terça-feira, 23 de dezembro de 2008
UM VOO ALEGRE, PERFUMADO E PLENO!
Iara Borges Aragonez.
Coletivo Desenvolvimento Sustentavel Semapi
desde a Nova Zelandia.
A POHUTUKAWA e uma arvore que domina a paisagem da Nova Zelandia, Ilha Norte, no mes de Dezembro, pelo vermelho intenso de suas flores. Mas, a destaco aqui pelo significado que tem junto aos MAORIS*. Para estes, as raizes da Pohotukawa, a partir de CAIPE REINGA**, levam o espirito de seus mortos de volta para HAWAIKI, lugar de onde vieram e onde deixaram seus ancestrais. Assim os reencontram.
Refletindo sobre essa crenca e sobre a historia desse povo guerreiro (no melhor sentido da palavra), imaginei o quanto seria bom se todos nos encontrassemos a nossa POHUTUKAWA. E e a partir dessa imagem que abraco e celebro, com cada um que acompanha e faz esse blog, a passagem desse mais um ano.
Desejo que todos nos encontremos uma POHOTUKAWA, seja ela na forma de nossos Ipes, Jacarandas, Pitangueiras, Manacas, Guapuruvus ou Figueiras. Mas, nesse caso, para que as suas raizes nos firmem e nos reafirmem em NOSSA TERRA. Com a forca suficiente para faze-la mais bela e justa e principal simbolo da nossa existencia. Nossa e dos Nossos. E, tambem, que seus frutos, folhas e flores, na danca dos ventos, espalhem a boa energia, entrelacando-nos cada vez mais em um voo alegre, perfumado e pleno. Que nessa danca e nesse voo realizemos o nosso Eu e o nosso Nos, fazendo-nos alegres e felizes o suficiente para espalharmos mais alegria e mais felicidade. Que sejamos ainda mais vitoriosos em nossa lutas ligadas a nossa terra e ao nosso povo. Que os "SEM", em suas marchas cada vez mais vigorosas, afirmem e reafirmem a sua forca, a sua dignidade e a sua identidade.
Assim meus queridos(as) companheiros(as), deixo um grande, forte e amoroso abraco e um FELIZ 2009 PARA TODOS(AS) NOS.
*MAORIS: Povo que chegou na Nova Zelandia, vindos de diferentes Ilhas do Pacifico, ha cerca de 1000 anos. Nos anos 1700 e 1800, com desdobramentos ate os dias de hoje, travaram muitas batalhas com os colonizadores ingleses para defender que as suas terras permanecessem em suas maos.
** CAIPE REINGA: O ponto mais setentrional da Nova Zelandia, onde e possivel assistir o encontro entre o Mar da TASMANIA e o OCEANO PACIFICO. E de la, segundo a crenca MAORI, que a POHUTUKAWA situada na ponta do Cabo, leva o espirito de seus mortos ao encontro de seus ancestrais.
*** Desculpem-me a falta de acentos, mas o teclado que utilizo nao me oferece essa possibilidade.
segunda-feira, 22 de dezembro de 2008
DO BLOG RS URGENTE - A CONQUISTA DE CAIBOATÉ
O BLOG DO COLETIVO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL não participou mas acompanhou de perto pelo excelente trabalho dos companheiros blogueiros....valeu esta foi a grande vitória da sustentabilidade de 2008. sem dúvidas o pampa não será mais o mesmo depois desta conquista!
SEGUNDA-FEIRA, 22 DE DEZEMBRO DE 2008
A conquista de Caiboaté
O MUNDO SEGUNDO A MONSATO
O Movimento Gaúcho em Defesa do Meio Ambiente – MoGDeMA - tem a honra de convidá-lo(a) para participar da exibição pública do documentário O Mundo Segundo a Monsanto – da dioxinas aos transgênicos, no dia 22 de Dezembro, às 18:00h, no Auditório do Semapi Sindicato. (Lima e Silva, 280)
O documentário bombástico da escritora Marie-Monique Rodin, "O Mundo Segundo a Monsanto" foi ao ar a primeira vez no dia 11 de março. Ele mostra como a Monsanto se envolveu no Projeto Manhatan, que deu origem à bomba atômica. Fala da participação da Monsanto na Guerra do Vietnã com seu agente laranja. Mostra a relação dos transgênicos da Monsanto e o suicídio de milhares de agricultores indianos. Conta a destruição causada agricultura dos países em desenvolvimento pela Monsanto. Mostra as táticas da Monsanto para calar qualquer voz que ameace falar contra algo que ela produz.
O MoGDeMA é uma articulação que reúne ONG's ambientalistas, movimentos sociais do campo e da cidade, sindicatos, representantes de classe, lideranças religiosas, estudantes, professores, pesquisadores e demais lutadores sociais. Surge em decorrência da situação de crise deliberada e progressiva da gestão ambiental no Rio Grande do Sul. Visa ações conjuntas que fortaleçam as políticas públicas em defesa da natureza, promovendo o debate e a luta socioambiental, propondo a reflexão crítica ao modelo de desenvolvimento predatório hegemônico, e construindo as bases sociais para um novo modelo com sustentabilidade ambiental. O MoGDeMA é um espaço universal e plural, aberto a homens e mulheres, instituições e movimentos sociais. Carta de Princípios http://mogdema. blogspot. com/ . Neste endereço eletrônico também existe uma relação de atividades desenvolvidas neste ano de 2008.
Agradecemos desde já e contamos com sua participação.
sexta-feira, 19 de dezembro de 2008
BIOMA PAMPA NATURALMENTE GAÚCHO BRASILEIRO
Já faz um ano que o dia 17 de dezembro foi oficialmente instituído como o Dia Nacional do Bioma Pampa e poucos (ou quase nenhum) são os avanços no que tange a preservação e conservação desse bioma único no Brasil. Mesmo contando agora com um “dia nacional” os órgãos ambientais Federal e, principalmente o Estadual, parecem seguir de “costas” para o Bioma Pampa. Inclusive, “curiosamente”, hoje nada tratam do tema em seus sítios eletrônicos.
O Pampa sul-rio-grandense abrange cerca de 180 mil Km2, o que equivale a cerca de 60% da área do RS. O Pampa é caracterizado por uma vegetação campestre, que predomina em relevos de planície, e por uma vegetação mais densa, arbustiva e arbórea, nas encostas e ao longo dos cursos de água, além da ocorrência de banhados e áreas úmidas.
Além disso, as terras pampeanas ocupam uma área de aproximadamente 700 mil km2 entre os países da Argentina, Uruguai e Brasil. No Rio Grande dos Sul apenas 39% de sua área total ainda é constituída por remanescentes de campos naturais (Pillar apud Buckup, 2007).
E mesmo com uma imensa riqueza de biodiversidade e significantes endemismos (ou seja, espécies que só ocorrem nesse ecossistema) apenas 0,46% do Pampa gaúcho está protegido em Unidades de Conservação. Mesmo assim e em ritmo acelerado, os campos estão sendo convertidos em lavouras e plantações de árvores exóticas. Segundo Pillar (2006), entre os anos de 1970 e 2005 mais de 4,7 milhões de hectares de pastagens naturais foram modificadas. Atualmente o RS tem uma área de mais de 500 mil hectares de monoculturas de árvores exóticas e, segundo projeções, deverá ter cerca de um milhão de hectares de plantações de pinus, eucalipto e acácia até 2015.
A metade sul do RS, onde predomina o bioma, desde 2003 tem sofrido a ofensiva dos mega-projetos de três grandes empresas de celulose e papel (Aracruz, Votorantin e Stora Enso). Tais empresas já estão transformando o bioma Pampa e sua biodiversidade em imensos maciços de eucalipto, ou seja, em desertos verdes. Não obstante, além de transformar a biodiversidade do Pampa em desertos verdes também instalarão, pelo menos, três fábricas de celulose.
E o poder público? Enquanto o Governo federal se omite, ou melhor, apenas cria um data comemorativa, o Governo estadual “faz de tudo” para não preservar centímetro qualquer do Pampa. A cúpula do atual poder público estadual (gestão Yeda Crusius) assumiu os investimentos do setor da celulose e papel como projeto de governo e vem incentivando de diferentes formas a consolidação deste setor no Estado.
Estas formas de incentivo incluem, sobretudo, a flexibilização e o descumprimento da legislação ambiental (por exemplo, excluindo ou postergando a apresentação do Estudo Prévio de Impacto Ambiental em empreendimento de florestamento ou reflorestamento para fins empresariais com menos de 1000 hectares).
Além disso, os licenciamentos ambientais dos plantios de eucaliptos estão sendo liberados de forma precária, descumprindo regras e sem a conclusão do Zoneamento Ambiental para atividade de Silvicultura (ZAS), desenvolvido pela Fundação Estadual de Proteção Ambiental e da Fundação Zoobotânica. É importante ressaltam que com o ZAS finalizado, o mesmo foi desqualificado e rechaçado pelas empresas, por algumas entidades e sindicatos e, pasmem, pelo próprio governo, uma vez que o zoneamento limitava plantios de pínus e eucalipto em grande escala e em determinadas áreas do RS. Sendo assim, resta concluir que o descomprometimento real com a questão ambiental e que a falta de políticas efetivas de preservação e de conservação do bioma Pampa tem permitido e incentivado que o mesmo seja convertido em monoculturas de eucaliptos.
