitos devem ser capazes também do exercício político da participação nos diversos mecanismos institucionalizados de gestão de políticas públicas (conselhos, comissões, fóruns, etc.), atuando de forma autônoma diante das tentativas de manipulação e de cooptação política que sempre estão presentes nesses espaços. Um terceiro aspecto da capacitação ético-política diz respeito à necessidade de conhecimento dos instrumentos administrativos, jurídicos e legislativos de apoio à participação cidadã no desenvolvimento local. A maioria desses instrumentos foi criada pela Constituição Brasileira de 1988. Destaca-se também o conhecimento da lei orgânica do município e da legislação e normas operacionais das políticas e programas públicos e dos conselhos de gestão.

A construção dos pilares de sustentação do desenvolvimento local exige paciência, investimento e vontade política. Significa abrir um novo caminho de conceber e construir de forma solidária o desenvolvimento num ambiente em que a cultura e as práticas predominantes funcionam no sentido contrário à participação e à integração. É um aprendizado conjunto de como combinar as políticas públicas com as necessidades e potencialidades locais.

Economia Solidária, Desenvolvimento e Inclusão Social.
A Economia Solidária também é alternativa a um modelo de desenvolvimento que produz riquezas gerando miséria, subordinando e explorando o trabalho e a natureza. No final do Século XX a economia solidária ressurge e se fortalece num contexto de crise do mundo do trabalho. Os altos índices de desemprego e precarização das relações de trabalho, contribuem para o alargamento da pobreza e da miséria de parcelas significativas da população. A reestruturação produtiva baseada nos avanços tecnológicos e nos modelos de gestão intensificadores de trabalho alterou de forma rápida e intensiva o mercado e as condições de trabalho. Milhões de postos de trabalhos foram extintos. Direitos sociais conquistados pelas lutas das classes trabalhadoras foram flexibilizados e eliminados. As condições de subemprego fragilizaram ainda mais a proteção de milhões de trabalhadores.

Nesse contexto, a empregabilidade e o empreendedorismo foram enfatizados pela perspectiva liberal. A primeira se refere à capacidade de reciclagem (atualização contínua) profissional e capacidade de adaptação a diferentes áreas de atuação. A segunda se refere à mobilização e exercício da capacidade empreendedora para iniciar novos negócios, para que os desempregados se transformem em pequenos empresários. Nos dois casos a responsabilidade pela permanência, recolocação e solução da crise do trabalho são atribuídas mais a cada indivíduo em particular e não ao sistema.

Já na perspectiva emancipatória, foram destacadas as variadas formas de organização do trabalho e da produção protagonizadas pelos setores populares. Experiências coletivas de trabalho e produção vêm se disseminando nos espaços rurais e urbanos, através das cooperativas de produção e consumo, das associações de produtores e empresas de autogestão. Nascem de uma atitude crítica frente ao sistema hegemônico e se orientam por valores não mercantis como a solidariedade e a democracia: “uma nova forma de organizar a produção, a distribuição e o consumo dos bens socialmente produzidos, o que significa redesenhar e exercitar, na prática das experiências alternativas, um outro projeto de sociedade que rompa com a lógica da competição monopolizadora excludente” (Bertucci, 2002: 19).

A economia solidária seria, portanto, uma alternativa capaz de combinar a inclusão social pela via do trabalho com a construção de uma nova concepção de desenvolvimento solidário. Algumas de suas características apontam para essa possibilidade:
• Não reduz o desenvolvimento à dimensão econômica, medindo o produto final pelo resultado mensurável apenas por indicadores econômicos. A economia é fundamentalmente social e de interesse público, pressupondo a implementação de ações endógenas de desenvolvimento que aumentem a produção e a distribuição eqüitativa de riquezas.
• A construção participativa da cidadania utiliza-se de diversos instrumentos de formação que consolidam gradativamente uma cultura de solidariedade, integrando direitos sociais, políticos e econômicos.
• A autogestão dos processos de trabalho, das definições estratégicas e cotidianas das atividades de produção e distribuição, da direção e coordenação das ações nos seus diversos graus e interesses, etc.
Esse processo vem também, ainda que timidamente, colocando outros conteúdos como a questão das identidades etnoculturais e a questão ecológica, como pressupostos do desenvolvimento sustentável, onde a produção, distribuição e preservação dos recursos naturais e sociais sejam dimensões de um processo de emancipação. Isso pressupõe um processo de re-educação em vista de uma nova cultura de solidariedade, valorizando as diferentes etnias, as relações de gênero, garantindo a participação democrática e respeitando o meio ambiente.

É nesse sentido que políticas de desenvolvimento territorial ou local devem ser incentivadas, considerando o fortalecimento da economia solidária como estratégia de inclusão social através da geração de trabalho e melhoria de renda, como alternativa aos processos de precarização do trabalho. Ou seja, como estratégia fundamental para superação da pobreza e outras formas de exclusão.

Os empreendimentos de Economia Solidária podem ser instrumentos fundamentais de construção de um projeto sustentável e solidário de desenvolvimento também no âmbito local ou territorial. A inserção da economia solidária nos processos de desenvolvimento territorial exige a combinação de um conjunto de ações estruturantes, de acesso e incentivo às alternativas locais de geração de trabalho e das outras melhorias nas condições de vida da população local, com as iniciativas já existentes de transferência de renda, como “bolsa família”, e outros programas sociais.

Inúmeros exemplos mostram que as potencialidades locais, principalmente as econômicas, podem ser aproveitadas, de forma solidária e sustentável através da identificação de cadeias produtivas da economia familiar e do fortalecimento de organizações associativas, da promoção de complexos cooperativos, redes de produção, beneficiamento e comercialização etc. Dessa forma, evita-se o risco de cooptação do discurso sobre os “arranjos produtivos locais” por parte apenas das grandes empresas que não se orientam pela lógica da solidariedade e sustentabilidade. A economia solidária, que baseia sua potencialidade nesses arranjos econômicos locais, redimensiona o seu significado transformando-os em arranjos produtivos, solidários e sustentáveis.

Finalmente, a perspectiva autogestionária dos empreendimentos de economia solidária pode ser o referencial de conteúdo e vivência prática orientadora da educação cidadã e da mobilização social nos territórios. A capacidade de gestão participativa deverá ser transferida para os espaços públicos, ampliando a participação cidadã nos destinos da comunidade ou sociedade local, através dos mecanismos e instrumentos de gestão e controle social das políticas públicas e do processo de desenvolvimento.

É de acordo com essas perspectivas e valores que a Secretaria Nacional de Economia Solidária, no âmbito do Governo Federal, deverá participar e propor políticas públicas para inclusão social pela via do trabalho e melhoria da renda das populações em situação de exclusão social.

Bibliografia (citada e de referência):
ARAÚJO, Tânia Bacelar. Dinâmica regional brasileira: rumo à desintegração competitiva? In: OLIVEIRA, M. A. G.(Org.). Política e Contemporaneidade no Brasil. Recife: Bagaço, 1997. p. 245-298.
_________ (2000) Ensaios Sobre o Desenvolvimento Brasileiro: heranças e urgências. Rio de Janeiro: Ed. Revan; Fase.
BAVA, Silvio Caccia. Desenvolvimento local uma alternativa para a crise social? In: Revista São Paulo em Perspectiva. São Paulo, v.10, n. 3, Jul-Set/1996. p. 53-59. (Fundação SEADE)
Bertucci, Ademar de Andrade et al. Tudo ao Mesmo Tempo Agora. Desenvolvimento, Sustentabilidade, Democracia: o que isso tem a ver com você? Rio de Janeiro: Vozes, 2002.
Bertucci, Ademar de Andrade; Silva, Roberto Marinho Alves (orgs.). Vinte Anos de Economia Popular Solidária: trajetória da Cáritas Brasileira dos PACs à EPS. Brasília/DF: Cáritas Brasileira, 2003.
Bertucci, Ademar de Andrade; Silva, Roberto Marinho Alves. Das Alternativas de Sobrevivência à Economia Solidária. Revista Proposta. Ano 30, nº 97, junho/agosto de 2003.
BUARQUE, Sérgio Cristovam. Metodologia de planejamento do desenvolvimento local e municipal sustentável. Recife: INCRA-IICA, 1997. (Mimeogr.)
BUARQUE, Cristovam. Admirável Mundo Atual. Dicionário pessoal dos horrores e esperanças do mundo globalizado. São Paulo: Geração Editorial, 2001.
CAPRA, Fritjof. O Ponto de Mutação: a ciência, a sociedade e a cultura emergente. 21ª. Ed. São Paulo: Cultrix, 1999.
DOWBOR, Ladislau. O que é poder local? São Paulo: Brasiliense, 1994. (Col. Primeiros Passos).
FRANCO, Augusto de. Ação local a nova política da contemporaneidade. Brasília: Agora/Fase/Instituto de política, 1995.
FURTADO, Celso (1974). O Mito do Desenvolvimento Econômico. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1974.
________. Pequena Introdução ao Desenvolvimento: enfoque interdisciplinar. São Paulo: Nacional, 1980.
GENRO, Tarso et al. Desafios do governo local: o modo petista de governar. São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 1997.
LESBAUPIN, Ivo. Prefeituras do povo e para o povo. São Paulo: Loyola, 1996.
SACHS, Ignacy. Ecodesenvolvimento: crescer sem destruir. São Paulo: Vértice, 1986.
________. Estratégias de transição para o século XXI: desenvolvimento e meio ambiente. São Paulo: Studio Nobel/Fundap, 1993.
_________. Caminhos Para o Desenvolvimento Sustentável. Rio de Janeiro: Garamond, 2000.
ZAOUAL, Hassan. Globalização e Diversidade Cultural. São Paulo: Vozes, 2003.

quarta-feira, 19 de março de 2008

Movimentos Sociais e suas “andarilhagens históricas pelo mundo

Impossível passar imune por uma atividade que tem como protagonistas os movimentos sociais, que transpira energia militante e que, de quebra, defende e propõe a unificação do campo e da cidade nas grandes lutas que ainda virão no processo de enfrentamento do grande poder econômico, das transnacionais, e dos governos que o sustenta.

Sempre me comoveram as místicas realizadas nesses momentos e ontem não foi diferente. Ao contrário. Hoje, ainda contagiada, busquei algo que traduzisse alguns significados importantes, tanto do ponto de vista da própria MÍSTICA quanto dos MOVIMENTOS SOCIAIS.

Parei minha busca quando me deparei com os vídeos que compartilho abaixo com vocês.

O vídeo de abertura é uma produção do MST, fala sobre MÍSTICA, mostrando-nos os seus profundos significados.

Acessando pelo “menu”, ouvirão e verão o grande mestre Paulo Freire, falando sobre o MST, sobre MARCHAS, sobre a importância da tomada de decisão de intervenção no mundo, contra o fatalismo, sobre a recusa a uma obediência servil e das muitas marchas que considera necessárias, dentre elas a “dos que querem ser e estão proibidos de ser”. Fala também da vontade amorosa de mudar o mundo e muito mais... São dois vídeos com a última entrevista dada por Paulo Freire, em abril de 1997.

Assistindo os vídeos aprendemos que a mística nos “faz acreditar que há outro lugar além deste que alcança a vista” e muito mais...

Um forte abraço,
Iara Borges Aragonez.

segunda-feira, 10 de março de 2008

Impactos da monocultura de eucalipto

Veja como essa atividade econômica tem repercussões negativas no meio ambiente e na sociedade
* Desertificação do clima
As plantações florestais de crescimento rápido, como o eucalipto, necessitam de muita água, por isso absorvem as chuvas e também a água do próprio solo.
* Ressecamento do solo e erosão
No Brasil o eucalipto não cresce naturalmente e, plantado em larga escala, forma florestas homogêneas que garantem a viabilidade econômica. Após sete anos, as florestas são cortadas e o solo, já empobrecido, fica completamente exposto, sem cobertura vegetal.
* Diminuição da biodiversidade
A introdução do eucalipto impede que a vegetação natural (gramíneas e arbustos) se mantenha. Isso altera a dinâmica da vida dos animais no local. Nos bosques de eucalipto, só proliferam formigas e caturritas (aves predadoras de lavouras que usam as árvores de eucalipto como abrigo, mas não se alimentam delas). No Espírito Santo, onde há grandes plantações florestais de eucalipto, existe uma categoria de trabalhadores cuja profissão é matar formigas.
* Especialização da atividade produtivaO avanço da monocultura de eucalipto na metade sul do Rio Grande do Sul deve gerar a ruptura de duas tradições produtivas: a pecuária, realizada principalmente nos latifúndios, e a produção da agricultura de subsistência, realizada nos interstícios das grandes propriedades.
* Transformação da paisagem e da identidade cultural
As áreas onde há monocultura de eucalipto, como a região dos campos do Rio Grande do Sul, são ecossistemas em risco. O lugar faz parte da construção da identidade das pessoas e sua modificação, com a plantação das mesmas árvores, quilômetros a fio, implica uma transformação violenta da cultura dessas pessoas.

Fonte: Entrevista com Dirce Maria Suertegaray e Roberto Verdum, professores da Faculdade de Geografia da Universidade Federal Rio Grande do Sul (UFRGS).

domingo, 9 de março de 2008

Valorosas Mulheres do MST e da Via Campesina

Em homenagem e solidariedade às mulheres ligadas ao MST e Via Campesina e em protesto a implementação do projeto neo-liberal do Governo Yeda que acaba com a agricultura familiar, seja pelo desmonte da EMATER/RS ou pela entrega ilegal de áreas a empresas estrangeiras para o plantio de eucalipto – monocultura do eucalipto no Estado - o Coletivo Desenvolvimento Sustentável divulga o vídeo ROMPENDO COM O SILÊNCIO que explica as razões que levaram as mulheres sem-terra a ocupar e destruir as plantações e o laboratório da Aracruz Celulose no RS em 2006.

No dia 4 de março desse ano essas valorosas mulheres, ocuparam a fazenda Tarumã, em Rosário do Sul, de propriedade irregular da papeleira Stora Enso,também protegida da governadora Yeda. Em uma grandiosa ação as mulheres cortaram eucaliptos e plantaram árvores nativas.

Você pode ler mais sobre essa ação, inclusive sobre a violência da polícia no trato da questão, em matéria publicada na página http://www.semapirs.com.br/

A seguir o vídeo.

Rompendo com o Silêncio

terça-feira, 4 de março de 2008

A Marcha Mundial das Mulheres

O texto abaixo, “Somos Mulheres e não Mercadoria” vem das companheiras Analine Specht e Cláudia Prates, ambas militantes da Marcha Mundial das Mulheres e da Economia Popular Solidária, em Porto Alegre. A Marcha Mundial das Mulheres é um movimento internacional com origem no Canadá, mobilizando mulheres em todo o Mundo,desde 1995. Organizou-se a partir de uma caminhada chamada “Pão e Rosas” e reinventa o movimento feminista. Internacional e anti-capitalista incorpora na sua lógica a transformação da sociedade, alargando o espectro de luta das mulheres.

Somos Mulheres, e não Mercadorias!

A globalização é caracterizada pela expansão dos domínios do mercado. Este sistema não se expande apenas colonizando regiões do planeta em que as sociedades estavam organizadas de maneira diferente. Ele se expande também aumentando os ritmos de exploração do trabalho nas fábricas, lares, escritórios, dentro de cada país e entre países, ocupando mais dimensões da vida em sociedade. Hoje as novas fronteiras do mercado estão avançando sobre nossos direitos, sobre o meio ambiente, a genética dos seres vivos, sobre os conhecimentos e a criatividade dos seres humanos.

As lutas feministas atuais e a construção da Marcha Mundial das Mulheres acontecem no contexto dessa expansão.

O crescimento da exploração e da banalização da imagem das mulheres, também, é parte da tendência global de organização da sociedade segundo regras de mercado, que determinam que tudo na vida pode e deve ser comprado e vendido. Esse mecanismo de agir e pensar na sociedade é o que chamamos de mercantilização: o processo que transforma tudo, todas e todos, em mercadorias, como se fossem sabonetes ou aspiradores de pó. A mercadoria é uma forma generalizada, de objetos ou coisas, que mantém a relação entre produção e consumo. A criação de falsas necessidades, o fetichismo, e a coisificação cada vez mais, criam e transformam os mais diversos aspectos da reprodução da vida em mercadorias. Este processo tem por base a exploração e a opressão em grau máximos, distanciando e fragmentando as relações pessoais e desconstruindo os direitos que já conquistamos e os que ainda lutamos para conquistar. Construir conhecimento crítico sobre esse processo, formas de organização e ação autônoma das mulheres que respondam a essa realidade é uma das tarefas do feminismo anti-capitalista.