Por Cíntia Barenho, Centro de Estudos Ambientais, 18/12/2008
quarta-feira, 17 de dezembro de 2008
NO URUGUAI NÃO DEU CERTO...
Monocultura do eucalipto muda paisagem e vida no Uruguai
Introduzido de forma intensiva a partir dos anos 90, com os primeiros projetos da indústria de celulose que então se alinhavavam por lá, o Uruguai hoje convive com a monocultura do eucalipto ressentindo-se de profundos impactos socioeconômicos. Com 1,1 milhão de hectares cultivados continuamente para dar conta da demanda de 1 milhão de toneladas de celulose produzidas anualmente pela empresa de origem finlandesa Botnia, o país já contabiliza prejuízos ao emprego, inclusive ao segmento do turismo.
O cenário é muito diferente de décadas atrás, em que o eucalipto convivia, em forma de ilhas, com a agricultura e a criação de gado. “Naquela época já se sabia que nada se cultivava a menos de 30 metros do eucalipto, pois cada árvore dessas consome de 30 a 40 litros de água”, lembra Victor Bacchetta, jornalista uruguaio que esteve nesta segunda-feira em Porto Alegre, lançando o livro “A Fraude da Celulose”, que mostra, em seis capítulos, num total de 225 páginas, o processo de empobrecimento socioambiental e cultural decorrente da adoção massiva da cultura do eucalipto.
Palestrante pela manhã no lançamento do Movimento Gaúcho em Defesa do Meio Ambiente na Assembléia Legislativa e, à noite, no Sindicato dos Empregados em Perícias e Fundações do RS (Semapi), Bacchetta fez uma retrospectiva das implicações da entrada e operação do setor de celulose em seu país, comparando com a situação brasileira. Segundo ele, está havendo, especialmente dos anos 70 para cá, uma transferência deste setor, dos países do Norte para os do Sul. “No Brasil, são 5 milhões de hectares de florestas plantadas, num processo que se iniciou no Espírito Santo e no sul da Bahia. Mas nos Pampas, este processo é mais recente, e aqui há um ecossistema totalmente diferente”, observa. “Essa decisão, de trasladar as empresas de celulose do Norte, dos países europeus, para o Sul, é tomada por razões de controle ambiental, porque na Europa se aplicam normas mais restritivas quanto à proteção ambiental, o que aqui não acontece”, sustenta.
Segundo o jornalista, a indústria da celulose necessita de escalas intensivas de produção para se sustentar: “Isso faz parte de uma condição imposta pelo BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), que financia programas que, na realidade, institucionalizam a pobreza em um nível minimamente aceitável, e o Governo da Frente Ampla (do presidente Tabaré Vázquez) aceitou plenamente esta política.”
Impacto social
Para a produção de 1,1 milhão de toneladas de celulose, a Botnia, de acordo com Bacchetta, necessita de 200 mil hectares de florestas de eucalipto, que estão plantadas a um raio entre 150 e 200 quilômetros de sua planta. “Se nas décadas de 50 e 60 se falavam em latifúndios de 20 mil, 25 mil hectares, hoje as plantações de eucalipto formam áreas contínuas de 150 mil hectares. Devido a esta florestação, vivemos um segundo processo de esvaziamento do campo, com abandono de atividades agrícolas tradicionais e criação de gado e fechamento de escolas”, descreve.
O impacto mais relevante é sobre o emprego rural. Segundo o último censo do Uruguai, para cada mil hectares de florestas, são empregados 4,8 a 4,9 trabalhadores, enquanto que na criação de gado, para a mesma área, são 5,8 a 5,9 trabalhadores. “No Departamento de Rio Negro, onde está instalada a Botnia [a sede é em Fray Bentos, norte do país], a taxa de desemprego é de 13,8%, de acordo com o censo de abril de 2008, mais elevada que a média do Uruguai todo, que é de 7,6%”, compara o autor.
Atividades de fruticultura ocupam bem mais pessoas: 71 por mil hectares, o que chega a ser 14 vezes mais que a mão-de-obra para o plantio de eucalipto. Este número é ainda maior para a horticultura: 138 indivíduos empregados por mil hectares. “Com o avanço do eucalipto, perdem-se empregos em outras áreas e cresce a violência urbana”, resume Bacchetta, lembrando que na fábrica trabalham 190 pessoas. Ele destaca que houve prejuízos não somente às lavouras tradicionais, mas a atividades como apicultura, turismo e pesca, que perderam 1,4 mil postos de trabalho. “A fábrica está em zona franca, conta com vários benefícios fiscais”, afirma o jornalista, acrescentando que os trabalhadores que operam em atividades de poda, fumigação e outras relacionadas à manutenção do plantio de eucaliptos são terceirizados, fazem atividades eventuais e não têm assegurados cuidados com saúde no trabalho e riscos contra acidentes.
Questões ambientais
A fábrica da Botnia utiliza 86 milhões de litros de água diariamente e devolve 71 milhões. “O problema é que temos aí dioxinas e furanos, material cancerígeno e cumulativo mesmo em pequenas quantidades”, afirma Bacchetta. “O governo uruguaio adotou um limite máximo de emissões de dioxinas e furanos, e muitos técnicos dizem que esses índices são indetectáveis, mas isto é um eufemismo, pois o problema continua, mesmo sendo indetectáveis pelos instrumentos.” A principal causa dessas emissões, diz, é a opção das empresas por tecnologias que não eliminam totalmente o cloro do processo produtivo: “Existem tecnologias TCF, ou seja, processo totalmente livre de cloro elementar, mas não utilizam porque não é rentável. Além disto, as empresas de celulose alegam que com o processo ECF, ou seja, livre de cloro elementar, mas com compostos de cloro, conseguem um produto de melhores características do que com TCF”, explica.
Além das dioxinas, há problemas como emissões de nitrogênio e fósforo em elevadas quantidades, que ocasionam eutrofização, implicando aparecimento de algas e conseqüente mortandade de peixes e espécies vegetais. “O Rio Uruguai já estava comprometido ambientalmente com as elevadas quantidades de nitrogênio e fósforo dos efluentes de outras indústrias e das substâncias químicas empregadas nas lavouras. Agora, a situação se agrava”, nota.
“O argumento da Botnia de que as florestas de eucalipto capturam emissões de carbono, sendo portanto um mecanismo de redução da poluição do ar, diminuição do efeito estufa etc, não considera o fato de que as lavouras tradicionais absorvem muito mais o dióxido de carbono, pelas folhas e pelo solo. Não se pode comprar o papel apenas das folhas das plantas de eucalipto com o da biomassa do solo nesse tipo de absorção”, argumenta.
Incidente
A fábrica da Botnia entrou em operação em outubro do ano passado, depois de um incidente diplomático entre Uruguai e Argentina, pois a planta fica a 40 quilômetros de Gualeguaychu, na proivíncia de Entre Rios, Argentina, onde há uma forte tradição ambientalista. Em abril de 2005, o acirramento de ânimos entre os dois países chegou ao auge, quando moradores da cidade argentina fecharam a ponte que liga Gualeguayachu a Fray Bentos.
Conforme Bacchetta, o governo uruguaio explorou este incidente apelando para o senso de patriotismo, criando, para a opinião pública, a imagem de que quem estivesse contra a papeleira seria antipatriota. Isto, porém, não corresponde ao que de fato era o sentimento público, pois muito uruguaios se posicionaram contra a fábrica “sem deixar de ser patriotas”, atesta.
Há inclusive um julgamento internacional tramitando no Tribunal de Haia, porque o governo uruguaio não cumpriu o processo de consulta popular determinado pelo Tratado do Rio Uruguai, firmado entre este país e a Argentina. “A província de Entre Rios exigiu o cumprimento desse tratado, mas o Uruguai saiu com a resposta de que se tratava de uma decisão soberana, dele”, recorda-se Bacchetta.
Ovo podre
O cheiro tão conhecido no início dos anos 70 pelos moradores da Região Metropolitana de Porto Alegre (especificamente, Capital, Guaíba e arredores) marcou presença recentemente em Fray Bentos. De acordo com Bacchetta, desde que começou a funcionar, a fábrica da Botnia teve vários episódios de parada na produção por problemas técnicos, “e sentimos freqüentemente emissões de gases com cheiro de podre”. As paradas ocorrem praticamente todos os meses, segundo ele. “Várias vezes o cheiro inundou a cidade de Fray Bentos, e ninguém sabia de onde era. Enviaram dois técnicos de Montevidéu para saber a origem, e informaram depois que não era possível estabelecer a fonte”, afirma.