O lugar da mulher na sociedade de mercado
O mercado é o grande instrumento/aparelho capitalista que regula e mantém o atual sistema econômico, conseqüentemente, a esfera e os espaços sociais são determinados pelas suas regras e imposições. Nesse sentido, a identidade, as atribuições e os espaços das mulheres na sociedade são definidos pelo mercado e suas necessidades. A forma mercadoria atinge homens e mulheres, posto que ambos trocam o seu trabalho material ou imaterial por dinheiro. Vivemos um momento em que a flexibilidade das leis trabalhistas e a exploração são cada vez maiores.

Entretanto, as mulheres sofrem bem mais com as crises e debilidades estruturais do sistema, como baixos salários, desemprego, informalidade, jornada tripla e doenças laborais. Todos esses aspectos que permeiam a mulher no mundo do trabalho são resultados da política do estado mínimo neoliberal, considerando a precariedade no atendimento público de saúde, a falta de creches, escolas, transporte entre outros, que aumentam os custos mensais em serviços privados e na maioria das vezes reproduz a precarização dentro de casa, com a contratação informal de domésticas e babás.

O sistema capitalista que legitima e reproduz o machismo relega às mulheres a condição de mercadorias, objetos. A representação da mulher na sociedade de mercado está associada a imagens e sucesso de venda de produtos, como cervejas, carros, músicas, sandálias, novelas e a televisão em geral. Esse processo de mercantilização da imagem da mulher construiu e legitimou o padrão físico e social do ser feminino. Assim, a valorização da mulher está ligada à padronização e as condições impostas pelo mercado, seus hábitos de consumo devem se pautar pelo uso de uma enorme quantidade de produtos e serviços voltados ao público feminino.

A imagem do Brasil é constantemente vinculada à beleza das mulheres brasileiras, tanto brancas como negras. O Brasil é conhecido mundialmente como “país das belas mulheres”, ou seja, modelos “tipo exportação”, assim chamadas pelo mercado da moda. Outros dois elementos inter-relacionados que contribuem à mercantilização dos corpos das brasileiras são o samba e carnaval. Sem entrar no mérito da identidade e símbolos da cultura nacional, o que queremos chamar a atenção é para a excessiva exploração da imagem e dos corpos de mulheres negras, geralmente magras, que exibem seus corpos nus para deleite de turistas que vêm ao Brasil todos os anos. Sem falar que, esta “propaganda” de corpos negros nus é o cartão de visitas para o turismo sexual no Brasil, enraizado no universo antigo da prostituição, o turismo sexual avança com a pressão por mobilidade e atrativos turísticos.

A demanda sexual é incentivada e estimulada por uma oferta cada vez mais atraente. O mercado amplia-se e vai se diversificando: uma internacionalização da oferta, com mulheres cada vez mais jovens, provenientes de todos os estados brasileiros, atraindo novos turistas (clientes). Com este afluxo de migrantes do sexo, alimentado pela sede de consumo, a rotação das garotas está garantida. Objetos de todo tipo de tráficos, os corpos são disponíveis e prestativos. Por tarifas cada vez mais baixas, conforme manda a livre concorrência de mercado.

A exposição da imagem e do corpo das mulheres como objeto contribui muito para colocá-las em permanente estado de insegurança com relação ao próprio corpo, gerando a necessidade de aprovação frente ao olhar externo.

A definição e percepção da “feminilidade” passam a responder as expectativas do mercado, baseadas nos desejos masculinos reais ou imaginadas. Basta olhar ao redor para perceber como estamos cercadas de produtos e serviços voltados às mulheres que se baseiam na exploração e na naturalização dessa dependência.

A magreza das super-modelos é esperada daquelas que “se cuidam” como “boas mulheres”. Diante destes símbolos e imagens do corpo da mulher na sociedade, devemos discutir as estratégias de apropriação do corpo com fins utilitários e mercadológicos, numa dinâmica engendrada pelo atual sistema econômico, violento, que forja seu impacto através do glamour dos equipamentos midiáticos. Cada vez mais jovens sofrem com transtornos alimentares como bulimia, anorexia, doenças que estão entre as principais causas de mortes das jovens segundo a Organização Mundial de Saúde. As cirurgias de redução do estômago lembram as cirurgias de retirada de parte do cérebro, lobotomia, de pessoas diagnosticadas como doentes mentais no século XIX, recentemente uma companhia americana patenteou um tratamento para obesidade à base de eletro-choques.

À imposição da magreza, somam-se o poder inquestionável da ciência e dos médicos e da ideologia da eficiência e das soluções imediatas típicas do neoliberalismo.
As formas do corpo da mulher, historicamente controladas, hoje também podem ser compradas segundo os padrões da moda. Segundo o secretário geral da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, em entrevista à Folha de São Paulo, a quantidade de adolescentes que colocam prótese de silicone aumentou 300% nos últimos dez anos. Em 2003 foram realizadas 400 mil cirurgias plásticas no país. O crescimento do mercado também se dá por sua expansão para as mulheres do meio popular através de parcelamentos, consórcios ou dívidas com agiotas.

O estereótipo de beleza feminina do mercado perpassa a desconstrução de identidades de classe, étnicas, raciais, fisiológicas e biológicas, o que gera o padrão, a homogeneidade estética. Exemplo disto são os cabelos lisos a qualquer custo, comumente observa-se mulheres negras e brancas recorrerem a indústria cosmética para obterem tal resultado e aprovação da sociedade massificada.

O mercado capitalista também utiliza-se da cooptação de elementos potenciais de novos fetiches e maximização dos lucros. A identidade afro-brasileira é representada, também, através dos cabelos, o uso de tranças, por exemplo, é símbolo de resistência e afirmação étnico racial. Aos poucos criou-se um grande mercado em torno do cabelo afro, com revistas, produtos e serviços, denotando a cooptação de elementos culturais construídos fora do mercado.

Destaca-se que o papel e os espaços da mulher na sociedade de mercado são resultados de construções e regras orientadas pelo aparelho capitalista, que conta com a legitimidade da Igreja e do Estado burguês. Todos os aspectos descritos anteriormente são resultados de uma concepção de mulher como “sexo frágil”, psicologicamente carente, fraca e maternal. Nesse sentido, a função social da mulher além de cuidar do corpo e da estética é cumprir o papel de mãe e de esposa, pois abrem-se grandes mercados consumidores para a “família” e para a “mãe”. Exemplo disso é a maternidade biológica, que se tornou uma mercadoria, através da “reprodução assistida”. Cada vez mais as mulheres consideram natural procurar médicos, tomar hormônios e submeter-se a processos dolorosos e violentos para engravidar a todo custo. A materialidade da mulher de mercado é expressa nos comerciais de margarina, a mãe zelosa, produzida, bonita, delicada e preocupada em alimentar os filhos e a família. A feminilidade e o valor da mulher são medidos e identificados pelos cuidados estéticos: cabelos, corpo, pele, unhas em perfeita harmonia, sustentando a indústria cosmética e reproduzindo a condição de fragilidade e “ternura” que o mercado criou e necessita manter.

A coisificação, a massificação e o fetichismo da feminilidade e da mulher representam a sociedade invertida - em que sujeitos passam a objetos – que contempla o mercado, segue e reproduz suas regras apática e silenciosamente.

Ação feminista contra a mercantilização do corpo e da vida das mulheres
“Nossa luta é todo dia, somos mulheres e não mercadoria!”
A resistência à mercantilização do corpo e da vida das mulheres é um eixo fundamental para a construção de um feminismo autônomo e militante, que tenha presente o recorte de classe e seja protagonista de uma transformação profunda da ordem social global. O movimento feminista luta pela autonomia e emancipação das mulheres, pela ruptura com as estruturas que reproduzem e legitimam a suas condições de fragilidade e submissão através dos seus mecanismos e instrumentos.

O exercício cotidiano, a partir das experiências vivenciadas pelas mulheres, permite a desconstrução das estruturas que sustentam o mercado, bem como possibilitam a estabelecer relações entre as situações de opressão e o funcionamento da ordem econômica mundial.

A Marcha Mundial das Mulheres provoca nas suas militantes e na sociedade em geral questionamentos acerca dos símbolos e regras que condicionam e criam a imagem feminina voltada ao mercado. É preciso desconstruir e resignificar a concepção e os espaços da mulher na sociedade, romper com os estigmas e com as falsas identidades de feminilidade, de percepção do corpo, de reprodução social. Articulações e ações de demarcação políticas como o 8 de março reforçam as bandeiras de luta feminista e permitem que o coletivo de mulheres se aproprie cada vez mais dos espaços públicos, sentindo-se sujeitas da revolução social. Essa conquista das mulheres, de sua imagem, de seu espaço e função vem sendo desencadeada pelas ações e reflexões feministas, em prática diária do olhar crítico através da lente lilás do feminismo, sobre todas as manifestações desse fenômeno de apropriação de nossas vidas. Experiências autênticas possibilitam autonomia e liberdade sob nosso corpo e vida, pensamentos e condutas, desmistificando os significados produzidos perversamente no cotidiano. A construção de novos sentidos, a retomada do empoderamento subjetivo e de transformação coletiva, o protagonismo no processo de construção do feminismo como projeto político de vida e o rompimento radical com os símbolos da mercantilização e da opressão da mulher compõem a luta do movimento feminista e o universo que nos desafiamos a enfrentar.

"Mulheres querem um mundo de paz,
sem elite nem capataz"

Cláudia Prates e Analine Specht – Militantes da Marcha Mundial das Mulheres/RS

Referência bibliográfica:
Sof – Sempreviva Organização Feminsita
Caderno de Textos do I Encontro de Militantes da Marcha Mundial das Mulheres (25 a 28 de maio)
Livio Sansone - Os objetos da identidade negra: consumo, mercantilização, globalização e a criação de culturas negras no Brasil
Dâmaris Pires de Oliveira – Mercantilização do corpo: produção de imagens, produção de si - Damaris é psicóloga e militante feminista da Marcha Mundial das Mulheres no Paraná pela Liga Brasileira de Lésbicas
Lê Mond Diplomatique – Edição Brasil
Maria Lúcia Silveira - Entrevista “Mercantilização do corpo e do sexo é uma forma de opressão” - Marcha Mundial de Mulheres

segunda-feira, 3 de março de 2008

Brasil exporta modelo de gestão de água

A informação abaixo sobre o evento que discute o uso da água de maneira sustentável foi enviada pela trabalhadora do SEMAPI Sindicato, DENISE AGUZZI, em comentário sobre o Blog, postado hoje, no texto que inaugura essa iniciativa do Coletivo Desenvolvimento Sustentável.

Seja bem-vinda ao Blog Denise e obrigada pela contribuição.
Iara Borges Aragonez.

Mais de 20 países ibero-americanos estão representados em Lima, no Peru, para conhecer o modelo brasileiro que resultou na criação do Plano Nacional de Recursos Hídricos (PNRH), durante evento organizado pelo Instituto Nacional de Recursos Naturais do Peru em cooperação com a Secretaria Geral da Comunidade Andina e Ministério do Meio Ambiente da Espanha. Durante o evento, serão discutidos avanços e desafios na elaboração de planos de recursos hídricos, a troca de experiências e exemplos de gestão de águas transfronteiriças.
O objetivo da reunião é criar condições para que esses países possam avançar na gestão integrada de recursos hídricos e atingir as Metas de Desenvolvimento do Milênio, que estabelecem, por exemplo, a necessidade de usar a água de maneira sustentável.

O Brasil saiu primeiro na elaboração do PNRH. Durante dois anos e meio, os governos federal, locais e membros da sociedade civil participaram de discussões para a sua criação. Hoje, é o mecanismo que norteia a política de utilização das águas até 2020. O diretor da Agência Nacional de Águas, Oscar Cordeiro Netto, vai explicar aos representantes dos países vizinhos a experiência brasileira e a administração de águas transfronteiriças, apresentando o acordo entre o País e o Uruguai, para aproveitamento do rio Quarai."

Antonio Gaspar

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

Semapi Sindicato e o Consumo Consciente

Hoje a direção do SEMAPI Sindicato fez uma boa discussão sobre Consumo Consciente, avançando internamente nesse debate, na perspectiva de valorizar práticas de consumo que considerem na hora da escolha de produtos e produtores(as) as diferentes dimensões da sustentabilidade, tais como a ambiental, social, econômica, cultural e política.

Abaixo um texto retirado da página do Instituto Akatu, que se dedica à difusão do consumo consciente e contém muita informação e provocação sobre e para essa prática.Sugiro que a página seja visitada http://www.akatu.org.br/e que, quando tiverem um tempinho, façam o TESTE DO CONSUMIDOR CONSCIENTE desenvolvido pelo Instituto. É uma boa forma de nos avaliarmos e avançarmos na reflexão sobre as nossas práticas cotidianas.

Boa leitura e bom teste.

Iara Borges Aragonez.

Consumo Consciente em foco

Nos últimos anos, a mensagem tornou-se clara: se as pessoas e as empresas não mudarem seu padrão de consumo e produção, o planeta terá um trágico futuro em um par de décadas. No plantel de debates internacionais sobre mudanças climáticas, especialistas explicam que cada um tem sua responsabilidade na construção de uma vida mais sustentável e menos danosa para o resto do mundo.

Daí o conceito de consumidor consciente, como o defendido pelo Instituto Akatu, que desde 2001 estimula o consumidor a perceber o impacto de suas ações e valorizar empresas que minimizem possíveis danos ao meio-ambiente. Pela lógica da ação, pessoas melhor informadas e mais conscientes passariam naturalmente a comprar produtos de empreendimentos sócio e ambientalmente responsáveis. Estes, por sua vez, se destacariam no mercado, forçando outras companhias a assumir a mesma postura.

”O consumo consciente pode ser descrito como um exercício de alteridade e solidariedade, no sentido de que trata de fazer do ato de consumo algo que considere os outros e trabalhe em benefício dos outros”, defende Helio Mattar, idealizador e co-fundador do instituto.

Esse contexto ideal é defendido por expertos como o presidente do Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social (Idis), Marcos Kisil. Segundo ele, não resta dúvida que as práticas sociais e ambientais do setor privado vêm também de fatores coercitivos, ocasionados por uma adequação das empresas às demandas da população.

“O consumidor brasileiro está, a cada dia, não apenas mais consciente de seus direitos, mas também do papel que cidadãos e empresas devem desempenhar na sociedade, como agentes pró-ativos do desenvolvimento”, acredita Kisil.

O otimismo, no entanto, é relativizado quando analisados levantamentos sobre o tema. O Instituto Akatu divulgou, no ano passado, um estudo sobre como e por que os brasileiros praticam o consumo consciente. Os resultados do levantamento mostraram que, além do número de consumidores considerados engajados ter diminuído, ainda existe divergência entre o que se postula como princípio e que realmente se pratica. Isto é, a intenção não se reverte em atitude.

Na época a explicação para o negativo diagnóstico dada por Mattar, era a de que o conceito de consumo consciente ainda está em fase de transição e, assim, tende a suscetibilidade de condutas e opiniões de contexto imediato. “Em 2003, quando divulgamos a primeira pesquisa sobre o tema, havia o risco eminente do apagão, por exemplo, o que determinou, entre outros fatores, novos comportamentos. Isso diminuiu agora”, avaliou.

Realizada entre setembro e outubro de 2006, a sétima pesquisa realizada pelo instituto entrevistou 1.275 adultos de todas as classes sociais residentes nas 11 principais cidades das cinco regiões geográficas do país: Belém (PA), Belo Horizonte (MG), Brasília (DF), Curitiba (PR), Fortaleza (CE), Goiânia (GO), Porto Alegre (RS), São Paulo (SP), Rio de Janeiro (RJ), Salvador (BA) e Recife (PE). As distribuições de idade, sexo e classe social, segundo o instituto, foram ponderadas em relação à distribuição demográfica de cada um.

Por outro lado, o Ibope Inteligência entrevistou 537 executivos de 381 grandes empresas brasileiras para descobrir como eles enxergam o conceito de sustentabilidade e quais as suas implicações no cotidiano dessas organizações. Resultado: o setor privado incorporou valores inerentes aos negócios sustentáveis, mas embora a intenção exista, ela ainda não se converte em comportamento.

Por meio das respostas, foi possível detectar paradoxos entre o que se entende como sustentável e o que realmente se faz para chegar a esse fim, principalmente no que se traduz em questões estratégicas. Entre os exemplos estão os quatro critérios para definir uma empresa como sustentável, apontados na pesquisa. Nessa questão, 92% dos executivos concordaram que preservar o meio ambiente é vital para o processo, seguido de contribuir para o desenvolvimento econômico do Brasil (89%), investir em ações sociais (87%) e ter sucesso em longo prazo (83%).