Mais e mais
Segundo a Organização Mundial das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), o consumo de papel quintuplicou nos últimos 50 anos. Do que é produzido, 51% vão para o mercado de supérfluos (catálogos de shoppings, propagandas de lojas etc), e 41% para educação (livros, cadernos) e outras necessidades básicas (higiene). “Há um uso irracional de papel, e mesmo a informática, que se pensava iria diminuir o consumo de papel, teve efeito oposto, ou seja, fez aumentar o uso de impressos”, diz o jornalista. Conforme a FAO, uma pessoa necessita de 30 a 40 quilos por ano de papel par atender suas necessidades básicas, mas a realidade de consumo de vários países é muito superior a isto. No Uruguai, por exemplo, usam-se 36 quilos per capita por ano; na Finlândia, 325 quilos; nos Estados Unidos, 200 a 300 quilos; na França, 190 quilos. Seguindo essa lógica de mais e mais consumo de papel, a área cultivada com eucalipto, no Uruguai, subiu de 93 mil hectares, em 1990, para 949 mil hectares, atualmente (quase 1 milhão). Um aumento de mais ou menos dez vezes. O espaço entre as árvores é de três metros, e entre essas “florestas” e as casas remanescentes, de apenas 30 metros.
Bacchetta informa ainda que as terras adquiridas pelas empresas para o plantio de eucalipto o foram por preços de 13 a 14 vezes o valor de mercado. Assim, dificilmente se convenceria os proprietários a não vender. No cenário de Fray Bentos, não é difícil encontrarem-se casas abandonadas em meio aos eucaliptais.
A paisagem mudou, e o panorama vai mudar mais ainda. As empresas Stora Enso e Portocel (esta última, de Portugal) já compraram áreas no departamento de Durazno e estão iniciando plantio. Uma fábrica da Ence está sendo construída. E mais: as empresas Nipon Paper (japonesa) e International Paper Co. (norte-americana) declararam interesse em se estabelecer no Uruguai. Um dos pontos visados é próximo à Lagoa Mirim, na fronteira entre Uruguai e Brasil (RS). O Uruguai tem 17,6 milhões de hectares de área, e se todos esses projetos vingarem, cerca de 25% do território do país (mais ou menos 4 milhões de hectares) serão tomados por eucaliptos. Estâncias, gado, tradição da mais refinada cultura européia. Tudo isso impregna com boas emoções a memória do turista que visita o Uruguai, mas é uma paisagem que poderá ficar apenas em retratos do passado.
Fonte: Cláudia Viegas, AmbienteJÁ, 16/12/2008
MOGDEMA - A NATUREZA TE ESPERA!
Foi muito emocionante assistir a rebeldia dos velhos e bons guardiões do movimento ambientalista gaúcho!
A Luta continua!
MOGDEMA nasce forte!
Com uma homenagem aos pioneiros da ecologia no Rio Grande do Sul, foi lançado nesta segunda-feira (15/12), oficialmente, o Movimento Gaúcho em Defesa do Meio Ambiente (Mogdema), com a filiação inicial de 37 signatários, entre ONGs, conselhos, instituições, associações e entidades religiosas, sociais, sindicais, estudantis e comunitárias. O propósito declarado do movimento é popularizar a luta ambiental, para além das ONGs, levando-a aos movimentos sociais e à população em geral.
O Mogdema "visa ações conjuntas que fortaleçam as políticas públicas em defesa da Natureza, promovendo o debate e a luta socioambiental, propondo a reflexão crítica ao modelo de desenvolvimento predatório hegemônico, e construindo as bases sociais para um novo modelo com sustentabilidade ambiental", diz a Carta de Princípios do Movimento, lida na solenidade.
“Há uma necessidade da ecologização dos movimentos sociais, sozinhos, como a história está mostrando, não somos capazes de dar conta do recado”, discursou Celso Marques, representando a Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural (Agapan). “Estamos num momento crítico em que isto é indispensável”, insistiu, traduzindo um pensamento que é comum entre os criadores do Mogdema.
O surgimento do Mogdema vem de um período extremamente conturbado na política ambiental do Estado, como há muito não se via. O fator deflagrador foram os megaprojetos das papeleiras, que tiveram seus licenciamentos ambientais acelerados pelo governo. Criou-se uma situação de conflito aberto que, por outro lado, mobilizou e unificou os ambientalistas com outras entidades e organizações da sociedade civil.
Bebendo na fonte
Para se inspirar, os fundadores do Mogdema decidiram beber na fonte e reuniram numa mesma mesa, na cerimônia de hoje, alguns dos principais fundadores do ambientalismo no Rio Grande do Sul: Flávio Lewgoy, Augusto Carneiro, Hilda Zimmermann, Caio Lustosa e o Irmão (marista) Antônio Cechin. “O movimento ambientalista vive, está mais vivo do que nunca, e isto é uma satisfação indizível, porque cada um que está aqui representa outros milhares” disse Flávio Lewgoy, professor aposentado da Ufrgs e um dos fundadores da Agapan, ao auditório lotado de pessoas de todas as idades.
O hoje livreiro Augusto Carneiro fez uma defesa apaixonada dos parques, “porque são sinônino de futuro, quando não tiver mais nada (dos recursos naturais e biodiversidade) é deles que vai sair a semente da vida”, disse. “Aqui, os parques são invadidos permanentemente e o povo brasileiro adora queimar os parques, infelizmente”, completou.
Hilda Zimmerman observou que se os ambientalistas não conseguem mobilizar o povo por amor ao meio ambiente, esta mobilização vai acontecer por necessidade. Já o Irmão Cechin anunciou que a Pastoral da Ecologia passará a participar do Mogdema e citou Santo Agostinho, que disse: “Deus perdoa sempre, os homens perdoam às vezes, mas a natureza não perdoa nunca”. Por isso, segundo ele, as pessoas deveriam aprender as leis da natureza e respeitá-las.
Comissão de Meio Ambiente
Um dos coordenadores do Movimento, Felipe Amaral, do Instituto Biofilia, avaliou como excelente, acima das expectativas o lançamento do Mogdema, pelo público e representantividade das entidades que se filiaram até agora. Apontou como objetivos imediatos a aproximação com o Poder Legislativo, visando a criação de uma comissão específica de meio ambiente na casa. Também a busca da paridade de representação no Conselho Estadual do Meio Ambiente (Consema), onde hoje os ambientalistas são minoria, e, principalmente, inciativas para propor um novo modelo de desenvolvimento do Estado, além da crítica, simplesmente.
Entre os compromissos da Carta de Princípios do Movimento estão: defender a biodiversidade, a agricultura familiar de base ecológica, a soberania alimentar e territorial, o abastecimento interno, o emprego urbano e rural e as culturas tradicionais; defender os Biomas Pampa e Mata Atlântica, aí incluídos os Campos de Cima da Serra, promovendo a proteção da biodiversidade; defender os recursos hídricos superficiais e subterrâneos, em especial o Aquífero Guarani; lutar pela abolição do modelo de produção das monoculturas, das lavouras energéticas do agrocombustível e de matéria prima industrial e da lavoura geneticamente modificada;
“Vida longa ao Movimento, porque é em defesa da vida que ele nasce, hoje todos os interesses só se movem pelo capital, precisamos dar um basta nisso, não podemos deixar para amanhã para assumir um compromisso com a vida e com o futuro do nosso planeta”, conclamou o diretor do Semapi (sindicato que reúne servidores de fundações) e presidente da Associação dos Servidores da Fundação Estadual de Proteção Ambietal (Fepam), Antenor Pacheco. A programação foi concluída com um painel que teve a participação do jornalista uruguaio Victor Bacchetta, que discorreu sobre sue livro A Fraude da Celulose*, e do professor Antônio Libório Philomena, que abordou "O contexto ambiental no limite, o futuro da humanidade".
Fonte: Ulisses A. Nenê/Ecoagência
Matéria também reproduzida no site do SEMAPI.
segunda-feira, 15 de dezembro de 2008
LANÇAMENTO DO MOGDEMA
Movimento Gaúcho em Defesa do Meio Ambiente será lançado nesta segunda, dia 15
O Movimento Gaúcho em Defesa do Meio Ambiente (Mogdema) será lançado oficialmente nesta segunda-feira, dia 15 de dezembro, às 9 horas, em um ato público no plenarinho da Asembléia Legislativa do Rio Grande do Sul.O movimento é uma articulação que reúne ONGs ambientalistas, movimentos sociais do campo e da cidade, sindicatos, representantes de classe, lideranças religiosas, estudantes, professores e pesquisadores que pretende enfrentar a situação de crise progressiva da gestão ambiental no Estado.
Segundo sua Carta de Princípios, o movimento pretende implementar ações que "fortaleçam as políticas públicas em defesa da natureza, promovendo o debate e a luta sócio-ambiental, propondo uma reflexão crítica sobre o modelo de desenvolvimento predatório hegemônico, e construindo as bases sociais para um novo modelo com sustentabilidade ambiental".
Crise e polêmicas
Segundo o diretor do Semapi Antenor Pacheco, o movimento vem sendo formado há meses, em reuniões periódicas, e surge em decorrência da situação de crise e das várias polêmicas - como há muito não se via - em torno da gestão ambiental no Rio Grande do Sul. Especialmente, a aprovação e implantação de vários megaprojetos de papeleiras, com plantio intensivo de eucaliptos, na Metade Sul do Rio Grande do Sul.