“O fato de um número tão alto concordar nesses tópicos mostra que eles entendem o conceito de triple bottom line (que designa o equilíbrio entre os três pilares - ambiental, econômico e social), que está na base de todos os novos negócios”, argumentou o CEO do Ibope Inteligência, Nelsom Marangoni.

O responsável pela pesquisa, no entanto, afirma que, na caracterização das empresas, os principais aspectos levantados não estão diretamente relacionados à responsabilidade socioambiental. Os entrevistados constataram como principais preocupações ser ética (que tem mais a ver com práticas de combate ao preconceito e discriminação), em 80%, pagar impostos (78%), respeitar os consumidores (73%) e cumprir as leis trabalhistas (72%).

Para o consultor de terceiro setor e responsabilidade social da Ofício Plus Comunicação e publisher da revista Idéia Socialambiental, Ricardo Voltolini, como se pode ver, são grandes os desafios de mobilizar os brasileiros, “fazendo com que percebam o poder de influência que tem o consumo consciente na mudança dos modelos de produção e estratégias de negócio”, disse em recente artigo, publicado no jornal Gazeta Mercantil.

Esse poder existe, mas simplesmente não há conscientização sobre os danos ambientais, como chegou a dizer a diretora executiva da organização The Trust for Civil Society in Central and Eastern Europe, Rayna Gavrilova, na última edição da revista inglesa Alliance. “Nenhuma família compraria uma lavadora de louças sem avaliar como a sua presença afetaria o uso de espaço e a conta de eletricidade”, ironizou.

Embora a passos curtos, o Brasil avança na questão de um consumo mais responsável e exigente. Não por acaso, o poder do consumidor será objeto de atenção e curiosidade da população, que tende a exercê-lo cada vez mais diretamente. Com certeza, um dos temas-chave de 2008.
(*) Rodrigo Zavala é jornalista e colaborador da Rede Gife (Grupo de Institutos, Fundações e Empresas)

domingo, 24 de fevereiro de 2008

“Îvîtu-Yepivu mental”

(Na dificuldade de um título, tomo emprestada essa expressão por achar que traduz um pouco a reflexão/inquietudes abaixo, ou o jeito de manifestá-las. Espero que o autor da mesma – expressão - não se importe...).

Iara Borges Aragonez
pós-férias, o breve parêntese.


De volta!

E a nostalgia do retorno, implacável.
Resta a força das experiências vividas,
embaladas pela magia e grandiosidade das imagens e sensações, cujo poder de imprimir o mesmo tom e cores em todo o resto, forja, no breve tempo, uma “outra” realidade, que, de tão maravilhosa acredita-se eterna e mágica. Sim, eterna e mágica, até o momento em que a “vida como ela é”, com seus reveses, grita mais alto. E eis que me deparo com a fugacidade do belo.

É chegada à hora, após esse breve parêntese, de, novamente misturar-se com aquilo que chamamos, sem vacilar, de REALIDADE, a real realidade. A dureza da vida, esta sim, perene e inexorável.
Resistir, Enfrentar, Lutar, Ceder!!!
Palavras fortes que revelam e traduzem o espírito da dura tarefa de viver nesse mundo que coloca na nossa frente emoção e razão apartadas, atribuindo à capacidade de “endurecer’ a real sabedoria do viver, confundindo assim qual o caminho a seguir, quando às encruzilhadas se apresentam.

Entretanto, descubro o segredo!!!
Manter, manter e manter latente na mente, no coração e na alma, a magia e a grandiosidade do vivido, do maravilhoso, fazendo deste um alimento diário,
tal qual o vento que atea e aviva o fogo, iluminando e nutrindo a nossa existência. Compreender e valorizar no quotidiano o calor das boas emoções, as pequenas e grandes alegrias, as vacilações, os enfrentamentos, a razão e também as transgressões, boas transgressões. Recolhendo deste universo o poder de nos mantermos ternos e flexíveis, porém rígidos e inflexíveis, quando necessário. Mas apenas quando necessário, e somente o necessário.

Recolher o alimento para a Resistência, para o Enfrentamento e para a Luta.
A inspiração para saber a hora de ceder e para fazer com que a aridez da tarefa seja mitigada com toques de ternura, beleza, graça e alegria, pois as sensações farão lembrar que a real REALIDADE também é feita de reais encantamentos. E deixar que também estes definam as escolhas.

Que bom!

Assim, acredito que no quotidiano da vida e da luta nos humanizaremos e nos harmonizaremos mais, pois, o belo, descoberto, redescoberto, vivido e revivido, funcionará como um antídoto para a tristeza, às dores e à dureza da alma. Estas, riscos constantes para aqueles que perseguem a utopia, lutando pela realização dos seus sonhos, individuais e coletivos, e para a superação da fugacidade das coisas que encantam.

Para tanto, precisa-se de muita sabedoria. Que a tenhamos nessa longa trajetória que é a vida!!!

Impossível aqui não lembrar de “El Che”, em particular na atual conjuntura política internacional.

"Hay que endurecerse, pero sin perder la ternura jamás." (Che Guevara)

E, para homenagear a nostalgia, a força necessária e a vida, selecionei algumas músicas com histórias diferentes, mas todas, na minha opinião, intensas e mobilizadoras. Algumas baladas mais românticas, outras de cunho social e uma em particular totalmente voltada para a emoção de quem busca todas as formas de resistência pessoal. Abaixo um trechinho desta que se chama “Resistiré”. Muy antiga, piegas, pero muy intensa.

“…Me volveré de hierro para endurecer la piel Y aunque los vientos de la vida soplen fuerte soy como el junco que se dobla, pero siempre sigue en pie...”

Clicando no “menu” do vídeo, você pode acessar às diferentes canções selecionadas.

"A vida como ela é"

domingo, 27 de janeiro de 2008

Uma boa semana!!!

Iniciamos essa semana com duas publicações.

Logo abaixo, o texto de Arnaldo Luiz Dutra e Geraldo Antônio Reichert, Gerenciamento Integrado de Resíduos Sólidos: A Coleta Seletiva e Seus Desafios. Reflexões a partir de uma experiência local.

Este, mostra o quanto a política pública pode contribuir para que as pessoas, no processo de reprodução de suas vidas, estabeleçam com o ambiente uma relação de respeito, optando no seu dia-a-dia por atitudes que repercutam positivamente na sua qualidade de vida e na do conjunto da sociedade. O texto aborda a experiência de Porto Alegre na coleta seletiva de resíduos, trazendo dados sobre os 15 anos dessa política da administração popular, que investiu em educação sócio-ambiental, equipamentos, unidades de triagem de resíduos, etc, Também aborda sobre questões ainda pendentes, como por exemplo, a coleta informal realizada por carrinheiros e/ou carroceiros e também questiona o FOCO das políticas, cuja centralidade está na reciclagem e não da redução de resíduos. Lança e responde a pergunta: QUAL É O PROBLEMA AFINAL?

O texto foi escrito há quatro anos. Hoje os autores ocupam outros espaços públicos. Arnaldo Dutra, Presidente da Associação Nacional dos Serviços Municipais de Saneamento – ASSEMAE e coordenador do Consórcio Público de Saneamento Básico da Bacia Hidrográfica do Rio dos Sinos (Pró-Sinos). Geraldo Antônio Reichert, Engenheiro Civil, na Secretaria Municipal de Meio Ambiente – SMAM em Porto Alegre.

Bueno, o texto é muito mais, além de Atual, pedagógico e impulsionador.

O vídeo abaixo, "HERDEIRO DA PAMPA POBRE", que nos ajuda a refletir sobre as conseqüências para o nosso planeta da ausência de uma política de gerenciamento integrado de resíduos, foi uma indicação de Osvaldo Guadagnin. Alíás, uma feliz indicação deste que é engenheiro agrônomo da Emater atuando em Nova Bassano/RS e também Diretor do SEMAPI Sindicato.

Após o texto sobre resíduos apresentamos resumo e endereço do site da Emater onde é possível ler a íntegra da sistematização da experiência com Secador Solar, desenvolvido por Osvaldo Guadagnin. Osvaldo é vencedor do prêmio Responsabilidade Ambiental 2007, do Instituto Borboleta Azul e da Secretaria Estadual de Meio Ambiente.


Aproveitem.
Iara Borges Aragonez

Gerenciamento Integrado de Resíduos Sólidos: A Coleta Seletiva e Seus Desafios. Reflexões a partir de uma experiência local




Texto abaixo de
Arnaldo Luiz Dutra e Geraldo Antônio Reichert

Nos últimos anos o conceito de gerenciamento integrado tem sido proposto como alternativa para a inversão da triste realidade do manejo dos resíduos sólidos urbanos no Brasil. Mas o que é gerenciamento integrado? Será que cada vez que usamos, lemos ou escutamos este termo temos todos o mesmo entendimento de seu significado? Nem sempre, pois mesmo algumas definições que têm sido propostas na bibliografia apre-sentam divergências. Talvez a definição que melhor resuma o que é gerenciamento integrado de resíduos sólidos urbanos seja aquela adotada por McDougall et al. (2001): o sistema de gerenciamento integrado engloba todo o fluxo de resíduos, os métodos de coleta, de tratamento e de destinação final, com o objetivo de alcançar benefí-cios ambientais, otimização econômica e aceitabilidade social (ou participação popular). Isto conduzirá a um sistema conveniente e sustentável de gerenciamento de resíduos para cada cidade ou região específicas.

Do ponto de vista do cidadão comum, o método mais conveniente de coleta provavelmente seja aquele que colete todos os resíduos misturados, tanto no que se refere ao tempo quanto ao espaço necessários. Este método limita, no entanto, as opções de tratamento subseqüente. A maioria dos métodos de tratamento requer uma segregação prévia na fonte em diferentes frações, dentro das casas, antes da coleta. A esta coleta de materiais previamente segregados é que chamamos de coleta seletiva.

A cidade de Porto Alegre, com cerca de 1,4 milhão de habitantes, conta com um programa de cole-ta seletiva desde 07 de julho de 1990. Contando hoje com a colaboração de parcela significativa da população porto-alegrense, que separa seus resíduos na fonte, ou seja, em suas casas, nestes 15 anos de coleta seletiva em Porto Alegre já foram recicladas cerca de 40 mil toneladas de papel, o que corresponde a 1,4 milhão de árvores que deixaram de ser derrubadas. Podemos dizer, portanto, que neste período, cada cidadão do município poupou exatamente uma árvore (1.400 mil habitantes). Além disso, temos ainda como benefícios diretos uma economia de 10 % do volume ocupado nos aterros sanitários (o que eqüivale a duração de mais 15 meses de vida útil dos aterros); e a geração de cerca de 600 postos de trabalho fixos e diretos nas Unidades de Triagem de Resíduos. Além disso estima-se que a economia de energia proporcionada pela reciclagem, somente de alumínio e papel, neste período seja de 9 milhões kWh, o que é suficiente para manter o consumo de energia elétrica de 5.000 residências (20 mil habitantes) por um período de um ano.

A educação ambiental é ferramenta, porque é através dela que se busca a conscientização das pes-soas para que façam a efetiva separação de seus resíduos em suas residências; e é produto porque ao fazerem esta segregação em suas casas ou escritórios, as pessoas entram em um processo de “dar-se conta” de toda a dinâmica de geração e tratamento dos resíduos. É portanto um processo que é continuamente retroalimentado, o que é aliás característica intrínseca de um “sistema”.

É sabido que soluções sozinhas e estanques não conseguem resolver os problemas no gerencia-mento de resíduos sólidos. As alternativas devem ser vistas e concebidas com uma visão sistêmica, sempre como sendo parte da solução, e não a solução. A coleta seletiva é apresentada como uma das alternativas de grande impacto. Solução que obrigatoriamente é precedida da educação ambiental e sócio - ambiental, devido a potencialidade de geração de renda, e vem acompanhada de unidades de triagem dos materiais, centrais de comercialização, reaproveitamento e reciclagem propriamente ditas, não fugindo da necessidade de unidade de destinação final para aquela fração não reciclável.

A coleta seletiva, agregada às unidade de triagem de resíduos, teve seu crescimento no Brasil mais acentuado na década de 1990. Quando estas alternativas são concebidas como sendo partes integrantes de um sistema integrado, são com certeza elementos fundamentais na definição de modelos sustentáveis de gerencia-mento de resíduos. Os benefícios também são visíveis, como atestam os números e os resultados já apresentados anteriormente para o município de Porto Alegre.

Mas, parafraseando livremente o poeta, nem tudo são frutos nem flores. Todos as cidades brasilei-ras, independentemente do seu tamanho ou do grau de desenvolvimento econômico, estão atualmente sendo desafiadas a resolver a questão da coleta informal, isto é, aquela coleta que é feita por catadores de rua por meio de carrinhos de tração humana (os carrinheiros), por carroças de tração animal (os carroceiros), por veículos automotores adaptados, e até mesmo por pessoas de bicicleta, a pé e empurrando os carrinhos de supermercado. Estima-se que em Porto Alegre o número de catadores informais de rua tenha subido de cerca 1,5 mil a algo em torno de 5 ou 6 mil nos últimos 4 anos. Este fenômeno deve-se a dois fatores preponderantes: a forte crise econômica de um lado, que mantém excluídos do mercado de trabalho milhões de brasileiros; e de outro lado a disponibilização de renda junto ao meio-fio. Sim, porque é isto que estamos fazendo quando separamos os resí-duos em nossas residências e os apresentamos à coleta seletiva. Como nos dizia, em recente debate em um pro-grama de rádio local, uma ex-catadora que catava na rua para poder pagar seu curso numa universidade privada (ela faz Serviço Social): “quando eu vejo um latinha ou papel na rua, eu não vejo outra coisa senão moedas.”

Cabe ao poder público, e toda a sociedade, dar resposta a esta grave questão de milhares de pesso-as que sobrevivem destas atividades informais. Esta coleta informal, nos moldes em que ela vem sendo feita na maioria das cidades brasileiras, acaba trazendo uma séries de conflitos com o sistema de limpeza urbana oficial – uma vez que muitas vezes os resíduos são triados em plena via pública, resultando em prejuízos à limpeza pública – e com as associações de catadores formais estabelecidas nas Unidades de Triagem – uma vez que há uma competição pelo material disponível, competição esta muitas vezes “desleal”, pois os catadores de rua acabam retirando os materiais mais nobres, o que resulta em queda de rendimentos financeiros para as associações esta-belecidas. Além disso, pode representar inconvenientes sanitários, pois os locais onde é feito o armazenamento, beneficiamento e comercialização dos materiais coletados geralmente apresentam condições de salubridade longe do desejável.

A política de resíduos sólidos a ser implementada pelos município deve levar em conta esta reali-dade. Entretanto, não cremos que a forma mais inteligente de procurar resolver o problema seja incentivando esta catação informal, ou querer que os catadores de rua assumam a coleta seletiva. Os catadores devem ser con-siderados parte integrante na definição do sistema integrado de gerenciamento. Tanto na fase de definição, quanto na fase de implementação (implantação e operacionalização). Mas no nosso ponto de vista, o sistema deve ser concebido para que a catação de rua, ou a coleta informal, seja gradativamente abandonada, substituída e desnecessária.

Talvez nesta questão, de catadores e do incentivo à coleta informal, resida uma das maiores contradições no que tange ao gerenciamento de resíduos sólidos. Focamos o problema e não a solução. Esta questão de foco nos faz lembrar de uma historinha: “Quando a Nasa iniciou o programa de lançamento de foguetes tripu-lados nas décadas de 1960, descobriram que as canetas não funcionariam com gravidade zero. Para resolver este enorme problema, contrataram uma grande empresa de consultoria. Empregaram uma década de pesquisa e 12 milhões de dólares. Conseguiram desenvolver uma caneta que escrevesse com gravidade zero, de ponta cabeça, debaixo d'água, em praticamente qualquer superfície incluindo cristal e em variações de temperatura desde abai-xo de zero até mais de 300 graus Celsius. Os russos, por sua vez, usaram um lápis...”

É senso comum que a política dos 3 R´s (Reduzir, Reaproveitar, Reciclar) deva estar presente em qualquer modelo. A hierarquização das ações prioritárias num sistema integrado, diz que primeiro devemos reduzir a geração dos resíduos; depois, o que não for possível evitar que seja gerado, devemos reaproveitar; somente depois é que vem a reciclagem (e aí esta subentendido tanto a reciclagem dos materiais ditos “secos” como a reciclagem da matéria orgânica). Na seqüência hierárquica ainda vem o tratamento térmico e o aterro sanitário. No Brasil, ocorre uma inversão de prioridades: a reciclagem tem sido muito incentivada – e isto é bom –, mas o primeiro R tem sido completamente esquecido – e isto não é nada bom. É aí, nesta inversão de prioridades, que está a contradição.