Estarão presentes como painelistas, dia 15, o jornalista uruguaio especializado em jornalismo ambiental Victor Bacchetta, autor do livro "A Fraude da Celulose" e membro-fundador da Rede de Comunicação Ambiental da América Latina e Caribe, e o oceanógrafo, doutor em Ecologia, professor da FURG Antonio Philomena.
Programação:
Manhã
9h: Homenagem aos pioneiros do movimento ecológico no RS – Augusto Carneiro, Caio Lustosa, Flávio Lewgoy, Giselda Castro, Hilda Zimmermann, Irmão Cecchin e Sebastião Pinheiro;
10h: Leitura da carta de princípios e de assinatura da mesma pelas instituições presentes;
11h: Palestras com convidados especiais:
Victor Bacchetta – A fraude da Celulose
Antonio Philomena – Contexto ambiental e o futuro da Humanidade
Noite:
19h: Conversa com Victor Bacchetta – Os impactos do Modelo Florestal da Celulose sobre o Bioma Pampa.
Local: Auditório do SEMAPI – Rua Lima e Silva, 280
20h30min: Confraternização – Bar Pinacoteca (Rua República, 409)
sexta-feira, 5 de dezembro de 2008
Eucalipitais - Qual Rio Grande desejamos?
O livro surgiu de um processo baseado na discussão de várias opiniões, sobre um tema "que quer ser controverso", mas não o é, que são as lavouras de eucalipto e as empresas papeleiras, melhor denominadas de "pasteiras".
Políticos retribuindo o apoio financeiro das papeleiras em doações eleitorais, a divulgação, burla do regramento legal, ardilosas violações constitucionais, informações distorcidas sobre a geração de emprego formam o arcabouço do apelidado "reflorestamento". É como um conto policial.
O momento não poderia ser mais oportuno. Empolgados pelo jogo do dinheiro fácil nos cassinos financeiros as papeleiras, depois de se lambuzarem, caíram de quatro na crise da especulação, se desmancharam, tal como papel picado. Não vão mais investir no Rio Grande do Sul. Aqueles que acreditaram estão esperando o Papai Noel em dezembro!
terça-feira, 2 de dezembro de 2008
SOLOS UMA RELAÇÃO DE AMIZADE
segunda-feira, 1 de dezembro de 2008
SOBERANIA ALIMENTAR/SEGURANÇA ALIMENTAR
Para mim é uma discussão oportuna que permite distinguir muito bem a diferença entre SOBERANIA ALIMENTAR e SEGURANÇA ALIMENTAR ( a Iara já falava disso).
Uma diferença RADICAL, e ser radical, como disse MARX é pegar as coisas pela raiz e a raiz para o homem é o próprio homem. E é isso mesmo, que o Stédile e o Lauro nos fazem pensar - ser radical ou seja, pegar as coisas pela raiz, é isso, vamos radicalizar!
Paulinho Mendes
Soberania alimentar e a agricultura
"Atualmente, não mais do que 30 conglomerados transnacionais controlam toda a produção e o comércio agrícola mundial", constatam João Pedro Stédile, economista, integrante da coordenação nacional do MST e da Via Campesina, e Dom Tomás Balduino, bispo emérito da Diocese de Goiás, conselheiro permanente da CPT (Comissão da Pastoral da Terra), órgão vinculado à CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), em artigo publicado no jornal Folha de S. Paulo, 16-10-2008."
Eis o artigo.
Em 1960 , havia 80 milhões de seres humanos que passavam fome em todo o mundo. Um escândalo! Naquela época, Josué de Castro, que agora completaria 100 anos, marcava posição com suas teses, defendendo que a fome era conseqüência das relações sociais, não resultado de problemas climáticos ou da fertilidade do solo.
O capital, com as suas empresas transnacionais e o seu governo imperial dos Estados Unidos, procurou dar uma resposta ao problema: criou a chamada Revolução Verde. Ela foi uma grande campanha de propaganda para justificar à sociedade que bastava "modernizar" a agricultura, com uso intensivo de máquinas, fertilizantes químicos e venenos. Com isso, a produção aumentaria, e a humanidade acabaria com a fome.
Passaram-se 50 anos, a produtividade física por hectare aumentou muito e a produção total quadruplicou em nível mundial. Mas as empresas transnacionais tomaram conta da agricultura com suas máquinas, venenos e fertilizantes químicos. Ganharam muito dinheiro, acumularam bastante capital e, com isso, houve uma concentração e centralização das empresas. Atualmente, não mais do que 30 conglomerados transnacionais controlam toda a produção e comércio agrícola.
Quais foram os resultados sociais?
Os seres humanos que passam fome aumentaram de 80 milhões para 800 milhões. Só nos últimos dois anos, em função da substituição da produção de alimentos por agrocombustíveis, de acordo com a FAO (Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação), aumentou em mais 80 milhões o número de famintos. Ou seja, agora são 880 milhões.
Nunca a propriedade da terra esteve tão concentrada e houve tantos migrantes camponeses saindo do interior e indo para as metrópoles e mudando de países pobres para a Europa e os Estados Unidos. Somente neste ano, a Europa prendeu e extraditou 200 mil imigrantes africanos, a maioria camponeses.
Há oito milhões de trabalhadores agrícolas mexicanos nos Estados Unidos. Setenta países do hemisfério sul não conseguem mais alimentar seus povos e estão totalmente dependentes de importações agrícolas. Perderam a auto-suficiência alimentar, perderam sua autonomia política e econômica.
O pior é que, em todos os países do mundo, os alimentos chegam aos supermercados cada vez mais envenenados pelo elevado uso de agrotóxicos, provocando enfermidades, alterando a biodiversidade e causando o aquecimento global. Isso acontece porque as empresas transnacionais padronizaram os alimentos para ganhar em escala e lucros. Os alimentos devem ser produzidos de acordo com a natureza, com a energia do habitat.
A comida não pode ser padronizada, uma vez que faz parte de nossa cultura e de nossos hábitos. Diante disso, qual é a saída? O Estado, em nome da sociedade, deve desenvolver políticas públicas para proteger a agricultura, priorizando a produção de alimentos. Cada município, região e povo precisa produzir seus próprios alimentos, que devem ser sadios e para todos. Assim nos ensina toda a historia da humanidade.
A lógica do comércio e intercâmbio dos alimentos não pode se basear nas regras do livre mercado e no lucro, como pretende impor a OMC.
Por isso, consideramos o alimento um direito de todo ser humano, e não uma mercadoria, como, aliás, já defende a Declaração Universal dos Direitos Humanos. Cada povo e todos os povos devem ter o direito de produzir seus próprios alimentos. Isso se chama soberania alimentar. Não basta dar cesta básica, dar o peixe. Isso é a segurança alimentar, mas não é soberania alimentar. É preciso que o povo saiba pescar!
No Brasil, com um território e condições edafoclimáticas tão propícias, não temos soberania alimentar. Importamos muitos alimentos, do exterior e entre as regiões do país. Mesmo em nossas "ricas" metrópoles, o povo depende de programas assistenciais do governo para se alimentar. A única forma é fortalecer a produção dos camponeses, dos pequenos e médios agricultores, que demandam muita mão-de-obra têm conhecimento histórico acumulado.
A chamada agricultura industrial é predadora do ambiente, só produz com agrotóxicos. É insustentável a longo prazo. Por isso, neste 16 de outubro, Dia Mundial da Alimentação, as organizações camponesas, movimentos de mulheres, ambientalistas e consumidores faremos manifestações em o todo mundo para denunciar problemas e apresentar propostas para que a humanidade, enfim, resolva o problema da fome no mundo.
sábado, 29 de novembro de 2008
Carta Agroecologica
Com um pouco de atraso eis a Carta Agroecológica de Porto Alegre!
A conclusão mais simples, porém profunda, dos seminários, é de que de fato a construção para um outro mundo possível se dá apartir da desconstrução dos costumes e das práticas impregnadas na atual sociedade de consumo e de acumulaçao de riqueza! A questão centro do debate é a luta pela mudança do padrão de costumes sociais que o capitalismo implantou através de décadas de alienação.
E para pensar.... O presidente da empresa responsável pelo shopping NOVO de Porto Alegre, instalado na beira do poluído lago Guaiba, setencia: "o shopping center está blindado das crises porque estão impregnados no DNA das pessoas"...Quer MAIS????
Paulinho Mendes
Seminários encerram com lançamento da Carta Agroecológica de Porto Alegre
Após três dias de Seminários Internacional e Estadual sobre Agreocologia, os 1.174 participantes aprovaram a Carta Agroecológica de Porto Alegre. Entre as recomendações, destaque para a proposta de criação de um Plano Nacional de Transição Agroecológica, apresentada na palestra de abertura pelo coordenador geral de Assistência Técnica, Extensão Rural e Educação Rural da Secretaria de Agricultura Familiar do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), Francisco Roberto Caporal, e defendida também pelo presidente da Emater/RS, Mário Augusto Ribas do Nascimento, durante solenidade de abertura.A seguir, a redação do documento:
Carta Agroecológica de Porto Alegre 2008.