Deveríamos estar focando nossos principais esforços em políticas, projetos e atividades de não geração de resíduos; sendo as demais atividades – reaproveitamento/reciclagem, tratamento e destinação final – complementares. Qual é o problema afinal? Uma boa tentativa de resposta a esta pergunta é dizer que o proble-ma é a geração de resíduos. São os resíduos que causam os impactos ambientais quando tratados e dispostos de forma inadequada, ou mesmo quando o são de forma adequada (é por isso que fazemos os estudos de impacto ambiental para unidade de compostagem ou aterros sanitários, para identificar, quantificar e mitigar estes impac-tos). Ora, se os resíduos são o problema, não é focando-os que vamos resolver o problema, mas sim focando a solução, qual seja, a sua não geração.

A contradição está também na própria visão que os catadores têm do problema: para eles quanto mais resíduos, melhor, pois mais rendimentos eles conseguem. Contradição esta que também tem sido explorada por aqueles que teriam um papel fundamental na minimização da geração dos resíduos: os fabricantes de emba-lagens e os que as utilizam para vender seus produtos. Vejamos um exemplo muito ilustrativo disto. Há um tem-po atrás, um fabricante de envases para bebidas patrocinava campanhas e gincanas em colégios de educação fundamental e de ensino médio, onde as crianças ou adolescentes eram incentivados a levar para a escola estes envases vazios. Em troca, as turmas que conseguiam juntar o maior volume destes materiais, recebiam presentes, como computadores ou outros equipamentos. Num primeiro olhar parece uma troca vantajosa – assim como pareceu vantajosa aos indígenas, 500 anos atrás, a troca de seu ouro por espelhos e quilharias –, no entanto este tipo de campanha elevou em muito o consumo das bebidas envasadas no referido material no bar daquele colégio. O mesmo vale para outros materiais, por exemplo, o caso em que crianças levaram para campanhas de reci-clagem feitas no colégio maços fechados de papel para impressão. Isto pode ser tudo, menos campanha de educação ambiental ou correto gerenciamento de resíduos.

Por fim, é importante não nos esquecermos, quando falamos de coleta seletiva e de reciclagem, da fração orgânica. Matéria orgânica representa em média de 50 a 60% em peso dos resíduos sólidos domiciliares no Brasil. Estima-se que a fração recuperada, através do processo conhecido como compostagem, é menor que 1%. O investimento em compostagem merece um olhar mais cuidadoso, pois é capaz de desviar do aterro sanitá-rio um percentual de 2 a 3 vezes maior que a reciclagem dos outros materiais. Juntos, reciclagem de materiais (ditos “secos”) e orgânicos, podem desviar em torno de 75% do aterro, ou seja, sobrariam os cerca de 25% que representam os rejeitos sem possibilidade de utilização.

Certamente não conseguiremos atingir a geração zero de resíduos num curto espaço de tempo (tal-vez nem num médio). Enquanto isto, devemos adotar todas as possibilidades dentro da hierarquia de ações pos-síveis. Nestas etapas, os catadores não podem ser simplesmente esquecidos ou excluídos. Mas, achamos que este deva ser um processo de transição, em que novas alternativas sejam buscadas, e que cada vez menos resíduos sejam gerados.

Não vislumbramos um futuro onde o homem esteja puxando um carrinho para poder sustentar sua família, nem um futuro onde o homem explore outros homens que fazem a coleta informal de resíduos pelas ruas das nossas cidades.
Nós cremos num futuro de cidadania plena... Nos permitamos a todos esta utopia!

Bibliografia citada:
McDougall, F.; White, P.; Franke, M; Hindle, P. 2001. Integrated solid waste management: a life cycle inventory. Blackwell Science: Oxford. 513p.

SECAGEM DE GRÃOS COM ENERGIA SOLAR (NOVA BASSANO)

Experiência realizada na propriedade
do senhor Adilson Peruzzo
Osvaldo Guadagnin Nova Bassano/

RESUMO
A experiência refere-se a um secador de grãos que utiliza energia solar como fonte de fornecimento de calor, instalado nos meses de março e abril do ano de 2002, na propriedade do senhor Adilson Peruzzo, comunidade de Tredezeta, município de Nova Bassano. Trata-se de um secador de leito fixo modificado em que a fornalha é substituída por túneis plásticos baixos com a função de aquecer o ar, que posteriormente é impulsionado por ventiladores em direção a massa de grãos. As vantagens do secador de grãos solar são: a eliminação do uso de lenha para a secagem; o baixo custo de implantação, operação e secagem; a dispensa de mão-de-obra durante o processo de secagem; e a qualidade dos grãos. O secador tem capacidade de secagem para 400 sacos por vez e pode ser usado no beneficiamento de qualquer tipo de grão. A única desvantagem é que o tempo de secagem é cerca de cinco vezes maior que o tempo em secador a lenha.

http://www.emater.tche.br/site/inicial/ptbr/php/index.php (buscar em Sistematização de Experiências)

domingo, 20 de janeiro de 2008

Coletivo Desenvolvimento Sustentável conversa com organizações comprometidas com a SUSTENTABILIDADE DO DESENVOLVIMENTO

O Coletivo Desenvolvimento Sustentável do Semapi – CDS Semapi, representado pelos diretores que integram a Diretoria Executiva do Sindicato - Antenor Pacheco, Paulo Sérgio Mendes Filho e Iara Borges Aragonez - reuniu-se na sexta-feira última, com João Rockett, Diretor do IPEP – Instituto de Permacultura e Ecovilas da Pampa. Participou também da reunião o representante do Setor Privado no Semapi, o Diretor Daniel Soares.

Esta reunião deu seqüência a um conjunto de articulações, visando recolher o máximo de informações e identificar parcerias que possam contribuir para uma melhor execução da ação do Coletivo a partir de Março/2008.

Na semana passada estivemos reunidos com Arnaldo Dutra, ex-diretor do DMLU/Porto Alegre, atual presidente da Associação Nacional dos Serviços Municipais de Saneamento – ASSEMAE e coordenador do Consórcio Público de Saneamento Básico da Bacia Hidrográfica do Rio dos Sinos (Pró-Sinos).

Nos dois casos, identificamos grandes possibilidades de contribuição.

Cabe dizer que o CDS Semapi, assim como os demais coletivos do Sindicato, possui um planejamento estratégico que organiza a sua ação a partir de grandes eixos. Dentre eles, destaca-se aqui dois, os quais são fundamentais, por seu caráter estratégico e estruturante.

Um deles, “Consumo e Sustentabilidade”, prevê incidirmos nas práticas cotidianas de consumo, sejam elas dentro do sindicato ou na sua base. E, considerando que essas práticas são fortemente enraizadas, pois, constituídas a partir de valores historicamente introjetados na sociedade, prevemos o eixo “Formação e Capacitação”. Este eixo dará maior consistência para o enfrentamento necessário, garantindo ações formativas capazes de provocar a reflexão e de desenvolver uma consciência crítica sobre o papel que determinadas práticas cumprem para a degradação humana e ambiental, e, o quanto, mesmo que inconscientemente, contribuímos para o estado atual das coisas.

Perseguimos, demarcados por esses dois eixos, as condições para promover a re-significação do ato cotidiano de consumir, necessária para a adoção de novas práticas de consumo e para a construção de uma sociedade mais justa. O que impulsiona e anima a ação do Coletivo é a sua convicção quanto à perversidade do modelo vigente, tanto para a sociedade quanto para o ambiente natural e quanto a importância de organizações sociais e políticas, como sindicatos, contribuírem para a construção de um modelo de desenvolvimento que se organize a partir de outra lógica. Dada à força do "adversário", sabemos que apenas a informação consistente, a denúncia sistemática e o seu enfrentamento com ações concretas, que propiciem mudanças concretas, são capazes de incidir em práticas consagradas e de contribuir para a efetiva materialização de um outro paradigma de desenvolvimento, orientado por princípios e valores comprometidos com a justiça social, a eqüidade e a preservação ambiental.

Quando falamos de consumo, estamos falando tanto do consumo de energia, quanto de alimentos e de insumos. Neste último caso, nos referimos a matéria – prima utilizada em processos produtivos e também aos materiais utilizados por instituições para dar conta das suas atividades diárias, como papéis, tintas, utensílios, etc.

A conversa reafirmou que as duas organizações têm muito a contribuir para o processo formativo que queremos estabelecer.