Os 1.174 participantes inscritos no IX Seminário Internacional sobre Agroecologia e X Seminário Estadual sobre Agroecologia, reunidos no Auditório Dante Barone da Assembléia Legislativa, em Porto Alegre (RS), dias 25, 26 e 27 de novembro de 2008, para discutir tema “O Estado da Arte da Agroecologia”, recomendam:
1. A criação de um Plano Nacional de Transição Agroecológica, tendo em vista o conjunto de externalidades negativas geradas pelo modelo atual de desenvolvimento rural. Tal Plano deve ter como pressupostos a solidariedade intra e intergeracional e a sustentabilidade em suas múltiplas dimensões (econômica, social, ambiental, cultural, ética e política). Além disso, deve contemplar ações de apoio à promoção de estilos de agriculturas mais sustentáveis, visando a preservação da agrobiodiversidade e a ecologização crescente dos sistemas produtivos;
2. Que os princípios da Agroecologia sejam considerados na definição e execução de programas e projetos de Pesquisa, assim como nas agendas das instituições de Ensino e Extensão Rural, apontando para a consolidação de uma ética comprometida com a sustentabilidade da vida no Planeta , e incorporando questões de gênero de forma mais efetiva e estratégica ;
3. A inclusão do enfoque agroecológico nas políticas públicas, especialmente as voltadas para o crédito rural destinado à agricultura familiar, e a ampliação de iniciativas voltadas ao fortalecimento da agricultura familiar, como é o caso do Plano de Aquisição de Alimentos;
4. Que as instituições de ensino coloquem maior ênfase na educação agroecológica, incorporando conteúdos, valores e princípios de sustentabilidade em todos os níveis de escolaridade, com uma adequação da matriz curricular e a adoção de práticas sustentáveis (merenda escolar, reciclagem de lixo, etc);
5. O estímulo e apoio à sistematização de experiências com enfoque agroecológico, de forma a possibilitar um amplo processo de diagnóstico, identificação, resgate, descrição e reflexão a partir das experiências sistematizadas, assim como a sua ampla divulgação;
6. Que sejam envidados todos os esforços para a realização do X Seminário Internacional e XI Seminário Estadual de Agroecologia no Rio Grande do Sul, assim como no apoio à realização do II Congresso Latino-Americano e VI Congresso Brasileiro de Agroecologia, a realizar-se de 09 a 12 de novembro de 2009, em Curitiba (PR).
Assessoria de Imprensa da Emater/RS-Ascar
Jornalistas Adriane Bertoglio Rodrigues e Carine Massierer
quarta-feira, 26 de novembro de 2008
Assim caminha a humanidade!
Buenas, que responsabilidade. Acho que nesta hora a companheira Iara já esta nos braços de seu querido filhão. Para nós fica a responsa de levar o blog ativo até a sua volta. Quando digo nós, quero dizer todos os leitores do blog. Não será uma tarefa fácil, mas com a ajuda dos companheiros tenho a certeza de que vamos conseguir, viu Iara!
segunda-feira, 24 de novembro de 2008
Enfim, chegou à hora!
Afasto-me por dois meses, passando o bastão para o grande companheiro Paulo Sérgio Mendes Filho, o Paulinho. Integrante do Coletivo Desenvolvimento Sustentável, ele terá, a partir de hoje, a tarefa de dar VIDA a esse blog.
Nenhuma dificuldade para essa figura rara. Criativa, sensível, inquieta. Sempre buscando e encontrando explicações para todos os fenômenos da vida, sejam eles no plano da política, da economia, do meio-ambiente, da arte, como também das PESSOAS. Longas conversas nos aproximam. Pasmem, mas descobri que é possível ter longas conversas com essa rara pessoa, em que pese a sua constante e inquieta inquietude.
Quanto a mim, parto para um reencontro. Há dois anos não compartilho o quotidiano com o meu querido filho, Rodrigo. Alimentamos-nos virtualmente. E, agora, finalmente, chegou o grande dia de sentir o calor, o carinho e a voz, sem mediações. Ao vivo e a cores. Nada substitui um abraço de verdade, o riso, o olhar, o fazer as coisas juntos. E é isso que vou encontrar. Já com o coração na mão.
Vou a esse encontro cheia de expectativas e de alegrias. Mas não posso deixar de confessar que os dias que antecederam a viagem foram/têm sido cheios de uma saudade antecipada, se é que existe essa possibilidade. Saudade das coisas, dos sons, dos aromas, das árvores, das flores e das pessoas queridas que aqui deixo.
Amo essa Porto MUITO Alegre. E para me despedir brindo-lhes com algumas fotos da nossa cidade. Não são de minha autoria. As recebi em algum momento da vida e salvei-as sem registrar a origem. Se alguém souber, informe no blog, por favor, pois, vale a pena resgatar essa informação. É um belo trabalho.
Um GRANDE e “XINXADO” ABRAÇO.
E VIVA A VIDA!!!
P.S. Lauro Bernardi e Antenor Pacheco são dois companheiros do Coletivo que intensificarão as suas contribuições para o blog nesse período. Bom trabalho e boas energias para vocês.
sábado, 22 de novembro de 2008
Conferência sobre os biocombustíveis. 'Uma grande feira de negócios'
Adital
Finalizada ontem, a 1ª Conferência Internacional sobre Biocombustíveis, promovida pelo governo brasileiro, foi, segundo a ambientalista Lucia Ortiz, "uma grande propaganda do etanol". O evento não contou com a presença do presidente Lula, de outros chefes de Estado e não oportunizou que acordos fossem fechados sobre o biocombustível produzido a partir do etanol. "Foi uma grande feira de negócios", disse Lucia, ao analisar a presença de muitos empresários desse setor. Lucia esteve presente nesta conferência e também no evento paralelo organizado pelos movimentos sociais para discutir o modelo da política brasileira em relação à produção ao etanol.
Lucia Ortiz é coordenadora do Núcleo Amigos da Terra e do GT Energia do Fórum Brasileiro de ONGs e Movimentos Sociais para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento. É geóloga e mestre em Geociências.
Confira a entrevista.
IHU On-Line - A Conferência Internacional sobre Biocombustíveis: os biocombustíveis como vetor do desenvolvimento sustentável é patrocinada pelo governo brasileiro. Em sua opinião, o governo pretende com esse evento?
Lucia Ortiz - A pretensão do governo, ao unir esforços, investir e promover esse evento, foi a de conquistar uma aceitação do etanol brasileiro no mercado internacional. Ou seja, expandir seu mercado de exportação de commoditie agrícola energética, principalmente em relação ao etanol, que é produzido a partir de grandes cultivos agroindustriais. Por isso nós chamamos de agrocombustíveis. Em contraposição a esse conceito, a conferência do governo chama de biocombustíveis, como vetor do desenvolvimento sustentável, expressão da qual discordo.
Era esperada a presença de chefes de Estado de nível ministerial, pelo menos, nessa conferência, mas isso não se confirmou. O que estamos vendo no evento oficial é a presença de níveis mais baixos de representação dos governos e uma grande feira de negócios. Existem muitos empresários que estão fazendo uma grande promoção desse setor. A questão da crise financeira afetou a não vinda dos chefes de Estado, mas alguns países não viram aqui oportunidade de firmar acordos ou lançar algum projeto de padronização. Outros países entenderam essa conferência mais como uma grande propaganda do etanol do que uma oportunidade de fazer grandes negócios.
IHU On-Line - Por que você discorda da idéia em torno do biocombustível?
Lucia Ortiz - Eu não concordo com essa tese porque penso que a estratégia de promoção dos agrocombustíveis, utilizada pelo governo brasileiro, tem como base a expansão das monoculturas voltadas à exportação. As monoculturas para os agrocombustíveis se somam a todo o modelo do agronegócio, que está em franca expansão e tem impactos diretos e indiretos sobre a redução da biodiversidade, devido aos deslocamentos de populações tradicionais de pequenos e médios agricultores que, de fato, produzem o alimento da população brasileira. Eles são ainda são responsáveis pelas mudanças do uso do solo, pelo desmatamento e, desta forma, contribuem para o aquecimento global. Como se destinam para abastecimento da indústria automobilística que prioriza o transporte individual e precisa de insumos que envolvem muita energia para ser produzida, eles alimentam um modelo de transporte e de produção agrícola que é altamente impactante para o clima. Por isso, as mudanças climáticas devem ser resolvidas com mudanças mais estruturais.
IHU On-Line - Os movimentos sociais fizeram um evento paralelo ao oficial, qual o conteúdo das discussões e os objetivos dessa iniciativa?
Lucia Ortiz - Nós tivemos um encontro que reuniu mais de cem pessoas de vários países da América Latina, também dos Estados Unidos, Europa e até da Ásia. Tivemos uma representatividade muito boa e que se reuniu por três dias com o objetivo de avaliar um pouco a conjuntura da crise financeira. Nós a entendemos como uma crise de modelo de civilização, pois estamos vendo a crise climática, a crise energética, a escassez da água e, ainda, a crise financeira que mostra que esse modelo econômico está acabando com o nosso capital natural, a nossa base da vida. A partir desse contexto, nós analisamos a estratégia que o governo quer empurrar e nos aprofundamos na análise dos impactos e as estratégias para minimizá-los. Fizemos críticas específicas e num segundo momento apresentamos nossas propostas para construção da soberania energética e alimentar. É um conceito que se opõe ao discurso e ao conceito do governo.