O João, com a visão sistêmica de como cuidar da Terra e da Vida, representada pela PERMACULTURA, poderá nos propiciar uma reflexão sobre sistemas integrados de plantas, animais, água, edificações, energia natural e a relação do consumo nessa cadeia, ajudando-nos a reflexionar sobre como podemos nos valer desses ensinamentos para o nosso bem viver. E o Arnaldo com todo o seu acúmulo e experiência acerca do impacto ambiental dos resíduos, nos mostrando como a triagem e a correta destinação, podem elevar a nossa qualidade de vida e a de populações excluídas. REDUZIR, REUTILIZAR e RECICLAR, a política dos 3Rs, assim como, garantir a destinação social dos resíduos, são alguns dos caminhos já apontados.

Abaixo, publico um texto do IPEP, que estou retirando do Caderno de Orientações que elaboramos em 2005 para a execução do Programa Quilombolas Em Rede, aqui no RS.

Antes de Fevereiro, inaugurando a entrada no Blog de temas relacionados a gestão ambiental, relacionada a resíduos sólidos, estarei publicando o texto Gerenciamento Integrado de Resíduos Sólidos: A Coleta Seletiva e Seus Desafios. Reflexões a partir de uma experiência local, de Arnaldo Luiz Dutra e Geraldo Antônio Reichert.

A foto que acompanha o texto do IPEP é do mesmo período do Caderno de onde o recorto. O reencontro com o João me fez mexer nesse arquivo e não resisti em mostrar uma delas. Faz parte de um tempo que se foi, mas que deixou muitas coisas boas com fortes marcas. Dentre elas, essa ponte com o IPEP, que, como sempre, traz boas novas e abre novas perspectivas.

Iara Borges Aragonez
Boa Leitura!!!

Permacultura



A palavra Permacultura não existe no dicionário, vem da união das palavras permanente e agricultura ou cultura. É um sistema de desenho aplicado, interdisciplinar, para criar comunidades humanas sustentáveis, paisagens cultivadas e outros sistemas de apoio, com uma visão generalista, que contribua neste processo. Sua metodologia é baseada em princípios ecológicos, para produzir um sistema integrado de plantas, animais, água, edificações e energia natural. A Permacultura é um sistema de cuidar do Planeta Terra, que tem suas raízes em uma filosofia de abundância.

Histórico da Permacultura
Bill Mollison cresceu em uma pequena vila na Tasmânia. Tudo o que precisavam faziam, seus artefatos, seus calçados. Pescavam seus próprios peixes, produziam sua comida e faziam seu pão. E não conhecia ninguém nesse lugar que tivesse um só trabalho, ou qualquer coisa que pudesse ser definida como emprego. Todos trabalhavam em várias coisas. Até os 28 anos de idade vivia uma espécie de sonho, passando a maior parte do tempo no mato ou no mar. Mais tarde em 1968, começou a ensinar na Universidade da Tasmânia (Austrália) e, em 1974, com David Holmgrem, desenvolveu uma estrutura de trabalho para um sistema de agricultura sustentável, baseado na policultura de árvores perenes, arbustos, ervas, vegetais, fungos e tubérculos, para o qual criou a palavra Permacultura.

Principal ensinamento
Assumir responsabilidade pessoal pela nossa vida e pelos nossos atos. Verificar sempre o impacto que nossas ações de hoje podem gerar em um futuro próximo, no ambiente em que vivemos, assim repensarmos as ações com relação a alimentação, consumo em excesso, luxo...etc.

As 3 éticas da Permacultura


. Cuidado com a terra
Concepção de Planeta reconhecendo suas limitações, mantendo os sistemas vivos, se responsabilizando por eles ; consciência e responsabilidade com o Planeta, minimizando nosso impacto. Ter a consciência de que os recursos são limitados, o que não pode
ser limitado é nossa capacidade de criar e de amar.

. Cuidado com as pessoas
A qualidade da vida humana é um fator essencial no desenvolvimento de estratégias de sobrevivência. Nós somos responsáveis pelo bem estar uns dos outros. Na natureza as espécies na sua interação cooperam mais do que competem. Cooperação é diferente de competição. A globalização torna a competição uma religião.

. Partilhar excedentes
O excesso de bens é antiético e imoral, quando concentrado nas mãos de poucos;
Quando existir o excedente está na hora de rever o sistema. Qualquer pessoa, instituição ou nação que acumule riqueza ao custo do empobrecimento de outras está diminuindo a expectativa de sustentabilidade da sociedade humana.

Limites ao consumo
Isso requer um repensar de valores, um replanejamento dos nossos hábitos e uma
redefinição dos nossos conceitos de qualidade de vida. Alimento saudável, água limpa e abrigo existem em abundância na natureza; basta que com ela cooperemos.

Entendendo os sistemas naturais.
Sustentabilidade é regida por leis, que mantém os sistemas naturais. O sistema sustentável é aquele que armazena, retém e acumula energia. Quanto mais energia retém MAIS o sistema é sustentável. . Ex: a floresta é um sistema natural que melhor utiliza a energia e que tem um maior número de pontos de armazenamento. . MAIS sustentabilidade = MAIS energia armazenada.

Características da sustentabilidade. regras de sustentação.
. Produzir suas necessidades e das pessoas; Armazenar mais energia do que a utilizada
para construí-lo.

Poluição
Poluição é a consequência de um produto não utilizado por nenhum outro elemento; é superabundância de recursos. O aumento de trabalho surge quando existe uma deficiência de recursos, quando um elemento no sistema não agrega outros elementos úteis, quando não existe interligação entre os elementos e entre as funções.

Princípios da permacultura
. Trabalhe com a natureza e não contra; Todo o problema tem sua própria solução; . Mínimo de mudança para o máximo beneficio; . A produtividade só é limitada pela imaginação;

Conceitos básicos
. Principio do caos, da desordem. excesso de energia acumulada gera um caos no sistema. Ex: excesso de chuva transborda os açudes.
. Quando se coloca energia além da capacidade do sistema.
. Produtividade é a soma total da energia produzida, armazenada e reciclada em um sistema.
.Seleção de espécie de múltiplo uso;
.Seleção de espécies que possam se autoarmazenar. Ex: mandioca, técnicas de armazenamento; conservas, desidratação de alimentos;
. Economia micro regional.
. Criação de ciclos na propriedade. Ex: biodigestor para efluentes líquidos e sólidos.
. Compreensão dos nichos: no tempo e no espaço.
. Stress: funcionamento forçado de um elemento, de um sistema; impedimento do funcionamento natural e harmônico.
. Estabilidade, equilíbrio - é uma função do tempo e diversidade.

Design - É um processo continuo de informação, de aplicação da informação, de feedback e realimentação: é cíclico e deve ser constantemente reavaliado.
No design é importante observar a inter-relação entre os elementos e suas funções dentro do sistema.
Leis básicas do design permacultural: cada elemento deve ter muitas funções, cada função essencial deve ser coberta por muitos elementos. Quanto mais completo o sistema maior a funcionalidade.
A sociedade é de uma maneira geral presa pelos valores da estética, e a permacultura pela funcionalidade (é o foco do desing permacultural). A permacultura trabalha com várias áreas do conhecimento: bioconstrução, geração de energia renovável e de baixo custo, produção de alimentos limpos, e água, dentro de uma visão que denominamos segurança hídrica, promovendo um desenho que una harmonicamente estes elementos. Este é o desafio de quem trabalha com permacultura.

Para pensar
“ Devemos mudar nossa filosofia, antes que qualquer outra coisa mude. Mudar a filosofia da competição (a qual, hoje, penetra nosso sistema educacional) para a filosofia de cooperação, em associações livres. Mudar nossa insegurança material para uma humanidade segura; trocar o indivíduo pela tribo; petróleo por calorias e dinheiro por produtos. A grande mudança que necessitamos fazer é do consumo para produção, mesmo que em pequena escala, em nossos próprios quintais. Se 10% de nós fizéssemos isso, haveria o suficiente para todos. Assim, vê-se a futilidade dos revolucionários que não têm jardins, que dependem do próprio sistema que atacam, que produzem palavras e balas e não alimento e abrigo. Algumas vezes, parece que somos apanhados, todos nós, na Terra, em uma conspiração consciente ou inconsciente para nos mantermos sem esperança. E, mesmo assim, são pessoas que produzem todas as necessidades de outras pessoas, juntos podemos sobreviver. Nós mesmos podemos curar a fome, toda a injustiça e toda a estupidez do mundo. Podemos fazê-lo compreendendo a forma com que funcionam os sistemas naturais, pelo reflorestamento e jardinagem cuidadosos, pela contemplação e cuidado com a Terra.”
Bill Mollison