IHU On-Line - A crise mundial desfocou o debate em torno da crise climática que cada vez mais ganhava espaço ou se trata de oportunidade que poderá alavancar ainda mais o debate sobre a crise ambiental?
Lucia Ortiz - Com certeza, ela é uma oportunidade porque mostra um colapso desse nosso modelo, desse padrão de consumo e produção, de acumulação de riquezas e distribuição desigual e que é baseado no desperdício excessivo de energia. Então, ela traz muitas oportunidades de reflexão e de repensar os modos de vida no campo e na cidade, e centrando nas necessidades reais das pessoas. Por outro lado, vemos que o governo está muito preocupado com o impacto da crise financeira para suas metas de crescimento econômico. É possível que o governo, através dessa crise, para estimular a economia, mesmo aplique recursos públicos nos seus projetos num objetivo de gerar empregos, acelerar a economia apesar a crise. Estamos vendo duas coisas: uma oportunidade de reflexão e de construção de alternativas, mas vemos que a intenção do governo ainda está indo em outro sentido, apostando ainda mais no mercado de exportação, não tanto no que a população precisa.
IHU On-Line - O modelo de política que está sendo realizada para os biocombustíveis será afetado pela crise financeira?
Lucia Ortiz - Imaginávamos que sim, mas, como o próprio governo está investindo forte nesse setor, a crise não afetará a intenção do governo. O que pode afetar é a retração dos mercados que iriam importar. Em duas semanas, uma decisão muito importante será tomada no Parlamento da União Européia em relação à aprovação ou não de metas compulsórias de substituição de combustíveis fósseis por agrocombustíveis. Se eles aprovarem, todo o combustível será importado, pois eles não têm terra para isso. Por isso, as soluções para conter o problema do clima vão recair sobre os países menos responsáveis pelas mudanças. E a intenção do Brasil é avançar nesse setor.
IHU On-Line - Os biocombustíveis afetam a soberania alimentar?
Lucia Ortiz - Sim, porque na medida em que o agronegócio avança, inviabiliza a produção da agricultura familiar, que é a base da soberania familiar no Brasil. O avanço dos agrocombustíveis afeta diretamente sobre o pequeno produtor que sai do meio rural e vai para a cidade. Com isso, nós acabamos importando alimentos ou massificando a nossa dieta alimentar porque não valorizam uma alimentação diversificada e saudável e, principalmente, mais amigável para o meio ambiente.
* Instituto Humanitas Unisinos
Publicação extraída de http://www.adital.com.br
Agrocombustíveis e Soberania Alimentar e Energética
* Documento final do Seminário Internacional Agrocombustíveis como obstáculo à construção da Soberania Alimentar e Energética, realizado em São Paulo, 17 a 19 de Novembro de 2008.
Nós organizações e movimentos sociais do Brasil, Argentina, Colômbia, Costa Rica, Bolívia, El Salvador, México, Equador, Paraguai, Tailândia, Holanda, Suécia, Alemanha e Estados Unidos, reunidos em São Paulo de 17 a 19 de Novembro de 2008.
Discordamos radicalmente do modelo e da estratégia de promoção dos agrocombustíveis. entendemos que estes não são vetores de desenvolvimento, nem tampouco de sustentabilidade. Esta estratégia representa um obstáculo à necessária mudança estrutural nos sistema de produção e consumo, de agricultura e de matriz energética, que responda efetivamente aos desafios das mudanças climáticas.
Afirmamos que:
O modelo de agricultura industrial, onde se inserem os agrocombustíveis, é intrinsecamente insustentável, pois apenas se viabiliza através da expansão das monoculturas, da concentração de terras, do uso intensivo de agroquímicos, da superexploração dos bens naturais comuns como a biodiversidade, a água e o solo. Os agrocombustíveis representam uma grave ameaça à produção de alimentos. Independentemente dos cultivos utilizados para a produção de energia, comestíveis ou não, trata-se da competição por terra agricultável e por água.
A produção em escala industrial de agrocombustíveis, ao expandir a fronteira agrícola, soma-se à expansão do conjunto do agronegócio - cujos impactos dinâmicos e efeitos cumulativos são o principal vetor de desmatamento e destruição de ecossistemas em todo o mundo, e no Brasil é responsável pela destruição da Amazônia, do Cerrado e outros.
No Brasil, o setor sucroalcooleiro não se sustenta sem o financiamento público: a promoção dos programas governamentais de agrocombustíveis historicamente tem sido caracterizada por incentivos e subsídios governamentais diretos (como financiamentos públicos do BNDES, em grande parte oriundos do FAT) e indiretos (como não penalização das evasões fiscais e perdão de dívidas).
O setor sucroalcooleiro conta com a conivência do governo quanto ao descumprimento das legislações trabalhistas e ambientais: entre os impactos da produção de etanol no Brasil destacamos a superexploração e as condições degradantes de trabalho e a utilização de mão de obra escrava; a contaminação dos solos, do ar e da água e redução da biodiversidade; o encarecimento das terras e a concentração fundiária, que fragilizam ainda mais os programas de reforma agrária e promovem, concomitantemente, um processo brutal de invasão de territórios de populações tradicionais e povos indígenas e de expropriação das terras de pequenos e médios agricultores; e a ameaça a produção dos alimentos que são consumidos no país. A extrangeirização da terra -seja através da compra ou contratos de arrendamento, para a produção de agroenergia-, também é um fator recente e extremamente preocupante, pois hipoteca as áreas de terras agriculturáveis disponíveis e as condições estruturais de produção de alimentos.
Denunciamos que a estratégia de difusão internacional do modelo agroenergético do governo brasileiro, através da ação de seus ministérios, em especial o Itamaraty, e instituições financeiras e de pesquisa, como BNDES e Embrapa, reproduzirá os impactos e problemas do setor nos países da África, América Latina e Caribe.
Questionamos a estratégia de expansão dos agrocombustíveis através do mercado global: nos opomos radicalmente ao acordo de difusão tecnológica Brasil/EUA, que visa a padronização e comoditização do etanol. Nos opomos às metas de substituições de combustíveis na União Européia e nos EUA que ampliarão a demanda por terras para produção de agrocombustíveis nos países do Sul.
Alertamos que nem o zoneamento, nem critérios ambientais e sociais irão tornar sustentável o modelo do agronegócio exportador: as propostas de certificação socioambientais dos agrocombustíveis, a tomar por experiências diversas (como FSC, RTSPO, RTSB), não minimizam, mas escamoteiam os impactos, servindo majoritariamente como um instrumento de legitimação do comercio internacional. O zoneamento agroecológico da cana proposto pelo governo brasileiro, assim como a difusão de conceitos como o de terras ociosas, degradadas ou marginais, legitima a expropriação dos territórios para a expansão das monoculturas e oculta os conflitos sociais.
Reafirmamos nossa luta de mais de uma década contra os transgênicos: o avanço dos agrocombustíveis, do etanol de segunda geração e da produção de bioplásticos inclui um componente estrutural de biotecnologia, transgenia e biologia sintética, fatores que representam uma nova frente de ameaça à biodiversidade.
O atual modelo de produção e consumo, promovido pelos países do Norte é insustentável e coloca em risco a vida do planeta. Diante da crise estrutural do sistema capitalista, que engloba a questão energética, ambiental, alimentar, financeira e de valores é preciso repensar o modelo de sociedade e de civilização.
Defendemos como proposta alternativa a soberania energética, que não poderá ser alcançada em detrimento da soberania alimentar:
A soberania energética e alimentar é o direito dos povos de planejar, produzir e controlar a energia e os alimentos nos seus territórios para atender as suas necessidades:
- Requer uma nova organização do modo de vida em sociedade e das relações entre campo e cidade.
- Pressupõe um sistema alimentar calcado na reforma agrária em bases ecológicas adaptada as particularidades de cada bioma, como real alternativa aos problemas da escravidão no campo, da superexploração dos trabalhadores rurais e de concentração e acesso a terra; o fortalecimento do campesinato e das economias locais; a valorização dos hábitos alimentares e culturais; a diminuição das distâncias entre produção e consumo e relações solidárias de comercio.
Este sistema é também menos dependente, mais eficiente pode ser autosuficiente em energia. É mais apropriado e resistente e é a real solução para a crise climática, provocada pelo modelo agroindustrial petrodependente que é reproduzido na estratégia dos agrocombustíveis, a qual nos opomos.
A soberania energética pressupõe um modelo de produção e consumo de energia e de transporte baseado na racionalidade e economia, através da mudança nos atuais padrões de consumo, na diminuição dos fluxos planetários de bens e energia do sistema econômico globalizado, e em modelos de mobilidade que priorizem o transporte coletivo, públicos e de qualidade em detrimento dos automóveis individuais.
Pressupõe a substituição de combustíveis fósseis por fontes renováveis de energia produzida de forma descentralizada e para atendimento das demandas locais, bem como o apoio de assistência técnica e desenvolvimento de pesquisas voltadas aos interesses dos povos.
O preço da energia deve ser baseado no custo da produção real e não na especulação financeira. Tampouco pode estar sob controle de grandes grupos econômicos.
A soberania alimentar e energética está calcada nos princípios da democracia e da descentralização, com participação popular no planejamento e tomadas de decisões e gestão da produção de alimentos e energia, incluindo o cesso e controle sobre os fundos públicos, e da solidariedade entre os povos, considerando as diferentes potencialidades, necessidades e soluções apropriadas em cada país ou região.
A energia e os alimentos são direitos dos povos, nos são dados pela terra, pela água e pela diversidade da natureza, não podem ser tratados como mercadorias.
Publicação extraída de http://www.adital.com.br
quinta-feira, 20 de novembro de 2008
Primavera silenciosa
Adepto ao chavão, você é o que lê, fui fisgado no dia de hoje (18/11/2008) por uma chamada radiofônica sobre uma matéria que circularia no jornal O Sul, pg. 5 do Caderno Reportagem. “Veneno disfarçado de salada? Alface e tomate a dupla infalível no prato estão entre os alimentos mais expostos aos agrotóxicos, mas por meio de medidas caseiras, é possível minimizar o problema”.
Para contribuir com uma reflexão sobre a responsabilidade do conhecimento, transcrevo trechos colhidos do livro SILENT SPRING, 305p. Publicado em 1962, de autoria da bióloga Rachel Carson.
ELIXIRES DA MORTE
“Pela primeira vez na história do mundo, cada um dos seres humanos esta agora sujeito a entrar em contato com substâncias químicas perigosas, desde o momento que é concebido até o momento que sua morte ocorre. Em menos de dois decênios do seu uso, os pesticidas sintéticos foram tão intensamente distribuídos pelo mundo que eles aparecem virtualmente em toda a parte. Na água, no corpo dos peixes, dos pássaros, dos répteis, dos animais domésticos e selvagens e no próprio homem, tornando-se quase impossível localizar exemplares livre das referidas substâncias, mesmo em regiões isoladas.... Esta indústria criada para a produção de produtos sintéticos é um dos frutos da segunda guerra mundial... Seduzido pela técnica insinuante de vendas, bem como pelo persuasor oculto, o cidadão médio raramente forma consciência do caráter mortífero dos materiais de que se circunda, na verdade, esse cidadão chega mesmo a não perceber sequer que os está usando. ... Cada uma destas repetidas exposições ao veneno, por mais leve que seja, contribui para o envenenamento cumulativo... O Relatório mensal do Escritório de Estatísticas Vitais, de julho de 1959, declara que os crescimentos malignos – inclusive dos tecidos linfáticos e dos formadores do sangue - foram responsáveis por 15 por cento das mortes ocorridas em 1958. Compare-se isso com a proporção de 4 por cento, em 1900.....A situação, relativamente as crianças, é ainda mais profundamente perturbadora. Há um quarto de século o câncer nas crianças, era considerado raridade médica. Hoje, mais crianças em idade escolar, nos Estados Unidos, morrem de câncer, do que qualquer outra enfermidade. Grandes quantidades de tumores malignos são descobertas, clinicamente, em crianças com idade inferior a cinco anos, mas constitui fato ainda mais impressionante o de que uma quantidade muito expressiva de crescimentos malignos, isto é, de tumores cancerosos, se encontrarem presentes ao nascimento da criança, e mesmo antes disso... O Dr. Francis Ray, da Universidade da Flórida, advertiu que nós talvez estejamos iniciando o câncer, nas crianças de hoje, por meio da adição de substâncias químicas (aos alimentos)...Por enquanto, muito pouco se sabe a respeito da extensão a que nossos genes, sob condições de exposição aos efeitos das substâncias químicas inusitadas, estão sendo submetidos a tais influências mutagênicas...”.
Enfim, o debate deve ir além das “receitas caseiras para minimizar o problema”. A questão de fundo passa por este modelo produtivo suicida e, avança para a permissividade de nosso aparato de vigilância e controle.
¹ Engº. Agrº. Emater-RS, Esp. Planejamento e Gestão Ambiental, membro do Coletivo Desenvolvimento Sustentável do SEMAPI.
segunda-feira, 17 de novembro de 2008
86 anos
por José Saramago
Dizem-me que as entrevistas valeram a pena. Eu, como de costume, duvido, talvez porque já esteja cansado de me ouvir. O que para outros ainda lhes poderá parecer novidade, tornou-se para mim, com o decorrer do tempo, em caldo requentado. Ou pior, amarga-me a boca a certeza de que umas quantas coisas sensatas que tenha dito durante a vida não terão, no fim de contas, nenhuma importância. E porque haveriam de tê-la? Que significado terá o zumbido das abelhas no interior da colmeia? Serve-lhes para se comunicarem umas com as outras? Ou é um simples efeito da natureza, a mera consequência de estar vivo, sem prévia consciência nem intenção, como uma macieira dá maçãs sem ter que preocupar-se se alguém virá ou não comê-las? E nós? Falamos pela mesma razão que transpiramos? Apenas porque sim? O suor evapora-se, lava-se, desaparece, mais tarde ou mais cedo chegará às nuvens. E as palavras? Aonde vão? Quantas permanecem? Por quanto tempo? E, finalmente, para quê? São perguntas ociosas, bem o sei, próprias de quem cumpre 86 anos. Ou talvez não tão ociosas assim se penso que meu avô Jerónimo, nas suas últimas horas, se foi despedir das árvores que havia plantado, abraçando-as e chorando porque sabia que não voltaria a vê-las. A lição é boa. Abraço-me pois às palavras que escrevi, desejo-lhes longa vida e recomeço a escrita no ponto em que tinha parado. Não há outra resposta.
http://caderno.josesaramago.org
sexta-feira, 14 de novembro de 2008
quinta-feira, 13 de novembro de 2008
Repensando a FASE
Coletivo Desenvolvimento Sustentável
SEMAPI
O seminário "Repensando a FASE", realizado no dia 13/11/2008, foi um esforço dos(as)trabalhadores(as)da Fundação de Atendimento Sócio-educativo, através do SEMAPI e da AFUFE, para encontrar os caminhos que levarão de fato a ressocialização dos adolescentes. Um consenso já unifica o debate: que o caminho passa, necessariamente, pelo protagonismo dos(as) trabalhadores(as).
Entretanto, para mim fica uma pergunta: como ter protagonismo, quando o trabalhador(a) é tratado como um Ser que não pensa? como garantir o protagonismo, quando o(a) trabalhador(a) não tem oportunidades de qualificação/formação e acaba seus dias, seus meses, seus anos, trabalhado em estruturas completamente sucateadas, em condições de trabalho que levam ao adoecimento? não há condições objetivas mínimas para trabalhar, muito menos para desenvolver práticas sócio-educativas, capazes de ressocializar os jovens que lá estão, privados de sua liberdade, e, também, provavelmente, privados da possibilidade de um retorno dígno para a sociedade.
Espero que avanços aconteçam, mas, não sou otimista. Vivemos no Rio Grande do Sul, governo Yeda Crusius, numa conjuntura em que os(as) trabalhadores(as) e o povo não têm valor. E, ainda que afirmemos que o NOSSO TRABALHO TEM VALOR, muita luta há que ser feita para dar materialidade a essa afirmação.
Estratégias bem formuladas,penso, poderão dar conta de parte do desafio. Aos trabalhadores(as) cabe essa formulação, e a FASE, ciente disso, está fazendo a sua parte, a partir do ciclo de seminários que inaugurou hoje.
Parabéns aos(as) trabalhadores(as)da FASE, ao SEMAPI e a AFUFE. E bom trabalho!!!
Veja matéria completa sobre o Seminário na página do Sindicato www.semapirs.com.br e abaixo a poesia que deu início às reflexões.
RISCOS
Rir é correr o risco de parecer tolo.
Chorar é correr o risco de parecer sentimental.
Estender a mão é correr o risco de se envolver.
Expor seus sentimentos é correr o risco de mostrar o seu verdadeiro Eu.
Defender seus sonhos e idéias diante da multidão
é correr o risco de perder as pessoas.
Amar é correr o risco de não ser correspondido.
Viver é correr o risco de morrer.
Confiar é correr o risco de se decepcionar.
Tentar é correr o risco de fracassar.
Mas os riscos devem ser corridos, porque o maior perigo
é não arriscar.
quarta-feira, 12 de novembro de 2008
Flores da primavera
Percorrendo as ruas e parques de Porto Alegre é impossível ficar indiferente ao presente que a natureza nos oferece nesse período. Além de outras flores e árvores, particularmente os JACARANDÁS estão belíssimos. Vale a pena apreciá-los vagarosamente. Andar pelas ruas, seja a pé ou de ônibus, deve ter um significado para além de nos levar a algum lugar. Vamos deixar(saber quando isso é fundamental exige sabedoria) o pragmatismo de lado e dar atenção às coisas belas da vida. Olhar para os lados, parar, tocar, enfim, apreciar a beleza que é a PRIMAVERA em nossa cidade. Este, pode ser um bom começo. Humaniza, faz bem para a alma e nos deixa mais felizes. E, como felicidade contagia, ela também brotará naqueles que nos cercam. Para homenagear a PRIMAVERA e nos realimentarmos da energia dessa estação, publicamos o texto abaixo. É lindo, inspirador e ajuda a lembrarmos o quanto ainda devemos lutar para que as flores com seus perfumes e os pássaros com as suas sinfonias continuem a nos visitar ano a ano. Boa Leitura!!!
Iara Borges Aragonez
Coletivo Desenvolvimento Sustentável
SEMAPI
Pe. Alfredo J. Gonçalves *
Abre-se a primavera. Estação das flores, das cores e dos amores. Vale a pena parar um pouco para contemplar, meditar, refletir. Que nos dizem a flor e a primavera?
Primeiro, seu sorriso livre, gratuito e aberto constitui por si só uma linguagem sem palavras. Linguagem que, em harmonia com o canto dos pássaros, o brilho do sol e das estrelas, o olhar das crianças e dos animais, o sussurro da brisa e da água, forma a grande sinfonia do universo. Um mundo em música e em festa, como um jardim florido, ao redor do qual as abelhas entoam o hino da fecundação!
Mas a flor tem outras lições. Como a espiga, como o edifício, ou como o poema, ela se levanta do chão. Busca o ar livre, o céu, a luz e o sol, mas depois de mergulhar as raízes na terra. Antes de crescer para cima, cresce para baixo. Sonha com o horizonte, mas com os pés firmes no chão da história. Aliás, a flor costuma ser tanto mais bela quanto mais árido e agreste é o solo. Os sonhos, como transfiguração das carências, também costumam ser mais belos e radicais nos porões e periferias da sociedade.
Nas asas da brisa e na dança dos pássaros, voa o pólen das flores. Mas para voar, além de asas, é preciso ter pés. As pétalas se vestem de luz somente quando as raízes buscam os nutrientes que vêm do chão escuro, frio e úmido. Projetos que não tenham os alicerces firmes na rocha do contexto histórico serão facilmente arrastados pelo vento. Manipulados pelos furacões oportunistas da política.
Também impressiona a gratuidade da flor. Entrega-se à contemplação sem nada exigir em troca. Sendo efêmero, seu brilho parece mais vivo e colorido. Como se tivesse consciência de sua passagem fugaz pela face da terra, doa-se com toda a intensidade. Faz lembrar Fernando Pessoa: "para ser grande, sê inteiro: nada teu exagera ou excluí"! A passagem pela vida é breve e única. Por isso a flor se reveste da mais bela roupagem, antes de murchar e desaparecer para sempre. O perfume e a beleza são de tal magnitude que compensam seu desfile meteórico aos olhos dos viajantes.
Em sua gratuidade, a flor revela-se, ao mesmo tempo, forte e frágil. Como o amor, de que é o símbolo por excelência, vê-se impotente diante das intempéries. Acariciada pela brisa, ela pode ser devastada pela impetuosidade dos ventos. Mas estes, no dizer do poeta, embora possam destruir as flores, jamais impedirão o retorno da primavera.
A flor orienta-se pela luz. Busca a luz e dela se nutre. O nome do girassol traduz exatamente isso. O mais interessante é que, mesmo de noite, ele insiste em seguir o sol. Baixa o olhar para o solo como se adivinhasse que o astro rei encontra-se lá, do outro lado do planeta. Mesmo no escuro, segue fielmente a trajetória da luz. Sabe que as trevas são passageiras e que a nova aurora não tarda.
Impressiona, ainda, a diversidade das flores. Profusão de cores e tons, roupas e formatos. Inútil perguntar se a rosa é mais bela que o crisântemo, ou se o cravo é mais perfumado que a magnólia. Elas não são melhores nem piores, umas em relação às outras. São diferentes! E é justamente essa diferença que torna belo o jardim. Para brilhar, nenhuma necessita apagar o sorriso da outra. Todas e cada uma em particular encontram seu espaço na harmonia do conjunto.
Hoje corremos o risco de destruir as flores e o jardim, a natureza e o planeta. Reduzimos tudo a valor monetário, a lucro e acumulação de capital sobre capital. Está em jogo a vida, o oxigênio, a biodiversidade. Que esta estação nos ensine a lição das flores, junto com a necessidade de fazê-las brotar, nem que seja na pedra, no concreto no asfalto. Só assim estaremos avançando para a eterna primavera!
* Assessor das Pastorais Sociais.
Texto publicado em www.adital.com.br
terça-feira, 4 de novembro de 2008
Um aninho é pouco, mas foi muito bom!
Abaixo a tua mensagem.
Iara Aragonez.
Paulo Sérgio Mendes Filho
Coletivo Desenvolvimento Sustentável
SEMAPI
Vinte e uma horas, de um início de noite, depois de um final de tarde lindo em Porto Alegre, dia 30 de outubro de 2008, aniversário de um aninho do Blog da Sustentabilidade do SEMAPI, não poderia deixar de postar uma mensagem, não é?
Que maravilha, um ano sustentando informações de qualidade de quem, e para quem, acredita em um mundo diferente para melhor . Nós que acompanhamos de perto a dedicação da companheira Iara Aragonez na construção, pesquisa e análise do conteúdo postado em nosso blog percebemos o carinho e a paixão de quem sabe das coisas. Foi um passo depois do outro. Várias vezes a companheira postava um artigo interessante, ou um texto e perguntava: Vocês leram o blog hoje? E nós,companheiros de caminhada, corríamos para o computador, envergonhados evidentemente, para leitura do citado texto. E pode crer, nunca desperdiçamos nosso tempo, pelo contrário, sempre recolhíamos informações importantes. Que bom né, as vezes, uma foto, um texto, uma dica, uma idéia, um artigo, uma música, um vídeo, um carinho, enfim.. o desenvolvimento de uma idéia em transe.
Um dia, comentava com a Iara da necessidade em salvar todos os conteúdos do blog em um cd, hoje me dei conta, de que não precisa salvar em um disco, sabe por que?, porque tenho a certeza de que todos que leram alguma vez algum texto do blog gravaram permanentemnte em sua memória. Acredito também, que estes mesmos, já divulgaram para outros tantos as idéias lidas no blog e com isso semearam idéias mundo a fora. Esta é a essência de um blog de qualidade,semear idéias mundo a fora.
As idéias escritas e disponibilizadas para tantos outros exercitam nossa capacidade de pensar sobre as coisas e nos fazem semeadores de idéias. As vezes necessariante não são as mesmas postadas, mas algumas outras decorrentes destas, e que intencionalmente nos fizeram pensar a partir de então. E assim foi, um vai e vem desenvolvendo idéias formando opiniões, caminhando e desenvolvendo, envolvendo e compartilhando, um ano e tanto!
Portanto ... só me resta uma coisa...Longa Vida BLOG DA SUSTENTABILIDADE SEMAPI!
Valeu Iara, acho que novamente deveríamos fazer um almoço daqueles!
quinta-feira, 30 de outubro de 2008
30 de outubro de 2007
Lembro que em algumas conversas no Coletivo, questionávamos se “Desenvolvimento Sustentável” era a melhor denominação para expressar o que pensávamos; para traduzir a concepção que tínhamos sobre o DESENVOLVIMENTO que queríamos; para mobilizar a nossa base e o próprio Sindicato - direção e trabalhadores - a mudar suas práticas cotidianas, fossem elas de consumo ou no modo de fazer a gestão dos ambientes nos quais viviam ou trabalhavam.
Achávamos que o termo cunhado na década de 1980 era muito carregado da “energia” capitalista, pois, na verdade, centralmente, traduzia a preocupação da ONU com o esgotamento da natureza enquanto recurso para a reprodução do capital. O problema a resolver era como continuar crescendo frente à finitude das reservas naturais. Não estava em questão o livre mercado pregado pela ideologia neo-liberal, gerador de pobreza e de miséria; não estava em questão o padrão de consumo da sociedade moderna, o qual exigia e exige cada vez mais a exploração do meio-ambiente e do trabalho para dar conta da satisfação das “necessidades”, enfim, não estava em questão o desenvolvimento nos marcos do capitalismo.
Com isso, caros leitores do Blog e também meus queridos companheiros do Coletivo Desenvolvimento Sustentável, deixo aqui uma provocação. DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL ou DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL SOLIDÁRIO?
Acabo de sair de um bom debate sobre esse tema, animado pelo mestre em educação, assessor da ADS/CUT Sul, VALMOR JOÃO UMBELINO. Combinamos que nas próximas semanas estaremos publicando no Blog um texto seu que nos ajudará a aprofundar essa questão. Uma reflexão pautada pelos princípios da economia solidária, pela utopia de uma outra sociedade possível e pela sua certeza de que "...entre desenvolvimento e capitalismo não há compatibilidade, ou seja, são como água e vinho..."
Pois bem, nesse dia em que comemoramos 1 ano de existência, parece-me interessante celebrá-lo com uma boa “crise existencial”. E a vocês o que parece?
Um grande abraço a todas e a todos(as) leitore(as) do blog e também para os companheiros do “Coletivo Desenvolvimento Sustentável”.
Iara Borges Aragonez, desde Florianópolis,
Escola Sul da CUT.